sábado, 25 de dezembro de 2010

Educação e giz. Chegou a hora dos filhos, sobrinhos e afilhados


Quando a campanha eleitoral de 2008 encontrava-se incandescente, Zé Dú prometeu aos técnicos jovens de que contaria com eles, nos lugares mais distintos dos órgãos do poder, assim como as mulheres e outros quadros que poderiam não pertencer ao partido Mpla. Quando já só faltam menos de dois anos, para o próximo pleito, estes jovens que esperavam pela recepção dos prometidos testemunhos, assistem preocupados, a estratégia paternalista que está sendo usada para substituir os dirigentes de “ocasião”.

Manuel Fernando*

Todos os pais querem o melhor para os seus filhos, sobre isso, por mais comunistas que sejamos, se alguma vez o fomos, não podemos censurar os nossos governantes por se preocuparem mais com a formação ou futuro dos seus rebentos, do que com o bem-estar do país, ou da melhoria do nível de vida da população. Infelizmente desde os primórdios da independência os primeiros ex-bolseiros, filhos do povo, eram enviados a Cuba, em quantidades industriais, enquanto os herdeiros do poder político, já eram enviados em quantidades laboratoriais, para a ex-URSS, ex-RDA, ex-Jugoslávia, Roménia e outros países do Pacto de Varsóvia, mas muito antes da queda do muro de Berlim, já os mais ‘iluminados’ dirigentes optaram pelos países capitalistas ocidentais, como o reino Unido, Suécia, Japão, EUA, Itália, Canadá, entre outros. No país, depois de 1990, o governo demitiu-se das suas responsabilidades para com o ensino público de qualidade, pelo menos assim foi pela atitude, face ao deterioro das escolas públicas e a falta de uma política coerente de formação de quadros, para não mencionar o apadrinhamento do expansionismo do ensino particular.
Todo esse processo não foi obra do acaso, parece-me ter sido orquestrado por estrategos políticos, com o propósito de evitarem que os filhos dos pobres tivessem também sabedoria ou capacidade intelectual, para algum dia poderem concorrer em igualdade de circunstâncias com os filhos dos ricos, aos cargos de grande responsabilidade, sejam eles políticos ou profissionais.
Lamentavelmente, muitos dos filhotes de papai enviados ao ocidente e gastaram mares de dinheiro não resistiram a tentação dessas sociedades de consumo e fracassaram mergulhados no mundo do álcool ou das drogas, contrariamente, muitos dos ‘deportados’ a Cuba, obrigados a labutarem meia jornada nos campos de toranja na Ilha da Juventude conseguiram, com muito sacrifício, títulos académicos e profissionais de invejar.
Pensar-se que os dirigentes políticos têm que gerar herdeiros políticos e que os mesmos tenham êxito, é um erro que tem custado o derramamento de sangue a muitos países, pela forma desonesta e ditatorial com que se tenta impor ao eleitorado os seus desígnios. Nos países africanos, onde os regimes no poder geralmente carecem de uma ideologia definida, não se sabendo mesmo se são esquerdistas ou direitistas, tem sido o móbil de fraudes eleitorais mal geridas, por confundir-se a monarquia e a democracia. Casos recentes como do Congo democrático e Gabão são exemplos que nos devem servir de lição para acautelar a importação desses cenários ao nosso país.
Vai sendo preocupante o facto dos quadros angolanos não poderem ascender a cargos de direcção se não se escudarem em apelidos ‘temíveis’. A promessa eleitoral levantada sobre a possibilidade de jovens quadros ocupar cargos de direcção, está sendo transfigurada e reduzida em benefício de parentes, de sangue ou por afinidade. Um dos reivindicadores no último congresso do Mpla, por ter sido excluído da lista de deputados foi Isaac dos Anjos, convertido nos dias de hoje em carrasco dos eleitores do seu próprio partido.
“A democracia foi importada e não enche barriga”, dizem que estas palavras foram proferidas pelo nosso Presidente, o próprio Dos Santos. Este recado muito bem enxergado pelos camaradas evidenciou-se no pavilhão da Cidadela, em 2008, quando o Comité Provincial do partido Mpla de Luanda convocou os responsáveis dos CAPs (comités de acção do partido), para anunciar as regras para concorrerem às candidaturas de deputado. Os militantes sentiram-se enganados, quando um dia depois, foram divulgados os candidatos a assembleia Nacional, pela província de Luanda, ante a estupefacção dos que haviam estado presentes na cidadela. Uma democracia a angolana, onde o voto constitui apenas um objecto de ornamentação para as imagens da televisão.
Com a dificuldade que estas ditaduras têm de se imporem, nos dias de hoje, novos mecanismos estão sendo usados, e em Angola já se está a ensaiar, sob o olhar atónito dos menos distraídos. Consiste na estratégia de fabricação de currículos para a posteridade. Ou seja, arregimentam os ‘assessores’ das instituições do Estado para que estes organizem actividades de grande impacto, sob a capa das mesmas terem sido paridas pela criatividade dos filhotes do poder, é assim que com o erário público, mediante patrocínios de empresas, organizam “galas” sobre a mulher, sobre o SIDA, homenageiam-se os lambe botas, concursos de dança e o supremamente ridículo COREÓN DÚ. Com todos os meios de difusão sob controlo do partido, não nos surpreenderemos que daqui há alguns anos, dir-nos-ão: “o Zedú júnior tem capacidade para governar o país porque tem um currículo brilhante, com a mais-valia de, ter sido o único jovem que em momentos difíceis conseguiu impor a sua criatividade às adversidades”. Estamos recordados do que vomitou Chizé dos Santos, certo dia, “eu e os meus irmãos estamos sendo bem sucedidos na vida”, como se os seus contemporâneos de carteira tivessem as mesmas possibilidades no mercado laboral.
O panorama vai merecendo maior atenção da sociedade, pelo facto da família ‘real’ estar a multiplicar-se com netos genros afilhados, etc. e todos eles ocupando paulatinamente cargos importantes na superstrutura, com ou sem uma formação e currículos convincentes. Vejamos, o novo Governador de Luanda é jovem que no ano de 1986, salvo erro, no Congresso da AAEM – associação dos alunos do ensino médio tinha a 8ª classe, é catapultado a presidente da referida organização e daí para a Assembleia do Povo, como o mais jovem do conclave, consta-nos de que actualmente, não tem a licenciatura concluída, estando a fazê-lo à distância, os seus condiscípulos já são pós-graduados. Que juízo de valor farão os seus colegas, também jovens, militantes activos do partido e melhor formados? Será necessário registarmo-nos com os ditos apelidos para conseguirmos melhor visibilidade?
Quando a Francisca do Espírito Santo considerada como amiga do “Pai Grande”, trabalhando bem, não lhe foi confiado o projecto elaborado nos laboratórios Feijó e é substituída por um estagiário das terras do fim do mundo, pelo simples facto deste ser afilhado. Quando Adão do Nascimento por ser sobrinho vê-se na condição de não se subordinar a uma senhora que também não está a trabalhar mal, e que só graças a um amadurecido Bureau Político (BP) a senhora não foi, por enquanto, escorraçada, então, algo vai mal e o povo sentenciará o desempenho destes petizes mimados, em 2012, para evitar-se uma provável hecatombe partidária, pelos oprimidos descontentamentos.
*manuelfernandof8@hotmail.com

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