terça-feira, 31 de agosto de 2010

Esse tempo macabro em que nos obrigam a viver


Willian Tonet*
Angola e o mundo enfrentam uma catastrófica perda de valores. A cada dia, ao abrir os jornais, ao ver os canais de televisão, a olhar alguma revista ou acessar a internet, somos surpreendidos por notícias que nos fazem questionar o que mais o futuro trará. Violência, fome, desemprego, assassinatos, assaltos, corrupção, trudo em doses que começam a ser assustadoras e se juntam a discriminação e a partidarização das instituições do Estado, que continuam a incubar o ódio e a raiva na maioria dos autóctones, que deixou de acreditar em oportunidades, na sua própria terra.

Terra, alias, que não lhes dá terra, pelo contrário negá-lhes, com suporte no instituto usucapião de qualquer país colonizador. É este regabofe que teremos de confrontar e enfrentar, até sabe-se lá quando.

Aliás, “enfrentar” talvez não seja o verbo adequado, pois muita gente já parece conformada ou quem sabe começa a achar natural a nova ordem de coisas.

Quando começaram as primeiras manchetes sobre pedofilia e corrupção, foi um horror, mas era coisa que acontecia a alguns pervertidos, gente sem princípios, sem moral, que durante anos nos impunham regras severas de visão comunista.

Esta gente que aprendeu rapidamente as lições de corrupção do capitalismo, eram, ainda ontem, bravos proletários, representantes, diziam, garbosos, das classes opertária e camponesa, que num tilintar de dedos se transformou em proprietários sem escrúpulos e moral.

Aos poucos, mais e mais casos surgem, em todos os estratos institucionais, desmascarando uma realidade inconcebível. Dia após dia, cresce o número de histórias desse tipo. Sabe-se agora que, alimentadas pela natureza da própria perversão do poder, formam-se parcerias entre pessoas com essas características, fazendo vítimas entre crianças, jovens e velhos que jamais poderão acreditar que quem nos governa tenha um compromisso com o bem - estar dos autóctones e a estabilidade social. Poucos acreditam ser possível recuperar algum valor supremo dos povos de Angola, com uma Constituição do “tipo colonial”, imposta pelo actual regime, que discrimina as suas línguas, adoptando a estrangeira como suprema e confiscando a terra, para meia dúzia de generais e a sua oligarguia estrangeira.

Por mais casos de corrupção, autoritarismo, má-gestão, incompetência governativa e discriminação que cheguem ao nosso conhecimento, esse tipo de comportamento continua hediondo e inaceitável, crime que merece punição e precisa ser denunciado nacional e internacionalmente, para que não continue a repetir com a maior impunidade e omissão dos povos.

Por mais que aconteça, não pode ser aceite como natural em lar algum, em escola alguma, em beco algum, por angolano algum. Ainda que as manchetes nos órgãos comprados e domesticados tripliquem, precisamos conservar a capacidade de nos indignar, se não quisermos que a acomodação se transforme em concordância.

Leio e oiço que adolescentes de ambos os sexos acham excitante colocar fotos suas, em poses sensuais, na internet e fazer do kuduro e da tarrachinha formas superiores de vida, face ao descaso na educação do regime. Fico com pena. A imagem de uma pessoa corresponde ao que, antigamente, se chamava “nome”, “o bem maior que meu pai me deixou”, como dizia a música, fazendo as cabeças e ensinando a importância de ser ético. Hoje, em muitos casos, significa um passaporte para as maiores bestialidades, roubo e corrupção. Imagens e piadas na internet permanecem, passadas de mão em mão, desvalorizando e ridicularizando “os novos corruptos e gatunos dos milhões do povo, instalados ao mais alto nível. Dirigentes que se apossam descaradamente do dinheiro do povo, atirado a fome, que se “excitam”, por um minuto de fama. Daqui a muitos anos, o filho ou a filha desses “milionários de rapina”, ainda poderão ver as fotos dos seus, sem orgulho e em poses constrangedoras, provocando a repetição da história, duvido que com final feliz.

Quem não se respeita não pode exigir o respeito dos outros _ e isso continua assim e será sempre, ainda que milhares e milhões investidos na imprensa e compra de consciência de uns tantos bajuladores, tentem inverter a realidade, querendo fingir para si mesmos que não é uma realidade só de Angola mas de todo mundo e que todos fazem, da mesma maneira e sem conseqüências. Não é!

Ao mesmo tempo, o regime e muitos corruptos institucionais dizem desconhecer a exposição e a chacota que provocam no mundo, através de relatórios e denúncias na imprensa e internet. Conversarão sobre o assunto, nos mais altos órgãos? Ensinarão e impõem-se limites em qualquer acção? Não! A maioria tem as mãos sujas de “sangue da corrupção”. O controlo da máquina da comunicação social, na mão das famílias no poder podem ser escorregadias e manipuladores, levar jovens, pais e intelectuais na conversa; acontece. Mas não por tempo todo. Um dia a lamparina iluminará o caminho, ainda que espinhoso. Por isso eles precisam saber, desde cedo, o que o mundo lhes prepara, se não se comportarem dentro de certas normas, mesmo algumas que julgam obsoletas. Como acontece a jovens enamoradas, quando permitem que os namorados saquem fotos de momentos íntimos, aproveitando a facilidade do celular, sempre pronto a captar imagens interessantes. Acaba o namoro, a jovem se interessa por outro e o desprezado lembra as fotos armazenadas. Pronto, o estrago está feito. Mas não teria ocorrido, se ela não tivesse sido confiante ao extremo da idiotice.

Os tempos mudaram, perigos antes inimagináveis estão à espreita. Os autóctones, mesmo os mais fanáticos e bajuladores e, principalmente, os jovens precisam ser alertados, foi-se o tempo em que podiam ser inocentes, viver em redoma protetora, ou talvez esse tempo nunca existiu e a gente não sabia. Agora todos precisam aprender a se defender, inclusive das carências que conduzem a caminhos sem volta. Porque a essência de muitos no regime é a de caluniar, calar ou assassinar as vozes discordantes, por isso devemos estar prontos e preparados para derrubar o MEDO e enfrentar a PODRIDÃO governista.

*Com Marta Costa

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