Dada a amplitude desta operação de transformação do Roque Santeiro em grandiosa empreitada imobiliária avaliada em dezenas de milhões e milhões de dólares, impunha-se desde o início da empreitada fazer um estudo aprofundado dos possíveis cenários de avançamento dos trabalhos, com especial enfoque para os consideráveis problemas humanos causados pela movimentação forçada de uma enorme massa de cidadãos, de repente postos numa situação de muito difícil gestão.
Deveriam ter sido previstas medidas paliativas e de resgate, destinadas a minimizar um provável desmoronamento social generalizado, criando centros de acolhimento, mobilizando pessoal para outras áreas, prevendo a reciclagem das casas do “PROCESSO” (locais onde os vendedores guardam os seus produtos no final da jornada), que estão avaliadas em cerca de 2500 e que garantem aos seus proprietários, a renda que lhes garante manter os filhos nos colégios, nas universidades e o orçamento para vencerem o desemprego a que a maioria está votada, por não ter fundo de pensão e ou reforma. Enfim, dever-se-ia estudar uma solução abrangente e não só pensar em distribuir os males pelos servidores do mercado. Não! Os afectados serão mais que muitos, são bweréré, que sofrerão com esta emotividade. Seria bom uma ampla discussão envolvendo, vendedores, moradores e elementos da própria sociedade para se estudar uma solução a contendo das partes. Mas nada disso foi feito, avançando-se o argumento de que seria um trabalho inglório com parcos resultados e muito dinheiro gasto.
Talvez haja alguma parte de verdade nesse argumento, mas gerar assim a miséria de tanta gente trás consigo dramas familiares e morte, e se for esse o preço para gerar riquezas, que os promotores dessa riqueza não venham depois tratar de “TERRORISTAS” os que se levantarão contra eles. Era mister, insistimos, depois do que estamos a ver de gtalgar da violência, encontrar uma solução. E ainda não encontraram e ao que parece, isso não é prioridade, quando, de facto, havia e há uma boa possibilidade de solução a estudar, da qual desvendaremos mais adiante os contornos.
E as indemnizações, quem as vai pagar?!
O Executivo quer tirar o mercado Roque Santeiro do lugar a fim de reclassificar o Sambizanga. Quer levá-lo para o Panguila. Só que a atitude, por mais nobre que seja, não está a ser ponderada em todas as suas vertentes.
Antes de mais nada, nesse caso o governo de Luanda e de Angola, isto sem falar dos polícias em busca das suas gasosas, diariamente recebem uma taxa oficial dos vendedores e os montantes, que deveriam entrar nos cofres do Estado, são elevados. Essas taxas deveriam servir para melhorias do mercado, mas as receitas arrecadadas nunca foram aplicadas. E, se agora for processada uma transferência do Roque, devem-se tomar, naturalmente, providências para devolver o dinheiro ou mostrar onde e como se o aplicou, sob pena de se confundir o valor das taxas recebidas durante dezenas de anos como um roubo instituído. Estamos aqui a referir-nos a muitos milhões, melhor biliões, que devem ser restituídos.
A esta aresta administrativa acresce o facto de o Roque ter mais de 3 mil vendedores, é o maior mercado e a “bolsa de valores” de Luanda e de Angola. E o Sambizanga é um dos bairros mais populosos, com cerca de 2,5 milhões de habitantes e dos mais violentos onde é grande o índice de criminalidade, principalmente pelo desemprego e falta de infraestruturas sociais.
Como atrás dissemos, ficarão devolutas, mais de 2500 RESIDÊNCIAS/PROCESSO” e sem serventia nos próximos tempos, com a agravante de virem a ser prejudicados ainda mais os seus titulares, se compulsdivamente, tiverem de ser, eles também, transferidos, para um “ZANGO QUALQUER DA DESGRAÇA AUTÓCTONE”. A renda que alimenta muitos sonhos dos indiginas do Sambila, nada significa para os novos ricos, mas é de uma valia inconmensurável para as gentes pobres, que não podem contar com um governo, cujo rosto apenas promete na época eleitoral.
Com a extinção do Roque, o desemprego, a fome e a miséria vão aumentar. Mas a delinquência também vai aumentar e isso é intolerável, porque havia e há soluções que não foram levadas em conta e que ainda podem ser avocadas por quem de direito.
Efectivamente é mentira que o Roque não poderia permanecer aí, na requalificação. Pode. E a forma é de transformação do horizontal em vertical, onde os milhares de vendedores, seriam distribuídos pelos vários andares, mantendo a imponência popular, na imponência da nova arquitectura e sonho governista. Mas não, tudo fica atado a uma ficção gerada por pura ganância! Poderia, sim, senhor, e para dar um simples mas prestigioso exemplo, basta dizer que diante da Praça Vermelha de Moscovo, na Rússia, temos o maior mercado popular do mundo, o chamado GUM. O que quer dizer que o Roque podia e pode ficar no meio de uma requalificação urbana. Numa construção moderna, com, por exemplo, uns 8 ou 10 andares para albergar aquela gente e com melhores condições de salubridade. Ou só merece um shopping quem tem dinheiro e vive nas zonas urbanas e os pobres sem nome de família estão condenados a mercados sem o mínimo de condições.
Recordemos que o GUM tem seis naves com cerca de 6 km cada e não deslustra a Praça Vermelha, pelo contrário, quer dizer que não estamos a ver por que razão não foi possível criar ali no terreno a evacuar, um Roque novo. Era possível! É possível. Mas ninguém pensa e pensou nisso para não diminuir os faraónicos lucros em perspectiva.
é uma pena que muitos ainda pensam que é mais fácil começar do zero com milhões(USD) sem o povo, do que começar do 10 respeitando e protegendo o que o povo já conseguiu.Para mim o Roque Santeiro foi a empresa(embora informal) que mais empregou em Angola, e servia como base de sustento de 75% das famílias luandinas e não só.
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