terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quem cala consente. Algo está a apodrecer no reino do Ngola


Willian Tonet & Arlindo Santana
No reino de Angola, levantaram-se vozes de protesto às denúncias feitas pelo jornalista Rafael Marques num longo trabalho de investigação relacionado com abusos de poder, peculato, tráfico de influências, má governação e corrupção generalizada praticamente instituída pelos principais dirigentes políticos do país na sua labuta quotidiana de gestão das coisas do Estado e alguns afins privados.

Contam-se pelos dedos de uma mão as vozes que, muito longe de serem clamores de indignação, quase em surdina se levantaram, manifestamente com medo de levantar ondas, a contestar tais denúncias, não obstante o partido no poder, mais precisamente, as suas principais figuras, terem sido alvos principais da virulência das mesmas. O menos que se possa dizer a este respeito é que bem curiosa é tanta parcimónia.

Quanto aos principais visados pelo bisturi do Rafael Marques, nem um suspiro se ouviu, caladinhos ficaram nos seus hiper-confortáveis redutos, à espera de alguém que viesse defender a sua honra. Apareceu, sozinho, Rui Falcão, a pedir a intervenção dos órgãos competentes, no sentido de apurar a veracidade dos factos incriminados. Mas não apareceu ninguém, pelo que se presume que em Angola, à parte o seu presidente da República (o principal visado pelas críticas em questão), não há órgãos competentes!

Angop, Jornal de Angola, RNA, TPA, os “Quatro Mosquiteiros”, imitados pelos semanários agora “despasquinizados” a alto preço, quedos e mudos se quedaram, numa muito surpreendente calmaria, pontuada por um “silêncio tumular das autoridades de Angola ante as acusações de que o país tem sido alvo, quer em relação à violação dos Direitos Humanos ou outras situações, (que) em nada contribuem para qualquer boa imagem de governação que se queira passar, quer interna como externamente”, tal como se exprimiu Victor Aleixo numa crítica ao Executivo, em um outro contexto, mas que se pode aplicar neste caso.

A verdade é que em países com menos “bananas” que o nosso, denúncias como as que Rafael Marques formulou seriam destaques na Televisão (pública e privada), nas rádios e em todos os jornais (até nos estatais), a que se seguiriam as intervenções dos órgãos competentes de justiça e de polícia, a começar pelo Ministério Público, Tribunal de Contas, Presidência da República, todos eles no seu pleno exercício de investigação, a fim de apurar os factos e aplicar na prática o famigerado princípio de TOLERÂNCIA ZERO que em Angola apenas se aplica aos "cabuenhas".

Outra verdade é que se os nossos deputados “fossem mesmo sérios, dinâmicos, e patriotas”, como escreveu Felizarda Mayomona num artigo publicado no Club-k, “teriam levado o assunto ao Parlamento, «e exigiriam que o debate fosse transmitido em directo, sem censura, para que o povo pudesse então conhecer os nomes dos verdadeiros corruptos, bem como as posições dos seus "representantes" neste assunto que considero "top priority" porque afinal de contas trata-se da nossa pátria, da nossa Angola, da nossa mãe», comentário primoroso que Felizarda pontua com uma pertinente pergunta: «Como é que vamos admitir e aceitar com tanta passividade, que alguns angolanos roubem descaradamente os bens do Estado como se Angola fosse deles, aumentando assim os seus patrimónios enquanto a maioria do povo carece de tudo um pouco, nem água e luz temos em condições neste país».

Como que para apimentar este estado de coisas, Angola é dotada de imensuráveis riquezas naturais e tem registado, nos últimos quatro anos, um impressionante crescimento económico. Lógico. «Todavia, a gestão desses recursos e do património do Estado, em geral, tem gerado mais injustiças políticas, sociais e económicas do que benefícios para a maioria da população angolana. Esta é a maka», como diz Rafael Marques em jeito de prefácio ao seu trabalho de investigação de que veremos alguns aspectos a fim de nos darmos conta da gravidade das acusações. Sem resposta.

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