segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bloqueamento suíço. As relações angolanas de Walter Fust


O que fazem os bajuladores do regime que todos os dias pioram a imagem de Dos Santos no exterior

No meio da obesa euforia pseudo-patriótica, com designações do tipo, «Angola, uma das maiores economias de África e uma das mais dinâmicas do mundo», o que dá, na nossa impotência de cidadãos sem armas, uma intensa vontade de rir para não chorar perante a miséria dos mais de doze milhões de angolanos, constatamos que por seu lado, no estrangeiro, a “alta hierarquia” do país, essencialmente família próxima do presidente ou seus amigos de confiança, continuam a denegrir a sua imagem sem se darem conta disso. Este artigo mostra como «José Filomeno de Sousa dos Santos, o filho de José Eduardo dos Santos, o presidente-dictador angolano, líder de um dos Estados mais corrompidos do mundo, segundo a classificação da organização Transparency International», depois de ter subscrito um contrato na Suíça, numa tentativa de salvaguardar o bom nome de Angola, apenas um dos seus quatro parágrafos foi cumprido. Os outros três , segundo os suíços, foram...esquecidos.

Agathe Duparc et Anne-Frédérique Widmann*29 unho

O cidadão suíço Walter Fust, que dirigiu a DDC durante 15 anos, é presentemente membro duma fundação acabada de criar na qual tem assento o filho do presidente-ditador angolano, segundo informações recebidas da TSR. Mandato esse considerado inconveniente pelo Parlamento.

Até Abril deste ano, esse antigo alto funcionário da Confederação Suíça dirigia o Fórum humanitário das Nações Unidas do ex-secretário-geral Kofi Annan, extinto sob o peso de elevadas dívidas. Ei-lo agora membro duma nova fundação a Afrikanische Innovations Stiftung (Fundação Africana para a Inovação) baseada em Zurique. O seu assento é ao lado de José Filomeno de Sousa dos Santos, o filho de José Eduardo dos Santos, o presidente-dictador angolano, líder de um dos Estados mais corrompidos do mundo, segundo a classificação da organização Transparency International (consultar os seu último relatório).

Pasmo no Parlamento

Francine John-Calame, conselheira nacional (Verdes/NE) e membro da Comissão de política exterior, qualifica esta presença de “muito perniciosa”. Afirmou à TSR ser sua intenção pedir esclarecimentos ao Departamento federal dos Negócios Estrangeiros (DFAE)

Contactado por telefone, Toni Frish, o número 2 da DDC, disse que nunca tinha ouvido falar dessa fundação instalada em Zurique. Quanto ao DFAE, esse recusa expressar a sua opinião sobre o assunto.

O filho de Dos Santo assistiu em Zurique ao primeiro comité executivo da Fundação no passado dia 8 de Junho, ao lado de Walter Fust. Contactado por telefone, o professor suíço Ernst Brugger, que preside a Fundação, explicou que três temas foram discutidos nessa reunião: um projecto para a educação de crianças, a elaboração de uma lei anti-branqueamento de dinheiro em Angola e uma eventual cooperação entre grandes escolas suíças e universidades angolanas.

A dada altura, especificou que a Fundação nasceu por iniciativa do filho de Dos Santos e de Jean-Claude Morais de Bastos, um angolano naturalizado suíço e domiciliado no Tessin. Juntos, estes dois homens dirigem o banco Quantum, um banco de investimentos fundado em 2007. Com 33 anos, José Filomeno de Sousa dos Santos é apresentado pela imprensa angolana como sendo o favorito à sucessão do seu pai. O herdeiro de Dos Santos tem intereeses no imobiliário e na banca.

Suíça-Angola : acordo assinado em 2005

As relações que existem doravante entre o filho do presidente angolano com Walter Fust conjugam-se com uma outra história, a dum acordo assinado entre a Suíça e Angola em Novembro de 2005 para a restituição de 21 milhões de francos suíços bloqueados no quadro de um inquérito sobre corrupção. Ora, Walter Fust foi o homem chave deste acordo de restituição, denunciado como opaco por algumas ONG’s, dentre as quais a Declaração de Berna.

Esse programa social e humanitário Angola-Suíça (PSH) prevê que o dinheiro restituído sirva para financiar projectos de desenvolvimento e de desminagem sob tutela da DDC. Em 2008, o Hebdo tinha revelado que a sociedade suíça de armamento de Estado, RUAG, tinha obtido um contrato, hoje realizado por um montante de 12 milhões de dólares, para a prevista desminagem, sem ter que passar apelo de ofertas. Por outro lado, a vertente consagrada à construção de escolas e à formação agrícola (12 milhões) ainda nem sequer começou.

A resposta de Walter Fust

Quanto a Walter Fust, esse, responde por escrito o seguinte: «Ofereço o meu saber em matéria de desenvolvimento em outras fundações. Sou uma entidade privada e tenho o direito de participar nos trabalhos de fundações, só espero que nem vos passe pela cabeça que eu não examinei com o máximo rigor a minha participação. Examinei o pedido que me foi feito com o presidente (de Angola) e com os fundadores da Fundação e, depois de ter recebido todas as informações, decidi participar porque creio poder trazer uma mais-valia graças ao meu conhecimento em matéria de desenvolvimento».

*TSR (Televisão Suíça)
Imagem: concurso-educalia.blogspot.com

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