O líder da oposição cabo-verdiana exigiu no 26.07 a José Maria Neves que explique, antes das presidenciais de 07 de Agosto, as declarações sobre a morte de Amílcar Cabral, considerando “muito graves” as palavras do seu homólogo do PAICV.
Carlos Veiga, líder do Movimento para a Democracia (MpD), falava aos jornalistas antes de embarcar para a ilha da Boavista, onde foi acompanhar a campanha do candidato apoiado pelos “ventoinhas”, Jorge Carlos Fonseca, e indicou que a explicação servirá para permitir que o povo ”possa votar em consciência”.
Há quatro dias, o presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) alertou num comício de Manuel Inocêncio Sousa, apoiado oficialmente pelo partido no poder desde 2001, que era preciso ter cuidado com os “intriguistas”.
Na ocasião, Neves disse que Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), foi assassinado (a 23 de janeiro de 1973) por dirigentes do PAIGC por causa de “intrigas de poder” e da “falta de respeito pelos valores”.
Mostrando-se “muito surpreendido” com as palavras do presidente do PAICV, que é também primeiro-ministro, Carlos Veiga afirmou não compreender o que as presidenciais têm a ver com a morte de Amílcar Cabral, assassinado em circunstâncias ainda por esclarecer.
“Fiquei muito surpreendido com as declarações, que considero muito graves e que contrariam toda a história da morte de Amílcar Cabral, que contraria o que tem sido vendido ao longo dos anos aos cabo-verdianos e também porque não se compreende o que é que isso tem a ver com as eleições presidenciais”, afirmou.
“Não sei se as declarações foram feitas porque algum dos candidatos esteve envolvido ou se é apoiado por alguém que esteve envolvido na morte de Cabral”, acrescentou, numa alusão à “guerra” entre os dirigentes do antigo partido único, divididos entre as candidaturas a Manuel Inocêncio Sousa, apoiado pelo PAICV, e Aristides Lima, da esfera dos “tambarinas”.
A imprensa cabo-verdiana está a associar as palavras de Neves à candidatura de Aristides Lima, implicitamente apoiado pelo presidente cessante, Pedro Pires, que, em última análise, é o destinatário das palavras do líder do PAICV, uma vez que o atual presidente de Cabo Verde era dirigente do então movimento de libertação.
“Estamos num momento bastante importante, num momento de decisão para a escolha de um Presidente e não podem ficar dúvidas. É algo muito grave, que tem de ser esclarecido de forma cabal antes das eleições, para que o voto do povo seja feito em consciência e com o conhecimento total que é preciso ter”, disse Carlos Veiga. Para o presidente “ventoinha”, as palavras do líder do PAICV são sinónimos de que as coisas “não estão muito bem” no partido. Também isto tem de ficar muito claro para a sociedade cabo-verdiana, para que não estejamos a comprar gato por lebre”, afirmou, lembrando que Neves “já saiu impune” quando, há uns anos, acusou o MpD de ligações aos cartéis da droga.
“O que é que quis dizer? O que é que tem a ver com os atores das presidenciais? Na candidatura de Jorge Carlos Fonseca não há ninguém que tenha participado no assassinato de Cabral. Éramos todos muito pequeninos, muito jovens. Nas outras candidaturas não sei”, concluiu.
Campanha conhece endurecimento dos discursos
O tom da campanha das presidenciais de 07 de agosto em Cabo Verde endureceu, com a entrada em cena de acusações políticas que, curiosamente, envolvem apenas os dois candidatos da esfera do partido no poder, PAICV.
Num comício de apoio a Manuel Inocêncio Sousa, candidato apoiado pelo PAICV, Neves disse que era preciso ter cuidado com os “intriguistas”, sublinhando que Cabral, fundador do então movimento de libertação (criado em 1956) foi assassinado por dirigentes do PAIGC devido a intrigas de poder e à falta de respeito pelos valores.
A alusão é óbvia, assume a imprensa cabo-verdiana, dirigindo as “graves acusações”, em última instância, a Pedro Pires, que está por trás da candidatura de Aristides Lima, arrastando consigo a “velha guarda” do PAICV para combater os “jovens turcos” do partido.
A questão de fundo, além da divisão no seio do PAICV, é muito mais profunda. Em causa está o futuro do líder do próprio PAICV, que chefia o Governo desde 2001, uma vez que uma derrota de Inocêncio Sousa nas presidenciais o porá em causa, seis meses depois de vencer, com maioria absoluta, as legislativas.
Aliás, o “tudo por tudo” do PAICV para descredibilizar Aristides Lima está patente no comunicado que o partido divulgou a 22 deste mês, em que alerta que uma fragilização de Neves o levaria a deixar a liderança partidária e, consequentemente, a chefia do Governo, “com graves consequências para o país”.
Aristides Lima, que tem andado em campanha pelas ilhas do norte do arquipélago – Santo Antão, São Vicente e São Nicolau, ainda nada respondeu, mesmo quando solicitado pelos jornalistas, optando por continuar a apelar ao voto na sua candidatura.
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