O país está hipnotizado. Atolado no lamaçal duma gestão económica ruinosa e “luandizada”.
O ponteiro da bússola está calcinado pela discriminação, injustiça e intolerância política, as grandes divisas do regime.
Temos assim, no topo Norte, um gabinete presidencial (Executivo), no qual a maioria indígena já não acredita nem respeita, embora viva sob a alçada da soberba, da arrogância, da petulância e da indiferença, resguardadas pelos escudos das Forças Armadas e da Polícia Nacional, ainda por demais partidarizadas.
No topo Sul, a oposição, na sua generalidade, mas principalmente visível no maior partido: a UNITA, com uma liderança considerada por muitos sectores, internos e externos, de insegura e fragilizada, não dando garantias a nenhuma tão esperada alternativa.
A actual direcção da UNITA não tem conseguido consolidar um projecto credível nem apresentar uma “equipa governativa sombra” visível e interventiva, capaz de criticar e apontar caminhos diferentes dos principais programas e políticas económico-sociais do “governo”.
Com a recusa de realizar um congresso extraordinário sem manipulação da massa eleitoral, Samakuva dá mostras de não saber o que quer fazer e qual o rumo a seguir, como se imitasse o homem que ele critica por estar na liderança de 32 anos de poder sem nunca ter sido eleito, o presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos.
Como se pode ver os maus exemplos estão à mão de semear, provando estar o barco à deriva e qualquer dia com os ventos da insatisfação social, ninguém o conseguirá controlar.
Veja-se o que se tem passado com as prisões arbitrárias de membros da sociedade civil, da oposição e de quem reclama visões diferentes sobre as realidades regionais. As mortes de vendedores de rua e de mulheres zungueiras, por parte de fiscais, que parecem ser autênticos esquadrões da morte camuflados, pois armados até aos dentes e com balas reais. Isto sem esquecer o espancamento e queima de adversários políticos, considerados inimigos a abater a qualquer custo.
E não foi um dirigente da oposição a dizer que as eleições de 2012 não seriam pacíficas nem transparentes, mas dois altos membros do bureau político do MPLA, sendo um, o governador provincial do Huambo, Faustino Muteka e o outro, o 1.º secretário do MPLA em Luanda, Bento Bento, campeões das políticas de intolerância levadas aos extremos, liderando o caminho dos maus exemplos e da fraude anunciada.
Terão dito a José Eduardo dos Santos e ao MPLA, se calhar sem medir futuras consequências, que as suas receitas seriam as mais certas e eficazes para intimidar quer os Ovimbundos, e não só, ligados a UNITA, quer os políticos dos arredores das capoeiras do Galo Negro...
Se os exemplos de intolerância vêm de cima, dos dirigentes do partido no poder, como estranhar a onda de violência e intolerância que vai crescendo no país, com a cumplicidade dos órgãos policiais?
Ademais tem sido desastroso o sistema de Justiça, conducente rigoroso da legitimação da partidarização numa omissão velada ao respeito da Lei e do Direito.
Hoje, o mais difícil é visualizar o papel cego e imparcial do órgão fiscalizador da Lei, quanto ao excesso de prisão preventiva e à manutenção carcerária de milhares de presos sem culpa formada e provas cabais de culpabilidade, numa clara demonstração de falta de igualdade entre os cidadãos.
Isto é intolerável em democracia, mas muitos órgãos e magistrados da PGR fazem letra morta, inclusive de uma orientação do próprio Procurador-geral da República, João Maria Moreira de Sousa, de NÃO PRENDER PARA INVESTIGAR. Infelizmente esta prática tem sido corriqueira nos últimos tempos, vendo-se ainda, numa clara violação aos direitos humanos, crianças de 14, 15 e 16 anos encarceradas por mais de quatro (4) anos, acusados de crimes de galinheiro.
E quando isso se torna corriqueiro, está lançada mais uma fagulha para a desestabilização social, que se aproxima “tsunamicamente”.
Este comportamento aliado à má gestão económica, a corrupção, a má distribuição da riqueza angolana, a privatização do Estado a favor do MPLA e da família presidencial, o privilegiamento das empresas estrangeiras, a discriminação e a perseguição a todos que pensem diferente da política da bajulação, transforma a Presidência da República em barco à deriva, cuja bússola, avariada, seguramente não a levará a ancorar a bom porto, ainda que sob a manha da arrogância e da força dos canhões, ela (a Presidência) acredite continuar a ter um controlo sobre as massas e o próprio aparelho policial e militar. Erro sério que lhe custará caro.
Ao menor abanão, e a organização das próximas eleições serão um teste susceptível de criar alguns, o navio poderá se afundar, e com ele arrastar o regime trintão e o seu partido.
E o grave em todo este desnorte, prende-se ainda ao facto de o maior partido da oposição não dar mostras de seriedade e ter uma direcção acusada de seguir as mesmas peugadas que JES, pois não quer sujeitar-se a eleições internas, sem ter o controlo da máquina eleitoral dos votos e das urnas. Com tudo isto, o país está hipnotizado e a dar sinais de saturação, face à miséria que campeia, ao desemprego e à brutalidade das forças policiais e militares ainda fiéis ao regime.
Mas se ainda não existem leituras, por parte dos “bufos” e ideólogos do regime, sobre o crescendo da insatisfação no seio das FAA e da Polícia Nacional, como também da descrença dos cerca de 3 milhões de desmobilizados das extintas FAPLA (MPLA), ELNA (FNLA), FALA (UNITA), e mesmo das FAA, então a cegueira do regime é maior que a profundidade do abismo para o qual somos levados a caminhar como se fossemos de férias.
E quando isso acontece, o governo já não é governo. É um clube de amigos, apegados cegamente ao poder e à corrupção, é um navio sem rumo, desprezando todas as oportunidades de evitar os milhares de furos que se vão postando na “bóia” popular. Para o afundar
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