Por carência de promoção-marketing apropriado passou um quanto despercebido o formidável Show de Bento Bembe na LAC. Foi no dia 10 de Agosto do ano em curso no programa Café da Manhã do Zé Rodrigues. Por essa ocasião, o então secretário de Estado para os Direitos Humanos conseguiu negar a realidade e circunscrever a mesma ao que ele consegue vislumbrar pelo binóculo que lhe ofereceu o “Executivo” angolano e que ele pôs no olho da maneira que lhe disseram para pôr, ao contrário. Inventou um novo campo semântico para os Direitos Humanos, ao dizer que o “governo” tem feito um trabalho formidável no sentido de melhorar as coisas, como ficou mais que provado quando Sua Excelência Presidente da República anunciou que a juventude angolana poderia agora ter uma casa por 60.000 dólares, em seguida, mostrando-se ainda insatisfeito com esta descoberta de sociólogo inovador e de grande arrojo, eis que a uma pergunta do Zé Rodrigues sobre a condenação dos “terroristas” cabindeses, o nosso Bento ainda foi mais longe na ousadia da análise: pegou nos direitos humanos violados em Cabinda, meteu-os numa espécie de grande almofariz imaginário e misturou-os com todos os atropelos cometidos contra os mesmos em Angola, “Por toda a parte se cometem, não é só em Cabinda», disse ele, certificando que a culpa não é do “governo”. Depois, juntou água quanto baste e diluiu. «Tá ver? Não se vê nada. Só os maldosos é que vêem», e rematou sereno e seguro de si: “E como Angola faz parte integrante da comissão de direitos humanos da ONU, como é que se pode dizer que viola?...” Elementar. Mas não é “dear Watson”, não, elementar é o raciocínio. Primário, mesmo.
Começa a cair o reino bajulador de Bento Bembe
Regime coloca no olho da rua bajuladores comprados em Cabinda
Com a Assinatura do Memorando de Entendimento do Namibe, a 01 de Agosto de 2006, entre o Governo de Angola e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD) de António Bento Bembe, houve por aí muito boa gente que pensou ser possível alcançar a paz em Cabinda, mas o que temos é guerra; houve gente que acreditou no começo de uma era de justiça e de combate à discriminação e o que temos é injustiça e sectarismo. Mesmo longe da pressão imposta por Luanda aos cidadãos cabindeses, fora das suas terras estes últimos sentem-se atingidos por um clima de desconfiança unicamente por serem oriundos do conclave e supostamente separatistas.
Bento Bembe, instituído à pressão monetária como parte da solução, disse aos jornalistas por ocasião do primeiro aniversário da assinatura do Memorando de Entendimento de Namibe: «A paz em Cabinda é hoje um facto». Nos dias de hoje o seu estrabismo não melhorou, piorou (ver quadro).
Em Cabinda, hoje, o que se vê e o que se vive é uma triste realidade, as liberdades diminuíram na preocupação constante do regime em divulgar para o exterior uma imagem de paz, a lista de agressões, espancamentos, perseguições, prisões arbitrárias e prisioneiros de consciência aumenta de dia para dia e ainda se fala de assassinatos e de desaparecidos, nas regiões mais recuadas ir às lavras continua a ser uma aventura, as buscas nas casas e o confisco de armas de caça (caiangulos) faz parte, periodicamente, do dia a dia em algumas zonas mais quentes.
Em suma, a situação dos Direitos Humanos em Cabinda caracteriza-se por uma crescente arbitrariedade e violação permanente da Lei.
Quer dizer, as intenções de Paz de 01 de Agosto de 2006 no Namibe e o Decreto de 24 de Outubro que lançou a criação de um Comité Provincial para os Direitos Humanos, após a extinção da Mpalabanda, redundou em mera ilusão.
Como disse o activista José Marcos Mavungo, «(…) a paz alargou-se em considerações que interditam opinar sobre ela e esqueceu-se dos seus valores fundamentais, nomeadamente os autores políticos ao serviço das aspirações legítimas das populações, a igualdade dos cidadãos perante a Lei, a primazia do Direito, o Direito do cidadão à vida, à opinião, à informação e à verdade».
O problema de Cabinda está na solução de JES
Por outro lado, o Executivo, por mais que apregoe uma pacificação a longo termo, já não restam dúvidas de que considera, no seu foro interior, o balanço destes anos de “paz” como sendo francamente negativo. Para JES os “obreiros” dessa paz não cumpriram convenientemente as ordens do regime. Culpa não podia ser dele, é claro, toca pois a ir buscar a tesoura e… corta!, para o olho da rua os desenquadrados!
No que toca a Cabinda, por exemplo, temos Macário Romão Lembe, um dos braços direitos de António Bento Bembe, que foi oficialmente exonerado do seu cargo como vice-governador do enclave, mas vista por muitos cabindeses como sendo uma espécie de colónia. Com ele, foram para o estaleiro, demitidos das diferentes e variantes funções que exerciam, Feliciano Lopes Toco, António Manuel Gime, Aldina Matilde de Barros da Lomba, e Vicente Télica. Limpeza da “casa
Recuando um pouco no tampo, recorde-se que num dos seus tautológicos discursos (03.10.10), JES afirmou que os ministros deviam trabalhar mais e falar menos. Por essa ocasião, Bento Bembe sentiu-se em situação desconfortável por não ter pasta e ele não ter, por assim dizer, nada para fazer. Sendo nulas as suas alternativas, o homem-solução resolveu paliar o inconveniente de se encontrar sem fazer nada, portanto, numa lista derepentemente enegrecida pelo próprio PR, a virar para o negro, recorrendo a uma verborreia de salutar alívio, mas que não resolvia coisa nenhuma (reler quadro).
A sua posição foi-se degradando porque, pese embora a opinião então contrária de Ismael Mateus, a solução encontrada no memorando de Cabinda não tinha pernas para andar, apenas era mais um problema.
BêBê nunca foi aceite pelos próprios cabindeses, o que um belo dia incitou o falecido bispo Faustino Madeca a escrever-lhe uma carta, intitulada «A crise actual no enclave de Cabinda», na qual ele afirmava o seguinte a respeito da sua credibilidade no seio dos seus conterrâneos: «Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador».
A doença incurável de BêBê
BêBê fez ouvidos de mercador. Continuou a negar a existência de um conflito armado em Cabinda, considerando as mortes recentes "actos de banditismo" protagonizados por pessoas que pretendem "resolver questões pessoais" enviando às favas os clamores do deputado da UNITA e activista cívico de Cabinda, Raul Danda, que afirmava haver uma guerrilha activa no enclave e que "há gente que mata e que morre de ambos os lados".
Não, BêBê não via nada de nada: as FAA estão em Cabinda de armas e bagagens?... Nada!, segundo Bembe, as FAA estão em Cabinda para pacificar. A sua cegueira atingiu os píncaros do optimismo irresponsável quando afirmou que morre mais gente aqui e acolá, dando exemplos sem o mais pequeno fundamento, « (…) se formos ver as estatísticas da mortandade podemos concluir que em várias províncias morre mais gente do que em Cabinda", salientou. Bobagem, como dizem os brasucas!
É. O raciocínio de Bento Bembe insere-se na longuíssima lista dos casos desesperados de cegueira mental (José Saramago). E o que ele diz dificilmente pode ser contestado, pois, na sua opinião, ele é que sabe, os outros não percebem nada. "Eu, nascido em Cabinda e alguém que já fez guerra em Cabinda, tenho uma experiência da guerra que data de 30 anos. Aqueles que ainda falam da existência de guerra de guerrilha em Cabinda, muitos deles não fizeram a guerra e não a entendem e nem podem definir a própria palavra guerra em si", acrescentou Bembe num arreganho de incomensurável patriotismo. E acrescentou (é melhor sentarem-se antes de ler): "Todos nós lutamos para a independência de Cabinda (!!!), mas é preciso compreender que as coisas mudam e os contextos também", disse ele.
O que é pena é ele só ter razão na segunda parte da frase: «as coisas mudam e os contextos também». Pois é, a luta pela independência de Cabinda, que, em 2006, podia ter sido negociada no sentido de criar um regime de governação autónomo, mas ligado ao país (como a ilha da Madeira em relação a Portugal), hoje já não pode. E o problema é BêBê! E JES.
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