sábado, 25 de dezembro de 2010

Cote D’ivoir


António Monteiro vê “situação perigosa”
mas tem esperança na mediação de Mbeki

A Cote D’ivoir vive “uma situação perigosa” porque os eleitores não vão aceitar a recusa do presidente em abandonar o poder, considerou no 06 António Monteiro, manifestando-se esperançado na mediação do ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki.
A crise política que aquele país atravessa tem origem na recusa do presidente cessante, Laurent Gbagbo, em aceitar os resultados das presidenciais de 28 de Novembro, ganhas, segundo a Comissão Eleitoral Nacional e a ONU, pelo opositor Alassane Ouattara com 54,1 por cento dos votos.
Para o embaixador português António Monteiro, que entre 2005 e 2006 foi o primeiro representante especial da ONU para as eleições na Cote D’ivoir, “é evidente que é uma situação perigosa, porque os habitantes que votaram maioritariamente em Ouattara não aceitarão esta tentativa golpista da parte de Gbabo”.
O embaixador disse esperar que tanto Gbabo como os que o apoiam, designadamente as Forças Armadas, tenham “consciência de que foi virada uma página” e de que “é altura de respeitar a ordem constitucional e o resultado da votação” para que “seja ainda possível evitar um conflito armado”.
Para isso, o embaixador manifesta a sua confiança na missão de mediação da União Africana, encabeçada por Thabo Mbeki, porque se trata de alguém que “conhece a situação” e, no passado, “soube ter uma relação de confiança” com Gbagbo, estando por isso em posição de lhe dizer “que é altura agora de reconhecer o ato eleitoral e se conformar com aquilo que é a escolha dos eleitores”.
António Monteiro lamentou a situação que se vive no país e apontou que a ONU gastou “tempo e recursos” na preparação das eleições para que “elas constituíssem um marco na história do país. Esperava-se que todos os atores na Cote D’ivoir tivessem interiorizado bem que um ato eleitoral certificado pela comunidade internacional é um ato legítimo e que expressa a vontade popular”, disse.
Sobre o argumento de Gbagbo, que viu o conselho constitucional declará-lo vencedor, o embaixador rejeita qualquer fundamentação, sublinhando que a Comissão Eleitoral “é independente”, enquanto que o conselho “é muito próximo do presidente” e “não é independente no seu julgamento. O que há aqui de facto é uma tentativa política de inverter o resultado - e isso é inaceitável - através de um órgão que não dá garantias nenhumas de idoneidade nem de independência em relação ao poder constituído”, disse.
Entretanto os chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reuniram-se extraordinariamente em Abuja para analisar a situação nesse país. “Face ao inesperado volte-face dos acontecimentos na Cote D’ivoir, depois das recentes eleições presidenciais, a Comissão da CEDEAO quer expressar o seu grande desapontamento e preocupação pelas anomalias registadas, especialmente na cerimónia de posse do Presidente eleito”, lê-se no comunicado de Abuja, acrescentando que a Comissão da CEDEAO reafirma, por outro lado, a “condenação veemente” da tentativa de “usurpar a vontade popular” na Cote D’ivoir e apela a todas as partes para que “aceitem os resultados proclamados pela Comissão Eleitoral”. Este órgão (Comissão Eleitoral) declarou o candidato da oposição, Alassane Ouattara, como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais com 54,1 por cento dos votos.
No entanto, o presidente do Conselho Constitucional, Paul Yao N'dré, - familiar e aliado do Presidente e candidato Laurent Gbagbo - não considerou os resultados válidos e declarou mais tarde que Gbagbo, que obteve 45,9 por cento dos votos, era o vencedor. No 04, curiosamente, tal como em 1975, em Angola, os dois candidatos tomaram posse como chefe de Estado da Cote D’ivoir e já nomearam os seus primeiros-ministros.

Imagem: http://www.ionline.pt/

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