terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Presidente do Zimbabwe ignora primeiro-ministro. Ditadores da África Austral que têm os mesmos vícios



O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, esteve no dia 26.11 no Zimbabwe, para tentar resolver mais um conflito entre o seu homólogo Robert Mugabe e o primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, que desde o ano passado se encontra à frente de um Governo de Unidade Nacional, acaba de pedir ao Supremo Tribunal que revogue nomeações de dez governadores provinciais feitas pelo Presidente, sem o ter consultado.

Jorge Heitor

Tsvangirai chamou a atenção da justiça para as obrigações constitucionais do homem de 86 anos que se encontra à frente dos destinos do Zimbabwe desde que este se tornou independente, em Abril de 1980, inicialmente como primeiro-ministro e depois como chefe de Estado, a partir de 1987.
“Ele sabe que não pode nomear governadores provinciais sem o meu acordo”, disse Tsvangirai, vencedor das legislativas de 2008, mas cuja palavra tem vindo a ser sistematicamente ignorada pelo todo poderoso Robert Gabriel Mugabe, que só se teria conservado em funções por meios fraudulentos; e graças ao apoio dos militares.
Jacob Zuma tem vindo a procurar, com muito pouco êxito, resolver as sucessivas divergências entre o Presidente e o primeiro-ministro do Zimbabwe, cuja coabitação se tem revelado extremamente difícil.
Um Robert Mugabe que se mostra confiante de poder regressar aos tempos anteriores ao compromisso que o levou a aceitar Tsvangirai como primeiro-ministro com poderes executivos, que nunca chegou verdadeiramente a exercer, tenciona convocar novas eleições para meados de 2011.
Presidente e primeiro-ministro já não têm as suas habituais reuniões semanais desde que o mês passado Mugabe nomeou os novos governadores de província; e Mugabe tem mesmo dito que não vê qualquer necessidade de se prolongar a vida do Governo de coligação a que a comunidade internacional o obrigou depois da crise que se sucedeu às legislativas e presidenciais de 2008.
O estipulado era que o acordo viesse agora a ser revisto em Fevereiro do próximo ano, mas o Presidente tem dado todos os indícios de querer acabar com a coligação, devolvendo a supremacia total à ZANU-Frente Patriótica, em detrimento do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), de Tsvangirai.
As atitudes de Robert Mugabe enquadram-se, aliás, naquilo que de há muito tem sido o padrão na África Austral, onde o MPLA governa sozinho Angola, o ANC dirige a África do Sul, a Frelimo tem o exclusivo do poder em Moçambique e a SWAPO na Namíbia, sem quaisquer hipóteses de rotatividade ou de partilha séria da administração.

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