segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O ÚLTIMO COMBOIO DO KATANGA


E logo pela manhã, abrimos as janelas e mais um estranho dia nos desgosta: os gases tóxicos dos geradores saúdam-nos, esperam-nos tal e qual a morte. Como a extrema miséria, a fome, que é aquela por quem se espera.
E esses que discordam, que criticam o Politburo, esses sim, são os mais valiosos. Porque os que concordam são apenas falaciosos, e com estes não se pode contar. Porque são sempre os primeiros a atraiçoar.

Gil Gonçalves

Luanda está devidamente preparada para receber as chuvas, a governação não. A questão não é das chuvas, é da péssima governação. Portanto, Luanda está preparada para chuvas, sim! Os governantes é que não.
Os especuladores imobiliários com as rotas da degradação social abertas, especulam, destroem Luanda. Não é nada difícil, qualquer pessoa o nota, o diz, que as obras destes endeusados resumem-se em fechar os caudais das águas das chuvas e enviá-los para os vizinhos, os angolanos ainda não independentes. Por exemplo, no bairro Cazenga as águas não têm por onde saírem. Então, significa que as empresas de construção civil contratadas pelo Governo, agem intencionalmente para destruírem Luanda. E prosseguirem nessa senda interminável. Fazerem-se más obras, de fingir, as chuvas chegam, arrasam e as empreiteiras lá estão para voltarem à execução do mesmo trabalho. Por aqui facturar é fácil, não dá trabalho nenhum, basta destruir. Torna-se evidente que a política da demolição inescrupulosa conduz o caos de Luanda. Apenas existe uma preocupação do que resta da funesta governação. Destruir casebres para os especuladores imobiliários facturarem… assim como uma espécie de transferências fraudulentas no nosso insigne professor bancário BNA, Banco Nacional de Angola. Com tantos prédios, com mais tantas construções anárquicas avalizadas pelo Governo, o que resta da miséria da energia eléctrica, da água e do saneamento, veremos Luanda submergir numa gigantesca corrente marítima de esgotos ao ar livre, porque não existe capacidade da rede. O que interessa é corromper, vigarizar e depois bazar ao encontro das contas bancárias bem recheadas pelas transferências para o exterior. Para o interior não, não vá o diabo tecê-las. Os que ficarem que se danem… mas agora surgiu um novo conceito. Parece que os temores dos terramotos, além de vitimarem inocentes, também perseguem uma certa minoria que já não se sente bem em qualquer parte do mundo. Vivem neste receio e noutro que é o ataque selectivo do terrorismo internacional.
«Como pode um banco emissor ter ignorado as denuncias feitas, durante anos, por bancos comerciais relativas à subtracção de 100 a 150 mil dólares/dia em cada remessa de um milhão de dólares? O que aconteceu no Banco Nacional de Angola configura o desmoronamento de uma das instituições mais nobres da nação. O que aconteceu no Banco Nacional de Angola configura o descrédito perante um terramoto que ameaça instalar a desconfiança dos operadores económicos no sistema bancário.» In Gustavo Costa no Novo Jornal de 05 de Março de 2010.
Quando é que começa a época da caça aos especuladores imobiliários? Porque é que os idiotas e similares se convencem que o mundo é só deles? Porque construir armas para destruir é fácil, construí-las para edificar algo útil é extremamente difícil. Mas, mesmo assim gosto muito da democracia, não gosto é dos democratas. Mas porquê andar assim tão abandalhado, tão à toa, tão destroçado? Meus amigos, estou conforme a actual conjuntura. Porque se caminhamos, se vivemos, se os tememos… então não vivemos! O tempo move-se e nós tão parados, tão amordaçados. Prometeram a independência, a felicidade e a liberdade às populações escravas para as espoliarem e as renovarem para os séculos futuros da mais vil sujeição. Já não sabem, já se esqueceram que a beleza de uma nação é como a da mulher, não se vê, sente-se nas nossas almas.
Quando uma sociedade se torna aviltantemente elitista, uma revolução paira, está para breve. Porque quando os políticos prometem mundos e fundos é evidente que estão a mentir. Eles querem é o poder para continuarem com as oligarquias e nos ensombrarem, nos dominarem. A História é a morte do tempo das multidões sem poderes. Mas, o que é melhor que a democracia?! É não haver democracia. As zungueiras carregam-na nas costas com os filhos. Carregam o fardo muito pesado que lhes dobram as costas… Angola. Continuamente vemos multidões de pessoas a girarem à nossa volta. E no entanto continuamos perdidos, irremediavelmente sós.
Confesso-lhes um grande segredo: a coisa mais difícil que existe é viver. Se não existissem seres humanos, tudo se tornaria tão fácil. Mas conseguiremos viver sem eles? E há um navio negreiro chamado Angola. Há países que só têm um presidente e um palácio. Povo não existe, exterminam-no. Para que servem canalizações sem água, condutores eléctricos sem energia, automóveis sem estradas. País sem governo é como doentes sem hospitais. Como estudantes sem escolas e livros sem leitores. Também impressiona ver como os democratas destruíram a democracia em Portugal. É como os bancos dos brancos… para que servem se nunca têm sistema? São como os submarinos, raramente vem a superfície. Algures no Universo a galáxia Angola foi engolida por um buraco negro. Voltando a Portugal… para avançar têm que acabar com os partidos políticos e instaurar a tal ditadura benévola. Portugal não tem democracia, espelha Angola, que tem uma idiossincrasia. Um manicómio de loucos atacados pela sismodemocracia. E os hospitais psiquiátricos não chegam para a demanda. Que patético, que orgulhoso país que produz tantos loucos. Fabricantes exclusivos da loucura colectiva.
É o Inverno democrático. Agora é que os esbanjadores da democrata Angola podem comprar Portugal… está em saldos. Uma corja de malfeitores que debaixo da ferrugenta capa da democracia capada, destruíram Portugal e os portugueses. E tentam a todo o custo convencer a dinastia Isabelina para também utilizar o mesmo sistema em Angola. Mas não é necessário, porque já está devidamente assentado. Não deixa de estranhar a salutar, muito familiar analogia, o incremento da destruição de Angola e Portugal na mesma lagoa. Por exemplo, em Luanda pouco falta para quando sairmos à rua os esfomeados nos assaltarem, alias já acontece. Por incrível que pareça não existe nenhuma política de emprego para nacionais, apenas para estrangeiros e para o Politburo. Isto e mais os espoliadores das terras e dos casebres. Resistem ainda os vulcões da ignomínia onde o nascimento tumultuoso é sempre certo. Entretanto ultimam-se os preparativos para a vitória da miséria total e incompleta. É que depois de uma revolução mal sucedida, acendem-se velas, porque outra se aproxima, se afirma.
E os inventores de Deus e dos deuses tentam sobreviver na floresta dantesca que criaram, injectando nos rebanhos humanos que apesar de dois mil e tal anos, as populações ainda acarneiradas se salvarão com a prometida vinda do Senhor. Mas serão necessários milhares e milhares de tais anos. Entretanto, o reino dos céus e da Terra fundem-se. Como é que tanta miséria sustentará tantos sacerdotes? Nem telefonar para o Céu se consegue, as linhas dos circuitos Isabelinos estão saturadas, e lá no Céu as lotações estão esgotadas. Já não há mais lugares para almas, têm que enviar de Angola especuladores imobiliários para lá construírem abundantes cemitérios desalmados. Assim não dá para telefonar para lá, as linhas estão permanentemente ocupadas. E lá no Céu há também uma guerra, uma outra espoliação por um pedaço de espaço. Nem no Céu eles nos deixam em paz. Os espoliadores angolanos também já lá lançaram alicerces e a destruição divina é certa. E lá também já têm seguranças. Há pessoas terrenas que conseguiram o número do demónio, e telefonam-lhe regularmente. Está difícil saber que conversas se tratam. Boa coisa não é certamente.
É que qualquer coisa que se diga, que se escreva, mesmo que se pense, lá vem a sentença lapidar: «tem cuidado com a bófia, já deves estar nas listas deles, de modos que tens os dias contados.» E na verdade o terror é tal, que quando nos batem à porta, agitamo-nos que talvez sejam eles, os da secreta. O mais importante neste tempo dos mastodontes é demolir os casebres dos povos. Como sombras perdidas, sem vida.
Para o correcto desenvolvimento económico e social, Angola importou uma caterva de especuladores. Como principal etapa da reconstrução nacional assentou-se nas demolições das casas, casebres, palhotas, pau-a-pique, enfim, tudo o que sejam pequenos ou grandes aglomerados populacionais. Com abismais milhares de demolições, nuvens cinzentas assolam-nos por todos os horizontes. É Angola que se reduz, cheira a pó. E a hipocrisia da Igreja une, estende o seu braço secular a quem lhe pague mais. Vende-se à ditadura e à corrupção. É a Igreja eterna, do infinito papal. A Igreja da devassa fé e da destruição mental. Do quem não sabe fazer mais nada, vai para padre. Eis os reincidentes, os novos afundadores da nação.
E as nuvens de poeira dificultam-nos, quase que não nos deixam respirar. E produzem-nos tal défice mental, que as ideias assim obscurecidas reduzem-nos ao pó decretado. O pó da infâmia, e da epifania, dos mosteiros sem fé. E os especuladores, senhores da realidade, novos caçadores de escravos, embrenham-se nos sertões de betão e proclamam a aurora do breu: «negros e negras, outra vez para as naus! Negros outra vez para as negras marés dos lagos dos bairros artificiais, impolutos e de sangue seco, de cadáveres abandonados, afogados.» Estes são os revolucionários incrustados, nos negros apagados e até nos mares espoliados.
É a festa nacional, do poder do Fausto cerimonial. O poder é para uns tantos porque os milhões sem ele, de esfomeados sem forças para andarem, é difícil se concentrarem, e tudo e todos se dizimarão. Neste campo de batalha, as forças são barbaramente desiguais. Que estranho poder que se presenteia com a demolição das populações que o elegeram e agora as liquida. É o que acontece quando poder e Igreja se unem. As nascentes são incertas e não se sabe quem nelas sobreviverá. É um erro histórico gravíssimo, a condição política fornecer poder à Igreja. Ela deve situar-se longe e abster-se de qualquer intromissão na vida política… e abandonar de vez as tropelias do sórdido rastejar. Assim, mais uma tragédia humana se anuncia. A Igreja e o poder ditatorial são pó, e a ele devem retornar. Na verdade, o que estão a fazer de Luanda é um gigantesco lago nauseabundo, rodeado de alguns prédios e condomínios luxuosos. Qual é o futuro de um país sem energia eléctrica? É governar às escuras.
A prestação de serviços das empresas estrangeiras é a destruição dos cabos de energia eléctrica, das condutas de abastecimento de água, dos cabos de fibra óptica – ficamos sem comunicações – a destruição de passeios e a venenosa poluição ambiental. Energia eléctrica entre 130 a 160 volts, há mais de uma semana junto ao Zé Pirão. Porquê?! Porque são três prédios que dependem apenas de uma fase. Porque os mastodontes da TEIXEIRA DUARTE SA, – parece que compraram uma parte de Angola – erguem mais um prédio que o povo garante que é made in Isabel dos Santos. Ligam as máquinas deles na rede que não suporta o exorbitante consumo, estoiram com os circuitos, e não te rales, são tão sintomáticos, tão sistemáticos. É a selvajaria em relação ao semelhante que não existe, pois claro. Só eles é que são pessoas. Com a espoliação da energia eléctrica, da água, dos casebres, dos terrenos, dos empregos, com o cartel superiormente legalizado que sobe amiúde os preços, e abençoados pela santa Igreja, resta uma mensagem muito azeda que os povos prometem: «esperamos a hora para nos revoltarmos.»

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