sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (5)


ANTÓNIO SETAS

O destino histórico dos titulares do vunga de sudoeste no Estado munjumbo, fornece outro paralelo com a história dos Tumundongo, uma vez que, tal com o ndala do Libolo entre os Mbondo, a província Ovimbundu do mujumbo sobreviveu como reino independente muito tempo depois do Estado progenitor, o Songo, ter desaparecido. O Estado munjumbo do sudoeste cobria as encostas setentrionais do planalto de Benguela, onde os reis do Bié no século XIX preservavam o nome de Munjumbo wa Tembo como fundador da sua dinastia. Eis a versão escrita, um tanto confusa e a manear com grande circunspecção da tradição Tumundongo do séc. XVII sobre a chegada dos Lunda à região Songo.

Um bando de guerreiros, unidos sob a chefia de um líder erradamente designado “Zimbo” (mais provavelmente uma derivação distorcida do título munjumbo) tinha alcançado uma região não identificada do interior. Cada um dos subchefes que o acompanhava seguiu então o seu próprio caminho e estabeleceu-se entre os diversos habitantes daquela região. Os chefes (subchefes) chamados “Ndumba” e “Kandonga” estabeleceram-se em regiões não identificadas, um outro, chamado Ndonje, casado com Musasa, instalou-se num planalto a sul do Kwanza, e o velho rei “Zimbo” por fim morreu, deixando os seus antigos vassalos nas suas respectivas terras, onde ainda governavam como reis independentes nos meados do séc. XVII.



Análise:
1) Todos os pormenores desta tradição relacionam estes acontecimentos com a chegada do kinguri no seio dos Songo e a subsequente dispersão do grupo original de migrantes.
2) O nome da esposa de Ndonje, Musasa, designava provavelmente as matrilinhagens de (Lucaze na) Mwazaza, grupos de filiação ainda designados pelas modernas genealogias com tendo relação com os títulos Lunda, um dos quais era o ndonje.
3) Os outros dois títulos referidos(no séc. XVII), Ndumba (a Tembo dya Mbumba a Mbulu) e (Kabuku) ka Ndongo “Kandonga” aparecem noutras fontes como companheiros do kinguri e do mujumbo. Mais uma referência às linhagens Lunda.
4) O reino original do “Zimbo” localizava-se algures no desconhecido planalto a sul do Kwanza, confirmando a separação do munjimbo do kinguri e a sua expansão para o sul.

Uma tradição do Bié conta a história do bando de Kinguri, que a dada altura atingiu o rio Luhando depois de muitos anos de lutas em que prevaleciam costumes de canibalismo generalizado (as “leis kesila”) que os levava sempre a moverem-se em busca de novas populações que lhes pudessem servir de alimento (!) e desse modo acalmar os espíritos ancestrais. A linha de enredo dessa narrativa – guerras intestinas, dominação cruel do líder, movimentação para sudoeste e gradual fragmentação do grupo, de que resultou o estabelecimento de reis no Bié e noutras partes do planalto dos Ovimbundu -, descreve claramente a dispersão dos títulos Lunda na região do alto Songo e a descendência evidente do munjumbo dos Bienos entre os oponentes do kinguri, cuja crueldade amplamente notificada justificava o seu abandono desse título Lunda. Essa ruptura nasce a partir do momento em que os membros do grupo começam a se virar uns contra os outros para satisfazer as suas necessidades de carne humana. Segue-se um conflito interno, seguido de outros, e finalmente alguns líderes decidiram abandonar os seus costumes canibais e fundaram uma sociedade secreta. Porém, o líder do bando original recusou e seguiram-se lutas sangrentas entre os membros do grupo até que, enfim, alguns líderes abandonaram os seus rivais guerreiros, gradualmente dispersaram-se e estabeleceram-se, governando as populações que ali viviam uma vida sedentária. (O termo “empacasseiro”, usado nesta tradição escrita pode ser equiparado à versão kibinda Lunda. Metaforicamente a selvajaria do kinguri fazia que ele fosse comparado a uma besta feroz e sanguinária, sobrenatural, enquanto o mujumbo, como kibinda que era (os “empacasseiros” da versão escrita) tinha poderes especiais para abater animais daquele tipo.


Resumo:
Títulos estrangeiros Lunda entram na região ocupada pelos Songo. Esses títulos não têm qualquer ligação particular com quaisquer tipos de linhagem e são as linhagens assediadas dos Songo que se apropriam das posições Lunda, fazendo delas pelo menos o núcleo de três pequenos reinos, através de processos que se assemelham aos da conversão que os Mbondo fizeram dos mavunga do Libolo, igualmente sem linhagens. Pelo menos uma das posições Lunda expandiu-se até formar um Estado importante, o do Munjumbo (a Kafuxi /Tembo/Kalunga, etc.), através da concessão de posições vunga, baseadas na faca mágica dos Ovimbundu, o mwela. Em todo o caso, prevalece a tendência constante para uma fragmentação do kinguri, começada muito tempo atrás quando ele ainda se movia nas distantes terras orientais dos Cokwe. A propensão para os títulos Lunda regressarem a uma existência sedentária, denuncia o facto de o bando sem linhagens não oferecer condições e base para exercer um efectivo domínio constante e duradouro. A sua experiência entre os Songo pressagiava, assim, muitas das mudanças que afectariam mais tarde posições correlacionadas a norte do rio Kwanza, no séc. XVII.

Origens do Kilombo

Os titulares Lunda que subsistiram procuraram uma solução para paliar a tendência galopante para a desunião que os caracterizava, adoptando uma associação guerreira dos Ovimbundu conhecida por kilombo. O kilombo fornecia a esses titulares Lunda o que eles não tinham, ou seja, uma estrutura firme, capaz de unir grande número de estranhos e uma disciplina militar que lhes permitia vencer os grandes reinos que bloqueavam os seus movimentos. Na sua fase de maturidade, o kilombo consistia numa mistura de títulos perpétuos Lunda, de posições mavunga originadas entre os Ovimbundo, e dum culto guerreiro desenvolvido algures em terras do kulembe.
Das origens e, sobretudo, das metamorfoses por que passou o kilombo pouco ou nada se sabe, à parte que amadureceu primeiro como um complemento dos reis kulembe, a sul do Kwanza, e que representou uma forma evoluída de uma das estruturas não linhageiras, a que Miller deu o nome de instituições transversais. O significado original primário da palavra designava uma associação de varões, aberta a qualquer um sem ter em conta a pertença a linhagens, na qual os membros se submetiam a impressionantes rituais de iniciação que os afastavam do seio protector do seu grupo de filiação natal, e unia fortemente os iniciados entre si, como guerreiros num regimento de super-homens, tornados invulneráveis às armas dos seus inimigos. Essa combinação de instituições dos Ovimbundu e dos Lwena/Cokwe, forjada provavelmente durante a passagem dos bandos do kinguri através do Itengo e do Mona Kimbundu (onde foram altamente influenciados pelos costumes Cokwe) beneficiaram do contributo dos Ovimbundu que encontraram a sul do Kwanza, sob forma de uma antiga versão dos campos de circuncisão, que actualmente se encontram por toda a Angola central e Ocidental, entre os Tumundongo e os Cokwe, assim como entre alguns Ovimbundu. As tradições orais dos Tumundongo do sec. XVII registaram a formação do kilombo a partir de instituições características dos Cokwe e dos Ovimbundu, contando a história de “Temba Andumba”, rainha legendária, da qual se dizia ter fundado um grande reino com base num culto, designado “execrável seita” por missionários escandalizados, o qual os europeus contemporâneos designavam erroneamente “Jagas”. E o kilombo, “leis dos Jagas”. Segundo elas (as tradições), os ritos kilombo tinham tido a sua origem algures no leste e tinham aparecido com “Zimbo” (ºmujumbo), Ndonje e os outros, algures ao longo do curso superior do rio Kwanza.
Imagem: diamang.com

Publireportagem. Carta aberta


Este é o grito de uma cidadã, que não viu outra forma de ser ouvida, pois já tentei tudo, mas infelizmente, nem no sector que é o fiscalizador da legalidade, encontrei sensibilidade para se fazer justiça. Assim outro meio não vejo para alertar e despertar o senhor Procurador-geral da República, com base nesta denúncia, que se baseia nas várias cartas que enviei a PGR e do qual recebi respostas francamente decepcionantes.


AO
CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
L U A N D A

Excelências,

Eu Maria Madalena dos Santos, filha de Madaleno João dos Santos e de Isabel Fernandes dos Santos, moradora no Projecto Nova Vida Rua 49 prédio 74 3º andar porta 15, sirvo-me da presente para expôr o que se segue:
No pretérito dia 25 de Maio de 2010 (domingo), a Senhora Rosa Sidónio expulsou de casa seu marido Alcides Joaquim dos Santos com quem tenho uma relação assumida há 4 anos.
Na mesma noite ele parte para minha casa para se acomodar, na semana a seguir começamos a sentir movimentos estranhos ao nosso redor, era a Senhora Rosa que havia contratado (BATUQUEIROS) para nos perseguir.
Dias depois estávamos na Ilha no Ponto final a almoçar, depois do almoço dirigimo-nos para o carro quando um INDIVIDUO DE MOTORIZADA aparece chamando o marido a dizer que era urgente, este aceita e fala com o mesmo que lhe informou que estava ALI A SERVIÇO DA D. ROSA PARA NOS PERSEGUIR E QUE HAVIA OUTROS MAS HÁ FRENTE, que depois confirmamos, porque um deles o SR, ALCIDES CONHECE.
No dia 9 de Junho as 7H00, da manhã de saída para o serviço encontramos (eu e o Sr. Alcides) um indivíduo de motorizada (BATUQUEIRO) parado ao lado de minha viatura tendo eu perguntado se estava ali a espera de nós, mesmo preocupada partimos para o serviço.
De regresso a casa no mesmo dia as 20H30’ sinto a porta a bater questiono de quem se tratava na altura o marido que estava sentado na sala reconhece a voz que era da sua enteada filha da Senhora Rosa, o marido pediu-me que não abrisse a porta.
MEUS SENHORES, o que se passou a seguir ninguém mas ninguém tem ideia era a Senhora Rosa Sidónio acompanhada de 6 Senhoras, e como não abri a porta subiram com paus, pedras tudo quanto eram objectivos ofensivos e com todo vandalismo (imaginem Senhores que o aro da porta é em ferro e a fechadura soldada) ARROMBARAM A PORTA para me agredirem e destruir a minha casa. Chamou-se a policia a Senhora Rosa em plena VIA PÚBLICA ALEGOU QUE A POLICIA NÃO TINHA PODERES PARA INTIMA-LA A ACOMPANHAR-NOS A ESQUADRA PORQUE É PROCURADORA E TEM IMUNIDADES, E NÃO ERA LÁ E QUE NENHUM AGENTE DA ESQUADRA DEVERIA INTERROGA-LA
Postos na polícia prestamos as devidas declarações tendo a Senhora Rosa declarado perante a polícia, que NO SEGUIMENTO DESTE PROCESSO HAVERIA MORTES.
Enquanto estava na policia um grupo de 3 elementos do mesmo grupo foram até a minha casa penetram até ao meu quarto e levaram os haveres do marido e alguns haveres meus, tendo a policia resgatado uma parte, das 20H30 só nos vimos livres da SENHORA ROSA E SEU GRUPO as 3H00 da manha, tendo o marido permanecido em casa comigo.
No dia 10 fiz-me acompanhar do marido (Sr. Alcides) fomos participar ao Senhor Procurador Provincial, Dr. Machado, na 5ª divisão do comportamento da sua funcionária tendo o mesmo ficado muito indignado com o sucedido e que de imediato tomaria medidas. Pedi-lhe que fosse instaurado Processo-crime CONTRA A SENHORA ROSA e o grupo que a acompanhou.
Este prontificou-se a tomar todas as medidas pedindo a Procuradora da Esquadra que lhe enviassem o processo até dia 12 (quinta feira) para este ser remetido a Procuradoria-geral da Republica, procedimento que aguardamos até a presente data, sem solução.
A verdade é que de lá até a presente continuamos a ser importunados ao ponto partirem o meu carro cujos danos foram suportados pelo marido, temos um ESPIA permanente dentro e fora dos nossos serviços, ameaças de morte, etc... resumindo somos vigiados 24 horas pelos capangas da SENHORA ROSA QUE ESTA A APROVEITAR-SE DAS IMUNIDADES PARA SEMEAR O TERROR em nossas vidas.
De Junho até a presente data várias tentativas foram feitas junto do Dr, Machado para reaver o processo e saber do seu desfecho, não tendo sido bem sucedida contactei o marido e informei-lhe que iria fazer uma participação a Procuradoria Geral da República e ao Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público para uma tomada de medidas imediatas.

Luanda, aos 17 de Abril de 2009.-

Atenciosamente,

Maria Madalena dos Santos


AO
CHEFE DE DEPARTAMENTO DE INSTRUÇÃO E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DA PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
L U A N D A

Excelência.

Em aditamento a minha carta de 5 de Novembro sou a esclarecer o seguinte:
A invasão a minha casa começou às 8H30 do dia 9 de Junho e o barulho só acabou às 3H00 da manhã do dia 10, durante a noite prestamos declaração na esquadra do Projecto Nova Vida, tendo sido aberto o processo Nº 5078/08 de 10 de Junho.
No mesmo dia Eu e o Senhor Alcides Santos deslocamo-nos a DNIC na 5ª divisão e fomos recebidos pelo Dr. Machado, tendo o Sr Alcides tomado a palavra para explicar o sucedido, a seguir eu pedi ao Dr. Machado que fosse instaurado um processo crime contra a Senhora Rosa.
Na nossa presença o Dr. Machado falou telefonicamente com a Responsável da Esquadra do Nova Vida ordenando que o processo deveria chegar às suas mãos no dia 12 para ele mesmo se encarregasse de enviar a Procuradoria-geral para posteriormente a Senhora Rosa ser ouvida.
Aguardando até ao momento uma decisão por parte da Procuradoria.

Luanda, aos 17 de Abril de 2009.-

Atenciosamente

Maria Madalena dos Santos


AO
CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
LUANDA

Excelências,

Eu, MARIA MADALENA DOS SANTOS, cidadã angolana de 51 anos de idade filha de Madaleno João dos Santos e de Isabel Francisco Fernandes dos Santos, natural de Luanda e residente no projecto Nova Vida Rua 49 E74, sou a apresentar a minha indignação pelo que se segue e , venho por este meio êxpor e solicitar o seguinte:
No dia 9 de Junho de 2008, pelas 20horas e 30 minutos a Senhora Rosa Sidónio, Procuradora junto da DNIC organizou um grupo composto por 3 filhas, genro, 2 amigas das filhas, irmão e outros, instigados por ela para invadir, destruir, provocar desmandos e vandalizar a minha residência, pois a Senhora Procuradora é a única entre elas que tinha interesse directo na acção, pois tratava-se da ex exposa do Senhor Alcides Joaquim dos Santos Chefe de Departamento no Ministério dos Petróleos, que a todo custo tentava recuperar o marido que desavindo a havia abandonado e se encontrava na residência da signatária com quem mantinha uma relação marital de 4 anos.
De acordo com o sucedido no dia 9 de Junho de 2008, e depois de ter seguido todos os trâmites e pacientemente esperado para que sem violência e com justiça o caso fosse resolvido pelos órgãos competentes, deparo-me com uma situação de pura injustiça e proteccionismo.

O Digno Magistrado do Ministério Público exara um despacho em que “alega” não se sabe a que título que o comportamento da agressora não produziu nenhum efeito jurídico-criminal relevante, pelo que não existindo qualquer responsabilidade por parte da procuradora ordena o arquivamento dos autos quanto a ela, e eventual procedimento criminal quanto as restantes.
Depois do contacto com a documentação anexa acham Vossas Excelência que o despacho do Senhor Vice-Procurador é digno?
Independentemente das razões que motivaram o comportamento dela houve efectivamente uma clara e flagrante violação dos direitos e da minha privacidade pelo que a conduta constitui de facto crimes, ameaças de morte, introdução em casa alheia, arrombamento, roubo e ofensas morais gravíssimas.
Exmos. Senhores, o escândalo começou as 8,30 e terminou as 3 horas da manhã e o Digno Magistrado diz não haver crime? Então o mesmo esta a legalizar a violência achando a atitude da procuradora normal e correcta para uma pessoa que se diz defensora da legalidade, imaginem Vossas Excelências se esta atitude tivesse sido praticada por mim contra ela será que a decisão seria a mesma? Ou quererá o Digo Vice-Procurador mandar-me resolver o caso como deveria tê-lo resolvido a quando da invasão a minha casa a pancada, mortes, sangue, água quente, facas, óleo quente e pancadaria, ou será que poderei ter o mesmo comportamento para com ela e não haverá uma atitude por parte dos órgãos de justiça?
INVASÃO, ARROMBAMENTO, INTRODUÇÃO EM RESIDÊNCIA ALHEIA, ROUBO, AMEAÇAS DE MORTEA ALTAS HORAS DA NOITE NÃO É CRIME? ENTÃO O QUE É?
Peço aos Membros deste Conselho para que junto dos Dignos Procuradores Geral da República e Vice-Procurador revejam esta decisão pois não é de todo sensato e pode até gerar violência.

QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA E QUE SEJA JUSTA

Luanda, aos 6 de Dezembro de 2010.-

Atenciosamente

Maria Madalena dos Santos

Benguela. EMPRESA DE ÁGUAS DE BENGUELA DE CRISE EM CRISE


José Alberto

Nas “barbas” do General Armando da Cruz Neto, foram nomeados gestores públicos com antecedentes “CRIMINAIS”
A cruzada contra a corrupção e a delapidação do erário público levado a cabo pelo governador provincial de Benguela, General Armando da Cruz Neto, tem conhecido de a um tempo a esta parte um grande revês, após a “decapitação” dos rostos mais visíveis da Empresa de águas de Benguela acusados de gestão danosa, cujos resultados de um inquérito mandado instaurar para se apurar a sua veracidade continuar a aguardar com grandes expectativas pela opinião pública.
A nomeação de uma nova comissão de gestão provisória liderada por Jaime Alberto como coordenador geral e Zacarias Maciala, responsável para a área de administração comercial e Finanças, por despacho n.º 74/10 de 10 de Setembro do corrente ano, o seu critério foi considerado eivado de afinidades familiares e transformou-se numa hecatombe para imagem do executivo de Benguela.
Segundo apurou o F8, os novos “líderes” das águas de Benguela têm um passado “criminal” na gestão da empresa de águas do Lobito, onde em 1999 desempenharam, respectivamente, as funções de director adjunto e chefe das finanças. No referido período Alberto Jaime, foi acusado de ter desviado do ATM da empresa, hipoclorito de sódio, combustível e material de canalização, foi expulso da empresa, tendo sido ouvido pela Polícia de Investigação Criminal do Lobito, cujo desfecho do competente processo se desconhece até hoje. Em 2004 com um alegado empurrão do seu padrinho de casamento o vice-governador para área económica, Agostinho Felizardo foi indicado para fazer parte do projecto “Águas de Benguela” em execução pela Odebrect.
Já Zacarias Maciala foi acusado pela então direcção geral da empresa de Águas do Lobito de engenharias financeiras pouco claras dentro das normas de gestão o que levou a sua demissão através de um despacho (n.º6/02) assinado pelo seu director geral, António Pascoal aos 25 de Abril de 2002. Fontes que acompanharam o caso afirmaram ao F8, que como defesa a pressão que lhe estava a ser exercida pelos seus superiores face as alegadas irregularidades financeiras durante a sua gestão, teria tirado proveito da sua condição de cabindês fazendo crer que estava a ser perseguido por suspeitas de ser militante da FLEC, tendo assim abandonado o país e solicitado asilo político na Irlanda onde permaneceu até o seu regresso.
Com este “curriculum” a ascensão dos novos responsáveis para a actual gestão da empresa de águas de Benguela e do Lobito está a ser encarada por sectores políticos e sociais como grave falha do governador provincial de Benguela, face a imagem que tem passado de ser partidário em colocar a frente dos destinos de organismos do estado quadros de competência e idoneidade reconhecidas.
Contactados pela nossa reportagem os dois responsáveis, mostram-se indisponíveis para falar sobre o assunto, não podendo desta forma cumprir com as normas do contraditório que a nossa profissão exige.

Última hora

Polícia anti-motim nas ruas de Benguela

A polícia anti-motim saiu novamente a rua na manhã do dia 22.12 para impedir a manifestação de cerca de trezentos trabalhadores das empresas que prestam serviços a empresa de águas de Benguela e que não recebem os seus salários a mais de quatro meses.
No local os trabalhadores foram confinados para uma sala de conferências da referida empresa para um encontro com um membro da sua direcção e para espanto dos trabalhadores, também tomou parte o segundo comandante municipal da Policia de Benguela que não foi identificado e que segundo os trabalhadores proferiu palavras intimidatórias.
Os trabalhadores relataram expressões do comandante municipal da polícia de Benguela como intimidatórias “se se comportarem como da outra vez vamos vos meter na cadeia, pela posição do comandante da polícia eles estão ao lado das águas” A polícia está ao lados das águas, é triste passar o natal sem dinheiro para a família” remataram os trabalhadores.
Numa entrevista concedida a uma rádio de Luanda, o porta-voz do comando Provincial da polícia Vicente Nogueira, justificou a presença do aparato policial junto a empresa de águas para a salvaguarda da segurança pública e não conseguiu justificar a presença ou não do responsável da polícia do seu comando na reunião com os trabalhadores manifestantes.

Angola aposta em plano energético para garantir o desenvolvimento


Se Angola cumprir o plano de investimentos para 2010-2016 em termos de produção energética, garantirá a satisfação das suas necessidades de desenvolvimento, disse a ministra da Energia e Águas Emanuela Vieira Lopes.
A ministra salientou que o aumento substancial na produção de energia eléctrica em Angola - de aproximadamente 7 mil megawats - se alcançará apenas com recurso à geração hidroeléctrica, o que significa energia renovável e amiga do ambiente.
Emanuela Vieira Lopes assinou na África do Sul, aquando da recente visita do presidente José Eduardo dos Santos aquele país, um plano de implementação de um acordo de cooperação com a África do Sul na área da energia, declarando-se "muito satisfeita com a cooperação técnica em curso com os sul-africanos, que possuem a maior capacidade geradora em todo o continente africano".
Para a governante, ambos os países têm muito para dar um ao outro em termos de know-how e recursos naturais. Enquanto a África do Sul recorre principalmente à queima de carvão para satisfazer as suas necessidades energéticas, estando agora a dar os primeiros passos nas energias renováveis, Angola possui cursos de água com enorme potencial de geração de energia hidroeléctrica ainda por explorar.
"Se cumprirmos o nosso programa, poderemos até no futuro exportar energia para a África do Sul, se este país vizinho e irmão necessitar", referiu Emanuela Vieira Lopes.
A ministra da Energia e Águas garantiu que a cooperação técnica em curso entre Angola e a África do Sul está a decorrer de forma muito satisfatória. E embora a África do Sul possua uma central nuclear na região do Cabo Ocidental e esteja ainda a considerar a hipótese de expandir a sua capacidade neste campo, Emanuela Vieira Lopes garante que o nuclear não está nos planos de Angola.
"Além dos 7 mil megawats de energia limpa programados, consta ainda do nosso plano a construção de outras 150 mini-hídricas e com todos os recursos nessa área que ainda não estão a ser utilizados temos muito campo a explorar", concluiu.
Sobre o reforço das relações entre Luanda e Pretória conseguido com a primeira visita do Presidente Eduardo dos Santos à África do Sul, Emanuela Vieira Lopes considerou-o "um passo muito grande na direcção certa".
"Nós somos mesmo muito amigos, quer os povos, quer os governos, e estes desenvolvimentos vão tornar-nos a ambos mais fortes. Eu, particularmente, tal como os muitos angolanos que estão aqui, na África do Sul, e em Angola, fico muito feliz com esta aproximação", disse a ministra.

Afeganistão. Mortos mais de 700 soldados da força internacional desde 01 de Janeiro


O número de soldados da coligação internacional mortos no Afeganistão desde o início do ano ultrapassou a barreira dos 700, de acordo com uma contagem da AFP com base no “site” independente icasualties.org.
Segundo os dados disponíveis no “site”, morreram no conflito desde 01 de Janeiro até hoje 701 militares das tropas internacionais que integram a coligação encabeçada pelos Estados Unidos no Afeganistão, o que torna este ano o mais mortífero desde o início da intervenção, em 2001.
O ano de 2009, com 521 mortos, tinha já sido o mais sangrento para as tropas internacionais, que desde há três anos enfrentam uma considerável intensificação da rebelião dos talibãs.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (4)


ANTÓNIO SETAS

O kilombo dos Mbangala

Na sua avançada para oeste, o kinguri confrontou-se pela primeira vez depois da sua saída da Lunda com reinos vastos e centralizados, tais como o do ngola a kiluange e o do Libolo junto ao alto Kwanza. Igualmente presente naquela região estava uma sociedade iniciática masculina dos Ovimbundo, chamada kilombo, uma das numerosas estruturas sociais ditas “instituições transversais”. Sob a pressão dos grandes Estados a oeste, os titulares Lunda fundiram-se com o kilombo em algum momento do séc. XVI, para constituir poderosos bandos de guerreiros de grande mobilidade, conhecidos por Imbangala, que se espalharam pela região dos Tumundongo depois de 1610 e acabaram por se estabelecer e fundar o que por volta de 1650 constituía os principais poderes políticos Tumundongo da região: Kalandula, Kabuku ka Ndonga, Matamba, Holo, Kasanje, Mwa (mwa) Ndonje, e outros.
Os detentores do título kinguri estabeleceram um pequeno reino entre as linhagens segmentares de Mbumba Mbulu (Songo) que viviam imediatamente a sudeste das fronteiras do poderoso Estado do Libolo, no apogeu dos reis hango nessa altura (Séc. XVI). As linhagens que habitavam aquela região reclamavam-se de uma antepassada comum chamada Manyungo wa Mbelenge, descendente de Tembo a Mbumba. Um “casamento” de tipo habitual entre Mbelenge e Hango mostra que os reis do Libolo tinham conquistado estas linhagens Songo antes da chegada do kinguri. Um segundo “casamento”, desta vez com o kinguri, representa o estabelecimento do título Lunda entre as linhagens do que era ao tempo o Libolo Oriental.
Figuras femininas que representam as linhagens Songo da região mostram sinais de “casamento” com o kinguri. Uma delas, Kahanda, deixou três descendentes, Kakende, Muxima e Kunga, como testemunho de um anterior reino Songo do kinguri. Para Kakende e Muxinda não se identificaram representantes modernos por ser difícil a reconstituição das histórias dos títulos Songo, mas, aparentemente, Kunga tinha sido um dos mais antigos chefes Libolo estabelecido entre os Songo do baixo Luhando, onde ele governou linhagens ligadas a Kavunge ka Tembo, um título relacionado com o reino do Libolo. A associação destas linhagens com o Libolo, assim como a localização de Kunga perto do posto avançado de Mbola na Kasaxe no rio Kwanza, mostram que o kinguri veio substituir o domínio dos reis hango, quando essas linhagens vieram fixar-se nestas regiões, absorvendo o título mais antigo Kunga, de acordo com os métodos de alteração de nomes empregados na expansão de Estados, como os de ngola a kiluange ou do Mbondo.
Antes de terem entrado em contacto com os reino do Libolo os emigrantes Lunda portadores do kinguri não tinham encontrado Estado suficientemente forte para se opor à sua progressão. Mas o Libolo opôs-lhe séria resistência, e nessa altura, assediados que estavam pelos Lubas a leste, encontraram-se de repente encurralados, em virtude desta resistência do Libolo a oeste, o que levou à saída de elementos menos fiéis do grupo para norte e para sul, e mais tarde, como veremos, à eclosão de rebeliões na pequena parte do grupo que restou.
As dificuldades históricas encontradas pelo kinguri na sua luta para se sobrepor aos títulos vigentes no Libolo de além-Kwanza, foi atribuída ao uso de inadequados símbolos mágicos de autoridade (que ele tinha aprendido dos Luba, com os apetrechos já referidos atrás, o kapokolo, o yitumba e a cimbuyia), tal qual referem algumas tradições Lunda.

Kinguri, ao ver que não podia vencer os chefes do Libolo, enviou um dos seus companheiros, Ndonje, que fosse à Lunda e regressasse com uma das insígnias dos chefes tubungu, o tambor ngoma ya mukamba . O kinguri, aparentemente, delegou esta missão ao ndonje por ser ele o responsável pela conservação das insígnias do kinguri, uma honra que lhe fora dada em retribuição da sua ajuda na construção da ponte de madeira de muyombo sobre o Kasai.

Análise:

1) Denuncia-se com esse pedido a crescente desilusão do kinguri a respeito dos símbolos do poder Luba, obtidos de Cibinda Ilunga, associada a uma tentativa para restaurar as antigas insígnias de autoridade Lunda.
2) O facto de o ndonje estar associado à madeira de muyombo, também um símbolo de solidariedade de linhagem (ao invés da magia Luba, dissociada das linhagens), indica que o kinguri se tenha fixado por um certo tempo entre os Songo como um Estado normal baseado nas linhagens e a concessão de títulos que ali fez contrasta com as posições a leste do Kwango, onde as linhagens tinham desaparecido.

Mas a partida do ndonje não levou à pretendida revitalização do kinguri. Este fixou-se entre os Songo, enquanto o ndonje, pouco preocupado em ir buscar o ngoma ya mukamba, se estabeleceu entre os Minungu, um povo que parece ter formado um subgrupo de linhagens Cokwe, com a posição de mwa ndonje, permanecendo até tempos modernos como título de um importante rei Minungu, e outro titular Lunda partia para sul, o munjumbo, cujo nome completo, Munjumbo wa Ngamba ou Munjumbo wa Konde, indica a sua origem como um título sénior dos tubungu Lunda, ou seja, um irmão ou um tio do kinguri. Esta posição tinha abandonado a Lunda com o kinguri, mas separou-se dele no Songo, para formar pelo menos dois Estados importantes, um entre os Songo (a norte do Luhando, ao longo do curso superior do Lui – cujos herdeiros do Bié eram conhecidos por “Kangombe”) e, mais tarde, um outro no planalto dos Ovimbundu.

Esse Estado Songo expandiu-se desde então para sudoeste ao longo das fronteiras do Libolo e desenvolveu um centro secundário na área do planalto de Benguela, nessa época dominada pelo kulembe. E esses descendentes ovimbundu, do mesmo modo que os do Songo( que viviam em volta do rio Mwiji, um afluente do alto Luhando), relembram que Munjumbo tinha vindo do norte, ou seja, do baixo Luhando, e dali tinham ido para as montanhas ditas de “Nzambi na Ngombe”,(“do Grande Espírito e do gado”), o que muito provavelmente se refere ao planalto dos Ovimbundu.
Além disso, o aparecimento desses Estados munjumbo forneceu mais um exemplo de adopção pelos Tumundongo de títulos mavunga, de que os Munjumbo se serviam para as suas proezas mágicas, assim como refere a tradição:

Munjumbo conquistou os Songo do médio Kwanza com a ajuda de uma faca ou machadinha mágica chamada mwela. O mwela tinha a capacidade de sair voando da sua bainha e subjugar tudo o que resistisse aos desejos do seu dono, gritando com uma voz humana enquanto viajava pelas terras bravias, perseguindo os inimigos do seu senhor. No final de todas essa lutas, porém, a faca virou-se contra Munjumbo e matou-o. Os descendentes de Munjumbo, na sua própria linhagem, herdaram a faca e guardaram-na para sempre.



Análise:
1) O termo de língua Umbundu para designar a faca, mwele, correspondente a mukwale do Kimbundu, faca, que nessa língua ainda é designada por poko ou mbele. Em Kasanje, a machadinha chamava-se kimbuya e era diferente, suspeitando-se que ela terá vindo de origens não Tumundongo. De qualquer forma as duas palavras kimbuya e mwele são de origem da região Ovimbundu e designam a mesma arma, a catana.
2) O mwele ou mukwale, era por toda a parte usado como insígnia de autoridade nomeada e não era portador de qualquer mandato permanente transmissível por herança.
3) A faca virou-se contra Munjumbo e matou-o, designa o carácter efémero do seu poder, e a vitória do vunga do sudoeste sobre ela. Os historiadores Mbangala fazem menção de vagas ligações entre o munjumbo e o “Bailundo”, e todas estas vagas conexões levam a considerar que o munjumbo se expandiu pela apropriação de títulos vunga (intransmissíveis) dos seus vizinho de sudoeste.
4) A passagem da faca para os descendentes de Munjumbo, ou seja, dos herdeiros dentro da linhagem do munjumbo, e não para um outro título político, significa que as linhagens Songo reivindicaram formalmente aquela posição. Assim, o mujumbo original ganhou o estatuto de uma posição local Songo e mudou de nome, para marcar a perda dos seus laços com as outra posições Lunda.
Imagem: tamboresdosmontes.blogspot.com

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

África do Sul. Inimigo público nº 1 da polícia de trânsito é luso-descendente António Pina


Um residente de Joanesburgo, que se auto-intitula “Pigspotter” (localizador de porcos), e que alerta os motoristas para os radares de velocidade e “operações stop” em curso é um luso-descendente.
O “Pigspotter”, cuja identidade nunca foi tornada pública por razões óbvias, é o inimigo público nº 1 das polícias de trânsito do país e vários cidadãos, em pelo menos três das nove províncias sul-africanas, aderiram às suas redes sociais no Twitter e Facebook, alertando os condutores que os seguem, em tempo real, para a localização de novas câmaras, móveis e fixas, bem como operações-stop.
Para o anónimo cidadão que nunca foi identificado pelas autoridades, o nome “Pigspotter” não foi escolhido com intuitos insultuosos, sendo mais uma “paródia” ao facto de eles se esconderem em arbustos à beira das ruas e estradas com os seus radares móveis, emitindo milhares de multas por excesso de velocidade enquanto, em sua opinião (partilhada por milhares de admiradores e jornalistas da especialidade) ignoram atropelos muito mais sérios à segurança rodoviária.
Um outro argumento utilizado pelo “Pigspotter” e por milhares de apoiantes nas redes sociais é que grande percentagem dos agentes das diversas brigadas de trânsito, em particular da Polícia Metropolitana de Joanesburgo, é corrupta e aceita subornos de motoristas.
A corrupção entre a polícia de trânsito sul-africana é um facto inquestionável e provado por dezenas de processos disciplinares instaurados pelas suas divisões a agentes, e que levam ao despedimento de grandes números deles todos os meses.
A Polícia Metropolitana de Joanesburgo (JMPD), sob a qual operam os agentes da brigada de trânsito nesta cidade de mais de 5 milhões de habitantes, ameaçou em meses recentes o “Pigspotter” de que iria emitir mandatos de captura por o considerar uma ameaça à ordem pública e culpado de crimes vários, nunca especificados.
A certa altura, o misterioso personagem, que tem hoje milhares de seguidores em Joanesburgo e em todo o país, contratou um advogado, que se reuniu com responsáveis da JMPD para esclarecer e contestar as acusações públicas lançadas contra o “Pigspotter” pelo chefe da divisão de trânsito Wayne Pienaar.
Após a reunião parece ter ficado claro que as atividades do seu constituinte não violam qualquer lei do país e as autoridades deixaram de lançar avisos ao “localizador de radares e patrulhas policiais”.
Em entrevista recente à rádio estatal “5FM”, o “Pigspotter” falou em detalhe das suas atividades e confessou, a uma pergunta de uma ouvinte que detetou o seu “leve sotaque português”, que é, com efeito, luso-descendente.
O homem, que revelou ter entre os 25 e os 30 anos, contou que circula regularmente nas estradas e auto-estradas de Joanesburgo para detetar novos radares e recebe também informações de colaboradores, que transmite de imediato no Facebook e no Twitter.
“Faço-o em protesto contra um sistema que está corrupto até à medula e que é desenhado com o lucro em mente, em vez da segurança dos automobilistas”, disse na entrevista, confessando, quando questionado pela entrevistadora, que já pagou subornos para evitar multas embora se tenha sentido posteriormente “tão culpado como o agente que lhe pediu o dinheiro e o meteu ao bolso”.

Guiné-Conacri. Alpha Condé investido primeiro Presidente democraticamente eleito


Alpha Condé, que liderou durante décadas a oposição na Guiné-Conacri, foi no dia 21 investido presidente, seis semanas após as primeiras eleições livres na história da antiga colónia francesa, independente desde 1958.
Com 72 anos, Alpha Condé, que vai governar pela primeira vez, prometeu "uma mudança radical das práticas de governação após 50 anos de ditaduras".
Segundo a televisão nacional, para a cerimónia participaram quinze chefes de estado, tendo sido anunciadas as presenças de Malam Bacai Sanha, da Guiné-Bissau, Abdoulaye Wade, do Senegal, Amadou Toumani Touré, do Mali, Ernest Koroma, da Serra Leoa, e Ellen Johnson Sirleaf, da Libéria. Denis Sassou Nguesso, do Congo, Blaise Compaoré, do Burkina Faso, Ali Bongo, do Gabão, e Jacob Zuma, da África do Sul.
Angola esteve representada pelo ministro dos Negócios Estrangeiro, Jorge Chicoty, e Cabo Verde pelo Presidente da República, Pedro Pires.
Em representação da França esteve o ministro da Cooperação, Henri de Raincourt, que anunciou "o reforço da cooperação francesa com a Guiné-Conacri", segundo Paris.
Condenado à morte durante o regime do Presidente Ahmed Sékou Touré (1958-1984), Alpha Condé foi preso durante mais de dois anos quando o general Lansana Conté (1984-2008) governava o país.
Alpha Condé prestará juramento diante do magistrado que o condenou em 2000 a cinco anos de prisão "por atentar contra a segurança do Estado", o atual presidente do Supremo Tribunal, Mamadou Sylla.
A cerimónia do juramento decorre no Palácio do Povo, o mesmo onde em 2004 o general Lasana Conté se fez investir Presidente após eleições consideradas fraudulentas pela comunidade internacional em que recolheu 95 por cento dos votos contra um candidato praticamente desconhecido.
Conté permaneceu no poder 24 anos, até à sua morte em 2008, a que se seguiu um golpe de Estado liderado pelo capitão Moussa Dadis Camara.
Moussa Dadis Camara encabeçou durante um ano uma junta militar, cuja gestão ficou marcada pelo massacre de mais de 150 opositores e por uma tentativa de assassínio.
No início deste ano, o antigo "putschista" Sékouba Konaté foi encarregado de levar o país a eleições livres. Num decreto divulgado na noite anterior a posse, Konaté sublinhou que a transição terminou e que a investidura de Condé marca "o regresso à ordem constitucional".
Alpha Condé venceu a segunda volta das eleições presidenciais, a 07 de Novembro, com 52,5 por cento dos votos contra 47,5 por cento do primeiro-ministro Cellou Dalein Diallo, que aceitou os resultados definitivos apesar de ter alegado a existência de fraudes.
Cellou Dalein Diallo, que não assistiu a cerimónia de investidura por se encontrar no estrangeiro, já fez saber que não pretende trabalhar com o seu rival.

França. Acidente do Concorde vai voltar a ser julgado


O acidente de aviação do Concorde que provocou a morte, em 2000, a 113 pessoas vai voltar a ser julgado em França depois de o Ministério Público ter apresentado recurso, noticiou no dia 21, o jornal “Libération”.
Em primeira instância, o tribunal tinha condenado a transportadora Continental e um dos seus empregados. O Ministério Público recorreu da sentença anterior pronunciada pelo Tribunal de Pontoise, nos arredores de Paris, que não condenou os responsáveis franceses pela segurança do avião supersónico, segundo o diário.
O recurso do Ministério Público abrange, além da Continental, condenada porque um dos seus aviões perdeu uma lâmina de metal que, segundo a sentença, provocou o acidente, a Air France, proprietária do avião sinistrado, a EADS, que integra as empresas que construíram o supersónico, e partes civis.
Segundo fontes citadas pelo “Libération”, cada um dos recursos refere-se a uma parte do veredicto, pelo que o Ministério Público optou por recorrer de toda a sentença.
A Continental não concorda que a lâmina perdida na pista pelo avião que partiu antes do Concorde seja o responsável pelo acidente de 25 de Julho de 2000, no aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, como afirma a sentença.
O tribunal alega que essa peça de titânio foi esmagada pelo supersónico, o que provocou a explosão de um dos pneus e, consequentemente, o incêndio de um dos depósitos de combustível.
Uma parte do avião incendiou-se pouco depois de levantar voo e foi contra um hotel na localidade de Gonesse, provocando a morte dos 100 passageiros, nove membros da tripulação e quatro empregados do estabelecimento.
O veredito também condenou John Taylor, empregado da Continental, acusado de ter feito uma reparação defeituosa que permitiu que a lâmina de metal se soltasse.
A companhia aérea norte-americana foi condenada a uma multa de 200 mil euros e a indemnizar a Air France em um milhão.
Os responsáveis pela conceção e vigilância do Concorde foram absolvidos, mas a EADS foi condenada a pagar um terço das indemnizações aos familiares das vítimas por ser considerada responsável civil por negligência.

Guiné-Bissau. Militares e polícias reunidos com ONU para debater reforma setor defesa e segurança


Cerca de seis dezenas de militares e polícias da Guiné-Bissau estiveram no dia 21 reunidos numa unidade hoteleira de Bissau para um debate sobre a implementação do programa de reforma do setor de defesa e segurança, organizado pelas Nações Unidas.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas guineenses, António Indjai foi convidado para o encontro, mas não esteve presente, devido a uma “reunião de urgência” com o primeiro-ministro, tendo sido representado pelo seu chefe de gabinete.
Em declarações à imprensa, o tenente-coronel Dabana Walna considerou o encontro “muito importante”, na medida em que irá permitir aos militares e policiais “apropriarem-se do processo de reforma”.
O responsável militar afirmou que, contrariamente ao que se diz, o processo de reforma do setor de defesa e segurança guineense, não parou, mesmo com o abandono do parceiro União Europeia. “A União Europeia abandonou o processo, mas o processo continua com os parceiros CEDEAO e CPLP”, declarou Dabana Walna, sublinhando que o encontro serviu para divulgar as recomendações das cimeiras internacionais realizadas tanto no país como na Nigéria para dar sequência à reforma.
O chefe de gabinete de António Indjai referiu que em breve “algumas realizações” vão começar a ser visíveis no âmbito da reforma do setor de defesa e segurança, com os apoios da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Dabana Na Walna destacou também que a reforma que vai ser levada a cabo significará “revolucionar e modernizar” as Forças Armadas da Guiné-Bissau, o que não poderá ser entendido, contudo, como um processo de mandar as pessoas para casa, notou.

Ministra do Interior apresenta a demissão

A ministra do Interior da Guiné-Bissau, Satu Camará, apresentou a demissão do cargo, segundo um documento tornado público no 21.12, e entregue ao primeiro-ministro.
No documento, Satu Camará explica que os “factos ocorridos e tornados públicos após ter nomeado os diretores nacionais adjuntos (…) afetaram de forma irreparável a relação de confiança” existente com o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior - “o que tornou impossível a minha permanência no governo”, sublinhou.
No passado mês de outubro, o primeiro-ministro decidiu suspender a ministra de funções por alegada desobediência. Num comunicado, o primeiro-ministro explicou que decidiu suspender a ministra, porque Satu Camará nomeou novos diretores nacionais adjuntos, apesar de em Julho de 2009 ter determinado em despacho a proibição de se fazerem nomeações para “não perturbar ou prejudicar o processo de reforma em curso no setor da defesa e segurança”.
"A senhora ministra do Interior tinha perfeito conhecimento do despacho e, não obstante, entendeu dever fazer várias nomeações de pessoal (oficiais superiores) ao nível do seu Ministério (...) sem conhecimento prévio do primeiro-ministro", refere Carlos Gomes Júnior no documento.
Satú Camará refere ainda no documento que decidiu apresentar a demissão para “facilitar o impasse institucional” e por entender que, enquanto “combatente da liberdade da pátria”, deve fazer parte “da solução e não dos problemas da governação”. Segundo a ministra, assim ficam criadas as “condições políticas para ultrapassar o incidente criado pelo despacho que putativamente me suspende do cargo”.

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (3)


ANTÓNIO SETAS
Quando chegaram à terra dos Cokwe, próximo das nascentes do Cipaka, o detentor do título de maior categoria desta região, Musumbi wa Mbali, aceitou enviar um certo número dos seus súbditos para junto de Kinguri, de facto enviados à morte como futuros sacrifícios humanos exigido pelos espíritos do kinguri. Mas Musumbi wa Mabali desconfiou das intenções dos Lunda, e concordou enviá-las apenas sob a protecção de um dos seus titulares subordinados, Kasanje ka Kibuna (também chamado Kulaxingo – mais tarde os detentores deste título tomaram conta da posição kinguri e fundaram o Estado de Kasange), e para o ajudar vários grupos relacionados com a sua pessoa, conduzidos pela sua mãe e pelos seus três irmãos, KibunaCokwe kya Musumbi, Pande ya Musumbo e Mbumba a Musumbi, além de outros grupos que não ficaram na memória colectiva.
Tão grande mudança social é referida numa outra narrativa Cokwe da região do alto Kasai, onde os efeitos da abolição do kinguri parece terem deixado as marcas mais profundas.

Uma das mulheres do grupo de Kinguri estava prestes a dar à luz quando eles chegaram à margem de um rio que dizem ser o Kasai. Isto irritou Kanyika ka Tembo, um companheiro de Kinguri, o qual tinha proibido as relações sexuais a fim de evitar nascenças que só atrasavam uma marcha já de si lenta e perigosa, pois era preciso avançar depressa para sítios onde houvesse mais caça, que nessa altura era rara e ameaçava famina entre os membros do grupo, apesar dos poderes mágicos dos arcos e das azagaias de Kinguri. Apesar de se ter adiado a travessia do rio até a mulher dar à luz, a filha e a mãe morreram, e toda a comunidade aceitou as suas mortes como um sinal seguro de descontentamento dos espíritos ancestrais. Kanyika ka Tembo (provavelmente chefe de linhagem, que a tradição retrata como tio da mulher falecida), ao tomar conhecimento da morte da sobrinha, censurou violentamente o marido desta, bateu-lhe severamente e ordenou-lhe que enterrasse a esposa e o bebé, o que ele executou a contragosto, sabendo que violava as leis em vigor em todas as linhagens, em que a responsabilidade pelos enterros pertencia aos parentes da pessoa falecida. O marido, de uma linhagem diferente, deveria ter tido apenas deveres secundários a realizar.

Análise parcial:
1) Kanyika ka Tembo ameaçou duplamente a segurança dos seus parentes. Primeiro , ao proibir relações sexuais, pondo em risco a sobrevivência do grupo; segundo ao ordenar que o marido da falecida, de uma outra linhagem, se ocupe do enterro. Como lemba ya ngundu que era, ele devia não proibir a procriação, mas ao contrário, distribuir pelas mulheres o pemba (argila branca), que servia para salvaguardar as suas capacidades procriadoras, e ao deixar de realizar os rituais do óbito poderia causar o regresso do espírito dela para perseguir os seus parentes vivos.

Continuação:

Quando o marido foi enterrar a mulher na margem do rio, um grande número de pássaros levantaram voo do cimo de uma árvore. Ele conseguiu matar um deles, o que constituía o sinal de um favor sobrenatural, já que era sabido que se ele não estivesse em harmonia com os espíritos nunca poderia ter atingido o pássaro. Depois, ao retirar as vísceras ao pássaro, encontrou-lhe na goela sementes de painço e sorgo (massango e massambala), o que significava que deveria existir por perto uma comunidade que praticava a agricultura, permitindo ao esfomeado grupo encontra comida que os tirasse da situação de miséria em que estavam, em risco de morrer de fome. Kinguri e Kanyika ka Tembo concluíram que tinham sem demora que prosseguir caminho para a outra margem do rio. Começaram a atravessar o rio a pé, porque o seu caudal o permitia, mas de cada vez que um deles se metia a caminho rio adentro, as águas cresciam abruptamente e engoliam-no. O nzungu de Kinguri, assim como o seu arco mágico, tinham aparentemente perdido o poder. Tudo isso – as dificuldades para encontrar comida e atravessar o rio - foi atribuído ao facto de Kanyika ka Tembo ter violado as leis ancestrais da Lunda.
Apesar do comportamento instável do rio, conseguiram atravessá-lo sobre uma ponte de madeira de muyombo (árvore onde repousam os espíritos da linhagem, segundo os Cokwe e os Mbundu), construída por um dos outros homens do grupo Ndonje, ponte que permitiu ao povo do kinguri atravessar não apenas o rio, mas também o abismo metafórico que o separava da harmonia com o mundo sobrenatural. E, como prova do restabelecimento dessa boa harmonia, depois de terem conseguido atravessar o rio, depressa encontraram uma aldeia cuja população tinha armazenado abundantes reservas de massango e massambala. Foram muito bem recebidos e, após terem recebido suficiente comida para tirar a barriga de misérias, Ndonje e o kinguri partiram com uma parte do grupo rumo a oeste e deixaram Kanyika ka Tembo com a parte restante naquela área, para se estabelecerem mais tarde perto da nascente do Kasai.

Análise:

2) Ao proibir o nascimento de crianças, Kanyika ka Tembo eliminava a função procriadora das mulheres, o que equivalia a um passo crucial na abolição das linhagens numa sociedade matrilinear. A partir daí, todas as crianças entrariam no grupo através da adopção ou escravização, e teriam deveres de fidelidade somente para com o kinguri. A maternidade, as linhagens matrilineares e o parentesco deixariam de existir.
3) A tradição aqui narrada vem de descendentes de Kanyika ka Tembo, que se separaram do kinguri por não estar de acordo com a supressão das linhagens. E a sua hostilidade para com o novo modo de vida do kinguri, aparece muito claramente na salvação conseguida graças à ponte de mayombo, que os aproximava de novo dos espíritos ofendidos.
4) A fome, e todas as outras dificuldades, mesmo a inoperância do nzungu e do arco mágico, resultam da ofensa perpetrada contra a organização linhageira.
5) Por outro lado, o marido, ao conseguir matar o pássaro obteve a prova cabal de que tinha agido em conformidade com os princípios básicos das grupos de filiação e, por consequência continuava a gozar da bênção do mundo dos espíritos.
6) As sementes que encontrou na goela do pássaro apontam não apenas para uma fonte próxima de comida, mas também para o regresso à vida sedentária agrícola, baseada nas linhagens. Também simbolizam a fertilidade das mulheres e, no seu todo, a recusa de seguir o kinguri, na sua escolha de suprimir as linhagens e na sua vida de deambulações e pilhagens.


Existem muitas outras indicações de que os Lunda abandonaram as linhagens. Mais tarde, no Kasanje, o tema subjacente atinente às mulheres, que tornavam impura a autoridade política derivada dos Lunda, reaparece em várias tradições. O lukano, símbolo de autoridade Lunda, só podia ser usado por varões, depois de eles terem passado pelos ritos da circuncisão. Em certas circunstâncias, o bracelete nem sequer toleraria a presença de mulheres por perto. Uma variante da tradição Lunda confirma o tema omnipresente das mulheres como ofensoras do título kinguri.


Lueji tinha de confiar o lukano aos seus guardiães tubungu durante os períodos menstruais para evitar estragá-lo e assim trazer o infortúnio ao seu povo. Numa dessas ocasiões Lueji entregou o bracelete a Cibinda Ilunga, o seu marido, em vez de o dar aos seus conselheiros. Esse gesto irritou Kinguri e levou às disputas que resultaram na sua partida da Lunda.

Análise:

1) Lunda perdeu a favor dos Luba o seu símbolo sagrado de autoridade.
2) O kinguri passou doravante a ter o maior cuidado quanto à presença de mulheres para não lhe acontecer a mesma coisa.
Derivada talvez do incidente histórico da travessia do rio temos uma outra tradição Imbangala com um enredo diferente

Quando Kinguri chegou ao rio Kwango, naquele tempo chamado Moa, a grande largura e a profundidade das sua águas apresentou-se como um obstáculo ao se avanço. Kinguri pôde atravessá-lo com um salto mágico graças ao nkungu, mas os seus companheiros não puderam. Entre estes últimos contava-se Kwango, filha de Kinguri, que quis atravessar o rio tal como o seu pai tinha feito contra o aviso dos makota, que lhe diziam que uma tentativa dessas era uma loucura. Mesmo assim ela decidiu saltar, mas falhou e afogou-se no rio, o qual desde então passou a ser conhecido pelo seu nome.


Esta tradição, embora diferente da do rio Kasai, com a gravidez da sobrinha de Kanyika ka Tembo e a posterior travessia pela ponte feita de muyombo, assenta também na relação entre as mulheres e a dificuldade de atravessar rios. Estas estruturas idênticas chamam a atenção para o facto de as mulheres e as linhagens serem incompatíveis com a sobrevivência do povo do kinguri. A supressão das linhagens permitia vencer as limitações do recrutamento impostas pelo parentesco e recrutar qualquer elemento de fora e integrá-lo no grupo com um estatuto igual ao de todos os membros mais antigos. Por outra, a lealdade entre linhagens deixaria diluir a obediência total que o kinguri exigia ao seu povo, com a supressão da autoridade dos makota e outras posições controladas por linhagens.
Claro que esta radicalização do kinguri trouxe algumas dificuldades, à medida que eles lutavam para manter a lealdade daqueles que se ressentiam da perda das linhagens, o que levou ao êxodo de vários chefes de linhagens ainda antes de atingirem o alto Kwango (ver Kanyika ka Tembo). Ao longo do caminho foram deixando o kinguri, adoptaram um modo de vida sedentário e formaram os seus próprios Estados, tais como os de Mwata Kandala e Nduma a Tembo. (Cokwe). No entanto, o grupo principal tinha encontrado uma solução para o problema da formação do Estado entre as linhagens segmentares da região a leste dos Tumundonogo, solução que viria a ter consequências dramáticas a oeste. À roda de 1650, o kinguri tinha títulos reais em todos os principais Estados tumundongo – Kulaxingo, que se tornaria o kinguri em Kasanje, mwa Ndonje, Munjumbo, Kabuku ka Ndonga e sem dúvida outros mais.

Imagem: http://protectoradodalunda.blogspot.com/

Euro/Crise - Economist Intelligence Unit. Apoio à Irlanda confirmou receios de investidores com países como Portugal


O resgate financeiro da Irlanda pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) não só não conteve a crise, como “confirmou os receios dos investidores com outros países como Portugal” e possivelmente Espanha, diz a Economist Intelligence Unit.
Na sua mais recente projeção para o crescimento da economia mundial, a unidade de análise económica do grupo The Economist, defende que os sérios problemas orçamentais das chamadas economias periféricas estão a “propagar os receios de um contágio mais alargado, ao ponto de estarem agora a colocar dúvidas sobre o futuro do próprio projeto do euro”, e que a zona euro se mantém na sua pior crise de sempre.
No que diz respeito ao impacto do plano de apoio financeiro sobre a confiança dos investidores, os economistas consideram que este está a ter o efeito contrário.
“O acordo de financiamento de 85 mil milhões de euros da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional à Irlanda não conteve a crise. Pelo contrário, confirmou os receios dos investidores de que outros países como Portugal – e possivelmente mesmo a Espanha, uma economia muito maior – possam também necessitar de um resgate financeiro”, escreve a Economist Intelligence Unit (EIU).
A EIU sublinha, ainda no que diz respeito à Europa, que a crise da dívida está a ameaçar a moeda única e que a austeridade exigida pelos mercados de dívida está a lançar uma nuvem sobre as perspetivas de crescimento deste bloco.
Ainda assim, a unidade projeta um crescimento de 0,9 por cento para 2011 (contra 1,6 por cento este ano) para a totalidade da zona euro, um ritmo que considera “decente”, ancorado essencialmente no desempenho da economia alemã, à medida que a austeridade cerra fileiras e a procura externa diminui.
Para a totalidade da economia mundial, a projeção para 2011 aponta para um crescimento melhor que na análise anterior, apesar de ainda muito abaixo dos níveis de 2010, uma vez que as medidas de apoio às economias começam a ser retiradas e as medidas de austeridade começam a ser implementadas com maior profundidade nalgumas economias.
A projeção de crescimento do PIB mundial (em paridade de poder compra) aponta para um crescimento de 3,8 por cento, prevendo para 2010 um crescimento de 4,7 por cento.
Apesar de considerarem um ligeiro abrandamento das economias emergentes (ainda que durante um curto período de tempo), a Economist Intelligence Unit prevê que estas economias continuem a ser o motor da recuperação mundial e que possa mesmo ajudar economias avançadas como a Alemanha e o Japão, que cada vez dependem mais das suas exportações para países emergentes para impulsionar o crescimento das suas próprias economias.

Cabo Verde. Convenção de Haia sobre adopção internacional precisa ser adaptada à lei nacional


A Procuradoria-geral da República de Cabo Verde (PGR) defendeu no 21 a adequação da legislação nacional à convenção de Haia sobre a Protecção das Crianças e Cooperação Internacional em matéria de adoção internacional.
A PGR e a Agência Regional para as Adopções Internacionais, da Região de Piemonte, na Itália, promoveram durante dois dias um debate na Cidade da Praia sobre a Adopção internacional e a Convenção de Haia, com destaque para as experiências cabo-verdiana e italiana.
A iniciativa visava sobretudo recolher contributos para uma adequação do direito interno cabo-verdiano à Convenção de Haia, que vigora em Cabo Verde desde Janeiro de 2010. O Procurador-Geral da República, Júlio Martins, explicou que este seminário tem também como objetivo sensibilizar os decisores políticos para a necessidade desta adaptação. “O que motiva a Procuradoria-geral, enquanto autoridade central, é debater a convenção, para que daí saiam alguns contributos ou recomendações para o poder legislativo que é o órgão competente para legislar nessa matéria. Portanto é de sensibilizar o poder político para a necessidade dessa adequação”, explicou.
Júlio Martins avançou que existem ainda aspetos da convenção que necessitam de regulamentação para que possam ser aplicados em Cabo Verde e apontou como exemplo os requisitos para adoção e as entidades que devem intervir no processo.
“Existe neste momento alguma desadequação no que respeita ao nosso direito ordinário, mas há também aspetos que têm que ver com requisitos para a creditação das entidades públicas e privadas que possam intervir em matéria de adoção internacional, que neste momento não estão regulados no direito interno cabo-verdiano”, explicou.

Moçambique. Governo mantém congelamento de preços, mas prevê subida dos combustíveis


O Governo moçambicano decidiu no dia 21 manter, até março, o congelamento dos preços de bens essenciais, cujos aumentos provocaram tumultos em Maputo, mas prevê subir os combustíveis e criar novas instituições “imprescindíveis” para alcançar seus objetivos em 2011.
Nos dias 01 e 02 de Setembro último, populares das cidades de Maputo e Matola, sul, protestaram contra a subida do custo de vida, tumultos que resultaram na morte de pelo menos 18 pessoas, ferimento de mais de 500 e detenção de outras 300.
Em sessão extraordinária do Conselho de Ministros de 07 de setembro, o ministro da Planificação e Desenvolvimento moçambicano, Aiuba Cuereneia, anunciou uma redução de 7,5 por cento sobre o preço do arroz de terceira qualidade, através da redução dos direitos aduaneiros sobre este produto, e a suspensão da sobretaxa de importação do açúcar.
Na ocasião, o executivo de Maputo manteve os estímulos fiscais para produtos comprados na África do Sul: a batata, tomate, cebola e ovos, através do estabelecimento de preços de referência abaixo dos reais para a cobrança de direitos aduaneiros e Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
No mesmo pacote de medidas foi suspenso o aumento da tarifa de energia e de água nos escalões mais baixos.
Agora, o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, disse aos jornalistas que a 46.ª sessão ordinária do Conselho de Ministros de Moçambique decidiu “manter o grosso das medidas (adotadas em Setembro) durante o primeiro trimestre de 2011. “O Governo decidiu manter as 35 medidas apresentadas a 07 de Setembro, à exceção da número 18, que é a da não criação de novas instituições, visto que o Plano Económico e Social e Orçamento do Estado prevêem a criação de instituições imprescindíveis para o alcance dos objetivos prioritários para 2011”, afirmou.
Aiuba Cuereneia justificou a deliberação com a “tendência histórica de pressão inflacionária” que, normalmente, se regista nesta fase da quadra festiva, sublinhando tratar-se de “uma época em que os preços dos produtos básicos normalmente aumentam. E em relação à medida número 31, que prevê o ajustamento dos preços dos combustíveis de acordo com a evolução do mercado internacional, o Governo continuará a monitorar a conjuntura internacional”, disse.
Contudo, assinalou: “a solução fundamental para a melhoria das condições de vida do povo moçambicano e do país está no aumento da produção e produtividade, um dos vetores fundamentais para o sucesso do combate à pobreza. Isso exige uma atitude renovada e o incremento significativo da cultura de trabalho”, concluiu o governante.

PGR diz não haver motivos para investigar Presidente

A Procuradoria-Geral da República moçambicana considera “não haver motivos” para investigar o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e seu antecessor, Joaquim Chissano, acusados de cumplicidade no narcotráfico, segundo telegramas confidenciais da embaixada norte-americana em Maputo, divulgados pela Wikileaks. “O Ministério Público atua com base em informações de fontes credíveis. Então, até este momento, não nos parece haver motivos que possam suscitar uma investigação”, justificou o procurador-geral adjunto da República de Moçambique, Taibo Mucobora.
Telegramas confidenciais da embaixada dos Estados Unidos em Maputo, recentemente divulgados pelo portal WikiLeaks, referem que, em Moçambique, o poder político, ao mais alto nível, está comprometido com o narcotráfico.
O antigo Presidente de Moçambique Joaquim Chissano negou as acusações e classificou os documentos divulgados pelo portal WikiLeaks como “mentira grossa”.
Armando Guebuza nunca se pronunciou sobre as acusações de que é vítima, mas o governo de Maputo já refutou as acusações. Num telegrama, no verão do ano passado, o representante diplomático da Embaixada dos Estados Unidos em Maputo, Todd Chapman, refere que Moçambique se tornou “o segundo lugar africano mais ativo para a actividade dos traficantes de droga”, depois da Guiné-Bissau, sugerindo a cumplicidade de altas figuras do Estado.
O líder da RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, disse que não acredita que o Presidente norte-americano pretenda “sujar Guebuza e Chissano para romper as relações diplomáticas”, e admitiu o envolvimento de Joaquim Chissano e de Armando Guebuza nas questões de tráfico, de armas, drogas e até de seres humanos, sublinhando que “um traficante não trafica só drogas”.

CRÓNICA. Água na boca


Há um momento, no livro “Os Espiões”, de Luis Fernando Verissimo, em que o personagem principal se refere a outro pelo apelido, pretendendo demonstrar familiaridade:
_ “Ouvi dizer que o Maisena está arrebentando” _ falou.
_ “Maisena? O senhor quer dizer Mandioca” _ corrigiu o interlocutor.
Achei graça, ao encontrar essa pretensa confusão, no livro do Verissimo. Se fosse eu, talvez o chamasse de “Amido de Milho”, tanto me esforcei, inicialmente, na organização do livro Pelotas à Mesa, para transformar em “amido de milho” todas as referencias a Maizena (com z) encontradas nas receitas das diferentes pessoas.

Marta Fernandes de Sousa Costa*

Depois, alertada, numa rápida ida ao dicionário, optei por trocar Maizena (com z), a marca registrada, simplesmente por maisena, designação de qualquer farinha de amido de milho. Quero dizer, sem pretender fazer propaganda explícita da Maizena (com z), também não gostaria de confundir alguma quituteira desavisada: “Que novidade é essa de engrossar o mingau com amido de milho? Será que posso engrossar com Maizena, simplesmente?” Assim, entre Maizena e maisena, tudo fica mais fácil.
Eu nem desconfiava, mas com a Maizena (com z) começava um longo período de pesquisa em cada receita, à procura de referencias a marcas registradas que acaso houvessem escapado, justamente pela familiaridade que se desenvolve com elas. Por questão de coerência, foi preciso encontrar a denominação adequada aos fermentos Royal e Fleischmann e até para o achocolatado Nescau, embora a troca, em muitos casos, não parecesse justa. Certas receitas perdem suas características, ao serem trocadas as marcas dos ingredientes. Mas, não se tratando de livro patrocinado por alguma marca específica, mandava o bom tom que a escolha ficasse por conta da consumidora.
Como esse, outros problemas inesperados se apresentaram, no desenvolvimento da organização do livro. Sendo as receitas selecionadas por várias pessoas, era natural que apresentassem diferentes formas de expressão. Após inúmeras revisões, o “pires cheio de açúcar” despertou a atenção, no meio de uma torta meticulosamente explicada, obrigando a uma consulta: “Por favor, o teu pires corresponde a quantas gramas?” _ e lá foi a amiga medir o pires, decerto sem entender tanta ignorância, acostumada como estava à receita.
Como essa, muitas dúvidas surgiram e foram resolvidas, embora seja possível que algumas tenham escapado. Mas o importante é que as pessoas estão experimentando as receitas e _ maravilha das maravilhas _ tendo bons resultados.
Nem sempre se acerta uma receita da primeira vez. Por isso, admirei a persistência de outra amiga, quando telefonou para contar que não acertava o ponto da calda, no pudim de queijo. Já havia preparado duas caldas e as duas tinham açucarado, falou, desconsolada. Enquanto tentava lhe explicar o ponto, ouvi: “e olha que mexi bastante, não parei de mexer”. Bingo! “Então, o erro foi meu, falei, consternada, devia ter explicado que não se mexe a calda”. Mas, disposta, ela preparou a terceira calda e enviou a foto do pudim de queijo, pelo celular. Não sei se para agradar ou para me deixar com água na boca.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (2)


ANTÓNIO SETAS

«Naweje, como os Mbangala chamam Lueji, tinha tomado o controlo do reino da Lunda, mas governava apenas como regente. Um dia, quando Kinguri e Naweje caminhavam ao longo do rio Lukongolo (rio não identificado), na Lunda, Kinguri deixou a irmã sozinha por momentos, e foi para a mata procurar alguns homens que estavam a fabricar maluvo algures perto dali. Não muito depois de ele a ter deixado, um caçador chamado Lukokexa apareceu e falou com Naweje, oferecendo-lhe de presente a cauda de um elefante que acabara de matar (as cerdas da cauda de elefante eram amuletos poderosos). Naweje aceitou e, em troca, deu ao caçador alguma comida. Entretanto, Kinguri, depois de ter entrado no mato à procura dos fabricantes de maluvo, teve um pressentimento, um sinal de que algo indesejável deveria estar a acontecer em casa. Regressou imediatamente e encontrou Naweje em companhia de Lukokexa. Ora os requisitos da posição de Naweje proibiam a presença de homens na sua residência. Kinguri, devido a essa violação do interdito, ficou desconfiado e pediu informações sobre a identidade do intruso. Naweje explicou o que se tinha passado e mostrou a cauda de elefante que tinha recebido como presente. Acontece que essa cauda, ali, naquele sítio, nesse momento, também constituía uma violação dos costumes, pois a cauda de elefante era atributo exclusivo dos reis e Naweji apenas era regente. Desconfiado, Kinguri deu imediatamente ordem a Lukokexa para sair daquela casa, mas o caçador recusou e, furioso, ele atacou-o com uma faca mágica que tinha herdado do seu pai (mwela). Em vão, porque nessa altura a cabeça do caçador vomitou fogo e Kinguri foi obrigado a fugir.
Regressou mais tarde, numa outra tentativa para expulsar o usurpador, mas desta vez a boca do caçador transformou-se em presas e mandíbulas de um perigoso felino selvagem. Kinguri compreendeu então que o seu inimigo possuía forças sobrenaturais muito mais poderosas do que as suas. Acatou a supremacia do rival e pôde ali ficar. De início ainda tentou roubar os talismãs que tornavam Lukokexa tão poderoso, mas como não conseguiu concordou em deixar a Lunda se, antes, o caçador lhe ensinasse os seus segredos mágicos. Lukokexa aceitou e revelou os poderes dos seus amuletos a Kinguri. Estes incluíam uma substância chamada nzungu, colhida na árvore mbamba, (amuleto não identificado; a árvore, mbamba, serve para preparar os remédios yitumbo do caçador kibinda). O nzungu não só permitia a Kinguri realizar os feitos de que ele tinha sido vítima, mas também apartava as águas dos rios e adivinhava a presença de cobras, que em seguida ele matava. Também deu a Kinguri um arco mágico, que permitia abater os animais mais perigosos da floresta. Assim equipado, Kinguri deixou a Lunda e iniciou a sua viagem para Oeste, acompanhado por Kyniama».

Estados Cokwe baseados no kinguri

O povo que detinha a posição kinguri dispersou-se muito lentamente, aparentemente estabelecendo-se repetidas vezes, numa contínua fuga de lugares sob influência das instituições políticas Luba, em plena expansão. Os novos acontecimentos históricos que originaram o movimento do kinguri, oculto sob a imagem de “uma viagem” (de notar que a posição kinyama, que parece ter partido mais ou menos na mesma altura, deslocou-se numa direcção diferente e acabou por se deter entre os Lwena do Alto Zambeze), deram continuidade às forças do lueji, possuidoras de tecnologia mais avançada. Por fim, estes repetidos reencontros, certamente muito pouco pacíficos o mais das vezes, não impediram o kinguri de formar um cordão de Estados ao longo de uma linha que se estendia do Kalanyi, através do território Cokwe, em direcção às nascentes do Kwango e às fronteiras dos Mbundu. As técnicas mágicas adquiridas aos Luba forneceram a chave do seu sucesso na travessia de territórios que não lhes era familiar. Uma adaga enfeitiçada chamada mukwale, em particular, ajudava-os a abrir caminho contra qualquer um que se opusesse à sua chegada. Ficou desse período da história uma reputação de grande agressividade e crueldade da parte dos Lunda. Uma tradição Lunda afirma que Kinguri deixara Kalanyi em busca de um exército muito forte que lhe permitisse regressar à Lunda e vencer o ocupante Luba. Os Cokwe fornecem um pormenorizado itinerário para a viagem de Kinguri. Atravessara o Kasai, próximo da embocadura do Lonyi, um pequeno afluente da margem esquerda do grande rio, avançou, subindo o Lonyi para terras mais altas e abriu caminho para oeste e sul, cruzando os rios Luhembe, Kaximo, Lwana, Cihumbo, Sombo, e Lwaximo, antes de fazer a sua primeira paragem prolongada entre as linhagens de uma área conhecida por Itengo (perto de Saurimo). Deslocou-se depois para a região conhecida mais tarde como Mona Kimbundu, não muito longe de Itengo, a sudoeste, onde também permaneceu por muito tempo. Finalmente, continuou em direcção às nascentes dos rios Kwango e Kukumbi e parou de novo, antes de continuar na direcção dos Songo. Um episódio narrativo de origem Lunda refere-se à hostilidade que marcou as relações entre o kinguri e os Lunda na época em que os emigrantes se detiveram perto da nascente do rio Cipaka.
Algum tempo depois de Kinguri ter deixado o Kalanyi, Lueji enviou mensageiros com missão de se encontrarem com o seu irmão. O encontro acabou por ter lugar num acampamento que ele estabelecera próximo do rio Nagwiji (a partir de então chamado Cipaka). Os Lunda suplicaram Kinguri que voltasse para casa, mas ele recusou a proposta e decidiu prosseguir caminho, sem antes, porém, dar ao rio o novo nome de “Cipaka”, para comemorar a sua separação definitiva.

1) Actualmente, os Mbangala traduzem a palavra mutswalikapa como “estamos separados” , e alegam que este acontecimento marcou as fronteiras entre a Lunda e o kinguri.
2) Este episódio refere-se certamente a uma época anterior ao estabelecimento do kinguri na Baixa de Cassange, cujas fronteiras com a Lunda nunca foram marcadas pelo rio Cipaka
3) Portanto este episódio descreve a formação de um reino mais antigo, próximo do Cipaka (talvez Itengo), onde portadores do título kinguri recusaram reintegrar-se no Estado Lunda em expansão.
A expansão do império Lunda para oeste levou à formação de pequenos Estados que actuariam como barreira entre a capital Lunda e o kinguri, cada vez mais para longe de Kalanyi. Vários destes governantes (entre eles Cibinda Ilunga)estabeleceram-se entre os Cokwe, e um deles expulsou o kinguri do Estado secundário no alto Cipaka, e o seu título, mona kimbundu, permaneceu como o nome da região asservida. A dispersão de titulares a partir da Lunda continuou através do séc. XVII, quando novos reis se estabeleceram entre as linhagens Xinge, que viviam a leste do médio Kwango; outros ainda tornaram-se governadores de províncias ocidentais do império Lunda, que protegiam o mwata yamvo da nova ameaça que o Estado de Kasange, baseado no kinguri e cada vez mais poderoso, representava para a Lunda, numa fase posterior.

O declínio das linhagens dos Lunda do kinguri

A pressão constante produzida pelo avanço dos Luba produziu mudanças fundamentais nas estruturas sociais e políticas associadas ao título kinguri. O número reduzido de pessoas das linhagens ligadas a Lucaze na Mwazaza que de início deixou a Lunda foi obrigada a atrair grande número de novos seguidores, de outras origens., o que levou o kinguri a suprimir as rígidas e incómodas divisões de linhagens no interior do seu grupo (linhagens segmentares, como sabemos), a fim de mais facilmente poderem absorver os novos recrutas. Um episódio narrativo Imbangala relata, de modo explícito, como o kinguri, na sua viagem através das terras Cokwe, incorporava grupos de parentesco locais. De acordo com os historiadores tradicionais, à data da chegada de Kinguri a oeste do rio Cipaka (actualmente conhecida como Mona Kimbundu), a sua crueldade era tão grande que chegava a preocupar mesmo os que o seguiam desde a Lunda. Eles viram que a prática de matar acompanhantes de cada vez que se levantava ou se sentava tinha reduzido grandemente o número desses seguidores e sentiam-se cada vez mais ameaçados enquanto os espíritos que apoiavam o título persistissem na sua necessidade de tais sacrifícios.

Imagem: no.comunidades.net