sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Jornalismo de qualidade é aquele que só diz o que o poder quer que se diga


Jornalistas brasileiros criticam autoritarismo de Lula da Silva. Em Portugal são cada vez menos os que se atrevem a contrariar José Sócrates. A bem da Nação... socialista. O actual governo do Partido Socialista, liderado por José Sócrates, entendeu, entende e entenderá enquanto estiver no poder que a melhor forma de defender a liberdade de imprensa em Portugal passava, passa e passará por calar todos os que mais uso dela faziam. Pelos vistos, tal como em Angola, também o governo do Brasil entende que a liberdade só é boa se for para dizer o que os donos do poder querem. Apesar de tudo, no Brasil ainda há muitos a resistir. Já em Portugal e em Angola a coisa está negra. Muito negra.

Orlando Castro

Os principais diários e revistas do Brasil criticaram no 28.09, o que consideram ataques do Presidente Lula da Silva à liberdade de expressão, na recta final das presidenciais do próximo domingo. Nada de novo, dir-se-ia no contexto lusófono onde os bons são apenas os que estão do lado do poder.
“A liberdade sob ataque” é a reportagem de capa da Veja, a principal revista semanal, para a qual a “revelação de evidências irrefutáveis de corrupção” no actual Governo “renova no Presidente Lula e no seu partido o ódio à imprensa livre”.
Ao contrário de, por exemplo, Angola, todos sabem que corrupção é coisa que não existe no Portugal socialista onde, mais uma vez, os casos revelados são meros devaneios dos jornalistas que gostam de fazer campanhas negras contra os impolutos donos do país.
A Veja salienta que, após as recentes denúncias de corrupção, envolvendo a Casa Civil, ministério responsável pela articulação do Governo, Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT) passaram a atacar a imprensa.
Tal como em Angola e Portugal. Quem se atrever a dizer algo diferente do que está escrito na cartilha do partido de José Sócrates ou de José Eduardo dos Santos leva pela medida grossa. Seja mandando (por via de serem donos dos donos dos jornalistas) os que se atrevem para o desemprego, seja canalizando publicidade institucional para os órgão dos amigos dos tempos do cair da noite.
“Desacorçoados com a revelação de evidências irrefutáveis de corrupção no Palácio do Planalto, Lula e o seu partido sacam do autoritarismo e atiram na imprensa, que acusam de ser golpista e inventar histórias. Eles querem um jornalismo melhor?

Não.

Querem jornalismo nenhum”, escreve a revista.
É mais uma cópia fiel do que se vai fazendo nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos. Eles, também nos areópagos partidários do Largo do Rato em Lisboa ou dos Ministérios em Luanda, não querem jornalismo. Exigem propaganda a favor da sua causa.
O jornal Folha de São Paulo publica um editorial na primeira página, facto raro num dos principais diários brasileiros, com o título “O poder tem limites”.
O diário salienta que a altíssima popularidade de Lula da Silva, em torno de 80 por cento, “não é fortuita”, assim como as sondagens que indicam Dilma Rousseff como favorita para vencer as presidenciais já na primeira volta.
Apesar disso, segundo a Folha de São Paulo, o Governo de Lula da Silva não “pode sentir-se acima das críticas". Se calhar, no Brasil é possível que Lula não se possa sentir acima das críticas. Em Portugal e Angola isso não é possível. José Sócrates e José Eduardo do Santos estão mesmo acima das críticas, ou não fossem eles donos do reino, ou não tivessem eles os seus cipaios bem colocados na engrenagem.
Em Portugal, importa ir relembrando seja, ou não, a propósito da campanha negra contra José Sócrates, do P(R)EC ou do tango, o Estatuto do Jornalista aprovado pelo PS de José Sócrates, foi, é e será por muitos anos a página mais negra na história do Jornalismo português do pós-25 de Abril.
Apesar dos sucessivos apelos, incansáveis iniciativas e documentos de esclarecimento e de aviso para os graves erros e riscos, o governo do mesmo José Sócrates & Companhia foi insensível aos argumentos e posições dos Jornalistas.
Dos Jornalistas. Não, tal como em Angola, dos mercenários contratados para dirigir alguns órgãos de comunicação social, mesmo que não tenham carteira profissional.
O PS de José Sócrates foi incapaz de gerar um Estatuto consensual (até no Parlamento), no qual os jornalistas portugueses se revissem e reconhecessem como instrumento legal fundador de um jornalismo mais livre e mais responsável.
Aliás, liberdade e responsabilidade não se enquadram neste PS de José Sócrates.
O Estatuto aprovado não garante mais a protecção do sigilo profissional dos jornalistas. Pelo contrário, diminui tais garantias, ao elencar um conjunto de circunstâncias em que esse direito-dever pode ceder, bastando aos tribunais invocar dificuldade em obter por outro meio informações relevantes para a investigação de certos crimes.
Assim (e o PS lá sabe as suas razões…), os poucos jornalistas que restam – são mesmo poucos - enfrentarão maior resistência de fontes confidenciais que poderiam auxiliar a sua investigação de fenómenos como o tráfico de droga e até, como se insinuou nos debates, de corrupção, entre outros crimes que os profissionais da informação têm o direito e o dever de investigar e denunciar.
A falta de garantias de autonomia editorial e de independência e os riscos deontológicos criados pelo Estatuto socialista comprometem a aceitação, pelos jornalistas, de um regime disciplinar que é injusto porque aplicável num contexto de fragilidade, no qual não estão em plenas condições de assumir livremente as suas responsabilidades.
O Estatuto socialista, em Lisboa, tal como o do MPLA, em Angola não criaram condições para uma efectiva autonomia editorial e independência dos jornalistas (e o PS e MPLA lá sabem as suas razões…), antes as agrava, fragilizando ainda mais a posição destes profissionais face ao poder das empresas, grande parte delas nas mãos dos amigos do PS e do MPLA.
Também nesta matéria, o PS de José Sócrates e o MPLA de José Eduardo dos Santos querem (e andam lá perto) acabar com todos os jornalistas de segunda, ou seja, todos aqueles que não são do... PS e do MPLA.

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