sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Educação e giz. Professores do PUNIV Ingombota expostos ao perigo. Incompetência e negócio da China na gestão da direcção





Que o ensino em Angola esteja mal não é novidade para ninguém, mas ter uma instituição do ensino médio, no centro de Luanda, e nomear-se um professor com apenas o ensino médio para dirigi-la, é simplesmente apostar no subdesenvolvimento desta terra mártir, mártir também por sobreviver ao exercício improvisado de gestores públicos, nomeados sob protecção de Ministros e Directores, sempre com o compromisso velado de remeter ao padrinho algum envelope lacrado.

Manuel Fernando*

Os centros Pré-universitários surgiram em Angola para colmatar o défice de quadros qualificados de que se ressentiu o país, com a fuga dos portugueses, em 1974/75, arrastando com eles, muitos dos bons técnicos angolanos. Constituiu parte de uma política, na altura, bem pensada pelo governo, da qual colheram-se frutos suculentos, estando entre estes, muitos dos bons intelectuais de que o país se orgulha nos dias que correm. Inicialmente com um programa de apenas dois anos, permitindo a preparação de estudantes para o ingresso a curto prazo na universidade, dentro e fora de Angola. Neste panorama o ex-Puniv Central, hoje Puniv Ingombota, foi e é um marco referencial. Embora não tenha a magnitude do ex-Liceu Salvador Correia por lá terem estudado Agostinho Neto & Cª, os estudantes do Puniv Ingombota orgulham-se de terem sido condiscípulos dos porta-estandartes do actual desenvolvimento. Para muitos, foi o período doirado da política de ensino, incompreensivelmente orientada com menos quadros formados do que na actualidade. Eram tempos em que se colocava o interesse colectivo acima do individual. Patriotismo e honestidade num modo de produção social. Os tempos mudaram e chegou a confusão planificada num modo de produção consumista, camuflada numa economia de mercado sem regras.

Mesmo que nos esforcemos por esquecer os artífices da política de privatização do ensino em Angola, somos tentados a recordar-lhes porque alguns dos seus apêndices, perpetuam o seu reinado, com as consequências que se conhecem: professores empurrados à corrupção, directores falsificadores de certificados a troca de alguns xelins, Ministros da educação sem formação superior, escolas públicas convertidas em colégios privados, etc..

Muitos foram os Directores que bem ou mal preencheram o quadro histórico do ex-Puniv, mas nunca o colectivo docente poderia imaginar que um Director provincial ousasse propor ao seu Ministro da Educação, um técnico médio, melhor dito, estudante do 1º ano do ISCED, para director de um Centro pré-universitário. Faz-nos recordar os anos em que um enfermeiro podia ser Ministro da Saúde ou um analfabeto Comissário Provincial (Governador). Este negócio tem que ser travado. Já tivemos Chefes de secção municipal da educação com certificados falsos, mas mantinham-se nos cargos por tempo indeterminado. O país já tem quadros suficientes, pelo menos, para evitar absurdos como o do Puniv-ingombota. Quem será o intocável, responsável por esta falta? Que interesses estarão envolvidos nesse procedimento lesa pátria?

Deve haver coragem para lavar o Ministério da Educação com lixívia, pelas manchas negras herdadas do anterior Ministro e seus sequazes, mas vai-se notando que falta coragem. Os mesmos móveis daninhos continuam eternizando os mesmos males. Não se pode esperar que seja o Presidente da República a endireitar os pelouros, como o fez com o Interior. Se a educação não se endireita o país não se endireitará. O que se pode esperar, por exemplo, dos currículos e programas escolares quando o próprio Director do INIDE-instituto de desenvolvimento e investigação da educação, não tem curso pedagógico; o Director do Magistério Primário de Luanda- instituição de formação de professores, não tem os estudos terminados; estes são apenas alguns casos mais sonantes, alguns dos quais sob cobertura do Comité de especialidade de professores do Mpla, onde realçam-se os seus primeiro e segundo secretários, entre os prevaricadores.

Quando os principais executores da política de educação são protagonistas do `business´ desenfreado no ensino, resulta uma cadeia de cumplicidade que só um furacão consegue varrer sem contemplações. Os governantes digladiam-se para matricularem os seus filhos nos colégios português e francês, construído no espaço que julgava-se reservado para uma escola pública. No mesmo espaço, outra parcela foi doada ao actual Director Provincial da educação de Luanda, por falta de residência, supõe-se.

Nomear para director de uma escola do 2º ciclo um estudante do 1º ano da universidade é igual que ter como Reitor de uma universidade um licenciado, ou mesmo um aluno do 5º ano. O seu desempenho por muito cauteloso que seja, tarde ou cedo, sairá a superfície porque exercerá o cargo com receios e medos. Terá os seus colegas com maiores qualificações como supostos adversários. É um obstáculo à criatividade e um entrave aos professores que pretendam melhorar a sua formação. Dificilmente facultará pareceres positivos ou incentivará promoções aos seus professores e colaboradores. Estas insuficiências, entre outras, convertem o responsável num «leva e trás» dos seus superiores hierárquicos. Um instrumento da ganância desmedida.

Cogita-se nos corredores que a actual deslocalização da instituição, caracterizada na situação de nómadas entre as instalações tradicionais e o edifício fissurado do negócio da China (anexo da escola Nginga Mbande), não tenha sido bem gerido pelo aludido director. Os desolados professores ante o rumor de se converter o ex-Salvador Correia em universidade privada, subscreveram uma carta ao Ministro da Educação que o Director ofereceu-se a ser o mensageiro, mas desconfia-se que a tenha engavetado, por suposto prejuízo da sua imagem como director da instituição. Actualmente, tanto os professores como os alunos estão obrigados a treinarem nos tempos livres porque sempre que o vento sopra na escola Nginga Mbande, estes têm que correr, para o rés-do-chão, por suspeitarem uma possível desintegração do edifício, recem-construido, pelos queridos chineses em tempo record. Assim não se ensina porque das cerca de 60 salas de aulas que existiam na ex-morada, disponibilizaram-se apenas a metade, implicando enchentes de sessenta alunos por turma, como nos tempos de guerra. Senhores dirigentes estas crianças que são filhos dos pobres, são amados pelos seus pais com igual ou a mesma intensidade que vocês amam os vossos filhinhos nas escolas super-seguras, dentro ou fora de Angola, por isso, tomem o assunto como uma preocupação nacional.

A maioria dos docentes está solicitando autorização para frequentar cursos de pos-graduação, mas são vetados pelo Director, sem justas causas, provavelmente para que sucumbam debaixo de escombros em caso da tragédia planificada, mas adiada por Deus.

*manuelfernandof8@hotmail.com

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