Kintino Kia Kongo*
A pacata cidade de M’banza-Kongo, antiga capital do Reino do Kongo, carente de tudo, completou no 25.07.11, no calendário colonial, dos descobrimentos e adoptado, pelas autoridades angolanas assimiladas, 505 anos da sua existência, o que é difícil de acreditar devido o elevado nível de abandono que ostenta em todas as vertentes.
Difícil de acreditar que, em plena era da globalização, haja na capital da província do Zaire tanta falta de água potável e um deficiente sistema de fornecimento de energia eléctrica e, pior ainda apontar outros serviços de extrema importância para a vida humana, por não haver investimentos em todas as áreas.
A cidade carece de infra-estruturas capazes de a identificar como capital de província tal como se assiste noutras regiões do país, o que é extremamente grave para um país que se diz independente, uno e indivisível, quando a realidade nos prova realmente o contrário.
Os arruamentos de terra batida o quanto existentes estão completamente danificados, mas mesmo assim aguardam impacientemente pelo arranque das prometidas obras ligadas as infra-estruturas integradas, cujo início só Deus sabe. Devido a uma série de peripécias pelo que M’Banza - Kongo passa, os muxikongos (filhos natos), já não acreditam nas intenções do governo central atinentes a implementação de projectos de desenvolvimento na sede deste marginalizado município e da província em si.
Vários são os programas de desenvolvimento projectados para esta urbe anunciados, mas a sua execução está longe de acontecer, pelo facto da cidade de M’banza-Kongo estar a sofrer aquilo que julgamos ser um boicote que remonta desde os velhos tempos coloniais. Concorrem para o boicote, a inveja das autoridades instaladas com relação ao poderio, organização e importância do então reino Kongo na arena nacional e internacional, bem como as rivalidades ou desavenças destas para com a ex-UPA/FNLA e o MPLA trazidas do maqui, cuja factura pagam as populações do Zaire, com maior incidência para M’banza-Kongo, sua capital, por ter sido aqui onde a legião de Holden Roberto, iniciou a luta pela independência nacional, que as entidades políticas portuguesas bem reconhecem.
Nota-se também que, em termos de execução de projectos, quando em M’banza-Kongo ou no Zaire nada se faz, mas se registam avanços significativos noutras regiões do país, como se esta província não figurasse no mapa, cujo espaço geográfico ocupa uma superfície de 1.246.700 km2 desta vasta Angola.
Lamentavelmente, se assiste um pouco pelo país adentro a implementação de projectos ligados a reabilitação de ruas de quase todas as capitais de províncias e, isso só não acontece em M’banza-Kongo, onde se presume que Jesus Cristo tenha sido crucificado, razão pela qual a cidade continua a ser vista como se de um kimbo se tratasse.
As vias de comunicação que ligam M’banza-Kongo às sedes municipais e comunais, 99% de terra batida clamam por reabilitação urgente antes da próxima estação chuvosa. Não se reclama a asfaltagem, mas pelo menos a colocação no terreno de máquinas para fazer a terraplanagem de forma a facilitar a livre circulação de pessoas e bens que tanto se apregoa, mas aqui nada muda.
No capítulo da Educação, M’banza-Kongo ganhou em 2010, a extensão de uma instituição de ensino superior denominada “Escola Superior Politécnica de M’banza-Kongo, pois funciona em salas improvisadas, mas pelo desprezo aos muxikongos, ela só pode formar bacharéis, ao invés de licenciatura, por ser como atrás dissemos, uma dependência da Universidade 11 de Novembro, com sede em Cabinda. Onde vai chegar esta descabida descriminação contra esta rica província em petróleo, ninguém sabe. Por exemplo, os factos históricos que a cidade de M’banza-Kongo tem, com base no invejoso historial do então Reino do Kongo fariam com que a escola politécnica local tivesse no seu curriculum a disciplina de história que não mereceu a aprovação por parte da reitoria da famosa universidade 11 de Novembro, e porque não da própria Secretaria do Ensino Superior. Este comportamento descriminatório das autoridades angolanas contra a antiga capital do então Reino do Kongo, constitui a continuação da política dos colonialistas portugueses que durante a colonização não construíram em M’banza-Kongo, uma só escola pelo menos de formação média, pior ainda falar numa faculdade, assim como não construíram também a própria cidade, cenário que está a ter continuidade, pelas actuais autoridades complexadas.
Mas até dá para entender a posição portuguesa na altura. É que durante a colonização os tugas temiam que ao formar os muxikongos, esses viessem um dia a reclamar pela independência de Angola. Só que, enganaram-se por completo porque em Março de 1961, quando os portugueses menos contavam, os natos de M’banza-Kongo e outros seus irmãos kikongos, sob o comando do malogrado Papa Pinóquio de armas caçadeiras em punho, catanas, arcos e outros utensílios de defesa, evadiam-se massacrando os invasores tugas.
E esta nobre causa dos muxikongos, viria a terminar com a ascenção de Angola a independência em 1975, pese embora o malogrado Holden Roberto como pai da Independência que foi, acabou por sucumbir sem ser reconhecido por parte das autoridades administrativas angolanas pelo seu trabalho em prol da libertação da mãe pátria.
No quadro do programa de reconstrução nacional em curso no país, há quem fale da possibilidade da construção de 7 mil habitações sociais nas reservas fundiárias do Estado nesta província, das quais 3 mil para Mbanza-Kongo e 4 mil, para o Soyo, cuja distribuição se considera como tendo sido mal feita. Mas para tudo isso, há um ditado que diz que quem tem padrinho na cozinha não morre a fome. É bem verdade e a realidade aqui está desfocada, numa província com 6 municipios e uma distribuição discriminatória. Só para exemplificar, o Kuimba era uma comuna de M’banza-Kongo, mas tão logo o país se tornou independente, o governo elevou-a ao estatuto de município com sede na localidade denominada de Kuimba. Tudo bem. Mas a mudança de comuna para município deveria ser acompanhada de um programa de construção de infra-estruturas que a identificassem como tal, o que não foi feito até agora.
Como espanto presentemente, a sede municipal do Kuimba mesmo assim, fica excluída da provável construção de sete mil habitações sociais projectadas para esta coitadinha província produtora de petróleo garante da economia nacional. Perante este quadro sombrio que graça a província, recordemo-nos que a 11 de Julho do presente ano, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, numa das passagens do seu discurso aquando da inauguração da nova cidade do Kilamba Kiaxi, talvez por impulso disse: “Hoje foram apresentadas a empreendedores privados os projectos de novas centralidades nas províncias do Zaire, Malange, Kuando Kubango, Namibe, Benguela e Lunda-Sul, com o intuito de os convidar a participar neste processo”.
Esta afirmação do Chefe de Estado, pode até surtir efeitos noutras províncias referenciadas, mas para o Zaire no geral e Mbanza-Kongo, talvez só quando as galinhas tiverem dentes.
*Em Mbanza Kongo
Nenhum comentário:
Postar um comentário