terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma britadeira Chinesa ocupou as terras do velho Pimbi,


os terrenos periféricos foram ocupados pelos donos da Lunda-Sul, os mais poderosos da urbe provincial.

CHICHANGO A ESCASOS 18 KM DE SAURIMO. Governo abandona terra
e autóctones no Leste

Muautende Keshi Meso

Chichango é uma aldeia ou bairro a escassos 18 km da cidade de Saurimo, junto ao rio Luzia, em direcção à comuna do Muana Quimbundo que dista a sensivelmente 54 km no sentido Cacolo Saurimo. A população do Chichango ronda umas 60 ou 70 casas, o que perfaz um universo de 200 ou mais agregados no seu conjunto de famílias, sobretudo crianças e adolescentes.
É uma aldeia ou bairro sem nenhuma importância económica talvez a nível da Província da Lunda-Sul. Mas tem importância porque aí vivem seres humanos, parte da sociedade da Lunda-Sul e do país. Este bairro existe por causa da migração que se deu, devido à guerra que assolou o país de norte a sul. Por isso a sua população veio para este lugar como deslocados de guerra. Consta que, uns vieram do município de Cacolo, Lubalo ou de Caungula.
O Ministério da tutela, penso que não tem estes dados valiosos. Todas as casas são feitas de pau a pique e cobertas de capim, por isso são que nos anos de 2007 uma família inteira composta por 7 pessoas foi engolida pelo fogo.
No Chichango tem falta de tudo, não tem escola, não tem posto médico, não tem lojas ou pequenas cantinas. A sua população dedica-se à agricultura.
Um posto médico no Bairro Pimbi, a cerca de 10 km do Chichango, é o único local que esta população recorre para tratamentos médicos. O pior é que, este posto médico do Bairro Pimbi que dista 8 km da cidade de Saurimo também, tem falta de tudo, desde os médicos aos medicamentos, também não tem escola e outros serviços básicos. O Pimbi é uma regedoria que no tempo colonial tinha um pouco de tudo, até água canalizada e um tanque, mas que 35 anos para cá, o bairro praticamente não existe, só ficou o nome.
Uma britadeira Chinesa ocupou as terras do velho Pimbi, os terrenos periféricos foram ocupados pelos donos da Lunda-Sul, os mais poderosos da urbe provincial.
O transporte é outra dor da cabeça, do chichango ou pimbi para a cidade utiliza-se os moto taxi, famosos “Cupapatas”, mas a imensa maioria da população não pode usar o “Cupapata”, porque as pessoas não têm dinheiro. O trajecto é feito a pé. Alguns pequenos agricultores fazem-se à cidade de Saurimo, sobretudo na praça do Catembe para vender alguma hortaliça; como tomate e couves, mas sempre a pé.
No mesmo perímetro Saurimo-Muana Quimbundo, ao norte, encontramos duas aldeias bem no fundo das florestas, sem comunicação com o resto da província, porque aí não tem estrada, existe um caminho que parte do bairro pimbi, passando por rio luzia e outros riachos, é a única via para lá se chegar. São as aldeias do Mualuango e do Muhunga. As populações destas aldeias estão esquecidas, ninguém se lembra delas.
Mas encontrei flutuantes bandeiras de partidos MPLA, UNITA e do PRS.
Em todas estas localidades que falei, quem mais sofre são as crianças. São a mão-de-obra. Imaginem vocês que, crianças entre 5 a 10 anos de idade percorrerem 5 a 8 ou 10 km a pé à procura de água ou irem para Saurimo na “ZUNGA” nas praças da cidade. Fazem o percurso de ida e volta todos os dias. Porque não têm onde ocupar o tempo nas suas próprias aldeias.
Que futuro para estas crianças? E para o futuro de profissionais da província?
Será que o camponês deverá continuar sempre camponês?..
*Em Saurimo
E-mail:vkmkeshi69@hotmail.com
Foto: mas que mal é que nós fizemos? (Ermelinda Freitas)

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