domingo, 1 de maio de 2011

Passaportes para a vida. Luanda, Hospital Josina Machel


Segundo informações recolhidas junto de pessoas de um certo nível social, que já se aventuraram a requerer os serviços do Josina Machel, aqui identificado como “Agência de viagens para o Céu”, o epíteto peca por ser demasiado restrito. Esse hospital multifacético não se limita a ser uma “Agência”, tem blocos operatórios eficientes, quando a EDEL não tropeça nos soluços da barragem de Cambambe, nesses casos tem velas, ao mesmo tempo de alumiar e navegar, alumiar o corpo e navegar nas tripas, tem serviço de urgência aleatório, mas negociável, tem atendimento personalizado, segundo a quantidade de kwanzas disponíveis nos bolsos dos familiares do paciente, e tem mesmo um departamento de outorga de passaportes com “Visto” para a vida.
Esse é, sem sombra de dúvidas, o seu mais eficiente departamento. O único defeito que tem é que não se vê, só se sente. Na mão e por baixo da mesa. O paciente, ou um dos seus familiares, pega numa nota de cem dólares e remete-a discretamente ao doutor e todas as portas do hospital se abrem para ele. De notar que é conveniente, antes de proceder a esta singular operação, fazer o mesmo com o enfermeiro com uma nota de 50 dólares. E atenção!, tem que ser o bom enfermeiro, compincha do doutor, senão, lá se vão os 50 dólares e não há doutor que valha.
Se este subterfúgio funcionar, o paciente obtém de facto uma espécie de “passaporte”, que lhe permitirá entrar na lista dos que poderão ser tratados com um mínimo de eficiência. Um passaporte para a vida! Senão, não vale a pena, o bilhete é para uma simples viagem, mais que provavelmente sem regresso.

Um comentário:

  1. Uma colega hoje foi atropelada por uma motorizada que fugiu e ficou magoada no joelho. Até aí tudo bem, mas revolta-me não poder ser atendida na Clínica da Mutamba sem a presença de quem pague a conta e então dirigiu-se para o Hospital Público JOSINA MACHEL onde foi abordada nas urgências pelo corpo da empresa de segurança alegando que para ser atendida teria de pagar uma caução de KZ 3.000,00 directamente a eles ou então ficaria na bicha o dia todo a espera de ser atendida. Depois como ela não tinha dinheiro prometeu que pagava mais tarde e foi atendida porque o segurança falou com a menina da recepção e esta falou com os enfermeiros, mas o nosso colega teve de ficar no local esperando que ela voltasse com o dinheiro, perdendo assim um dia de trabalho que tinha de estar a produzir e eu como patrão tenho de pagar esse dia ao meu funcionário. É uma portanto uma rede que começa nos seguranças e estende-se provavelmente até aos médicos!. Concerteza que aqui no escritório nada dei para os seguranças e pretendo divulgar para que situações semelhantes deixem de ser um hábito dos angolanos. Só gostaria de saber qual a empresa de segurança nesse hospital público.
    Cumprimentos

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