segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nada de novo e tudo na mesma. MPLA e um Dos Santos igual a si mesmo com a cobardia dos demais


William Tonet e Arlindo Santana

O MPLA realizou um congresso extraordinário cujo principal objectivo foi redourar o brasão de um partido pouco seguro de si mas dominador, partido ao meio por dissensões que se vão acumulando com o passar do tempo. À parte isso, tivemos direito a uma fotocópia dos anteriores congressos, todos eles orientados para o panegírico monumental à já desgastada figura do presidente deste partido e da República, nunca verdadeiramente eleito, em eleições livres, justas e sem batota. Estava tudo previsto, mesmo o imprevisto.
Os delegados e os delegados/dirigentes não falaram por temor a Nguxito/JES, ficaram, na maioria, quedos e mudos à espera que passasse o tempo e não houvesse qualquer mal-entendido que viesse à baila e os comprometesse.
Na mente de todos os gestores representantes do MPLA nos diferentes pelouros governamentais instalou-se o medo da reprimenda do soberano JES, que esse nunca comete nenhum erro, embora seja a ele que se deva a enorme rebaldaria que se vai apoderando das alavancas do Estado.
Por outro lado, assistimos a uma lavagem a seco das imagens mais que enodoadas alguns dos mais controversos dirigentes, como é o caso de Isaac dos Anjos, considerado por alguns, autoritário governador da província da Huíla, e de João Baptista Mawete, o pior governador que jamais passou pelo enclave de Cabinda.
O incompetente governador do Moxico, Baptista Liberdade, o truculento “rei” do Huambo, Faustino Muteka, o controverslo e polémico, governador do Bié, Boavida Neto, o da Lunda-Norte, entre outros auto-nomeados donos das províncias onde as liberdades são uma miragem. Se calhar…

BATOTA ELEITORAL NA FORJA E SILÊNCIO SOBRE BORRADAS EM CABINDA
A esse respeito e abrindo aqui parênteses, quando se pensava que os delegados pedissem contas bem-feitas pelas borradas, por exemplo, ao líder Nguxito, aos generais Manuel Vieira Dias Júnior Kopelipa, José Maria e Mawete João Baptista, do falhanço total da política de paz que se desejava instalar na província mais ao norte do país, Cabinda e também se pedisse explicações ao truculento governador Mawete, sobre o caso de que é acusado de ter mandado fechar portas de uma clínica de oftalmologia alegadamente pertencente ao ex-governador Aníbal Rocha, demonstrando desse modo que a vingança se serve fria e sem cerimónias.

OPOSIÇÃO DEVERIA ABDICAR DE PARTICIPAR NAS ELEIÇÕES FRAUDULENTAS DE 2012

Evidentemente que o que mais interessa o partido do poder não é lavar a roupa suja debaixo dos holofotes dos órgãos de comunicação social, o que o MPLA guisou foi toda uma série de programas de continuidade numa clara demonstração de estar na forja a batota eleitoral. Isso é sem dúvida alguma a principal preocupação do Executivo, na medida em que os actuais 82% de votos são clara e vergonhosamente o resultado de uma batota evidente, fabricada com o controlo da Comissão Nacional Eleitoral, dominada em toda a sua extensão pelo MPLA.
A esse respeito a situação apresenta-se sob maus augúrios, pois tudo leva a crer que a oposição tomará algumas medidas preventivas, as que puder em todo o caso, para evitar a batota eleitoral, acautelando assim um novo descalabro a fim de poder recuperar o terreno ocupado pelo MPLA, que foi desbravado à força pelos artifícios computorizados do Estado.
E a melhor maneira de denunciar a batota seria da oposição renunciar a sua participação nas próximas eleições se José Eduardo dos Santos não dissolver a actual CNE, nomeando uma nova, imparcial integrando figuras de reputada credibilidade e idoneidade. O contrário será a sua participação na farsa e um aplauso a perpetuação na batota. Igual atitude deve ser tomada pela maioria dos angolanos conscientes e amantes da democracia.
Não votar em regimes batoteiros é uma forma de resistência e de manifestação contra a ditadura, que se quer perpetuar eternamente no poder, mesmo que para isso tenha de engendrar as mais refinadas técnicas fraudulentas e controlo de toda a máquina do Estado.
Ora isso significa que, de qualquer maneira, se não for aprimorada, sofisticada a BATOTA, jamais o ÉME poderá repetir a performance das legislativas de 2008. O exemplo da Cote D’ivoir está a mão de semear. Ou seja, perspectiva-se no seio do próprio MPLA uma derrota (relativa) no próximo pleito eleitoral, pois há um risco inevitável de queda significativa de percentagem de votos a seu favor. E alguns dos seus membros apontam mesmo para a possibilidade de pouco mais se colher do que 50% dos votos em caso de não haver batota. Portanto, o problema é como fazê-la (a batota) sem dar bandeira.
Quanto aos defensores de uma mudança, esses nem sequer puderam falar, ou quando falaram foi já com a rasura e com o conhecimento antecipado de um guião apresentado a público numa espécie de demonstração da liberdade de expressão reinante dentro do partido.
Mas, realmente, tudo vai continuar na mesma. Os delegados teriam muito para falar, mas apenas gritaram em silêncio a sua enorme cobardia
Pairou no recinto do congresso as palavras proferidas no agressivo discurso que JES fez sob os temas da pobreza alheia (o MPLA nada tem a ver com isso) e sobre o alastramento em Angola da confusão reinante no norte de África.
Um discurso que aponta para uma tomada de medidas compulsivas de restrição das liberdades constitucionais como ficou desde já claro com a proposta de lei das TIC/Sociedade de Informação, numa clara e inequívoca mensagem do poder executivo firmemente determinado a "pôr ordem na buala". A TIC só vai ser aprovada porque José Eduardo dos Santos tem medo da democracia, não tem conceito democrata, não tolera as liberdades, porque para ele “democracia não se come”, logo ele engole todas as iniciativas democráticas. E quando o chefe Nguxito, tem medo, toda a sua corte se lhe segue as peugadas, fazendo-lhe as vontades. Definitivamente, as TIC são a clara demonstração da natureza ditatorial de um homem, que por temer a liberdade de expressão e de imprensa a quer matar, contando com a colaboração de uma Assembleia Nacional, que os angolanos deixaram de acreditar, por estarem ao serviço não dos eleitores, mas apenas de um homem.
Temos ainda a assinalar um ponto que devia ser de realce: A CORRUPÇÃO. Esse devia ser um dos temas a abordar de urgência nesse congresso dos camaradas. Mas apenas foi abordado pela rama, se fosse abordado, pois o mais certo é que o pioneiro seria logo vaiado e vetado.
O que vimos foi uma encenação minuciosamente regimentada. E nela, a corrupção teve o seu palco para representar em público a sua farsa teatral.
Os milionários vão ajustar as suas posições nos seus respectivos poleiros. Ouvimos ovações entusiastas a JES, quando agora, no seu discursa de abertura falou do combate a pobreza, que ele encontrou no tempo colonial. Francamente…
Depois falou das assimetrias regionais. Quais? Ninguém sabe, pois ele não conhece o país. Não vai ao seu interior, não sabe se as estradas são de asfalto ou de plástico.
O presidente do MPLA falou do sistema educativo, num exercício que pareceu forçado e cínico, pois ele é o primeiro não acreditar no sistema virado para os pobres, pois ele, e os seus ministros não dão o exemplo. Não têm os filhos no sistema educativo angolano e mesmo os que estão em Angola estudam em escolas francesa e portuguesa.
Dos Santos disse, de novo, que o MPLA é o povo e o povo o MPLA e que sempre se bateram por ele. A miséria, a fome e o desemprego, desmentem-no e a sua manutenção no poder deve-se apenas na farsa e controlo das instituições do Estado partidarizadas.
Talvez nos venham prometer para o próximo mandato governativo qualquer coisa como dois milhões de casas. Foi um grande teatro de “fantoches”, como ressaltou o presidente do MPLA, de quem pensa diferente dele está ao serviço das potências estrangeiras, esquecendo-se de dizer, que ele mesmo também o está. Dos Santos e os seus filhos, não têm contas bancárias em nenhum país africano, nem comunista. Não têm parcerias com angolanos, mas com estrangeiros, ora isto prova ser ele quem está mais ao serviço de forças externas, ao ponto de as filhas terem casado com estrangeiros e ter dado estatuto de utilidade pública a uma fundação do seu genro, cidadão zairense, em detrimento de associações angolanas carentes desse estatuto.
De facto nada augurava que este viesse a ser o primeiro congresso a sério, isto é, comprometido na abordagem dos verdadeiros problemas nacionais. A miséria do povo, é claro, mas também se deveria falar da reconciliação interna. Moco, Lopo, França e outros deveriam ter voz, os militantes proscritos do 27 de Maio de 1977 teriam de ser ouvidos e/ou o seu problema ser discutido, mas nada se passou, nada foi modificado em prol da democracia porque a monopolização do Estado a favor do partido, causa de conflitos graves em estado de incubação nem sequer abordaram.
Ninguém teve coragem de falar da política de instigação social, nem do súbito desmantelamento do SINFO, nem da crise entre os generais ricos e pobres nas FAA, nem tão-pouco se falou da má negociação em Cabinda e da crise instalada nas Lundas.
Resumindo, o que este congresso traçou pouco mais foi que a estratégia da batota eleitoral. Os eleitores conscientes, como dissemos acima, deveriam abster-se de ir votar, nas próximas eleições, que Nguxito disse que as vai vencer, e assim escusarem-se de apadrinharem a farsa, uma vez, os camaradas estarem condenados a continuar, eternamente no poder... As eleições, essas, serão apenas uma diversão, então que se retirem os demais em nome da democracia, para que desta vez a batota confira 100% dos votos ao MPLA, tal como ocorre nas piores ditaduras.

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