segunda-feira, 16 de maio de 2011

O PLANO C É O NOSSO ABC


Gil Gonçalves
Se Angola não tem contabilidade organizada, a energia eléctrica é de fingir, então os números do desenvolvimento económico saem donde?!
Inadvertidamente, inconscientemente ou voluntariamente contribuímos para a história da hipocrisia angolana. É por isso que angola sobe no crescimento económico da miséria. E de noite houve-se o miar horrorizado dos gatos acossados pelos chineses de panelas preparadas.
Entretanto pedaços de prédios em desintegração precoce caem com estrépito nas ruas. É muito perigoso circular por baixo deles. A qualquer momento a morte obriga-nos a fazer-lhe companhia. O estrangeiro constrói e o angolano destrói.
Pare, Escute e Olhe!
Esta democracia esconde outra mais sinistra. Chama-se desenvolvimento económico quando serve alguns especuladores imobiliários e financeiros. Desenvolvimento social quando serve esfomeados. Não ouvem, não sentem, o borbulhar da democracia a afogar-se? Ser-se democrata angolano implica defender a ditadura para sobreviver, demonstrar democracia interna infalível, enquanto na ditadura petrolífera a fome alastra, e a democracia empresarial, colonial, avilta-nos com o desempenho económico: «Um crescimento económico jamais visto, um país no rumo certo, único no mundo. O PIB, Produto interno Bruto, cresceu de 2002 a 2007 de 1.500 para 3.500 dólares. Imparável… este crescimento insustentável.
- Chefe… para o nosso Plano C funcionar como o do Estaline teremos que desandar, aniquilar toda a oposição partidária ou independente.
- Evidentemente meu Cabo-de-guerra. Acho que não chegaremos até esse promontório porque a nossa oposição é tão saborosamente estóica.
- É verdade Chefe… então esse da UNITA o Domingos Maluka, ou saluka, quando questionado na Rádio Ecclesia sobre o nosso primoroso Plano C, exortou a população a manifestar-se… como se o povo fosse um partido político. Fiquei muito confuso. Mas quem convoca manifestações são os partidos políticos ou a população?! É a nova democracia (!).
- Sabe, não é por acaso que a nossa oposição e a população andam subalimentados, esfomeados. Este é o nosso segredo mais bem guardado. Não sabendo alimentarem-se as cabeças não funcionam… andam sempre aéreas, etéreas. É por isso que não temos opositores. Este mal, anormal não anda só por aqui. É rotineiro, basta observar como a África Negra se desloca. Nós chefes eternizamo-nos no poder, rotineiros porque as cabeças opositoras têm um tremendo défice neuronal. E o importante é mantermos a continuidade da nossa dinastia. Resguardar, apoiar a fortuna da minha filha mais rica de Angola e dos outros filhos. As empresas estrangeiras já têm uma grande influência, já dividimos com eles o poder. Por isso é extremamente importante mantermos este status quo. Para garantir as nossas conquistas diamantíferas e petrolíferas da nossa luta revolucionária, qualquer opositor que se atreva a desafiar-nos caímos-lhes em cima com os nossos exércitos de terra, mar e ar. Mas primeiro acossamo-los com as nossas forças policiais e caninas. Nenhum escapará. Estamos muito bem apoiados pela hipocrisia Ocidental. A oposição não passará.
- Que discurso mais inteligente, que grandes ideias para um grande Chefe. Então Chefe significa que passamos avante com o glorioso Plano C?
- Evidentemente, mas por enquanto limitem-se a dar algumas surras nos opositores. Se eles exagerarem, fogo neles! O meu reino é para mil anos. E convém desde já incutir na nossa massa militante, em toda a população a palavra de ordem: o Plano C é o nosso abc, o Plano C é o nosso abc!
- Chefe, mas que clarividência. Chefe… e continuamos com as mesmas promessas de um milhão de casas, água e luz para todos até ao ano 3.000?! E que a fome vai aumentar, vai matar?!
- Isso e vamos-lhes prometer mais uma. Que lhes distribuiremos os lucros do nosso petróleo. Os pobres diabos vão acreditar. O que têm de bom é que acreditam em tudo. Também com os investimentos que fizemos no analfabetismo.
- Chefe, essa é de arrasar! O Plano C é o nosso abc!
O Chefe Eterno acusa os democratas de incompreensão.
Nunca gostei de violência; não entendo porque a procuram; não sei porque zombam de mim. Aprecio quem me venera; quem é corrupto vencerá; sinto os artifícios das vossas palavras. Merecem serem tratados como animais; os famintos nunca terão poder. Sereis governados e consolados pelo terror; nas epidemias, as vossas casas serão queimadas; os filhos que se salvarem serão abandonados. Ando sempre no erro, e que ninguém ouse corrigir-me; cresci e formei-me na violência da guerra, pratico-a porque não sei fazer mais nada. Falam contra mim e desprezam-me por causa do dinheiro do petróleo; Têm é inveja; suplico-vos que tenham pena de mim, porque não sei o que faço. Quem me dera escrever um livro sobre as minhas maldades, tento… mas o tacto não consegue. Receiem-me, porque a minha espada está sempre suspensa.
Tentam atrair os miseráveis contra mim; lembrem-se que tenho milhares de soldados ordenados. Não conseguirão fugir das minhas armas; guiadas pelos melhores raios, nem nos melhores esconderijos escaparão. Serão aniquilados pelo seu raio de acção.
O Chefe Eterno demonstra que aqueles que acreditam nele terão prosperidade
Já alguém ouviu queixar-me que passo fome? Ficam pasmados quando me olham; pelo esbanjamento que faço; quando adoeço, socorrem-me os melhores médicos; porque sou um nobre; a escumalha quando adoecer que procure um feiticeiro. Fazem filhos até ao infinito; outra coisa não sabem fazer; à espera que um deles seja rei. Vagueiam na vida a dançar noite e dia; como querem prosperar? O que ganham gastam num só dia; porventura alguém acabou com os dias? Com os meses? Com os anos? Quem quiser ter bens e paz basta lisonjear-me; diamantes e poços de petróleo não lhes faltarão. Não percam tempo a encontrar a sabedoria e a inteligência; isso é um dom meu; a sabedoria compra-se com o líquido negro. E os vossos passos são controlados; não se desviem do meu caminho.
Alguns salmos do Chefe Eterno
Meu rei, os nossos adversários são muitos. Não sei por quanto tempo os vamos aguentar. São mais de dez milhões. Todos contra nós. O meu rei é a minha salvação. Há quem tenha intenções de desbravar a nossa floresta humana. À rádio dos democratas nem um palmo do nosso reino. Nos próximos séculos um salmo nosso será cantado. Sim! Viemos para ficar, e daqui nunca sairemos.
Cada vez que a água suja é lançada de um balde, significa que uma nova notícia chegou. Que método tão primitivo que a agência real press utiliza para actualizar a informação. Os jornalistas inspiram-se com a água suja e o lixo que quase lhes cai em cima. Informação de água imunda e sujidade, que fazem acontecer a realidade do reino real. Mais três baldes de água imunda. O jornalista assustou-se. Parou o trabalho. Alguns pingos de água atingiram os computadores. Na parede a fotografia do rei sorri. Que Deus abençoe a hipocrisia da democracia ocidental que impõe em todo o mundo a diabocracia da fome. Por onde passam, as multidões de esfomeados saúdam-nos. Não é necessária uma guerra para destruir uma nação. As forças da Natureza são mais poderosas que qualquer arma.
Já não há pessoas inteligentes nem sábias. Toda a inteligência e sabedoria é empregue para destruir o que existe, e transformar tudo em dinheiro.
Só a Natureza é pura, sábia e inteligente. O homem é impuro e monstruoso, e nela não merece viver. O meu desporto preferido é ver as pessoas a morrerem à fome.
Devaneios do Chefe Eterno
Os piores terroristas do mundo são os que vos fazem passar fome. Ainda que o preço do barril de petróleo chegue a mil dólares, a vossa fome aumentará. Porque o rei comprará duas ou dez bombas atómicas para amedrontar o mundo. Há reis que não sabem reinar. Andam com o reino no bolso. Uma das premissas fundamentais para o desenvolvimento de um reino, é a obrigatoriedade das vendas a crédito. Sem créditos não há desenvolvimento. Mas nas dinastias milenares, obrigam-se os escravos esfomeados a trabalharem sem terem direito a nada. Infelizmente nos tempos modernos ainda existem reinos que parece se formaram antes de Cristo. Sentem-se felizes ao saírem dos seus palácios para observarem a miséria dos seus súbditos. Depois anunciam palavras bonitas: há quase cinquenta anos que vejo a vossa fome, esperem mais igual tempo que prometo acabar com as vossas vidas para sempre. Na verdade quero que todos se danem. Desde que tenha o meu bem-estar, o resto são palavras. Cinquenta anos depois nesta cidade à procura de um local calmo e seguro. À espera do que os colonos deixaram desabe de vez. E tudo fique como à quinhentos anos atrás, na nossa cultura e tradição rejuvenescidas. Por mais que procuremos a liberdade nunca a encontraremos. Porque surge sempre um opressor no nosso caminho. E quanto mais dinheiro tiverem, mais opressão de chicote nos é assegurada. Quando na cidade moribunda todas as luzes se apagarem, só passados cem anos um sábio aparecerá. E dirão os sobreviventes que foi Deus que o enviou.
A verdadeira percepção da arte é quando vemos coisas que os outros não vêem. E a Natureza como a nossa mãe é disso testemunha. Para que um rico aumente a sua riqueza, são necessárias no mínimo dez milhões de pessoas que morram à fome. Os homens atingiram a perfeição. As suas leis são superiores às minhas. Já não necessitam de mim. Nos seus julgamentos observo-os e não me intrometo. Onde julgam, o seu pensamento é só um: dinheiro. Há muito se esqueceram do que lhes ensinei. Para um julgamento justo, primeiro é o amor. Segundo, é ainda o amor. Onde o dinheiro prevalece a justiça empobrece. Orgulho-me da injustiça oferecida, e disso não se deram conta, porque só contam o dinheiro; uma vida de inutilidade; qualquer um de vós é escravo, um inútil; sim! Desde o faminto ao rei, ao mais rico, e até ao mais poderoso, todos vivem na inutilidade; o faminto obedece a quaisquer, porque deles recebe inutilidades sem pestanejar; o rei vive na suspeição de alguém lhe usurpar o trono; o mais rico não dorme com receio que os seus filhos, ou um amigo lhes roubem as fortunas; o mais poderoso reza a um deus desconhecido, que apareça na multidão de conselheiros, algum que anule o poder da nova nação que fatalmente surgirá sem corrupção. Muito poderosa sem as monstruosidades actuais.
upanixade@gmail.com

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