Pelo que dissertamos no nosso artigo sobre a manifestação estudantil do dia 3 de Setembro, mostrámos o que toda a gente pode ver e quase ninguém é capaz de dizer que viu, com medo de sofrer as já tradicionais retaliações urdidas de longa data pelo aparelho de Estado super-visado por JES e o MPLA.
Enquanto estas manifestações vão acontecendo, o que é que se passa no Futungo? Passa-se o que sempre se passou, o PR que tem indubitavelmente responsabilidades no cartório, nega em silêncio a sua responsabilidade e assume atitudes de indignação e repugnância contida, perante actos que considera da mais baixa estirpe. Numa palavra, Isola-se.
Para Sua Excia, todas as manifestações que se realizaram até à data, assim como as que se realizarão no futuro, de protesto contra a sua política, mais não são nem serão que arruaças que já vão começando a ser cansativas de tanto se repetir. São mesmo uma tristonha prova da ingratidão do povo de quem ele sempre se esforçou por resolver todos os problemas que o assolam.
Além disso, é muito provável que, na sua opinião, no meio desta grande agitação juvenil, o mais preocupante não sejam as suas causas, que de qualquer maneira ele não reconhece como sendo pertinentes, mas sim o perigo que decorre da situação delicada em que ele, o seu aparelho de Estado, o partido MPLA e todo o seu sistema repressivo se encontram.
O seu dever devia passar por uma decisão voluntária da sua parte, de vir a terreiro dar explicações e razões de ser de muitos pontos frágeis da sua governação, como por exemplo, combate à corrupção com maior tendência para aumentá-la do que diminuí-la, promessas não cumpridas em maior número do que as que se cumprem, construção de hospitais, “universidades", escolas e institutos, sem pessoal, docente ou de saúde, criação de zonas industriais em sítios onde não há água, electricidade nem saneamento básico, estando esta lista muito longe de ser exaustiva!
Mas para isso acontecer ele o Chefe sair-se bem com as suas explicações, seria preciso, primeiro, que ele tivesse categoria e sabedoria para o fazer, mas não tem, e, por outro lado, talvez não chegue o espalhafato circense de Bento Bento para dar lustre que chegue à sua intervenção, enfim, o mal é que JES sente, sem dúvida, que o solo lhe está a fugir precisamente no caminho que ele gostaria de traçar, quer dizer, governar sem oposição, ser admirado e poder anunciar a sua retirada do poder com a certeza de que, protestos veementes e reiterados o obrigariam a renunciar a essa decisão. «Querem que eu fique? Pronto, pronto, vou-me sacrificar por Angola, podem contar comigo».
Não é certo que isso aconteça. Ninguém, ou quase ninguém. Precisamente porque doravante JES quis assumir todas as responsabilidades, portanto, quando qualquer assunto ou empreendimento derrapa ou parte à deriva, como aconteceu com o Nosso Super, Aldeia Nova, Porto seco de Luanda e outros, a culpa é só dele.
JES cada vez se parece mais com um homem sozinho, mesmo no seu circulo. Hoje, ele já está muito longe de uma certa unanimidade que já teve. Por outra, quem é que ultimamente tem criticado este ou aquele órgão superior de Estado, Ministério ou ministro? Ninguém, ou quase ninguém. JES é alvo de todas as manifestações, de todas as críticas e lamentações
Tudo indica que o seu reino, literalmente o seu reino está a chegar ao fim. JES só é um grande líder para as hostes da bajulação, a qual mais não serve do que garantir aos seus actores, saltimbancos e bobos da corte, a manutenção dos benefícios adquiridos
A sua única esperança assenta na fidelidade que ele pensa ser indefectível, da classe castrense e de polícia. Mas nos dias que correm, muitos generais que foram esquecidos e relegados para segundo plano, bem como oficiais da Polícia, já não se encontram com a mesma disposição para defender um regime que divide os seus, dando a uns o que retira aos outros. O futuro e a história dirão como será o amanhã de Angola.
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