A política angolana, a gestão da coisa pública, pese os gráficos e números encherem as páginas das sebentas do regime e do FMI, sobre um crescimento exponencial, este não cala fundo na maioria dos cidadãos. A maioria autóctone sente-se marginalizada, discriminada e longe dos benefícios da riqueza nacional, estupidamente, mal distribuída por quem deveria colocar os interesses do colectivo acima dos seus umbigos.
Sílvio Van-Dúnem
E todas estas nuances têm estado a despoletar situações insólitas, pois deixaram, os políticos de colocar a educação e coerência verbal num pedestal de elevação. Infelizmente, ela está na sarjeta, empurrada e alimentada por actores cujo nível é incendiário.
E é de incêndio em incêndio, que os ataques vão tomando consistência e um rumo preocupante, para a maioria. Nesta peleja, emergem, como sempre, os dois crónicos contendores: MPLA e UNITA, com acusações mutuas, quando em causa o rumo do país não vai bem.
Nos últimos tempos as farpas, subiram a um nível, assustador, com a introdução de um dado novo, na contenda; os sulanos, termo apontado aos parlamentares da UNITA, por se retirarem da sala, para não votarem uma lei, que não estavam de acordo.
Agora surge o Galo Negro, a traduzir, na voz do seu secretário geral, Abílio Kamalata Numa, o que os militantes do seu partido entenderam sobre o termo sulano, ao que dizem “no léxico político de Angola”.
Para este dirigente, “Sulano não significa originário do Sul de Angola. Para os seus proponentes (os crioulos), sulano significa angolano de segunda do norte ou do sul, do leste ou do oeste, negro, branco ou mestiço. Por isso, nós os sulanos, voltamos a reiterar que Angola é una e indivisível.
Angola dos nossos antepassados precisa a cidadania inclusiva, o Estado de Direito e Democrático e não Angola onde uns são sulanos e outros cidadãos (porque são de origem santomense, caboverdiana ou Judia).
Os acontecimentos na Assembleia Nacional de Angola, são o corolário de um regime atípico. Não se pode dizer o que disseram e sem consequências. Não se diz o que disseram e logo a seguir o Presidente da República vai para o Huambo, instigar a intolerância e todos nós (professores, doutores, bispos, pastores, estudantes, populares) aplaudirmos, julgando estarmos num regime sério.
Angola é terra dos autóctones tratados por Portugal como indígenas escravos, atrasados e hoje por crioulos como sulanos. Afinal, Angola desejada não existe. Angola de todos nós não existe. Existe sim Angola dos sucessores dos portugueses.
Até que enfim, porque para os que não queriam ver nem ouvir, não só viram a máscara a cair como também perceberam o nome do mascarado; o crioulo. Esse mascarado que por várias vezes se tentou passar por alienígena escondido nos povos de Luanda, Bengo, Katete, Kwanza Norte ou Malanje. Porque para os mais avisados sabiam bem quem era o mascarado já havia deixado bem visível o seu rasto aquando do 27 de Maio de 1977, com Nito Alves e seus correligionários a serem passados a ferro e fogo por alertarem os militantes do seu partido sobre os efeitos perniciosos que representava o crioulo; e não foram necessários muitos anos e aí está toda verdade. Naquela altura, os intelectuais autóctones de Malanje foram os que mais sofreram com o 27 de Maio. A máscara não só caiu como o mascarado deixou o nome. Não será está a razão da permanente conflitualidade no país?”
Como se pode ver as consequências são bastante duras, pois a espiral de intolerância mostra, também, a sua face, com o volume de som bastante alto. E, o mais grave, é não haver uma autoridade equidistante com autoridade para colocar ordem no círculo.
A razão da permanente conflitualidade em Angola
Camalata Numa, acredita que o conflito passado, presente e, eventualmente, futuro tem a sua origem no complexo e na falta de africanidade de muitos dos actuais dirigentes. Esta visão complexada, na sua opinião, tem sido perniciosa para a normal harmonia vivencial de todos os povos e nações autóctones que coabitam o espaço territorial angolano.
“Desde os tempos da resistência ao colonialismo português que o MPLA procurou encontrar um bode expiatório para melhor se esconder a si como alienígena e aos problemas por si criados. Primeiro foi com a UPA FNLA a quem fizeram de antropófagos (gente que come gente), de Congolenses a quem dizimaram na SEXTA - FEIRA SANGRENTA. Passaram-se para os Nitistas a quem trataram de golpistas julgados por um Tribunal Revolucionário de Crioulos.
Enfraquecida a FNLA, hoje o inimigo a abater é a UNITA e este sinal foi dado em 1992 com o genocídio crioulo, a militantes da UNITA, com o assassinato do Presidente eleito Dr. Jonas Malheiro Savimbi, com a fraude eleitoral em 2008 e a Constituição atípica.
E esta vontade persecutória de acabar com a UNITA continua. Esta vontade dos crioulos de quererem neocolonizar Angola, tem estado na base dessa permanente conflitualidade. Vejamos, no Estado Angolano o povo e o governo são dois corpos estranhos porque um é autóctone e outro é crioulo que teima em não se africanizar e distante de buscar igualdade e fraternidade, optando pela estratégia de formação dos autóctones em seus assimilados, os assimilados dos crioulos enquadrados nos comités de especialidade.
Num Estado a harmonia depende da ausência de factos estranhos na relação povo/governo. Foi assim com os portugueses e será assim com os crioulos enquanto persistirem ser diferentes dos outros. Os crioulos são a razão de todos os conflitos. São responsáveis pela longa guerra que Angola viveu.
São responsáveis pelos genocídios sobre os Kimbumdos no 27 de Maio, pelos Bakongos na Sexta-Feira Sangrenta, pelos Umbumdos no genocídio crioulo de 1992 e pela permanente matança dos Kiokos pelo controlo abusivo de territórios diamantíferos”.
Como se pode depreender o discurso, virado ao avesso pode ser atribuído a qualquer um dos adversários, mas, no caso tem a chancela e visão Kwacha, que consideram a direcção do MPLA de aculturados e assimilados, ao ponto, segundo o Galo Negro, de se ter calcado na Constituição, unicamente, o português como língua oficial relegando para último plano, as verdadeiras línguas autóctones, faladas por mais de 75 por cento dos angolanos.
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