domingo, 20 de novembro de 2011

Angolanos devem rever-se todos na independência ou só os do MPLA


O regime JES/MPLA prossegue nas calmas uma pré-campanha eleitoral que se vai desenrolando numa camuflagem de falhanços notórios em feitos dignos de realce, ou aproveitando momentos nobres da história de Angola ou de outro aspecto qualquer da vida social.
Depois de ter inaugurado várias realizações, dentre as quais a cereja em cima do bolo foi o cortar da fita da primeira fase da “centralidade” (sic) do Kilamba (apresentada como contributo para resolver os problemas de habitação em Angola para camuflar uma negociata de biliões de dólares) com todo o espalhafato que a camuflagem do embuste exigia, o Executivo inaugurou no decorrer desta semana o final das obras duma outra primeira fase, estamo-nos a referir ao edifício central do campus da nova Universidade Agostinho Neto.
Sem termos sido exaustivos quanto a esta nova mania de inaugurar não obras acabadas, mas fases de obras, o que nos parece é que isso cheira que tresanda a uma inédita, para não dizer atípica maneira de fazer propaganda antes das eleições, pois a verdade é que essas obras, não sendo possível acabá-las antes da provável data de realização das próximas eleições de 2012, não tem maka, inauguram-se fases!
Tudo isso, conjugado com declarações públicas divulgadas em exclusividade pelos órgãos de comunicação social estatais, “Lá vamos cantando e rindo levados, levados, sim…”
No que toca às declarações públicas a que fizemos alusão, temos seguramente a destacar o discurso de JES sobre o estado da Nação e, mais recentemente, a intervenção do ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa na cerimónia do acto central das celebrações do 11 de Novembro, em N’dalatando, capital da província do Kwanza Norte.
Sobre o discurso do chefe do MAT tirámos algumas ilações referenciadas num outro artigo desta edição, mas nesta página queremos abordar outro ponto sensível da nossa vida em sociedade, ponto que se relaciona com o plano principal de implementação de uma verdadeira reconciliação nacional.
Que o senhor ministro tenha representado o presidente da República e discursado no acto central das comemorações do Dia da Dipanda, até aqui nada a opor, só que fica-se com a percepção de a data ser apenas uma em que o regime aproveita para exaltar os seus feitos, perante o seu eleitorado. E, além desse lamentável aspecto revelador de sectarismo, enquanto Bornito de Sousa se esgrimia nas suas falíveis pinceladas de embelezamento da fachada do regime, o Presidente da República, nesta data maior, entrou mudo na festa e saiu dela calado, quando deveria dizer algo aos autóctones angolanos.
Portanto, o que vimos foi o ministro da Administração do Território falar em seu nome, de JES é claro, dos seus feitos, da sua liderança, dos seus sonhos dos seus projectos sobre Angola, num aprimorado relatório dos desígnios e visão do camarada presidente. E nisto, dentre discursatas e inaugurações, até um cego pode ver que tanta agitação se enquadrada no âmbito da campanha eleitoral do MPLA, exaltando os feitos e propostas do PR e do Partido para lá dos seus actuais mandatos, como se fosse já uma certeza de que todos os eleitores vivos lhe venham a conferir 101%!
Contudo, o que é estranho é o Presidente da República e o MPLA não se darem conta de que essa política do umbigo só traz constrangimentos, recalcamentos e sentimento de frustração podendo dar origem a renúncia de muita coisa, inclusive renúncia de civismo perante essa tão grande indiferença das mais altas esferas do Estado. É que ao monopolizar para si e para os seus simpatizantes, amigos e militantes o mérito do alcance da independência nacional, o regime JES/MPLA não faz outra coisa senão criar um muro de incompreensão que separará cada mais uma parte dos angolanos de outros angolanos, que não se revêem nos projectos do MPLA e de JES.
Estamos em 2011, século XXI, e o mais espantoso é os nossos dirigentes não conseguirem ver o mal que estão a fazer em seu redor, espantando e marginalizando todos os que não têm cartão do MPLA, todos os que não aceitam tanto descalabro institucionalizado e impunemente praticado por camaradas irresponsáveis. O que de facto se está a passar, nas barbas dos arautos do regime, da paz e da reconciliação nacional mas só da boca para fora, é uma autêntica aberração. Esses camaradas estão pura e simplesmente a privatizar a independência nacional - nem sequer tiveram a humildade de convidar os líderes dos partidos da oposição e alguns membros da sociedade civil -, precisamente num momento de bastante tensão, descontentamento e discriminação política. Governar aprende-se e em Angola ninguém que aprender as governar, pois o que interessa é governar-se.
Imagem: ... técnica à corrupção e da demagogia política à especulação imobiliária.
livroseleituras.com

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