domingo, 20 de novembro de 2011

Manifestações e mudanças. O medo do MPLA que justifica a fraude eleitoral

Poucas horas depois do lamentável termo que foi dado pela Polícia Nacional (PNA) à manifestação de estudantes que se realizou a partir da Praça da Independência no passado dia 3 de Setembro, após uma série de acontecimentos violentos a que os organizadores dessa concentração de pessoas pacíficas eram totalmente alheios, o presidente da República, José Eduardo dos Santos deixou cair a sua máscara de promotor de paz para deixar ver o que por trás dela se esconde, ou seja, o perfil de um ditador. Um camuflado, mas verdadeiro ditador, a quem, segundo os seus próprios dizeres, foi imposto promover o incremento de um regime democrático.
Quando tomámos conhecimento das orientações por ele formuladas em forma de retaliação severa dos clamores de cólera de algumas centenas de jovens estudantes que nesse dia se juntaram em Luanda, imediatamente nos saltou à mente a imagem do arregimentado “Guia Imortal”, Herói Mundial, Poeta dos poetas, António Agostinho Neto.
Esses estudantes, dentre os quais 22 foram presos e levados a tribunal, deixaram bem patente nos seus clamores de protesto um imenso repúdio contra quase todos os aspectos da desastrosa política de JES, não só porque têm boas razões para tal, mas também porque são jovens e não se revêem na galeria de heróis Nacionais que sempre lhes foi imposta, a eles e ao povo em geral, pela Iª República e que por ora, na IIª, servem de ícones beatificados em memória dos tempos gloriosos da libertação nacional.
Mas, por que razão nos lembramos nós, assim, tão de repente, do presidente Neto?
Lembramo-nos por causa da precipitação comum a ambos na tomada de duas decisões a quente, ambas a escapar ao controlo mental diante de factos hostis contra as suas pessoas.
Assim, como no dia seguinte ao levantamento popular do 27 de Maio de 1977, em que se juntaram pela madrugada umas centenas de pessoas desarmadas em frente da Rádio Nacional – era «(…) uma manifestação de massas desarmadas, como a definiu o historiador britânico Birmingham» -, Agostinho Neto lançou umamensagem televisiva a esse respeito, anunciando ao povo de Angola o assassinato de alguns dos seus camaradas, fieis ao MPLA e prometeu uma expedita acção contra os assassinos, sem saber quem eles eram, e disse, (...) Não haverá contemplações (...) Certamente não vamos perder tempo com julgamentos, seremos o mais breve possível», disse ele, do mesmo modo, precipitadamente, JES baixou orientações no dia seguinte (salvo erro no dia seguinte) à manifestação de estudantes realizada a 3 de Setembro de 2011, para que os estudantes detidos pela polícia fossem julgados sumariamente, deixando claramente nas entrelinhas a imperiosa vontade de os condenar sem pesquisar o que realmente se passou..
A nosso ver, as similitudes com a reacção temperamental de Neto, são notórias. Como Neto, ele quis que o castigo desses fedelhos fosse exemplar. E acabou por ser tal como ele quis, não obstante ter sido praticamente provado que os instigadores da desordem que se verificou durante essa manifestação fossem agentes da Secreta!
Ora, tudo isto tem um significado político. Tanto Neto como JES sentiram nos seus dentros simplesmente medo. E é medo de muita coisa, medo de se ter enganado sem saber exactamente onde, medo de ser enganado, de ser atacado de surpresa, medo da morte e medo de entrar numa espiral de mortandade. Porque é aí que reside o ponto fulcral da actual situação criada pela onda de protestos públicos, do jamais visto em Angola. JES e o regime encontram-se encurralados entre reprimir a matar futuras manifestações hostis à sua áurea artificial, ou ordenar abrir fogo contra os manifestantes que, quase certamente vão criar uma onda, uma espécie de bola de neve que poderá destruir atá aos seus fnudamentos petrolíferos a reputação dos nossos governantes.
Quer dizer, os manifestantes parece terem tirado da barricada arrogante o maior partido angolano, o MPLA actual e agora vai ser muito complicado, mas mesmo quase impossível pará-los
Ora, para que tal venha a ser possível, já foram tomadas algumas medidas, umas cautelares, outras de auto-propaganda, outras ainda de aliciamento.
Das cautelares encarregou-se essencialmente o soldado graduado Bento Bento, que veio a terreiro proferir uma série de impropérios desconexos e anti-democráticos também por orientação de JES. Entre algumas pérolas que lhe saíram boca fora, salientamos as mais hilariantes, como a sua afirmação segundo a qual o seu partido tinha informações de que centrais de inteligência do ocidente (referencia usada a França e EUA) estariam por detrás de planos subversivos contra o governo de Angola. Mas que, ao mesmo tempo, a UNITA era a instigadora das manifestações, em parceria com o Bloco Democrático de Justino Pinto de Andrade, os POC e o Partido Popular de David Mendes, isto sem falar de algumas alfinetadas “Emepélianas” à imprensa não estatal em geral e a Reginaldo Silva em particular, assim como a um cantor que comeu à grande e à francesa dos subsídios do estado e agora cospe na sopa que lhe deram a comer! Quem será!?...
Noutro registo também temos de reservar uma medalha de mérito a José Ribeiro, que se esgrimiu várias vezes em defesa de Dos Santos, adulterando declarações e factos protagonizados pela UNITA e sobretudo, pela sua excepcional ultrapassagem de si próprio e dos seus imensos talento de escovador-mor de JES e do regime, ao escrever coisas assim, «dou comigo a pensar no que já fizemos ou ainda nos falta fazer para que a roda dentada do progresso continue a girar, firmemente, em direcção ao futuro.(…) Não é preciso ir até às origens, quando os sumérios inventaram a roda, nas terras férteis do Eufrates. Os nossos passos levam-nos para Agostinho Neto, o poeta universal, um dos maiores líderes do século XX, combatente indómito...» (…)E, por falar em paz, nesta máquina prodigiosa (a referida roda, que é a dentada na nossa bandeira) que faz mover Angola e a África Austral, há um engenheiro de excepção, José Eduardo dos Santos, que nunca vacilou na sua convicção de que só a paz é o caminho (…)«, seguido de mais uma espetada de piropos pontuados por uma sublime proposta que nem ao diabo passaria pela cabeça propor: «Se alguém merece ser hoje distinguido com o Prémio Nobel, pelo que fez pela África Austral e o continente africano, é ele». Brilhante!
A estes geniais textos junta-se o batalhão controlado da restante comunicação social do Estado, que lidera por ora, numa frenética excitação, uma campanha de lustre da imagem do grande líder e dos seus feitos messiânicos. Ele é o ser perfeito para uma Angola com montes de imperfeitos, membros da oposição e da sociedade civil, que clamam por uma outra forma de gestão do erário público. Todos mentecaptos e da gemas dos delinquentes menos disciplinados.
Nesta realidade de factos sem outra relevância que a de, mesmo assim e depois de tanta repressão, a máquina de pseudo-segurança do Estado ter sido toda ela mobilizada, tal como no tempo de Salazar e Caetano, quando as coisas não iam bem. Por seu lado, a Assembleia Nacional mobilizou-se e fez também a sua parte, não fosse o diabo tecê-las, quando em cheque está a imagem do grande líder. Um comunicado inócuo sempre direccionado, quando os pés começam a separar-se do chão. O alvo é e ou parece ser um deputado: a UNITA. Não! Dirão. Talvez então seja Makuta Nkondo. Quer aquela, quer este, não deveria ser alvo de um tão alto pedestal.
Mas, o que mais espanta nesta onda de protestos contra a excessiva concentração da riqueza e a delapidação dos cofres do Estado por parte de uma elite que continua a adiar a paz augurada e a aguçar a necessidade de uma mudança de regime, para que uma outra expressão de liberdade nasça em Angola, o que realmente mais espanta neste frenesi patológico é mesmo esse temor a que nos referimos no início deste artigo, o temor causado pelo grito da mudança que sai das ruas, dos becos do sofrimento e das calçadas da discriminação que grassa pelo País, onde uns são filhos da Coisa Pública e outros, filhos da Mãe

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