segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A cobardia de um partido amordaçado por um líder com popularidade em baixa


O presidente José Eduardo dos Santos, destapou o véu e confirmou, no 18 de Novembro, não estar a sua veia e coluna vertebral, distante da de muitos ditadores espalhados por este mundo fora, que só deixam o poder, por razões ditadas pela santa mãe natureza. A situação política interna de Angola não está boa. O Presidente sabe-o. E tanto o sabe, que nos últimos tempos, tem estado, segundo fontes próximas ao Palácio Presidencial, não só a reforçar a sua segurança pessoal, como a dos filhos e familiares. Hoje, JES já não é o dirigente que consegue o unanimismo, nem mesmo com a sua imagem cândida consegue esconder os podres de um regime, cuja estrela maior assenta na corrupção, má gestão dos dinheiros públicos e na discriminação.

O líder do MPLA e da República à 32 anos no poder, sem nunca ter sido eleito, por voto popular directo, em eleições presidenciais, disse diante do seu novo amigo português, o primeiro ministro Passos Coelho, que vai se “eternizar” no poder. Que de lá, ninguém lhe tira, mais a mais que já tem planos para implementar até 2025. Santa e dolorosa visão democrática.
Estupefacto, Passos Coelho bem tentou solicitar a fórmula de uma tal engenharia em democracia, quando a essência deste modelo de tão imprevisível é de ser o povo, através do voto, quem determina, a mudança, a renovação e ou continuidade de um líder e de um partido, na condução do país e não a vontade individual a determinar os destinos do voto do colectivo.
Dos Santos, falou em nome e vontade própria, como se tivesse um mandato hereditário, para a condução “ad eternum” dos autóctones desta terra, que anseiam pela implantação de uma verdadeira democracia, transparência na gestão das receitas do petróleo e fim da corrupção institucional e não da perpetuação de um sistema presidencial que bifurca no seu palácio, até as mais básicas funções institucionais do país.
A decisão também chocou muitos militantes do “Kremlim”, principalmente, os partidariamente camaradas, com um dedo de testa que consideraram o anúncio público de continuidade, antes de uma decisão dos órgãos internos, demonstrativa de liderança autoritária e espezinhadora dos ideais dos órgãos do partido.
A excepção honrosa de aplausos a continuidade de JES, apenas veio da corte de bajuladores, nacionais e estrangeiros, quais sanguessugas do templo, que acreditam ser normal, em democracia, a concentração excessiva de poder, a nebulosidade de gestão da coisa pública, que beneficia que uns poucos fiquem com os milhões de dólares, dos milhões de autóctones votados a miséria, desemprego e indigência.
Mas, ainda assim, Dos Santos afirmou estar disponível para chefiar o seu partido, MPLA, nas eleições gerais de meados do próximo ano,"Estarei sempre disponível para cumprir qualquer missão", disse ele, inesperadamente e sem vontade nenhuma de fazer rir. Fazendo.
Isto quer dizer que, se o seu partido vencer, por 110%, como todos esperam, contando com votos até dos mortos e recém-nascidos, ele será automaticamente nomeado presidente.
Está escrito na Constituição atípica aprovada em 2010, que o isenta de concorrer, de apresentar um programa económico, de fazer um balanço dos 32 anos da sua governação, pode privatizar, para si, não só o poder como o país.
Mais uma vez a revelação de uma decisão importante, que todos os angolanos gostariam que fosse dada o mais rápida e simplesmente possível, foi proferida num momento alto de um encontro internacional, durante a recepção a uma personagem estrangeira, o primeiro-ministro português, Passos Coelho, como que a dizer, “estão a ver, esta é a melhor maneira de anunciar ao mundo a minha disponibilidade, a minha veia democrata”.
A fachada, mais uma vez a fachada destapou-se, como motor principal da sua acção política. Por outro lado, este anúncio, estamos em crer, surpreendeu praticamente todos os povos de Angola em peso, salvo certamente raras excepções, o que o levou a meter água na fervura, por lhe ter saído assim, tão abruptamente, a sua confissão.
Depois, ao ver o semblante crispado de alguns presentes, JES recuou e deu a entender que o seu partido é que iria decidir, "esse assunto está a ser tratado internamente ao nível das instâncias partidárias e penso que a situação estará esclarecida até Janeiro", afirmou. Alguém acredita nisso. Não. Pois a decisão foi tomada, unilateralmente, no 18 de Novembro, e ninguém, absolutamente ninguém, face ao excesso de poder que detém Dos Santos terá a coragem de o contrariar, pelo contrário, todos dirão: “ele é o nosso candidato natural”, para logo depois ter direito a passeatas etílicas lideradas por Bento Kangamba. Basta ver o explicado a posterior: "enquanto velho militante do MPLA, estarei sempre disponível para cumprir qualquer missão".
Quer dizer, a decisão não é sua. Ele, humildemente, apenas se põe à disposição do partido, este decidirá e se houver uma maioria a manifestar o desejo que ele se apresente, gentil e obsequioso ele apresentar-se-á.
Democracia de fachada, só fachada!
Além disso, estas afirmações, com as suas ambíguas facetas, representam em todo o caso um recuo do presidente, que aqui há alguns meses assegurava não ter a intenção de se recandidatar. E, aí também, só fachada, uma maneira sua, vezes sem conta repetida, de fintar o passado para melhor abrir caminhos para o futuro, mesmo sabendo que corre o risco - por vezes acontece - que essa sua tendência lhe custe alguns dissabores mais tarde.
Recorde-se que, aquando da aprovação da Constituição, Eduardo dos Santos forçou a cúpula do MPLA a aceitar o reforço dos poderes presidenciais, o que, referem alguns comentadores, poderá agora ter o seu preço, e esse preço poderá ser a substituição do homem que ele mesmo escolheu para lhe suceder, Manuel Vicente, presidente da Sonangol, por alguém mais jovem e próximo das Forças Armadas.

A luta pela manutenção perpétua do poder
Em 1944, Hitler ganhou todas as batalhas, mas no ano seguinte, 1945 perdeu-as todas. Por sua vez, JES tem ganho todas as suas lutas políticas e, para não destoar, anunciou agora, diante de um estrangeiro, o que muitas vezes foi vaticinado por F8: está disponível para continuar eternamente a sua luta pelo poder, o qual é visto, por sua graça, como seu legado hereditário.
Dos Santos tem medo, este é o termo, de concorrer em pé de igualdade com outros candidatos. Medo de enfrentar os seus contraditores num debate público. Medo de falar do país real, dessa Angola profunda, desfigurada por crateras de dor, sofrimento, doenças, analfabetismo, misérias.
Dos Santos nem sequer tem um projecto pais e uma política de reconciliação verdadeira, do tipo da que foi conduzida pelo lendário vivo, Nelson Mandela.
Por outro lado, nesta sua declaração de estar disponível para continuar no poder, note-se que não se enxergou o entusiasmo habitual no seio das suas hostes, as reacções foram mornas. Com efeito, o MPLA foi apanhado de surpresa com o anúncio de disponibilidade, pois até aí, uma grande maioria, ainda que em silêncio, esperava por uma retirada, por ser ele visto, neste momento, como factor de instabilidade.
Enfim, que JES se apresente não gera nenhuma surpresa, esta seria sim muito grande se ele não se apresentasse. Mas surpresa maior ainda seria, agora, que se apresentasse um outro, ou mais, candidatos à presidência saídos do seio do próprio MPLA. Um sonho que, a realizar-se, seria o primeiro verdadeiro passo do MPLA para sair do marasmo do “guerrilheirismo arcaico” em que alguns dos seus caducos dirigentes o querem manter.

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