quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Os desperados do DOR-Departamento da desOrganização Revolucionária. Gil Gonçalves


A lei 7/78 dos Crimes Contra a Segurança do Estado de 10 de Junho de 1978 é o nosso Alcorão.
E por aqui os nossos diferendos e diferenças democráticas decidem-se pacificamente… com uma bala na cabeça. E o Politburo especializou-se na criação destas misérias. A principal, a miséria da populaça é proporcional ao nosso tempo no poder. E quanto mais tempo, mais miséria. Também não temos mais nada para oferecer, e mais também não sabemos como.
A selva angolana adensa-se. Angola não é um país, é uma agência funerária. As massas são o ponto de partida de uma viagem sem regresso.
Já aconteceu um salmo português, outro revolucionário russo e cubano. Agora é ainda outro salmo da gloriosa revolução chinesa. A China cria empregos para os seus desempregados, e desemprega os angolanos. Impõe a sua mão-de-obra escrava. Querem pão?! Comam batata-doce!

Eis o sonho de uma noite tropical acorrentada
Ah! Estes punhais revolucionários
tão exangues, nunca sedentos de internacionalismos
sanguinários
de batalhas inglórias
perdidas para aí nos milhares que serão milhões
de casebres desmantelados
de punhais tão corrompidos, tão desviados
cravados nas margens das contas
bancárias além-mar, além-túmulo
Que paraíso este, só para revolucionários
Estaline vive!
Vamos destruir Angola!
A questão não é a nossa formação
é a nossa revolucionária actuação

Vale-tudo, até com a mais facílima aptidão facínora assassinarem-se opositores na garantia da impunidade, comprometendo o incêndio nacional. Hoje matamos, amanhã matam-nos. Quanto mais o poder se torna férreo, muito depressa enferruja, os abutres sabem-no. Quando um poder sobrevive de assassinatos não governa um país, desmanda numa morgue. O inimigo do próprio governo é ele mesmo. Governar sobre a lei de Lynch é linchar-nos, impor-nos o terror eterno de 1975. O tempo passa e a palavra nação vai desaparecendo, terminando no esquecimento. De facto e de jure já não é nação, é um matadouro municipal, nacional.
Angola, o país produtor de petróleo número um – primo em tudo – da África, tem fartos números de ratos humanos a vasculharem os caixotes do lixo postados nas ruas. Como é isso?! Quem é que continua o pagamento do alimento do seu falso PIB?! Que país inventam neste falso noticiário revolucionário? Esta revolução faz-se nas traseiras dos prédios, agora só pintados de frente, e por isso mesmo nunca nas traseiras, estão fechadas com construções anárquicas, e quando há incêndios, que é o que não faltam, atentem para os incendiários revolucionários… é deixar arder. O fogo sente-se contente porque os bombeiros não conseguem chegar ao local do incêndio. A FRELIMO incendiou Moçambique e os moçambicanos. É curioso que a linguagem que o MPLA utiliza é a mesma que a FRELIMO utilizava antes dos tumultos em Moçambique, e o MPLA desintegra Angola e os angolanos. No dia 5 de Setembro de 2010, dia dedicado ao São Roque, dia da erupção da segunda revolução. No dia anterior da grande espoliação no Roque Santeiro, os espoliados já assaltavam suportados por machados e catanas.
O MPLA vulcanizou Angola. Deixem-se é de conversas e paguem as promessas que não conseguem cumprir. Ou já se deseducaram que estão no poder porque foram eleitos?
Claro que procuramos bodes expiatórios para a nossa espectacular incompetência. A população angolana depende em absoluto das religiões instaladas em Angola. Sendo uma população escrava da religião, não depende em nada do partido único que ainda desgoverna. E a miséria da população deve-se à insistência da submissão da superstição dos deuses igrejeiros. Basta os sacerdotes desejarem e a miséria das populações termina. Mas rejeitam porque à religião e à política convêm-lhes que as massas religiosas se fanatizem e não se politizem. Quanto mais burros, mais dependentes, mais subservientes. O que interessa são mais santuários, para mais servidão, mais escravidão.
Por vezes imagino-me como Tarzan na noite, na angolana selva profunda preparando-se para dormir, e sai sempre a constante preocupação: será que mais esta noite os guinchos bantus não me deixarão dormir sossegado? Sendo o tempo eterno, não compreendemos porque andamos sempre apressados, revolucionados. Quem estraga a imagem de Angola são os bajuladores novos-ricos que não sabendo como gastarem o dinheiro, fazem-no então por mil tropelias enredados no filme Ordens Superiores, para desgraçarem os espoliados inferiores sem direito a uma gota de petróleo no solo angolano que é de todos e não de alguns.
Com a extinção do Roque Santeiro, Luanda desaparece e quiçá Angola. Quer dizer, ando vinte e dois quilómetros para ir no Panguila, numa via insegura para fazer compras. E com o aumento (só em Angola) duma assentada em cinquenta por cento nos combustíveis. Antes da grande tragédia em Moçambique, Angola também se lhe ajusta, está tal e qual.
Vós para dormirdes tranquilos necessitais de um exército de seguranças intranquilos numa cidade muito insegura, e cada vez mais uma selva endeusada que engole a república democrática das bananas de Luanda e Angola. E as sobras da população pela fome perecerão. De modos que já não é uma independência, é um senhor feudal com poder de vida e morte sobre os seus súbditos, como num gigantesco circo romano lançando a população às feras. E imensos dias tumultuosos e atrozmente incertos nos esperam. Não sei que concepção se faz de um pais que nunca apresenta contas. Uma coisa é incerta: o continuar a investir na incerteza. O MPLA não é o povo angolano. O MPLA é ou deveria ser apenas um partido político. E os donos de Angola são o povo angolano. O petróleo e os diamantes são do povo.

Eis outro sonho de uma noite tropical acorrentada
Tudo o que é ilegal
tem respaldo legal
O mwangolé embarcou no sonho
da liberdade alcoólica
Na liberdade do mwangolé está o álcool
Que ditosa pátria esta
que só produz alcoólicos
Depois lamentam-se que os estrangeiros
se apoderam de Angola
Venham! Venham estrangeiros e invistam
no paraíso que é Angola
Milhões de desperados vos esperam
Ó comité de especialidade dos assassinatos messiânicos
as próximas vítimas saúdam-vos no Inferno
Este navio está pronto
o comandante não!
E os punhais da revolução enferrujaram
de tão corroídos e corrompidos nunca mais os encontraram

Paro, escuto, olho, e só vejo trabalhadores chineses. Os trabalhadores angolanos andam por aí cangaceiros.
upanixade@gmail.com



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os libertadores da independência perdida. Gil Gonçalves


As naus já perdiam o navegar e os libertadores seguiam pelos matos a desmatar, a desbravar a liberdade.
Com a ajuda das forças progressistas do mundo, fizeram-se muitas promessas: que o nosso povo seria o mais feliz deste mundo e agora jaz no outro.
A independência chegou e de rompante os nossos corações conquistou.
E as promessas multiplicavam-se: que o nosso povo vive na miséria. Que vamos acabar com os musseques.
Não, não era uma libertação, era uma revolução. E para a apoiar, segurar fazia-se imprescindível a implantação de outra GESTAPO para prender tudo e todos que não estivessem de acordo com as leis revolucionárias. E uma só religião, o ateísmo. Povo há quinhentos anos temente a Deus, assim tão de repetente dizem-lhe que Ele não existe, não dá mesmo. É uma atrapalhação e daí a tremenda confusão nas cabeças a abarrotarem de superstição e de imolação socialista.
Às Testemunhas de Jeová que se recusavam a combater, a sua religião proíbe-o, utilizava-se o método da NKVD soviética: um tiro na cabeça. E a revolução prosseguia o seu caminho imparável no caminho incerto das conquistas revolucionárias… ao lado dos outros povos amantes da paz, da liberdade e da justiça.
E revolucionou-se o comércio com a instituição das bichas, que comparado com o que hoje se passa, era uma bênção divina. Quem ousasse acrescentar algo que não se coadunasse com a pureza marxista-leninista, apelidava-se de contra-revolucionário, defensor da ideologia pequeno-burguesa, burguês… e lá ia mais um pobre diabo para a prisão do campo revolucionário da reeducação. No fundo era uma concorrência desleal ao Tarrafal. A prisão de S.Paulo que deveria ser uma peça de museu reabre-se em força no festejo de novas vitimas para os novos algozes que sentem um prazer mórbido em torturar e aniquilar o semelhante. Trabalho não lhes faltava, era outra concorrência terrivelmente desleal aos campos de concentração nazis.
Sempre com a verborreia de que era necessário fazer a guerra para acabar com a guerra, destruíram a nação na acção libertadora de tantos libertadores. Antes iniciou-se a destruição sistemática de tudo o que era colonial. Todas as estruturas portuguesas condignas, destruíram-se selvaticamente apenas porque foram os colonos que as construíram. Era importante acabar com todas as reminiscências ocidentais e conduzir o povo angolano rumo ao abismo dos SEM FUTURO.
E os libertadores da Pátria libertaram só para eles, para as suas famílias e os seus amigos, o petróleo e os diamantes. Para isso instituíram a corrupção e o uso e abuso do erário público. Porque era fundamental para combater o inimigo deter todos os bens nas mãos dos famosos libertadores E são sempre os mesmos revolucionários que nos governam, sempre com o mesmo dicionário. Mas verdadeiramente Angola está no saque da vitória final e da vitória certa.
«No futuro, o neocolonialismo obedecerá a esquemas de Estados, subordinados a programas das multinacionais. A colonização portuguesa foi feita ao sabor do espírito aventureiro de um povo que se sentia maltratado na sua própria terra. O Estado só apareceu para estragar." In "Os colonos" de António Trabulo
E os discursos paternalistas de estadistas sucedem-se. Afinal não aprenderam nada sobre Angola. Na verdade não é possível sintonizar tal aleivosia: «Temos de pensar que antes da paz, os angolanos passaram momentos de muita tristeza, mas olhando para o futuro vislumbra-se esperança e certeza na realização plena do seu povo. O Governo está muito certo ao olhar para a reconstrução do interior do país, apostar na educação e na saúde, em resumo, na valorização da vida e no respeito ao ser. Este estatuto tem-lhe conferido autoridade e influência em África e no Mundo. Portugal estará ao lado de Angola nesta sua afirmação na arena internacional. In Aníbal Cavaco Silva
upanixade@gmail.com




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

OS PRISIONEIROS DO TEMPO. Gil Gonçalves


Manos! Já viram o que é lutar uma vida inteira para no fim de trinta e dois anos, ver, sentir no íntimo dos nossos corações e das nossas mentes, que tudo foi inglório, e em vão?
E deste barco naufragado restam destroços espalhados por toda a costa angolana. Destroços petrolíferos e diamantíferos que continuam a embaraçarem, a darem à costa.
A EPAL, Empresa Provincial de Água de Luanda, fez uma manobra de antecipação e em nome do colectivo governativo luandense, acaba de nos brindar um Natal feliz, horrível. Há dois dias que estamos sem água. E a nossa energia do futuro, a nossa Terra Prometida, como já é de tradição e em alusão à quadra festiva, a EDEL-Empresa de Distribuição de Electricidade de Luanda, deseja-nos um horrendo Natal e ano-novo sem energia eléctrica. E a EPAL, associando-se à EDEL, promete uma colaboração exemplar, como sempre, tudo seco como num deserto. Luanda, o irreparável demónio com petróleo na irremediável selva.
E a nossa oposição serve muito bem para enfeitar a nossa nova democracia.
Pelos acontecimentos da Costa do Marfim, facilmente se adivinha o nosso destino e o de Angola, claro. É que na Costa do Marfim está a continuação da nossa luta.
O sábado angustiado pela chuva acompanhava a banda desordenada dos jovens Sem Futuro, que carregando potentíssimas colunas para a festa improvisada que se anunciava. Instalaram o equipamento e começaram as experiências sonoras até que conseguiram o som ideal, de rebentar. Cerca das vinte horas arrancaram com a festa que vomitava o mais potente barulho até agora alguma vez conseguido. A festa era beber e mais beber, misturar cerveja com uísque. Faziam a guerra no terraço das traseiras do primeiro andar, dos demais degradados prédios, onde por todos os andares, são cinco, existem fios eléctricos espalhados por todo o lado que convidam os incautos à morte prematura. Assim, conforme a bebida lhes entrava pelo cerebelo, o som aumentava até aos prédios próximos, onde as janelas acompanhavam a batucada dando a impressão, ou melhor, preocupação, pânico, que se desconjuntariam… até as paredes vibravam. Acredito que decerto alguém ficou com os vasos sanguíneos do cérebro rebentados. A esganiçada barulheira ouvia-se na parte frontal que dá para a rua, como se a festa fosse lá. A destruição acabou às quatro da manhã. Não satisfeitos, no domingo fizeram mais festa no passeio. Na rua, instalaram outra aparelhagem menos potente, mas mesmo assim muito estridente. E das dezasseis horas até às vinte e três parasitaram e cambalearam na bebida. O incrível é que ninguém se queixou, aceitou pacificamente a refrega como se fosse coisa normal de todos os dias. Esta batalha musical aconteceu em frente à ANGOP, a nossa Agência Angola Press. Polícia?! Onde?! Alguém ligou para o 113, mas não funcionou, não resultou. O epílogo destas hostilidades levam-me a interrogar: mas que povo é este? Mas que gente é esta?! Este é o prenúncio de que a seguir ninguém conseguirá viver com esta implantação de selvajaria legalizada. E depois virá o isolamento, o ostracismo, o tombo da morte, o desejo mórbido da autodestruição. Para que lado vamos? Para nenhum.
E assim o mwangolé passou de ancestral dono da terra, a um incómodo alienado permanente que interessa afastar e escorraçar, porque se perdeu na noção do que é viver com o outro, com o vizinho. Está uma monstruosidade implacável, de meter dó. Não sabe mais como fazer para se safar do desejo mórbido da autodestruição.
Mas como é que se pode travar a catástrofe universal, se os mesmos que a provocaram continuam teimosamente no poder, e dele não desejam sair, como se nele estivessem chumbados.
«Se não estão dispostos ou preparados para irem às instâncias judiciais internacionais limpar a imagem do País, pelo menos façam-nos um favor: publiquem já tudo o que foi assinado sobre Cahora Bassa com José Socrates – o amigo de Armando Vara que agora está ligado aos brasileiros no Corredor de Nacala que substituíram a INSITEC na SCDN.» In canalmoz/Canal de Moçambique
Os gritos generalizaram-se, são lancinantes, são os gritos da Angola em agonia.
Deixamo-nos conduzir como ovelhas mansas para os dezoito matadouros do número 18, porque já não existe ninguém que nos defenda (?). E como serão os próximos dias? Ó estertor da grande tragédia final, onde opositores políticos, de opinião, não bajuladores: a intolerância e a Bastilha esperam-vos!
Que o sonho e a perseverança iluminem a tua mente e o teu coração. Enquanto vivemos há sempre a recordação que nos persegue uma vez por ano. Vivemos muitos momentos, mas há um que nos é sempre querido: um feliz Natal. Os anos somam e seguem e nós também. Apenas recordamos isso quando fazemos anos. E fazer anos é envelhecer o corpo e rejuvenescer a mente. Depois de tantos anos passados, vividos, recordamos a nostalgia do tempo prevendo o futuro. Qual é a empresa de saneamento que limpa o lixo humano da História?
A nossa vida no mundo concedeu-se para nos edificar uma melodia eternamente maravilhosa. Entretanto, surgiram monstros que destruíram tudo o que levantámos, e nem uma réstia de amor nos querem deixar. Em breve, do nosso futuro e da humanidade não restarão mais aniversários.
Os tempos mudam, nós não. Creio que permanecemos teimosamente iguais.
Creio que não gostamos das plantas mas das flores que elas nos dão. É como as pessoas que apenas as olhamos externamente, mas contudo no seu interior têm incontáveis jardins celestiais perfumados de intenso amor, ainda não descobertos.
A diferença fundamental que existe entre os seres humanos é a seguinte: uns são muito perseverantes e convictos das suas aspirações que os conduzem para a vitória. Outros vivem na sombra, traindo e destruindo o muito trabalho que os perseverantes fazem. A sua palavra de ordem é a inutilidade.
É com imensa amargura que vejo o nosso viver como um rio que secou, a desaparecer. Querem-nos secar os nossos desejos e roubar-nos a nossa esperança. O que nos resta é o reforçarmos cada vez mais o amor, essa arma invencível que tudo vence e convence.
Muito fácil é dominar e espoliar um povo analfabeto, porque o dinheiro do petróleo utiliza-se na destruição de Angola, e na compra no estrangeiro de activos supérfluos, na demonstração de um falso poder, e de uma falsa riqueza. Todo o dinheiro mal gasto acaba na miséria moral e social, ou ainda muito provável, no Tribunal Penal Internacional, desbravando o caminho da grande confrontação final. Mesmo que não existisse a discórdia do petróleo, os efeitos perdulários e destruidores surgiriam. Basta ver o exemplo muito significativo de Moçambique. A opressão domina a África e condu-la para a inevitável catástrofe. Há apenas a principal preocupação de agendar a promoção de novos-ricos. É um retrocesso no tempo da escravatura que já não impressiona a comunidade internacional. Muito pelo contrário: quantos mais escravos houverem, muito fácil é o enriquecimento. É bom relembrar que a acumulação mundial fez-se com a escravatura dos povos conquistados. A História repete-se com os novos reconquistados. Sempre com a mente no desespero, se hoje teremos luz, água e Internet. Empregos e algo para comer, contrariamente ao que a Igreja apregoa, nem Deus sabe.
As motorizadas dos jovens Sem Futuro continuam cada vez mais pavorosas. Perante tanta impunidade nada mais nos resta que é o assistir ao destino final. Lares desfeitos onde já se perdeu a noção do que é uma família. Elas dizem que apenas querem um filho, mas não querem nada saber de homem, do pai. E que: «ninguém me quer, ninguém gosta de mim.» Torna-se impossível manter uma conversa com os jovens, porque simplesmente não sabem conversar. Pudera, sem leitura, sem livros, extrema-se a possibilidade de sobrevivência de uma sociedade. A energia eléctrica e a água há trinta e cinco anos que adormecem incipientes. Mas insiste-se na promoção de imóveis e reservatórios de água por todos os locais livres, e onde não os há, inventam-se. O trânsito está constantemente engarrafado, e paralisará definitivamente parecendo um filme de ficção científica. Os preços sobem sem explicação, revelando claramente interesses de um grupo partidário, e não há ninguém que reponha a legalidade. Continua-se com o lançamento de baldes de água de limpeza, das cozinhas e de lixo para as traseiras dos prédios. Os fiscais (?) que sistematicamente, na sua exclusiva ocupação de roubar os pobres haveres de honestos vendedores de rua que tentam sobreviver, perante a recusa dos únicos senhores do petróleo, que agora abusam no pagamento dos salários, isto é: deixaram de pagar. Mas é claro, o escravo não tem direito a recebimento de qualquer espécie. Apesar das promessas de que tudo era do e para o povo.
E ainda as habituais torpes mentiras. Ferozes inimigos, as personagens que antes diziam que o MPLA e o seu Presidente, José Eduardo dos Santos, eram imprestáveis, fundamentalistas comunistas, que Angola não sobreviveria, hoje fazem exactamente o contrário. Que o MPLA e o seu Presidente são os melhores exemplos a seguir pelo resto do mundo, e o seu povo alcançou a plena felicidade e desenvolvimento, e que em Angola não existe miséria, porque são sabiamente dirigidos por competentíssimos governantes.
A guerra do espaço está ferocíssima. Qualquer espaço livre é imediatamente espoliado. Como recentemente aconteceu no bairro Kassenda, em Luanda, onde os inquilinos foram despojados dos seus espaços, que passaram a parques de estacionamento privativos made Odebrecht.
O medo ainda vive, subsiste: Quando atendemos o telemóvel sentimos um frio gelado no nosso corpo, pode ser a secreta deles, ou alguém que contrataram par nos amedrontar ou liquidar. Os que desviam os milhões de dólares não são julgados, muito pelo contrário: são bajulados e jubilados. Esta é uma fossa não asséptica que inunda, chafurda e afunda a nação na podridão criada pelos túmulos vivos da intempérie humana. Como os abutres que esperam os restos das carnificinas. Nunca se viu uma coisa como esta: um país que na realidade a população vive como numa prisão, e não tem direito a reclamar ou se manifestar. E têm cães ferozes que vigiam os movimentos suspeitos (?) da população. Falta colocar câmaras de vigilância de metro a metro, e no interior dos lares. Nesta Angola e Luanda ingovernáveis, no lugar de resolverem os problemas da falta de energia eléctrica e água, não senhor, perseguem e prendem opositores políticos.
E a Igreja conta-nos uma história maravilhosa, quando Jesus Cristo apareceu defensor dos espoliados. E alguém inventou que ele é o filho de Deus enviado à Terra para nos salvar. Esta invenção de um deus pai é o que caracteriza o ser humano: a invenção de um deus para dominar, como na ditadura do proletariado: Estaline é o Deus e o Politburo é o Jesus Cristo.
Continuamente tudo gira à volta de mineiros nas minas de petróleo, e exploradores de minérios pessoais e intransmissíveis. É assim esta porção da África moderna. Uma África de vulgares ditadores. Há quem persista no ordenar das ilegalidades e destruições. Quer dizer que a população nasceu na ilegalidade e deve ser demolida. Mas mesmo assim eles insistem na afirmação de que a população devasta as leis, quando na realidade, eles são os prevaricadores das normas mais elementares da sã coexistência social.
upanixade@gmail.com

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A bandeira dos piratas. Gil Gonçalves


Os poderes dos senhores do petróleo e da Igreja corrompem-se, dividem o povo angolano, já ruandês, outra vez. A Igreja atiça o ódio partidário. A Igreja está a ir perigosamente longe demais, porque não se pode, não deve, intrometer-se nos assuntos de Estado de um país. Esse tempo dela, de empossar e demitir reis e príncipes, já quase há muito terminou. A Igreja parece odiar-nos, e no final sobrevêm sempre as nefastas consequências do poder secular. Os tempos mudam, a Igreja não, jamais muda. A Igreja destrói Angola e o mais valioso, as suas populações. O meu receio é que não haja Igreja que saiba o que é a noção de compromisso. A Igreja aliou-se aos saqueadores do nosso petróleo. A Igreja do Ruanda saúda-vos!

Lá vai, lá vão!
Jornalistas, os sem opinião, e da oposição
esfaqueados, assassinados, para a prisão
E quem se manifestar, vai apanhar
torrar
Lá vai, lá vão!
Para a fogueira da angolana
Inquisição
E lá vai, lá vão!
Para a corte marcial
e do triunvirato generalato
Lá vai, lá vão!
Na derradeira subida
da escadaria do patíbulo
espera-os a força da forca
do petróleo
Espera-os a cruz ensanguentada
desesperada
dos padres paramentados de vermelho
sangue
de um povo exangue
Espera-os o preço do petróleo
que está sempre a subir
no patíbulo da miséria nacional
apoiada pela verborreia
internacional
Este é o Carnaval da derrota do sangue
e das manifestações patrióticas
diárias
dos patriotas do petróleo
A cor vermelha da Igreja e do partido rubro
exigem a continuação, a renovação
do sangue desumano sempre
em vermelhidão
Apenas existe uma esperança, um terror
de rasgar, de regar a terra angolana
E os angolanos… de sangue
E depois de partirem um milhão de casas
agora, a próxima tarefa, é a destruição
de um milhão de carros.
A inauguração foi com as Mãos Livres
destruíram-lhe três. Faltam poucos
Destruir é fácil, qualquer um o faz
construir é muito complicado
especialmente quando se é incapaz
E o caminho da manifestação patriótica
da nossa morte indigente
é sempre em frente
Só a bandeira dos piratas
se pode erguer
as outras são para petróleo
ver
Só a bandeira dos piratas deles se pode içar
As outras são para derrubar, queimar, matar
enjaular
O petróleo da ditadura jorra
nos barris, nos biliões de dólares
Nas contas dos depósitos bancários
secretos, corruptos
Offshore e onshore
E para os verdadeiros donos, o Povo,
a miséria total e completa
Somos nós e agora a Igreja
os senhores da nossa terra, do petróleo
e Deus como nosso sócio, espoliamos
e entregamos tudo aos nosso amigos
estrangeiros
E o imperialismo chinês garante-nos
que não sabemos fazer nada
que não temos direitos sobre as nossas
riquezas

Lá vai, lá vão!
No petróleo da escravidão
É preciso o petróleo desbravar
e o Povo enterrar
espoliar, vigarizar, tudo lhes
roubar
Urge garantir transporte
para esta ditadura ao Inferno
regressar
Isto também é impróprio para consumo, porque nenhuma nação pode viver mais de trinta anos na mentira permanente.
Oiçam a Lwena, analista da miséria, formada na universidade das ruas da amargura escravatura analisando a miséria galopante: «Porra! Roubam-nos tudo, daqui a pouco tempo também nos vão roubar o peixe… vamos ficar sem o nosso peixe.»
O maior erro dos ditadores consiste no envio das suas tropas para as ruas e ordenarem-lhes que disparem a matar sobre os seus pais, irmãos, irmãs, primos, enfim, toda a família e amigos. Ora, num clima de guerra civil isso demonstra a demência do ditador, porque nenhum militar dispara sobre a sua esposa e os seus filhos. Há então o recurso a mercenários, mas isso acaba por galvanizar as populações e o TPI, Tribunal Penal Internacional, contra os ditadores, que abandonados pelos bajuladores, caiem, e tudo o que amealharam, espoliaram dos seus povos que juraram governar, e que os amam muito, que não podem passar sem eles, os seus bens serão confiscados. É apenas uma questão de dias democráticos.
Quando se fala de manifestações, ouve-se publicitar amiúde pelos donos da riqueza petrolífera, que Angola não é a Tunísia, o Egipto ou a Líbia. Mas está muito correcto, porque Angola é a China, a Coreia do Norte, a Guiné Equatorial, e terminará exactamente como Khadaffi começou.
E eles, os ditadores, compram bancos para neles semearem os despojos dos esqueletos das suas populações canibalizadas. São o expoente da maldade, monstros terrestres, marinhos, aéreos e etéreos. E de tão sacanas que são, até fingem que têm programas de apoio às mulheres, mas disparam-lhes, assassinam-nas sem dó nem piedade, como há pouco na Costa do Marfim. Mulheres indefesas que apenas se manifestavam na garantia que afinal de um momento para o outro os ditadores são… democratas. Isso só pode ser grande feitiço. Esse ditador, matador de mulheres que os nossos magnatas apoiam, na mortandade do comité de especialidade das guerras civis… mais uma guerra civil. E anunciam nas suas rádios, televisões e jornais que existe um Março da mulher… para ensanguentar. E os bancos são-lhes muito confiáveis e prestáveis. Têm sempre um caixão depositado… à nossa espera. E espalham bancos para o desenvolvimento económico da corrupção. Os bancos deles chefiam a família da corrupção. E onde há muita corrupção, também há muitos lucros bancários.
Ninguém se pode manifestar, mas o Politburo pode. Mas que diabólica democracia é esta que estamos a construir?! Oh! É apenas uma democracia de novos-ricos.
Lembro-me da frase do rei Leónidas e dos seus trezentos espartanos bem aplicada a todos os jornalistas e demais lutadores pela liberdade e democracia, gloriosos renitentes e resistentes contra o nosso Xerxes, que exige a tomada pela força da nossa Grécia: «Estrangeiro, vai contar aos espartanos que aqui jazemos, por obediência às suas leis.»
«O homem nasceu para lutar e a sua vida é uma eterna batalha.»
(Thomas Carlyle)
Podemos aplicar muito bem a sentença da última batalha que o nosso líder do panteão do Inferno eterno trava contra a sua população: «A maior batalha que eu travo, é contra mim mesmo.» (Napoleão Bonaparte)
Isto é tudo para queimar, e os primeiros da lista da loucura aterradora já estão a apanhar.
upanixade@gmail.com

sábado, 17 de setembro de 2011

FNLA, MAIS UM ACORDÃO POLÉMICO.

Tribunal Constitucional acusado de apoiar o jogo do MPLA de colocar um fantoche na liderança do partido

Bis repetitam. No sentido de esclarecer quem estivesse menos atento ao nosso artigo da semana passada sobre a cabala contra a FNLA, sentimo-nos na obrigação de relembrar em que pés tem dançado, um à esquerda, outro à direita, e brilhado pela negativa, o Tribunal Constitucional.

Arlindo Santana & Sílvio Van-Dúnem

Depois da tentativa de reconciliação das duas alas da FNLA em 2004, no Acordo da Pensão Invicta, tristemente falhado, resultaram dois congressos polémicos, um em 2006, organizado pela facção “Ngonda”, num “Ringue” emprestado pelo MPLA situado na zona do Futungo II, o outro em finais de 2007, sob a égide do sucessor, digamos, natural, Ngola Kabangu, depois do falecimento do líder histórico do partido, Holden Roberto.

Aconteceu então o inenarrável: o Tribunal Supremo invalidou o Congresso de 2006, validou o de 2007, e permitiu que Ngola Kabangu, à parte ter sido assim legitimado como presidente da FNLA, acedesse ao cargo de deputado da Nação. Este último foi entronizado na obediência de todos os requisitos legais, para, pouco tempo depois da sua consagração lhe ser notificado pelo então recém-criado Tribunal Constitucional a inacreditável sentença: afinal de contas o congresso de 2007 que o tinha elegido presidente da FNLA era nulo e não avindo e Lucas Ngonda, promovido a presidente interino do partido, seria encarregue de realizar um congresso extraordinário a fim de se realizar eleições de todos os corpos gerentes incluindo o de Presidente.

Esse congresso foi um verdadeiro desastre, a pontos de vir a ser mais ou menos anulado, é a expressão que melhor reflecte o que se passou, pois nada impediu o dito acórdão de continuar a vigorar, mas um pouco como se não vigorasse, pois nada se passou e Ngola Kabangu continuou a agir como se nada se tivesse passado. Depois, no meio de uma enorme confusão, no que toca ao cumprimento das decisões do Acórdão, os angolanos puderam ver um partido partido pois já não era partido, mas ala de partido… o que foi finalmente revelado aos mesmos embasbacados angolanos por um recente e inovador “abracadabra” sentenciado pelo Trinbunal Constitucional. Isto, sem que essa engraçada e mesmo assim nobre Instituição, que tanto gostaria de ser respeitada, tivesse dado a mais pequena explicação das razões que o levaram a considerar a acção da FNLA de Kabangu com se fosse a única versão válida da fantasmagórica FNLA, quando agora a condena sem que nada de novo se tivesse passado.

Resumindo, o Tribunal Constitucional vem tropeçando de tal forma nas suas decisões que começa a ser visto por largos sectores do espectro político nacional, como um apêndice importante do partido no poder e do Presidente da República. Ninguém no seu juízo perfeito pode entender que um Tribunal, primeiro proíba alguém de participar nas eleições, depois permita a outro, Ngola Kabangu, que vá a eleições em 2008 e consiga um score que lhe permita ter assento na Assembleia Nacional. Ao que se segue a caricata decisão desse mesmo Tribunal, que vem fazer o favor a um político da mesma FNLA, que havia mandado bugiar os acordos de reconciliação, que abandonou a direcção colegial e auto-elegeu-se presidente de uma ala, ao declará-lo solenemente como vice-presidente.

E quando o seu congresso é impugnado por irregularidades graves, o Tribunal Constitucional, agindo de forma a ser confundido como um CAP do MPLA, considerou ser legal, um facto que pouco tempo antes considerara ilegal. Estranho. Isto sem esquecer o cancelamento das contas bancárias da FNLA, partido histórico com assento parlamentar, o tudo perpetrado numa série de complicadas operações para o oferecer de mão beijada aos fantoches da sua conveniência.

Mas ainda: para mostrar coerência e compromisso com a academia e a Constituição, o juiz conselheiro, Agostinho dos Santos, distanciou-se da incoerência e disse no ponto 6 da sua Declaração de voto ao Acórdão nº140 /2011: «Consultados os factos arrolados no presente processo, principalmente nos pontos nº5 a 8 do Entendimento de Abril de 2004, chega-se à conclusão clara e inequívoca que o congresso de 2010 (convocado por Lucas Ngonda a fim de ser eleito presidente da FNLA, o que acabou por acontecer ao fórceps)) foi realizado em violação da letra e do espírito do referido acordo; do consequente Congresso de Reconciliação de 2004 e do Acórdão nº109/ 2009, pois propugnavam peremptoriamente o princípio da paridade e da equidade entre as partes. Atente-se especialmente ao ponto nº5 (As partes comprometem-se a levar 690 delegados cada, devidamente identificados e registados pela Subcomissão de Mandatos;)».

E mais adiante, no ponto 7.2, reforçou a sua convicção de que se estava a agir com dois pesos e duas medidas: «Ficou amplamente provado nos autos que os actos de preparação, convocação e realização do Congresso de 2010, foram praticados apenas pela parte afecta a Lucas Ngonda, sem a participação mínima da outra parte, violando deste modo o espírito e a letra do Acórdão nº109/2009 e, consequentemente, do Acórdão de Entendimento de que resultou o Congresso de reconciliação de 2004».

Na mesma senda andou o outro juiz conselheiro Onofre dos Santos. Esse magistrado, que no pedestal da sua autoridade apelou à contenção, não foi tido em conta, pelo que não lhe restava outra alternativa senão a de dizer o que ia na mente em defesa da sua oposição a tanta incoerência: «Como se sabe, Ngola Kabangu foi eleito Presidente pelos militantes da FNLA em Congresso realizado em 2007, sem respeito pelo referido princípio da paridade, na medida em que desse Congresso não tenha participado Lucas Ngonda, que por sua vez, já se tinha feito eleger em Congresso de 2006 e por essa via, pelo menos aparentemente, se auto-excluíra do partido (razão pela qual votei vencido (voto contra) no Acórdão que anulou aquele Congresso (o de 2007)».

Quer dizer, ao longo de toda esta luta pela presidência da FNLA, o mote não foi de como obedecer aos estatutos, mas o contrário, como atingir objectivos (os mesmos nas duas alas, ou seja, alcançar o poder) à margem da lei. Repetiram-se pois os atropelos a todas as normas, agravados em alguns casos por nítidas batotas arquitectadas nas barbas de todos os militantes da FNLA!

Portanto, obedecendo a uma lógica assente no «desiderato de preservação de unidade do Partido», Onofre dos Santos votou contra o Acórdão e, na sua declaração de voto, propôs soluções alternativas para se poder chegar a um consenso que, de resto, já longamente tinha defendido durante o desenrolar dos conciliábulos realizados no âmbito da discussão deste imbróglio.

Posto isto, vejamos as incoerências do Acórdão, já denunciadas por estes dois juízes conselheiros.

Assim sendo, a direcção de Ngola Kabangu, pela voz de Matondo Bugala, antigo combatente, garantiu ao F8 que a sua organização poderá recolher assinaturas em todo o território angolano e registar-se como FNLA-Original, para, desta forma afastar-se "de uma guerra que não é nossa, mas do Tribunal Constitucional, Lucas Ngonda e MPLA, que têm um pacto diabólico, magistralmente orquestrado por José Eduardo dos Santos".
Este antigo combatente diz que todo este combate contra a FNLA é por ela ser genuína, e o presidente Eduardo dos Santos ser um luso-tropicalista assumido, que visa acabar com um partido genuíno, para assim satisfazer os apetites e vontades dos colonialistas portugueses e seus filhos, aliás, não nos espanta se isso não resulta de pressões dos pais do seu genro, portugueses e que ainda hoje consideram os angolanos, como “pretos indígenas de Angola", asseverou ao F8.

Mas houvesse imparcialidade e o Tribunal Constitucional poderia ir beber uma experiencia que ocorreu no ex Zaire. Perdão estamo-nos a esquecer que os juízes, na altura desta sábia solução, eram belgas, assumidamente brancos e não complexados, como parece ocorrer com os seus congéneres angolanos, que muitos por complexo ainda não se assumem, nem como peixe, nem como carne.

Solução Congolesa
Um caso muito parecido com este que por ora ameaça simplesmente a sobrevivência da FNLA ocorreu na véspera da independência no então Congo Belga, nosso vizinho. Três tendências surgiram antes das eleições, em 1960, no seio do Movimento Nacional Congolês (MNC). Não havia maneira de as reconciliar. A justiça colonial teve de intervir, mas fê-lo conseguindo manter a devida equidistância em relação a um problema que não lhe dizia directamente respeito. Sugeriu então e obteve que só participariam no pleito se dessem uma designação qualquer, exemplificando com as denominações MNC/Lumumba, MNC/Kalonji e MNC/Ileo. Eles participaram nas eleições com estas designações e cada um obteve um certo número de assentos. Os três grupos assumiram isso perante o Tribunal, cuja autoridade se manteve intacta e forte diante de contendores que nunca tinham participado em processos eleitorais.

Portanto, neste caso, a Justiça dispôs do poder de impôr esta solução, mas de qualquer modo salvaguardava a posição e a sua independência.

No caso actual da FNLA, o próprio Tribunal acabou por se transforamr em actor e ao mesmo tempo árbitro, porque reduziu os que têm legitimidade eleitoral (a FNLA tem em Ngola Kabangu um dos cinco representantes no Parlamento nacional) a uma das tendências que se deve subordinar aos que não têm legitimidade nenhuma, e isto na base de um acordo que todos eles pisaram.

Dá a impressão que o TC pensa que deve corrigir o voto dos que não votam neste ou naquele sentido, em vez que se deveria limitar à função de observador e juiz imparcial.

É esse o erro maior do Tribunal Constitucional nesta questão das querelas internas da FNLA numa persistente golpada de catana em capim alheio.

A dada altura, tirando partido do laxismo do velho líder, Holden Roberto, Lucas Ngonda, o protegido do regime e do TC, promoveu um verdadeiro assalto para lhe tentar roubar, sem sucesso, todos os seguidores históricos, não conseguindo, mais do que lhe furtar, um dinheiro, que provinha da subvenção do Estado, por ter deputados na Assembleia Nacional e que foi deviado, para Ngonda, considerado fantoche para uns, mas aliado para outros. .

Quanto ao que se vai seguir, não temos grandes perspectivas, senão as que o Estado se diporá a assentir em nome da sua magnânima bondade.

«Em consciência e no presente quadro legal, não há solução a esta maka, senão, o Estado dar, sem batota, na primeira oportunidade, às correntes opostas a Kabangu (cuja legitimidade assenta nas urnas da Nação, nem sequer já do seu partido tradicional), a possibilidade de adquirir identidade própria, para mostrar a sua capacidade de conquistar o eleitorado. Longe da mera paixão a favor de Kabangu, coloco um problema de princípio da Nação e do Estado de direito, assente na consciência de um jornalista livre, portanto, alforriado deste ou daquele actor, mesmo, vestido da toga» como ressalvou Siona Casimiro.

MPLA mostra dentes e unhas da discriminação

O Governo de Luanda, numa clara demonstração de partidarização administrativa, cumpriu uma orientação pública de Bento Bento, primeiro secretário do MPLA de Luanda, de apenas permitir que o seu partido se manifeste no centro da cidade, como aliás ele fez questão de admitir, quanto a manifestação do dia 24.09. Os outros vão todos para a periferia manifestar-se, pois o largo da Independência é de Agostinho Neto, herói do MPLA. Quem desobedecer já sabe que comete um crime e que vai levar porrada de criar bicho.

Orlando Castro*

O Governo da Província de Luanda, alegando que a medida tem como objectivo assegurar as condições para o exercício do Direito de reunião e de manifestação em lugares públicos, indicou, em alternativa, alguns locais para o efeito.

Digamos que é a democracia “made in MPLA” no seu melhor e, é claro, uma forma altruístas e benemérita de o dono do regime mostrar ao mundo com quantos paus se constrói a canoa do regime.

Uma nota do Governo de Luanda distribuída hoje à Angop, indica que havendo necessidade de se dar cumprimento ao estipulado na Lei sobre o Direito de Reunião e de Manifestação, inerente à reserva de lugares públicos devidamente identificados e delimitados, foram indicados espaços nos nove municípios da província.

Tudo, portanto, dentro da legalidade e no respeito pelos mais nobres direitos democráticos, éticos e civilizacionais de todos aqueles que estão de acordo com o regime.

"Não é permitida a realização de actos públicos fora dos lugares indicados e o incumprimento do despacho faz incorrer os promotores em crime de desobediência", indica a nota assinada pelo governador interino, Graciano Domingos.

No município do Cacuaco, as pessoas podem manifestar-se nos campos da CAOP PARK (comuna da Funda), Panguila e da Cerâmica, enquanto no Cazenga, as manifestações são permitidas nos campos das Manguerinhas (comuna do Hojy Ya Henda), dos Bairros Unidos (Cazenga - zona 18) e da Casa Azul (Tala Hady- zona 19).

As pessoas que pretenderem se manifestar no município da Ingombota devem utilizar o Largo do Ponto Final (Ilha do Cabo) ou o campo de futebol da Chicala I. Já no Kilamba Kiaxi devem ser usados os campos de futebol do Camama (comuna do Camama) da Vila Rios (Vila Estoril) e o do Palanca (Palanca).

Segundo a nota, os manifestantes da Maianga podem reunir-se nos campos do Felício (comuna do Prenda, bairro Sagrada Esperança), do Katinton (Cassequel), enquanto os da Samba devem usar o da Camuxiba.

Nos municípios do Sambizanga e de Viana as pessoas podem manifestar-se no triângulo do Bairro Uíge (comuna do Ngola Kiluanje) nos campos de Luanda Sul, Bairro da Regedoria, e do MINDEF na CAOP-B.

Como se vê, o regime angolano não só dá total liberdade de manifestação como até escolhe os melhores lugares para que os manifestantes possam, em segurança, dizer o que pensam. É claro que, como em qualquer democracia, os manifestantes não podem escolher os locais porque, quem sabe da matéria, são os donos do país.

Estou por isso e sinceramente de acordo com as teses do antigo ministro da Defesa, figura de destaque do MPLA, e hoje ministro dos antigos combatentes (do MPLA) e um empresário de sucesso em áreas que vão da banca ao imobiliário, hotelaria, jogos, diamantes etc., de seu nome Kundy Paihama.

Se todos os angolanos que não são do MPLA levassem em conta as suas palavras, certamente que evitavam ter de comer peixe podre, fuba podre, e ter direito a 50 angolares e a porrada se refilarem.

Num dos seus (foram tantos) célebres e antológicos discursos, Kundy Paihama disse: “Não percam tempo a escutar as mensagens de promessas de certos Políticos”, acrescentando: “Trabalhem para serem ricos”.

Tal como a maioria do povo angolano, 68%, que vive abaixo da linha de pobreza, também eu passei a venerar Kundy Paihama.

A tal ponto vai a minha veneração que até advogo a tese de que as verdades de Kundy Paihama deveriam, no mínimo, fazer parte das enciclopédias políticas das universidades angolanas e, porque não?, de todo o mundo civilizado.

“Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”, afirmou há uns tempos o então ministro da Defesa do MPLA. Não, não há engano. Reflectindo a filosofia basilar do MPLA, Kundy Paihama disse exactamente isso: o que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.

E por que não vai para os pobres?, perguntam os milhões, os tais 68%, que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…

“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, explicou Kundy Paihama na senda, aliás, do que agora faz o governo de Luanda quanto aos sítios onde os angolanos podem manifestar-se.

É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães de Kundy Paihama têm para reivindicar uma boa alimentação, penso que os angolanos, os tais 68% que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, não devem transformar-se em cães só para ter um prato de comida.

Embora tenham regressado pela mão do MPLA ao tempo do peixe podre, fuba podre, 50 angolares e porrada se refilares, devem continuar a lutar – mesmo que seja só onde o regime permite - para ter direito a, pelo menos, comer como os cães de Kundy Paihama.

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“Bentos” da mudança já sopram em Luanda. E MPLA reedita estratégia do SINFO de 2008

O MPLA desafiou no dia 15 de Setembro, em Luanda, os organizadores de protestos a conseguirem mobilizar mais pessoas do que as que o partido irá ter numa manifestação a realizar no dia 24.

Orlando Castro*

Quando o partido que governa Angola desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém que está no poder há 32 anos, sem ter sido eleito, sente necessidade de fazer um repto deste tipo é porque, contra todos os ventos e marés da ditadura, as sementes da revolta estão a multiplicar-se.

Num encontro convocado pelo Comité Provincial de Luanda do MPLA, com membros de várias direcções do partido, para análise da situação política em Angola, o primeiro secretário do comité de Luanda, Bento Bento, considerou que a situação "inspira cuidados especiais", por ser "delicada".

Este Bento Bento faz-me lembrar um outro Bento… Bembe que, o ano passado, atento ao seu papel de súbdito de sua majestade o rei Eduardo dos Santos, afirmava que "não se pode exigir que Angola respeite na sua totalidade todos os direitos humanos, uma vez que neste país se registou um conflito armado que durou mais de três décadas, e em oito anos é impossível mudar a mentalidade de um povo".

Bento Bento acusou a UNITA, o maior partido da oposição em Angola, de ser o líder, em aliança com alguns partidos da oposição, nomeadamente o Bloco Democrático e alguns Partidos da Oposição Civil (POC's), de um plano para "derrubar o MPLA e o seu líder, José Eduardo dos Santos".

"Têm como executivos mais dinâmicos nesta luta o secretário-geral da UNITA, Camalata Numa, o presidente da JURA, Mfuka Muzemba, o Presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, David Mendes, que têm outros executores, mas esses são os principais mentores", afirmou Bento Bento.

“Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador”, afirmou (recordam-se?) o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, falecido em 2008, numa carta dirigida a António Bento Bembe, mas que serve às mil maravilhas para este outro Bento Bento.

Segundo Bento Bento, o plano tem em vista unicamente "sabotar a realização das próximas eleições em Angola". "Infelizmente entre os executores dessa conjura consta um deputado, que de manhã à noite instiga a sublevação contra as instituições, contra as autoridades e contra o MPLA, o senhor Makuta Nkondo", acusou ainda o político.

Nesse sentido, Bento Bento pediu aos militantes do seu partido para que controlem "milimetricamente" todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem "surpreendidos".

De acordo com o primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidiu enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus".

Que bandidos são estes tipos da oposição. E então quando Bento Bento descobrir que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa têm em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…

"Em reacção da nossa polícia pretenderão a arma dos Direitos Humanos para em carreira legitimar uma intervenção estrangeira em Angola, tipo Líbia", denunciou, Bento Bento, considerando que o mais grave é que a direcção do MPLA "tem dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA está prestes a levar a cabo um plano B".

Este plano prevê, segundo os etílicos delírios de Bento Bento,"uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia", sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a governar o país.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

No início de 2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama, como agora fez Bento Bento, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo, de guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.

Kundi Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.

Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.

Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto.

Na entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: "Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas".

O regime reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas de um documento datado de 20 de Março de 2008, então elaborado pelos Serviços Internos de Informação, SINFO.

Na cruzada actual, como nas anteriores, estão os turcos do regime: Bento Bento, Bento Kangamba e alguns outros, com os meios de comunicação do Estado.

“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008 do documento do SINFO que, como reedita hoje, propunha o seguinte plano operacional:

1- Iniciar de imediato uma onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento nas províncias e denegrir a imagem de dirigentes como Abel Chivukuvuku, Carlos Morgado, Alcides Sakala e Isaías Samakuva, com notícias com carácter escandaloso como contas bancárias no exterior, contactos com serviços secretos estrangeiros e também de espancamento de mulheres e crianças junto do núcleo familiar destes mercenários oposicionistas.

2- Avançar com processos criminais sob denúncia de elementos da população que podem compreender acusações de violações de menores, tráfico de influências em negócios ilegais e transacção ilegal de diamantes e indivíduos como Justino Pinto de Andrade, Makuta Nkondo, David Mendes, William Tonet, Filomeno Vieira Lopes Rafael Marques, Alberto Neto e Carlos Leitão.

3- Aumentar a vigilância pessoal sobre os dirigentes da cúpula da UNITA e as escutas telefónicas em curso desde o nosso Departamento de Comunicações e reactivar as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro sendo para isso necessário um plafond financeiro urgente.

4- Expulsar do território nacional, pelo menos seis ONG já identificadas em relatórios anteriores por operância de contactos em Luanda e nas capitais provinciais com elementos conotados com a cúpula da UNITA.

5- Reactivar as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais em acto paralelo com a distribuição de armamento ligeiro aos seus efectivos para defesa da população civil.”

Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

DAVID MENDES REAGE A BENTO
O primeiro secretário do MPLA Bento Bento usando da palavra, hoje, 16 de setembro, em nome da direcção do seu partido (MPLA) deixou bem claro que há um plano para eliminar algumas pessoas e de entre elas citou o meu nome. Que o MPLA era um partido de assassinos, isso já sabíamos, mas a falta de vergonha de virem a público convocar os seus militantes para lincharem, assassinar opositores, foi longe de mais.
O senhor Bento Bento pensa que desta forma vai calar a minha voz.
Que o senhor Bento Bento e Eduardo dos Santos saibam que não serão mais felizes se me assassinarem. Pois já não vão a tempo de calar a voz deste povo que clama pela liberdade.
Que fique bem claro para o senhor Bento Bento e o MPLA, que nem a morte me calará (David Mendes), pois os meus seguidores continuarão esta luta até acabar com a ditadura em Angola.
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Valha-nos a Santa Bajulação ao chefe. Dos Santos transformado no representante de Deus na terra

Cremos não estar em erro ao opinar que houve desde há uns anos atrás até esta data uma substancial modificação, no bom sentido, na proliferação de alardes laudativos ao Presidente da República por ocasião da data do seu aniversário que ocorre, em cada ano que passa, no dia 28 de Agosto.
Durante muito tempo, de resto, as manifestações de júbilo expresso com fervor e espalhafato, acentuado por declarações, eventos de toda a espécie, desportivos, religiosos, pagãos, culturais e folclóricos, cada um deles se crendo mais bajulador que os outros, todos esses eventos e mostras de admiração fervorosa por José Eduardo dos Santos eram minuciosamente programados e realizados a partir de datas mais de um mês antes da efeméride, quer dizer, eram semanas atrás de semanas numa enjoativa repetição de homenagens ao Presidente da República, mesmo para lá do seus dia de anos.
Nessa altura, já na primeira década deste século e até aqui há uns quatro anos ou cinco anos atrás, a imprensa não estatal, nomeadamente o F8, denunciou repetidas vezes a baixeza boçal e infantil de tal tipo de exuberâncias, e tanto se bateu nessa tecla que as coisas acabaram por mudar e o aniversário do Presidente passou a ser citado e as homenagens ad hoc a serem-lhe consagradas a partir de datas já muito mais perto do dia festivo.
Claro está que foi com muito prazer que notámos essa mudança de atitude, pois ela deu mostras de as observações, reclamações e outras considerações do F8, e não só, serem levadas em consideração pelas entidades ou personalidades por elas visadas. Claro está, também, que todas essas reacções a críticas nossas podem muito bem apenas terem uma relação fortuita, e as causas das mudanças por nós preconizadas não terem nada a ver com o teor dos nossos artigos.
Mesmo assim, é um prazer que as coisas mudem, desde que seja para melhor. E nessa perspectiva muito grato nos é constatar que o exageradíssimo alarde feito nestes últimos anos em redor do aniversário do Presidente da República – repetimos, mais de um mês antes e, às vezes, até mais de um mês depois do 28 de Agosto -, frequentemente apontado pelo F8 como um arcaico hábito de regimes totalitários, tão ridículo como funesto (veja-se Staline, Hitler, etc.), nestes últimos anos têm-se singularizado por uma significativa saída, de novo da discrição.
Segundo informações de uma fonte idónea próxima da Casa Civil da Presidência da República, foi Eduardo dos Santos em pessoa que teria sugerido não se fazer tanto estardalhaço em torno do seu dia de anos. Enfim, por uma vez, o nosso Presidente manifestou o seu acordo com um artigo do Folhinha, e isso, digamos a verdade, dá-nos muito prazer.
Notámos na nossa agenda esse ponto positivo, mas encolhemo-nos com medo da ameaça à terra do Ngola, quando nos demos conta que a final do Afrobasquete de 2011 teria lugar exactamente a 28 de Agosto deste ano, data ainda hoje quase religiosamente consagrada ao aniversário de JES.
Por estarmos ligados a muito boa gente do “ÉME”, fomos postos ao corrente que os mais integristas dos seus militantes se preparavam para atribuir ao Presidente da República a Taça dos Multi-Campeões de África de basquetebol! Autêntico. Claro que essa oferenda seria mais um desses actos político que já cheiram mal de tanto perdurarem em sucessivas repetições nos usos e costumes da nossa terra, mas que, aparentemente não é possível evitar.

“Camaradas,
Hoje é um grande dia, para todo o povo angolano, pois mostra a clarividência e a capacidade de liderança do camarada Presidente, mesmo nas adversidades. Quando todos já se conformavam com a derrota, a sua crença e sagacidade iluminaram-nos o caminho da viragem. O caminho da mudança para a vitória.
Foi assim durante o campeonato de basquetebol, quando averbamos uma derrota e a equipa estava a jogar mal e poderia comprometer mais um título africano.
Não sabíamos o que fazer, foi então que recebemos a sua sábia orientação de substituirmos o técnico francês, pelo treinador Covilhã, que conhecia melhor as capacidades dos nossos jogadores. Ainda dissemos que era um risco, mas a sua experiência e visão e as tácticas que sempre deram certo do camarada Presidente, levaram-nos a não hesitar e fomos para a frente. E foi esta estratégia que fez renascer a nossa esperança de que com a sua sábia orientação iríamos conseguir vencer mais um campeonato africano. Conseguimos! Portanto esta vitória é inteiramente sua, camarada Presidente, por ser fruto da sua estratégia, por isso todos os jogadores e equipa técnica, lhe dedicam neste seu dia de aniversário, que era o nosso maior desejo.
Parabéns camarada Presidente, muitos anos de vida e aceite em nome de todo corpo da selecção esta taça, como mais uma prenda de aniversário”.

Este era o texto preparado para uma eventual vitória de Angola, feito por um bajulador, que dispensa apresentação, mas que infelizmente não saiu.
E como tudo mesmo vai mal e o chefe só é das vitórias não se ouviu uma palavra sua de reconhecimento a selecção, o que F8, o faz aqui e agora, lamentando ainda o cinismo das autoridades angolanas, que nem se dignaram em ir esperar a delegação, para além da Federação não conseguir tapar a sua má política de gestão e desorganização, quando deixa na África do Sul o ex-seleccionador nacional. Uma vergonha de federação que não deveria ficar nem mais um tempo no poleiro, pela má prestação que vêm demonstrado.

O lado positivo da derrota
Assim sendo, cabe aqui dizer que há males que vêm por bem. É que, com o fracasso dos nossos basquetebolistas na sua derradeira etapa para conquistar o seu 11º título africano, escapamos ao que sempre temos visto quando desportistas nacionais brilham no estrangeiro. A estrelinha que decora a sua fugaz auréola é a do MPLA, considera-se então que o seu fulgurante êxito se deve aos esforços do ministério da Juventude e Desportos, ao Governo, a JES, ou ao MPLA, que os campeões são todos militantes do partido e que é esse facto que explica o porquê da presença de estrelinha do MPLA nas que lhes serão distribuídas quando eles chegam ao aeroporto 4 de Fevereiro.
E aí mesmo, no aeroporto, vemos, como de costume, uma enorme bandeira do MPLA a intrometer-se na área desportiva e a reivindicar para si, um mero partido político, todo o exclusivo mérito da vitória de toda uma nação, a nossa.
É que não há mesmo meio de meter na cabeça de alguns membros do partido dos camaradas que a Nação Angola é muitíssimo mais do que a sua organização partidária.
Mas, na tristeza profunda de não vermos os nossos “guerreiros” da bola ao cesto chegarem ao país com a taça de África nas mãos, sentimos no nosso foro interior, não podemos negar, um enorme alívio por ter escapado a mais uma humilhação oficial de toda Angola, por parte de uma organização partidária, o que não evitou termos de assistir a espectáculos incríveis de bajulação.


Bajulemos, o ridículo não mata
O partido no poder pode mesmo. Mobiliza o Estado, abre os cordões à sua bolsa para toda a espécie de bajulação, distribui gasosas e multiplica “Maratonas” incitando o mwangolé a consumir exageradas doses de bebidas alcoólicas, e, na euforia causada pela bebedeira generalizada, não só do corpo, mas também do mental, diz que tem 5 milhões de militantes. Exemplos?... aqui vão eles:

1) Bento Raimundo da Ajapraz foi dizer que o povo de Benguela, todo ele, em peso, estava com JES, e reuniu com todos os governantes locais para lhes transmitir orientações, ele que nem membro do executivo é, perdão, é membro do exército da bajulação.
2) João Miranda inaugurou em nome do Chefe muitos micro projectos, dentre os quais um centro médico de seis camas (!!!), uma ofensa aos angolanos, pois as famílias africanas e angolanas do interior integram no mínimo 15 pessoas, ora se na localidade uma família for contaminada mais de metade morre, pois não poderá ser assistida. Vergonhoso!
3) Na Lunda o governador organizou um torneio internacional e também abriu e violou os cofres do Estado, para um torneio de futebol com a selecção da RDC no quadro da bajulação ao chefe, que só conhece as Lundas pelo mapa.
4) No Huambo, Muteka foi o mais ousado, inaugurou o que já tinha sido inaugurado a universidade JES, mostrando a que nível de pouca vergonha se pode chegar nas vestes de governante ao serviço de JES, do MPLA, de tudo e mais alguma coisa, excepto do povo de Angola na sua integralidade.
5) Ó surpresa! Até vimos o que nunca se poderia supor ser possível ver, um até aqui lúcido e pertinente Lopo do Nascimento passar a escova na imagem desbotada de um homem que ele se fartou de criticar, que, por seu lado, o gratificou com algumas arranhadelas.
É tudo uma monumental vergonha, mas como ninguém tem vergonha de lamber botas, fica assim. Em todo o caso uma coisa é certa, isto de se inaugurar o inaugurado para idolatrar o Chefe não vai durar muito mais tempo, não vai, não!

No Huambo. Dos Santos pede aos angolanos que construam melhor o que deixaram os portugueses e foi destruído pela guerra

O Presidente, José Eduardo dos Santos, pediu no 30.08 aos angolanos, no Huambo, centro do país, para que construam melhor do que construíram os portugueses no tempo colonial o que foi destruído pela guerra.
O chefe de Estado dirigia-se a milhares de pessoas que esperavam para o ver, num largo defronte ao governo provincial do Huambo, no planalto central, região á qual o Presidente já não se deslocava desde 2003. Segundo ele, “muita gente não acreditava que o comboio apitaria tão cedo na cidade do Huambo”.
O Presidente deslocou-se ao Huambo para inaugurar o troço ferroviário do Caminho de Ferro de Benguela, que liga Benguela aquela cidade do centro de Angola, uma linha inoperacional há mais de 20 anos. “Quando destruíram a via férrea partiram tudo, os carris, as estações, colocaram minas anti-pessoais, anti-tanque na extensão da via férrea, pensaram que levaríamos dezenas de anos para restabelecer a via e a circulação entre o Huambo, Benguela e Lobito, mas os que pensaram assim enganaram-se, porque afinal construímos tudo de novo”, afirmou José Eduardo dos Santos.
O Presidente disse ainda à população, numa intervenção de improviso, que “o que havia antigamente no tempo colonial era bom para aquele tempo”, mas hoje o Governo construiu novamente a linha férrea e as estações e de forma mais moderna.
“Temos hoje uma linha férrea mais moderna, mais capaz de suportar as cargas e transportar mercadorias e passageiros e assim é que deve ser. Os portugueses trabalharam para si no tempo colonial, nós estamos a trabalhar para nós próprios. Como eu disse, no Huambo a guerra destruiu, criou desolação, muito sofrimento, mas estamos em paz”, sublinhou.
José Eduardo dos Santos frisou que fez questão de estar pessoalmente nesta data “memorável”, por “acreditar na força e dinamismo dos trabalhadores e das populações do Huambo”. “Algumas pessoas pensaram que viria uma delegação de Luanda, sem mim, mas eu fiz questão de vir e estar aqui convosco nesta data memorável”, sublinhou.
Antes de pedir aos jovens que se interessem pela profissão ferroviária e que frequentem cursos técnicos e de formação profissional, José Eduardo dos Santos lembrou que a próxima meta do Caminho de Ferro de Benguela é chegar à província do Bié, do Moxico até à fronteira.
“E foi mesmo por isso, que os engenheiros, técnicos, trabalhadores especializados, mesmo os mais velhos, alguns com mais de 60 anos, que estão no Caminho de Ferro de Benguela trabalharam dia e noite, com uma equipa chinesa também capaz, para hoje termos a alegria de trazer até aqui o comboio”, salientou.
O Presidente disse ainda que “o país tem que ir para a frente, tem que caminhar”.
Além de inaugurar o novo troço do CFB, no Huambo, José Eduardo dos Santos presidiu também à reinauguração do aeroporto local, Albano Machado.
O Caminho de Ferro de Benguela, construído no século XIX, tem uma extensão de 1347 quilómetros e atravessa ainda as províncias do Huambo, Bié e Moxico, chegando até à fronteira com a Zâmbia.
No tempo colonial tinha um total de 14 mil trabalhadores e atualmente emprega apenas mil.

No dia 15 de setembro em Lisboa Rafael Marques lança “Diamantes de Sangue”

O jornalista angolano Rafael Marques lança dia 15 em Lisboa o livro “Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura em Angola”, obra em que apresenta a sua mais recente investigação sobre personalidades, instituições e empresas envolvidas nos negócios dos diamantes.
Editado pela Tinta da China, o livro estará à venda a partir do dia 09 de setembro e inclui o testemunho de “centenas de vítimas” do tráfico de diamantes em Angola.
No texto de apresentação da obra, Rafael Marques escreveu que é na província da Lunda Norte, que faz fronteira com a República Democrática do Congo, que se concentram as “principais áreas de exploração aluvial diamantífera”.
”Grande parte dos habitantes vive em regime de quase escravatura. São impedidos de manter atividades de auto subsistência, roubados, torturados, assassinados. As Forças Armadas e as empresas privadas de segurança protagonizam os crimes com total impunidade. As autoridades e o governo ignoram esses crimes”, acusou.
Jornalista de investigação e activista, Rafael Marques é um dos principais responsáveis por denunciar e divulgar os esquemas de corrupção que envolvem as mais altas esferas do poder em Angola, bem como as empresas e entidades estrangeiras que com ele negoceiam.
É formado em Jornalismo e Antropologia, pela Universidade de Londres, e é mestre em Estudos Africanos, pela Universidade de Oxford.

Manifesto Público para manifestação de 03 de Setembro. Regime tentou corromper jovens para não saírem a rua

Os jovens que têm estado a liderar o movimento de contestação contra as políticas do governo, foram aliciados para abandonarem a sua causa, por parte do regime, conforme denuncia feita em nota chegada a redacção do F8.
“Vimos por meio desta tornar público à Sociedade Civil, à Comunidade Internacional, ao Povo Angolano e a todas Forças Vivas da Nação que do dia 24 ao dia 31 de Agosto do corrente ano, estivemos envolvidos numa espécie de negociação com o executivo angolano, onde o adiamento da Manifestação ora convocada para o dia 3 de Setembro, era o ponto fulcral e cuja cedência equivaleria em compensação entre outras regalias, um valor monetário de 270 mil dólares americanos e 8 viaturas“; lê-se na nota.
Por outro lado, dizem os negociadores que “Volvidos os dias de propostas e contra-propostas (uma das nossas contra-proposta constava baixar as propinas de todas as Universidades do país até 150 dólares), decidimos manter a nossa posição firme e "Inegociável a Realização da Manifestação". Portanto, ao dia 31 de Agosto (quarta feira), decidimos resolutamente pôr fim as negociações e terminantemente declarar imparável a realização da Manifestação Pública e encerrar toda e qualquer possibilidade de negociação“.
E com esta saída das negociações os manifestantes consideram estar a correr perigo de vida, porquanto “esta posição dura e determinada, coloca-nos sob o perigo de vida não só a nós mas a todos àqueles que se revêem na nossa causa, pois temos bem em mente como tem sido a actuação do regime MPLA-JES contra aqueles que não querem baixar a guarda e decididamente lutam pelo povo, vários são os exemplos que a história guarda memória. Assim sendo e como já referimos acima, vimos informar que qualquer ameaça à integridade física, morte, desaparecimento, espancamento, detenção ou qualquer outra crueldade contra: Gaspar Luamba [Luamba], Afonso Mayenda João [Mbanza Hamza], Alexandre Dias dos Santos [Libertador], Dionísio Casimiro [Carbono], Urbano Gaspar [Urbano], Pandita Nerú [Pandita], Luaty Beirão [Brigadeiro Matafrakuxz], Diana Pereira [Diana]; Adolfo André [Adolfo], Massilon Chindombe, Tó Martins
Andrade da Silva [Sábio], Rui Salvador [Shory].
Entretanto tudo isso se deve a desigualdade na distribuição da riqueza gerada em Angola, sem que o crescimento económico se reflita na vida dos angolanos é o mote para a manifestação marcada para 03 de Setembro em Luanda, segundo Manifesto Público.
“Vivemos já nove anos de paz e ainda são alarmantes os nossos serviços de saúde e educação, o crescimento económico não se reflete em nossas vidas, o índice de desemprego, analfabetismo e desenvolvimento humano ainda é preocupante”, lê-se no texto de apresentação do documento.
Os organizadores apresentam-se como “um grupo de jovens, membros da sociedade civil de vários estratos sociais que dentro dos parâmetros da Constituição tem vindo a exercer pressão sobre os líderes políticos angolanos”.
O Manifesto Público é assinado por quatro jovens, Gaspar Luamba, Afonso Mayenda João, Alexandre Dias dos Santos e Dionísio Gonçalves Casmiro, todos eles ligados a anteriores iniciativas de contestação pública do regime angolano, com as manifestações de 07 de março, frustrada pela polícia que deteve cerca de 20 pessoas, e de 02 de abril, acompanhada à distância pelas forças policiais, ambas realizadas no Largo da Independência.
Dionísio Gonçalves Casimiro, popularmente conhecido como "rapper" Carbono Casimiro, tem sido o porta-voz do grupo.
Segundo estes jovens, “não se faz sentir a opinião pública nas leis e resoluções aprovadas, é diminuto o acesso ao crédito habitacional, são desumanos os despejos forçados e são constantes as violações dos direitos humanos e da Constituição da República”.
A manifestação que estão a preparar está marcada para o início da tarde de 03 de setembro no Largo da Independência e o alvo é o Presidente José Eduardo dos Santos, a quem acusam de estar há 32 anos no poder “sem nunca ter enfrentado um voto democrático”.
Citando os dois primeiros artigos da Constituição angolana, que estabelece que “Angola é uma República soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo angolano” e caracteriza o país como “Estado Democrático de Direito”, os organizadores exigem o cumprimento de sete pontos.
Nos dois primeiros é exigida a “retirada do Presidente Eduardo dos Santos do poder e do seu Executivo” e a “retirada da imagem do Presidente Eduardo dos Santos e de António Agostinho Neto do dinheiro e do bilhete de identidade”.
Nos pontos terceiro, quarto e quinto, as exigências são a revisão do artigo da Constituição que estabelece a eleição do chefe de Estado por via indireta, a “distribuição equitativa da riqueza do país”, e a “despartidarização das instituições públicas e dos órgãos de comunicação social”.
A criação de uma Comissão Nacional Eleitoral Independente e “que se exerça justiça e igualdade social a todos os níveis e à escala nacional”, são os dois últimos pontos do Manifesto Público.

COMUNICADO SOBRE A MANIFESTAÇÃO DO 3 DE SETEMBRO

O Bloco Democrático constata, como a maioria dos cidadãos que o país não vai bem!.. Apesar do crescimento económico as oportunidades de emprego são escassas. A maioria da juventude não pode prosseguir os seus estudos por falta de recursos. É forçada a parar e a desenrascar a vida porque não há emprego. O acesso ao pouco emprego criado é, em regra, vedado a quem não tem filiação no partido da situação. E, quando, os jovens, como “cidadãos do chão”, percorrem as artérias da cidade, vendendo para prover o seu sustento e de suas famílias são roubados e violentados pelas autoridades, mesmo quando, na situação de zungueiras, levam filhos às costas.
A juventude, aparte um pequeno grupo de privilegiados, não beneficia da política económica, é vítima de injustiças repetidas e sente-se sufocada. A Juventude precisa de respirar. Precisa de espaço de liberdade. O país continua a viver um grave défice de democracia. A “democracia” vigente à moda do partido da situação com ampla instrumentalização do poder e vasto culto da personalidade, sem direitos para a oposição, com recurso intensivo à fraude, sem capacidade de recurso judicial imparcial, com um Estado que “põe no bolso a sociedade” e uma sociedade sufocada pela partidarização da sua vida pelo partido no poder, enfim, um Estado que viola sistematicamente a Constituição, não permite um desenvolvimento integrado, não dá à juventude segurança para o futuro, nem lhe permite uma vida normal agora.
Por isto, a Juventude tende a fazer exigências que revelam justamente a descrença num sistema formalmente democrático, mas deturpado na sua prática diária. E, a vida é feita de realismo. Para mudar este estado de coisas, um grupo de jovens marcou uma manifestação para o próximo dia 3 de Setembro. A manifestação é um direito que assiste a qualquer cidadão, tem cobertura constitucional, competindo aos órgãos do poder proteger os manifestantes de quaisquer forças contrárias que entendam que a manifestação não se deve realizar.
O Bloco Democrático, defensor acérrimo da mudança por via pacífica, entende que a MANIFESTAÇÃO é um recurso que deve exprimir-se em liberdade. Repudia assim os intentos da governação de Luanda em dissuadir os manifestantes, através de promessas materiais. Adverte o Executivo para não passar do aliciamento à acção agressiva, com prisões antecipadas de organizadores e com pressões sobre apoiantes e participantes da manifestação. Adverte ainda para não molestar os jovens ou adultosque desejarem manifestar-se no dia 3 de Setembro. Não compete a Polícia fazer política, nem reprimir quem está a concretizar a Constituição.
O Bloco Democrático apoia assim o direito dos jovens manifestarem as suas ideias e apela ao Executivo alto sentido patriótico e de diálogo para que o país não descarrile na instabilidade.
LIBERDADE, MODERNIDADE, CIDADANIA

Luanda, 1 de Setembro de 2011
O SECRETARIADO NACIONAL

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

As BPV – Brigadas Populares de Vigilância nas vestes das SA (Sturmabteilung) - Tropas de Assalto, ao ataque


Começou a caça aos bruxos. Reginaldo Silva

«Casa de Bonavena assaltada. A primeira vítima da abertura da época oficial de caça anunciada por Bento Bento?
Caros amigos do Bloco (BD) e de NELSON EDUARDO (Bonavena). Acaba de ser assaltada a casa deste Dirigente do BD. Os Gatunos levaram computadores, HD Externo, Modem, valores em dinheiro e outras coisas. Não estamos a fazer ilações com as ordens dadas ontem por Bento Bento no seu discurso. Foram gatunos.»
In Bloco Democrático Angola

domingo, 11 de setembro de 2011

O pico da bajulação religiosa. Os falsos profetas angolanos vivem da fé dos dólares


Expoente máximo da espiritualidade Ocidental, o Papa é uma voz insubstituível nessa parte do mundo, mas praticamente sem nenhum peso na Ásia, para além de ser um dos inspiradores, involuntário, de uma transfiguração tipicamente africana, patente em Angola pela proliferação de mais de 800 religiões pseudo-cristãs. Nem pensar em responsabilizar o papa por tanta prodigalidade, mas mister é confessar, na qualidade de analista neutro, que a ele se deve em parte não só o resplandecer do nome de Cristo e da sua doutrina, mas também os nefastos actos de pirataria religiosa que dessa áurea advieram.

Pirataria!?...Religiosa!?... Abrenúncio! Sim, abrenúncio, não no sentido que algumas almas cândidas lhe possam dar, renegando esta asserção, mas sim na repulsa da enorme capacidade do mal se propagar com tanta facilidade na defesa de ideais pretensamente nobres. Porque é exactamente disso que se trata, uma verdadeira invasão de parasitas a reivindicar para si sós as sublimes ideias de Jesus Cristo, mais que provavelmente utópicas mas sublimes.
Esses arautos da Sua palavra vão a terreiro, instalam-se onde podem a repetir o que está escrito nos “Livros Sagrados” e reclamam para seu uso pessoal o tradicional dízimo. Alguns deles enriquecem desse modo sem fazer a mínima ideia do que significa o que eles pregam, vivendo numa promiscuidade notória, praticando muitas vezes uma pujante poligamia, a propósito da qual nenhum dano ou crime há a assinalar, a não ser os que a religião que eles propagam lhe atribuem.
Em Angola, os problemas causados pela luxuriante proliferação de seitas religiosas (note-se aqui que o cristianismo foi, também, isso mesmo, nos seus primórdios) agrava-se em Angola pela concomitante abastança de ideias políticas que pelo seu xadrez político circulam, no fundo iguaizinhas umas às outras, como as amibas, num irreprimível fraccionismo que afecta as cabeças dos pretendentes a postos de responsabilidade, abundantemente rodeados de parasitas de toda a espécie, entre bajuladores, “carregadores de pianos”, delatores e verdadeiros actores de uma comédia sem guião. As ideias divulgadas por esses “guias” incrustam-se de uma maneira muito confusa nos espíritos dos militantes mais influenciáveis com a característica sui géneris de nessa fragmentação haver não mil e uma variantes de uma ideia central, como o que acontece com a pirataria religiosa, mas sim uma só e inalterável ideia: a busca de dinheiro em nome do nobre ideal democrático.
Dizer que desde tempos imemoriais sempre houve charlatães, que falsos profetas sempre existiram na humanidade não é segredo que se possa guardar, pois basta ler a bíblia para nos darmos conta dessa triste realidade. Esses falsos arautos da palavra do Senhor são aqueles que se colocaram e ainda hoje se colocam ao lado dos regimes dominantes contra os povos que eles se esforçam por subjugar.
Em Angola, dada a desastrosa conjugação estabelecida entre parasitas políticos e religiosos, tudo o que de nocivo pode advir para o povo já ultrapassou os limites do admissível, pois a maioria das igrejas-seitas mais importantes está a ser instrumentalizada pelo regime e os pastores colocam-se nos postos de propagandistas do mesmo, apresentando-se aos seus correligionários como membros do Comité de especialidade dos pastores do MPLA.
Uma das mais eficazes estratégias dessas igrejas-seitas (são mais de mil em Angola) baseia-se numa espécie bajulação superlativa e, nesta feliz data do aniversário de JES, uma delas conseguiu a extraordinária façanha de atingir píncaros jamais atingidos, o cúmulo da heresia, por obra e desgraça de um pastor de uma igreja evangélica, que levou o seu discurso evangelizador aos inquietantes domínios do absurdo psiquiátrico ao comparar Agostinho Neto a Moisés e José Eduardo a Josué.

QUEM FOI MOISÉS E JOSUÉ
De acordo com a tradição judaico-cristã, Josué é o nome do líder de Israel sucessor do profeta Moisés. Filho de Num, da tribo de Efraim, Josué foi ajudante de Moisés durante o êxodo dos israelitas do Egipto e os 40 anos pelo deserto do Sinai. Depois da morte de Moisés, Josué liderou o povo de Israel na conquista das cidades-estados da terra de Canaã. E foi responsável por conduzir os israelitas à Terra Prometida.
Assim sendo, JES é comparado a uma figura legendária cujas façanhas guerreiras são tantas que nem se contam, dentre as quais se podem destacar a tomada da cidade de Jericó e demais feitos relatados na Bíblia que também contaram com a intervenção divina seguidos muitas vezes de prodígios, como no relato dos versos 12 a 15 do capítulo 10 do livro de Josué, em que o sol e a lua chegaram a parar.
Parabéns senhor presidente!
Mas não é tudo.
Outro líder da igreja tocoísta afirmou em toda a simplicidade que JES era um grande messias, nem mais nem menos, o Messias moderno, pois resolveu a crise na sua igreja. Segundo parece JES disse, «Deixem a nossa igreja em paz, eu sei de tudo e vou resolver». E após uma audiência no palácio a crise na igreja tocoísta acabou e reina agora a paz e a bonança no seu seio, disse na sua profética homilia bajulador o pastor Nunes.
Ámen.
Eis aqui relatados factos de indubitável beleza onírica, cujo principal mérito é de servirem como base de apoio a eventuais subsídios. Com pastores assim as igrejas irão infalivelmente longe, muito longe… de Deus. Deixaram de ser a Sua casa e os seus líderes converteram-se em mercenários, não da fé, mas do dinheiro e estão-se completamente marimbando para o sofrimento do povo.

Quem são os falsos profetas
Como sempre, é de nós de quem se fala na Bíblia, e é a nós que se fala. Essa palavra de Jesus não julga o mundo, mas a Igreja; o mundo não será julgado sobre as palavras inúteis (todas as suas palavras, no sentido antes descrito, são palavras inúteis!), mas será julgado, em todo caso, por não ter acreditado em Jesus (cf. Jo 16, 9). Os «homens que deverão prestar contas de toda palavra inútil» são os homens da Igreja; somos nós, os pregadores da palavra de Deus. Estas são pertinentes observações do Frei Raniero Cantalamessa, pregador do Vaticano.
Os «falsos profetas» não são somente os que de vez em quando espalham heresias; são também os que «falsificam» a palavra de Deus. É Paulo quem usa este termo, tirando-o da linguagem quotidiana; literalmente significa diluir a Palavra, como fazem os hospedeiros fraudulentos, quanto colocam água no vinho (cf. 2 Co 2,17;4,2).
Os falsos profetas são aqueles que não apresentam a palavra de Deus em sua pureza, mas que a diluem e a esgotam em milhares de palavras humanas que saem do seu coração.
O falso profeta também sou eu, Ada vez que não me fio da «fraqueza», pobreza e nudez da Palavra e quero revesti-la, e estimo o revestimento mais que a Palavra, e é maior o tempo que gasto com o revestimento que o que emprego com a Palavra permanecendo diante dela em oração, adorando-a e começando a vivê-la em mim.
Jesus, em Cana da Galiléia, transformou a água em vinho, isto é, a letra morta no Espírito que vivifica (é assim como os Padres interpretam espiritualmente o facto); os falsos profetas são aqueles que fazem todo o contrário, ou seja, que convertem o vinho puro da palavra de Deus em água que não embriaga ninguém, em letra morta, em charlatanaria vã. Eles se envergonham do Evangelho (cf. Rom 1, 16) e das palavras de Jesus, porque são muito «duras» para o mundo ou muito pobres para os grandes, e então tentam «temperá-las» com as que Jeremias chamava de «fantasias do seu coração».
São Paulo escrevia ao seu discípulo Timóteo: «Procura apresentar-te a Deus como homem provado, trabalhador que não tem de se envergonhar, que dispensa com retidão a palavra da verdade. Evita o palavreado vão e ímpio, já que os que o praticam progredirão na impiedade» (2 Tm 2,15-16). As palavras profanas são as que não têm pertinência com o projecto de Deus, que não tem a ver com a missão da Igreja. Muitas palavras humanas, muitas palavras inúteis, muitos discursos, muitos documentos. Na era da comunicação em massa, a Igreja corre o risco de afundar-se também na «palha» das palavras inúteis, ditas somente por dizer, escritas somente porque é preciso preencher jornais e revistas.
Desta forma, oferecemos ao mundo um óptimo pretexto para permanecer tranquilo na sua descrença e no seu pecado. Quando escuta a autêntica palavra de Deus, não seria tão fácil, para o incrédulo, dar um jeito em tudo dizendo (como se faz frequentemente, depois de ter ouvido nossas pregações): «Palavras, palavras, palavras!». São Paulo chama as palavras de Deus de «armas do nosso combate» e diz que só a elas «Deus dá a capacidade de destruir fortalezas, desfazer raciocínios presunçosos e todo poder altivo que se levanta contra o conhecimento de Deus, e torna cativo todo pensamento para levá-lo a obedecer a Cristo» (2 Co 10,3-5).
A humanidade está enferma de barulho, dizia o filósofo Kierkegaard; é necessário «convocar um jejum», mas um jejum de palavras; alguém tem de gritar, como fez um dia Moisés: «Faz silêncio e escuta, ó Israel» (Dt 27, 9). O Santo Padre nos recordou a necessidade desse jejum de palavras no seu encontro quaresmal com os párocos de Roma e acho que, como de costume, seu convite se dirigia à Igreja, antes ainda que ao mundo.
O que se passa hoje em Angola, cujo pico máximo da pouca-vergonha ocorre em datas do aniversário do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, há muito foi alertado pela Bíblia, pois não nos podemos esquecer que entre os acontecimentos significativos que Jesus disse assinalariam a “terminação do sistema de coisas” acham-se os seguintes: “Surgirão muitos falsos profetas, e desencaminharão a muitos; e, por causa do aumento do que é contra a lei, o amor da maioria se esfriará.” (Mateus 24:11, 12).
Jesus associou o aumento do que é contra a lei e o esfriamento do amor com a influência de falsos profetas — instrutores religiosos que falsamente afirmam falar em nome de Deus. Já se apresentou evidência de que o clero tem apoiado as guerras das nações, rebaixado as normas morais da Bíblia, taxando-as de antiquadas, e classificado de inverídicas certas partes da Bíblia. Com que resultado? Um ‘esfriamento’ do amor a Deus e a suas leis. Este tem sido um dos grandes factores no colapso da boa moral, bem como no desrespeito à autoridade e na falta de interesse no próximo. —Timóteo 3:1-5.
23.
Por causa destas condições, disse um internauta, milhões têm abandonado as organizações religiosas. Alguns se voltam para a Bíblia e conformam-se a ela. Outros se retiram desapontados e descontentes. Muitos estão se tornando inimigos da religião. Certo colunista disse: “Não se pode deixar de ficar surpreso de ver quantos dos problemas do mundo estão arraigados na religião. E poucas rivalidades políticas seculares chegam a gerar o fervor sanguinário da guerra religiosa.” Por isso, perguntou: “Por que não acabar com a religião?”
Em Angola não se tem dúvidas que por causa destes pastores e bispos de certas religiões muitos fiéis estão desiludidos e têm abandonado a casa do Senhor, desiludidos com estes pastores, que trocam a palavra de Deus, pela força dos dólares da corrupção e do sangue dos milhões de pobres que vegetam com fome, pelas esquinas e carreiros desta imensa terra que se chama Angola.
Imagem:EXPRESSO