domingo, 11 de setembro de 2011

NO NAMIBE. Cidadãos revoltam-se duas vezes contra política de demolições e desalojamento Andalica Cossi*



Há menos de uma semana, a capital da província do Namibe registou inesperadamente duas revoltas populares contra a Administração do município, face as más políticas de gestão adoptadas.
A mais fervorosa demonstração de insatisfação aconteceu no passado dia 22 de Agosto, liderada, maioritariamente, por jovens mulheres, anciãs e jovens, que rasgaram as ruas da cidade do Namibe, denunciando a política de discriminação do MPLA virada contra os pobres.
-“ABAIXO GOVERNANTES QUE DESTROEM AS CASAS DOS POBRES”.
-“ABAIXO OS DIRIGENTES AO SERVIÇO DOS ESTRANGEIROS”
-“NÃO VOTAREMOS NOS QUE COLOCAM O POVO NO DESERTO”.
- “QUEM PARTE A CASA DO POVO É PIOR QUE O COLONO”
Todos estes slogans, resultam do facto dos dirigentes municipais, como sempre o vêm fazendo, ameaçarem as populações do Bairro 5 de Abril, de que lhes acabariam de destruir, melhor, partiriam as suas casas e passariam a viver ao relento, sem qualquer tipo de compensação, como se fossem bois, como uma vez cantou Santocas, nos primórdios da Independência.
Com uma Constituição de cariz colonial, pois considera a Terra propriedade originária do Estado, que no caso angolano, significa do MPLA e seus caudilhos, internos e externos, as populações vão ganhando consciência da tirania incubada, por isso, paulatinamente, mesmo ante o troar dos canhões e desembainhar das baionetas, despertam e desafiam a injustiça que campeia.
Esta manifestação que atravessou as ruas do Namibe, até a Administração Municipal é uma clara demonstração de o povo, todo o povo, vai perdendo o medo das armas e canhões da injustiça, por isso não recuou ante o aparato policial, quer por largos momentos barrou os cerca de dois mil manifestantes, que gritaram:
- “Administrador Armando Valente fora”
- “Queremos terrenos para construir as nossas casas”.
Ante a “ousadia” das populações, o administrador Armando Valente apareceu no local, fortemente armado, acompanhado pelo comandante municipal adjunto da Polícia, mais conhecido por Africano, proferindo ameaças, caso as populações não se retirassem e parassem com a manifestação.
E este petulante “rugido”, teve consequências imediatas, pois os seus capangas de serviço, apercebendo-se que o cidadão, Augusto Kapica, concedia uma entrevista aos órgãos de comunicação que cobriam o acto, nomeadamente; Voz da América, Folha 8 e Rádio Despertar, arrancaram-lhe à força, sob ameaça de armas, sob alegação de ser o cabecilha dos manifestantes.
Levado para a unidade policial, foi submetido a forte interrogatório e pressionado a denunciar que o organizador e instigador da manifestação era o jornalista Armando Chicoca, correspondente do F8, na região Sul.
Não pactuando, com mentiras e apesar de se expressar deficientemente na língua portuguesa, Kapica, autóctone, natural de Quipungo, província da Huila e vivendo há 50 anos no Namibe, disse preferir sofrer a incriminar um inocente, pois não havia traidores na sua família e tribo. “Sou militante do MPLA. Em 2008 votei no MPLA, o meu partido, e se o MPLA é o povo e o povo é o MPLA, quem governa deve atender as preocupações deste mesmo povo, logo o senhor Armando Valente, tem de assumir as suas responsabilidades e não fugir os cidadãos”, disse o ancião.
No entanto é mister reconhecer a atitude digna do comandante provincial da Polícia, António Pedro Kandela, que ao tomar conhecimento dos populares defronte ao comando e ouvidas as versões das partes, ordenou a rápida soltura do cidadão por se tratar de prisão ilegal, sugerida pelo administrador Armando Valente., que caricatamente, é primeiro secretário do comité Municipal do Namibe do MPLA.
“Como é que um governante arrogante, poderá cativar pessoas em idade eleitoral para votar no seu partido, se ele foge os cidadãos que governa, trata as pessoas de bandidos por causa dos requerimentos de terrenos que há mais de três anos não despacha, quando todos nós sabemos que ele tem reservas de terrenos, tem pessoas mandatadas por ele que procuram clientes e vendem a 12 mil dólares os lotes. O que nos espanta é o silêncio da governadora”, disse ao F8, Marciana Jamba, 70 anos de idade, viúva, depois do marido; um Polícia, tal como um filho militar das ex-FAPLA, terem morrido, em consequência da guerra.
Esta anciã, vivia no bairro Calumbilo, onde foram retirados pelos fiscais da administração da comuna do Forte de Santa Rita a um bom tempo e nunca lhe foi dado terreno, tal como os outros cidadãos. “Meu filho, estamos a sofrer, nem parece que Angola está independente, por isso viemos aqui ter com o chefe para nos dar também terrenos e construirmos nossas casas para viver como as outras pessoas», lamentou.
Esta revolta deu-se quando a governadora do Namibe Cândida Celeste da Silva se encontrava na cidade do Lubango, nas exéquias fúnebres do malogrado “Dr.Viriato reitor da Universidade Mandume e foi surpreendida com a informação do administrador Municipal e secretário municipal do MPLA, Armando Valente e do secretário para a informação, Mário Tchova, de o chefe da manifestação ser Armando Chicoca, para tirar dividendos políticos a favor da UNITA.
Contactado telefonicamente pela governante, Armando Chicoca negou as acusações, alegando ter congelado a sua militância partidária em 1990, quando aderiu a causa dos Direitos Humanos.
Recorde-se que em 2007, era governador provincial Boavida Neto e o jornalista teve igual acusação, de ter incitado a população no mercado cinco de Abril, em função da destruição das suas barracas. O facto não ficou provado em Tribunal durante a discussão da prova, mas ainda assim, face aos corredores, o jornalista ficou, injustamente, 30 dias preso.
Em 2010, o mesmo Administrador Armando Valente, presumivelmente associando-se a outras pessoas de má-fé, apresentou queixa de ter recebido mensagens de ameaças de morte, presumindo fossem de Armando Chicoca, facto que não conseguiu sustentar em tribunal, acabando por não se provarem as acusações.

NOVA MANIFESTAÇÃO NO PLATO
Pela segunda vez em menos de uma semana, outra manifestação eclodiu no Bairro Plato, no “31.08” onde os munícipes também reclamam um espaço de terra para erguerem as suas próprias residências.
A governadora do Namibe, Cândida Celeste da Silva que parece ter agora uma informação equilibrada quanto ao fenómeno terrenos, sobretudo no Município do Namibe, promete engajar-se na resolução destes casos e banir a corrupção
O administrador adjunto do Namibe, Alexandre Calei, confirmou ter a chefe do executivo provincial reunido, orientando “para uma urgente necessidade de se dirimir este conflito de terrenos. E como primeira medida, tudo volta a ser como era dantes, com os populares a receberem ordens de regresso as suas casas.”Estamos a resolver o problema, já não haverá mais manifestações por causa dos terrenos, eles existem e há uma orientação da governadora de como devemos agir, dentro das normas existentes», assegurou Alexandre Calei.
Numa altura em que o conceito de policiamento de proximidade implementado junto das comunidades locais está a ganhar consistência, face a simpatia oferecida a população pelo novo Comandante da corporação, comissário António Pedro Kandela, as posições da administração colocaram em risco esta convivência.
«Se houver este diálogo entre os órgãos da administração municipal e a população, estes problemas que não são grandes, mas que inquietam a segurança pública, serão ultrapassados. Nós estamos a aguardar e acreditamos que esta é a melhor solução, que o cidadão tem”, reiterou.
No entanto a governadora é acusada de não ter mexido no seu executivo, havendo indícios de luta interna quer no próprio partido quer no governo local, por virem da época de Boavida Neto e uma das provas é o regresso do lixo na cidade do Namibe.
* No Namibe
Imagem; Armando Chicoca VOA

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