sábado, 17 de setembro de 2011

Valha-nos a Santa Bajulação ao chefe. Dos Santos transformado no representante de Deus na terra

Cremos não estar em erro ao opinar que houve desde há uns anos atrás até esta data uma substancial modificação, no bom sentido, na proliferação de alardes laudativos ao Presidente da República por ocasião da data do seu aniversário que ocorre, em cada ano que passa, no dia 28 de Agosto.
Durante muito tempo, de resto, as manifestações de júbilo expresso com fervor e espalhafato, acentuado por declarações, eventos de toda a espécie, desportivos, religiosos, pagãos, culturais e folclóricos, cada um deles se crendo mais bajulador que os outros, todos esses eventos e mostras de admiração fervorosa por José Eduardo dos Santos eram minuciosamente programados e realizados a partir de datas mais de um mês antes da efeméride, quer dizer, eram semanas atrás de semanas numa enjoativa repetição de homenagens ao Presidente da República, mesmo para lá do seus dia de anos.
Nessa altura, já na primeira década deste século e até aqui há uns quatro anos ou cinco anos atrás, a imprensa não estatal, nomeadamente o F8, denunciou repetidas vezes a baixeza boçal e infantil de tal tipo de exuberâncias, e tanto se bateu nessa tecla que as coisas acabaram por mudar e o aniversário do Presidente passou a ser citado e as homenagens ad hoc a serem-lhe consagradas a partir de datas já muito mais perto do dia festivo.
Claro está que foi com muito prazer que notámos essa mudança de atitude, pois ela deu mostras de as observações, reclamações e outras considerações do F8, e não só, serem levadas em consideração pelas entidades ou personalidades por elas visadas. Claro está, também, que todas essas reacções a críticas nossas podem muito bem apenas terem uma relação fortuita, e as causas das mudanças por nós preconizadas não terem nada a ver com o teor dos nossos artigos.
Mesmo assim, é um prazer que as coisas mudem, desde que seja para melhor. E nessa perspectiva muito grato nos é constatar que o exageradíssimo alarde feito nestes últimos anos em redor do aniversário do Presidente da República – repetimos, mais de um mês antes e, às vezes, até mais de um mês depois do 28 de Agosto -, frequentemente apontado pelo F8 como um arcaico hábito de regimes totalitários, tão ridículo como funesto (veja-se Staline, Hitler, etc.), nestes últimos anos têm-se singularizado por uma significativa saída, de novo da discrição.
Segundo informações de uma fonte idónea próxima da Casa Civil da Presidência da República, foi Eduardo dos Santos em pessoa que teria sugerido não se fazer tanto estardalhaço em torno do seu dia de anos. Enfim, por uma vez, o nosso Presidente manifestou o seu acordo com um artigo do Folhinha, e isso, digamos a verdade, dá-nos muito prazer.
Notámos na nossa agenda esse ponto positivo, mas encolhemo-nos com medo da ameaça à terra do Ngola, quando nos demos conta que a final do Afrobasquete de 2011 teria lugar exactamente a 28 de Agosto deste ano, data ainda hoje quase religiosamente consagrada ao aniversário de JES.
Por estarmos ligados a muito boa gente do “ÉME”, fomos postos ao corrente que os mais integristas dos seus militantes se preparavam para atribuir ao Presidente da República a Taça dos Multi-Campeões de África de basquetebol! Autêntico. Claro que essa oferenda seria mais um desses actos político que já cheiram mal de tanto perdurarem em sucessivas repetições nos usos e costumes da nossa terra, mas que, aparentemente não é possível evitar.

“Camaradas,
Hoje é um grande dia, para todo o povo angolano, pois mostra a clarividência e a capacidade de liderança do camarada Presidente, mesmo nas adversidades. Quando todos já se conformavam com a derrota, a sua crença e sagacidade iluminaram-nos o caminho da viragem. O caminho da mudança para a vitória.
Foi assim durante o campeonato de basquetebol, quando averbamos uma derrota e a equipa estava a jogar mal e poderia comprometer mais um título africano.
Não sabíamos o que fazer, foi então que recebemos a sua sábia orientação de substituirmos o técnico francês, pelo treinador Covilhã, que conhecia melhor as capacidades dos nossos jogadores. Ainda dissemos que era um risco, mas a sua experiência e visão e as tácticas que sempre deram certo do camarada Presidente, levaram-nos a não hesitar e fomos para a frente. E foi esta estratégia que fez renascer a nossa esperança de que com a sua sábia orientação iríamos conseguir vencer mais um campeonato africano. Conseguimos! Portanto esta vitória é inteiramente sua, camarada Presidente, por ser fruto da sua estratégia, por isso todos os jogadores e equipa técnica, lhe dedicam neste seu dia de aniversário, que era o nosso maior desejo.
Parabéns camarada Presidente, muitos anos de vida e aceite em nome de todo corpo da selecção esta taça, como mais uma prenda de aniversário”.

Este era o texto preparado para uma eventual vitória de Angola, feito por um bajulador, que dispensa apresentação, mas que infelizmente não saiu.
E como tudo mesmo vai mal e o chefe só é das vitórias não se ouviu uma palavra sua de reconhecimento a selecção, o que F8, o faz aqui e agora, lamentando ainda o cinismo das autoridades angolanas, que nem se dignaram em ir esperar a delegação, para além da Federação não conseguir tapar a sua má política de gestão e desorganização, quando deixa na África do Sul o ex-seleccionador nacional. Uma vergonha de federação que não deveria ficar nem mais um tempo no poleiro, pela má prestação que vêm demonstrado.

O lado positivo da derrota
Assim sendo, cabe aqui dizer que há males que vêm por bem. É que, com o fracasso dos nossos basquetebolistas na sua derradeira etapa para conquistar o seu 11º título africano, escapamos ao que sempre temos visto quando desportistas nacionais brilham no estrangeiro. A estrelinha que decora a sua fugaz auréola é a do MPLA, considera-se então que o seu fulgurante êxito se deve aos esforços do ministério da Juventude e Desportos, ao Governo, a JES, ou ao MPLA, que os campeões são todos militantes do partido e que é esse facto que explica o porquê da presença de estrelinha do MPLA nas que lhes serão distribuídas quando eles chegam ao aeroporto 4 de Fevereiro.
E aí mesmo, no aeroporto, vemos, como de costume, uma enorme bandeira do MPLA a intrometer-se na área desportiva e a reivindicar para si, um mero partido político, todo o exclusivo mérito da vitória de toda uma nação, a nossa.
É que não há mesmo meio de meter na cabeça de alguns membros do partido dos camaradas que a Nação Angola é muitíssimo mais do que a sua organização partidária.
Mas, na tristeza profunda de não vermos os nossos “guerreiros” da bola ao cesto chegarem ao país com a taça de África nas mãos, sentimos no nosso foro interior, não podemos negar, um enorme alívio por ter escapado a mais uma humilhação oficial de toda Angola, por parte de uma organização partidária, o que não evitou termos de assistir a espectáculos incríveis de bajulação.


Bajulemos, o ridículo não mata
O partido no poder pode mesmo. Mobiliza o Estado, abre os cordões à sua bolsa para toda a espécie de bajulação, distribui gasosas e multiplica “Maratonas” incitando o mwangolé a consumir exageradas doses de bebidas alcoólicas, e, na euforia causada pela bebedeira generalizada, não só do corpo, mas também do mental, diz que tem 5 milhões de militantes. Exemplos?... aqui vão eles:

1) Bento Raimundo da Ajapraz foi dizer que o povo de Benguela, todo ele, em peso, estava com JES, e reuniu com todos os governantes locais para lhes transmitir orientações, ele que nem membro do executivo é, perdão, é membro do exército da bajulação.
2) João Miranda inaugurou em nome do Chefe muitos micro projectos, dentre os quais um centro médico de seis camas (!!!), uma ofensa aos angolanos, pois as famílias africanas e angolanas do interior integram no mínimo 15 pessoas, ora se na localidade uma família for contaminada mais de metade morre, pois não poderá ser assistida. Vergonhoso!
3) Na Lunda o governador organizou um torneio internacional e também abriu e violou os cofres do Estado, para um torneio de futebol com a selecção da RDC no quadro da bajulação ao chefe, que só conhece as Lundas pelo mapa.
4) No Huambo, Muteka foi o mais ousado, inaugurou o que já tinha sido inaugurado a universidade JES, mostrando a que nível de pouca vergonha se pode chegar nas vestes de governante ao serviço de JES, do MPLA, de tudo e mais alguma coisa, excepto do povo de Angola na sua integralidade.
5) Ó surpresa! Até vimos o que nunca se poderia supor ser possível ver, um até aqui lúcido e pertinente Lopo do Nascimento passar a escova na imagem desbotada de um homem que ele se fartou de criticar, que, por seu lado, o gratificou com algumas arranhadelas.
É tudo uma monumental vergonha, mas como ninguém tem vergonha de lamber botas, fica assim. Em todo o caso uma coisa é certa, isto de se inaugurar o inaugurado para idolatrar o Chefe não vai durar muito mais tempo, não vai, não!

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