O Governo de Luanda, numa clara demonstração de partidarização administrativa, cumpriu uma orientação pública de Bento Bento, primeiro secretário do MPLA de Luanda, de apenas permitir que o seu partido se manifeste no centro da cidade, como aliás ele fez questão de admitir, quanto a manifestação do dia 24.09. Os outros vão todos para a periferia manifestar-se, pois o largo da Independência é de Agostinho Neto, herói do MPLA. Quem desobedecer já sabe que comete um crime e que vai levar porrada de criar bicho.
Orlando Castro*
O Governo da Província de Luanda, alegando que a medida tem como objectivo assegurar as condições para o exercício do Direito de reunião e de manifestação em lugares públicos, indicou, em alternativa, alguns locais para o efeito.
Digamos que é a democracia “made in MPLA” no seu melhor e, é claro, uma forma altruístas e benemérita de o dono do regime mostrar ao mundo com quantos paus se constrói a canoa do regime.
Uma nota do Governo de Luanda distribuída hoje à Angop, indica que havendo necessidade de se dar cumprimento ao estipulado na Lei sobre o Direito de Reunião e de Manifestação, inerente à reserva de lugares públicos devidamente identificados e delimitados, foram indicados espaços nos nove municípios da província.
Tudo, portanto, dentro da legalidade e no respeito pelos mais nobres direitos democráticos, éticos e civilizacionais de todos aqueles que estão de acordo com o regime.
"Não é permitida a realização de actos públicos fora dos lugares indicados e o incumprimento do despacho faz incorrer os promotores em crime de desobediência", indica a nota assinada pelo governador interino, Graciano Domingos.
No município do Cacuaco, as pessoas podem manifestar-se nos campos da CAOP PARK (comuna da Funda), Panguila e da Cerâmica, enquanto no Cazenga, as manifestações são permitidas nos campos das Manguerinhas (comuna do Hojy Ya Henda), dos Bairros Unidos (Cazenga - zona 18) e da Casa Azul (Tala Hady- zona 19).
As pessoas que pretenderem se manifestar no município da Ingombota devem utilizar o Largo do Ponto Final (Ilha do Cabo) ou o campo de futebol da Chicala I. Já no Kilamba Kiaxi devem ser usados os campos de futebol do Camama (comuna do Camama) da Vila Rios (Vila Estoril) e o do Palanca (Palanca).
Segundo a nota, os manifestantes da Maianga podem reunir-se nos campos do Felício (comuna do Prenda, bairro Sagrada Esperança), do Katinton (Cassequel), enquanto os da Samba devem usar o da Camuxiba.
Nos municípios do Sambizanga e de Viana as pessoas podem manifestar-se no triângulo do Bairro Uíge (comuna do Ngola Kiluanje) nos campos de Luanda Sul, Bairro da Regedoria, e do MINDEF na CAOP-B.
Como se vê, o regime angolano não só dá total liberdade de manifestação como até escolhe os melhores lugares para que os manifestantes possam, em segurança, dizer o que pensam. É claro que, como em qualquer democracia, os manifestantes não podem escolher os locais porque, quem sabe da matéria, são os donos do país.
Estou por isso e sinceramente de acordo com as teses do antigo ministro da Defesa, figura de destaque do MPLA, e hoje ministro dos antigos combatentes (do MPLA) e um empresário de sucesso em áreas que vão da banca ao imobiliário, hotelaria, jogos, diamantes etc., de seu nome Kundy Paihama.
Se todos os angolanos que não são do MPLA levassem em conta as suas palavras, certamente que evitavam ter de comer peixe podre, fuba podre, e ter direito a 50 angolares e a porrada se refilarem.
Num dos seus (foram tantos) célebres e antológicos discursos, Kundy Paihama disse: “Não percam tempo a escutar as mensagens de promessas de certos Políticos”, acrescentando: “Trabalhem para serem ricos”.
Tal como a maioria do povo angolano, 68%, que vive abaixo da linha de pobreza, também eu passei a venerar Kundy Paihama.
A tal ponto vai a minha veneração que até advogo a tese de que as verdades de Kundy Paihama deveriam, no mínimo, fazer parte das enciclopédias políticas das universidades angolanas e, porque não?, de todo o mundo civilizado.
“Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”, afirmou há uns tempos o então ministro da Defesa do MPLA. Não, não há engano. Reflectindo a filosofia basilar do MPLA, Kundy Paihama disse exactamente isso: o que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.
E por que não vai para os pobres?, perguntam os milhões, os tais 68%, que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…
“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, explicou Kundy Paihama na senda, aliás, do que agora faz o governo de Luanda quanto aos sítios onde os angolanos podem manifestar-se.
É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães de Kundy Paihama têm para reivindicar uma boa alimentação, penso que os angolanos, os tais 68% que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, não devem transformar-se em cães só para ter um prato de comida.
Embora tenham regressado pela mão do MPLA ao tempo do peixe podre, fuba podre, 50 angolares e porrada se refilares, devem continuar a lutar – mesmo que seja só onde o regime permite - para ter direito a, pelo menos, comer como os cães de Kundy Paihama.
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