Antes de o nosso estimado leitor ler este artigo, aconselhamo-lo a dar uma vista de olhos a um outro trabalho nosso sobre um julgamento de valor da nossa actual Constituição Presidencialista- Par(a)lamentar. Se nesse caso de figura fizemos um retrato em tons pastel de um “desencontro” que de relevante apenas tem o facto de denunciarmos uma situação em que, mais uma vez nos encontramos diante do mais puro cinismo, neste artigo pintamos o retrato com cores mais vivas.
A democracia viu os seus primeiros dias de entrada na vida da “cité”, urbe, em Atenas, na Grécia, há coisa de 1500 anos atrás. Os países do Ocidente, a começar pelos da bacia do mar Mediterrâneo, depositaram o label da sua invenção, e, depois de muitas aventuras e desventuras, a partir de meados do século XX, tentaram e conseguiram exportar essa ideia de governação para todo o resto do mundo.
Mas nos dias que correm, o Ocidente, de acordo com os seus interesses, subverte as bases da democracia, e se os fundadores gregos ressuscitassem teriam um ataque cardíaco ao constatar com horror o que se passa nas modernas experiências democráticas, onde apenas subsistem resquícios da velha ideia mestra de governo do povo pelo povo.
O problema é que os primeiros e principais agentes dessa deterioração dos princípios democráticos são os próprios países do Ocidente, a começar pela Inglaterra, que, depois de ter sido pioneira na propagação de valores democráticos (vide Habeas Corpus, 1279), não se inibiu, na esteira de Portugueses e Espanhóis, de invadir todos os oceanos do globo terrestre numa busca desenfreada de saques de bens preciosos, destruições, resgates, escravização de autóctones e outros delitos graves em plena e total impunidade e para exclusivo proveito próprio.
Neste artigo vamos dar um pequeno exemplo do cinismo descarado de um responsável americano, o embaixador americano, Dan Mozena, que acabou há pouco tempo o seu mandato de representante dos Estados Unidos da América no nosso país.
Esse homem, afável e simpático, manifestamente amigo de Angola, diz a quem o quiser ouvir que existe no nosso país democracia, mas em cima de uma montanha de corrupção institucional. Que há muitos progressos, suave eufemismo, a fazer. Mas como enquanto o poder angolano continuar a garantir petróleo e diamantes, mesmo violando os direitos humanos e subvertendo tudo não há alma viva que lhe impeça de continuar a vestir o seu casaco da democracia, vimo-lo a ir de empreitada alegre até Lisboa, adivinhem para quê… não vale a pena eu vou dizer, a fim de propor às autoridades portuguesas um reforçar de atenções e de intenções vis a vis das imensas potencialidades da Angola.
O homem, não tem papas na língua e não se fartou de dar garantias de que aquele país (Angola) tem um grande potencial de investimento e incentivou as empresas norte-americanas a apostarem em Luanda, mas, para não ter de ir directamente para o Inferno e poder estacionar no purgatório, alertou para a corrupção existente. E revelou a sua genial ideia, “Angola tem muitas oportunidades para os investimentos norte-americanos e uma parceria entre Estados Unidos e Portugal pode abrir portas aos negócios no país”, sublinhou o diplomata.
Dan Mozena falava na sessão de abertura do “Access África Fórum”, que decorreu no passado dia 15.06 e verá o seu termo na quinta-feira, 17.06, em Lisboa.
No entanto, o embaixador norte-americano frisou que Angola “é mais do que petróleo e gás” e nomeou a construção civil, reciclagem e energia como sectores em expansão. “Há grandes oportunidades e os Estados Unidos estão a perder o barco”, alertou, acrescentando que “o Governo angolano quer diversificar a economia para além do petróleo e do gás”.
O diplomata referiu ainda que, a par da Nigéria e da África do Sul, Angola é “um dos três principais parceiros estratégicos dos Estados Unidos em África”, mas, honesto, alertou que investir em Angola é uma tarefa difícil que requer “paciência e empenho”, na medida em que é por vezes muito difícil “(…) arranjar visto e um quarto de hotel e a corrupção é real e é um desafio, mas as empresas norte-americanas podem e devem competir”, sublinhou. E para ele, para escolha desse parceiro, “(…) quem melhor do que Portugal, que conhece a língua e a cultura”, questionou. Nestas e noutras, o diplomata destacou ainda que a paz e estabilidade alcançadas no país após a guerra civil são fundamentais para o investimento estrangeiro.
O “Busilis” da questão
Diz-se “busílis”, o ponto mais delicado, mais difícil de ultrapassar na resolução de um problema ou na ultrapassagem de uma situação crítica. E aí, Dan Mozena multiplicou os arabescos à volta do inevitável tema da corrupção, que ele próprio, diga-se, tinha levantado. E a esse propósito disse que em Angola a embaixada norte-americana está a trabalhar com o Governo angolano e com a sociedade civil para melhorar a situação. “O Presidente está a liderar o programa Tolerância Zero à corrupção e estamos a colaborar com ele”, afirmou.
Infelizmente, o diplomata, que sabe que esse programa é uma “chuchadeira”, não revelou de que maneira o PR angolano procedia a esse árduo combate, nem que tipo de colaboração se poderia esperar da parte dos serviços americanos, quiçá de Inteligência Externa dos USA. E se não disse foi porque, primeiro, isso não são coisas que se digam, segundo, como não há nada a fazer nesse sentido, a luta nem sentido tem, portanto, também não há nada a dizer. De facto, não há nada a fazer, a luta está definitivamente votada a um fracasso impecável, sem falhas, e daqui até podemos imaginar de que modo o PR vai destapar, denunciar e castigar todas as vigarices cometidas pelos “Novos Ricos” angolanos, todos eles do seu naipe de Ases. E daqui até adivinhamos a presença discreta de agentes da CIA a ajudar JES a perseguir os seus “kambas”… Brincadeira de diplomata, que incita os seus compatriotas a investir num país onde a corrupção é uma instituição segundo as suas próprias palavras, onde os preços são exorbitantes, onde os vistos são um tormento, onde se prendem pessoas por motivos de opinião, e onde não há lei nem grei que se respeite, a não ser se ela é defendida pelo regime instaurado. Triste.
Pois é, a especulação também não obedece a lei nem grei que se veja e Dan Mozena depressa mudou de assunto, preferindo salientar que promover o ensino da língua inglesa é uma ideia do Presidente da República e de outros líderes angolanos.
Tinha que ser de JES. Porque se não fosse ele, não poderia ser de mais ninguém!
O “Access África Fórum” é organizado pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, pela Câmara de Comércio Norte-Americana em Portugal e pelas Câmaras de Comércio Portugal-Angola, Portugal-Cabo Verde e Portugal-Moçambique.
O fórum pretende fomentar os laços comerciais entre os Estados Unidos e os PALOP, aproveitando Portugal e as suas ligações empresariais como plataforma para parcerias empresariais tripartidas.
Imagem: bbc.co.uk
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