Trazendo para aqui
uma interpretação autêntica da minha “Angola: a terceira alternativa”, em conjugação
com tudo que venho afirmando, desde que apenas foi anunciado o “golpe
político e jurídico-institucional” de José Eduardo dos Santos, contra
a Constituição histórica de Angola, as eleições de 31 de Agosto são, desde
logo, um jogo num plano inclinado, a favor do golpismo. Se se quisesse uma
metáfora olímpica mais esclarecedora, diria que estamos perante um jogo em que
há uma baliza de um metro de largura para o país marcar (não falo só da
oposição político-partidária) e outra com, por aí, uns dez metros, para Sª
Excelência o Senhor Presidente-candidato enfiar os seus estrondosos golos,
calmamente.
Foi efectivamente
um golpe de mestre, se analisado sob um ponto de vista daqueles que vêm a
política como a “arte do possível” e quando nesse “possível”, tudo é permitido,
mesmo que seja contra consensos arduamente elaborados por uma sociedade durante
todo um processo histórico anterior, contra o Direito, contra toda a moral e
contra qualquer tipo de ética.
Foi um golpe
efectivamente fulminante, antes de mais, contra o próprio programa de um
partido de grandes responsabilidades nacionais como o MPLA, regressado aos seus
iniciais ideários democráticos, no princípio dos anos 90 do século passado. É
esse golpe de mestre, assente em antecedentes explicitados no “Angola: a
terceira alternativa”, que permitiu que José Eduardo tenha imposto um provável
candidato a sua sucessão, sem dar a mínima possibilidade de disputa a outros e
mais carismáticos líderes, do que hoje deveria ser um tão múltiplo e
multifacetado MPLA, sem dramas.
Apesar de tudo,
não tendo argumentos para contrariar o aforismo “política como a arte do
possível” (mas um “possível” que deveria ser para o bem da sociedade e não
de uma casta) esperava que estas eleições de 2012, que poderão, anunciadamente,
servir para agravar ainda mais o nosso “plano inclinado”, podem, igualmente,
constituir uma oportunidade para desagravá-lo. Por exemplo, se este Presidente
perdesse ao menos a inimaginável e arrogante maioria que tem através do
“sequestro” a que submete o MPLA, no qual já não é possível votar sem reforçar
a arrogância, o açambarcamento à luz dia, o nepotismo, o cinismo, enfim, o
desprezo total de tudo quanto não seja o “eu posso e mando”, já seria meio
caminho andado para sossegar até o próprio Eng.º Manuel Vicente, que desta vez
sim, estaria imune de qualquer derrube na grande área, por quem lhe passou a
bola. Todos entendem o que quero dizer: o nosso verdadeiro Engenheiro, o que
tem demonstrado ao longo destes anos, especialmente nos últimos 10 anos da sua
“arquitectura da paz”, é que não confia em ninguém e não dá confiança a
ninguém.
Mas por vezes
soçobra-me esta esperança, a de ver estas tão injustas eleições, logo à
partida, virem a dar algum empurrão para uma solução de “terceira alternativa”,
a que defendo no meu “livrinho verde”, não como um programa
político-partidário, mas como um método de negociação, em busca do retorno ao
caminho de uma sociedade suficientemente aberta, justa e de paz sustentável,
sem prejuízo para ninguém, até mesmo para a própria família mandante actual; a
que vem sendo despropositada e preocupantemente chamada de “família real”, sem
sentidos figurados.
E ontem
soçobrou-me a esperança ao chegar a Benguela, vindo de Luanda, passando por um
Amboim e Sumbe, e ter tempo para sonhar, os “sonhos” do poeta nascido nessas
terras – o Viriato da Cruz – a sonhar com uma Angola africana e moderna, ao
mesmo tempo!
Soçobrou-me a
esperança ao encarar uma campanha eleitoral morna e insonsa da parte de todos
os contendores, até mesmo, pasme-se, do dono da bola que parece nem mais
precisar de marcar golos, que os golos já estão todos bem marcados. Mas o
meu cambalear com a esperança aconteceu quando foi ligada uma “Radio Mais” de
Benguela, transformada numa autêntica “Angola Combatente” do “Engenheiro”, onde
uma bela melodia de promoção da Unitel do popular músico Matias Damásio, é mais
longa e tem outra letra, já não a da promoção da Unitel, mas sim do “candidato
do povo”, quer dizer, do “Engenheiro-Arquitecto” da paz e de todas as
movi-e-unitéis do país e do Mundo. É isso que em países assentes em “terceiras
alternativas” levaria os prevaricadores a “tribunal” constitucional ou
eleitoral, em tempo de eleições. Mas aqui, em plena terra de “primeira
alternativa”, os prejudicados é que são ameaçados de ir parar a tribunal e
verem seus parcos espaços de campanha anulados na RNA e TPA.
É o que
aconteceria comigo agora ao dizer estas coisas, tão reais como dizer que estou
a escrever este texto, se fosse candidato a qualquer coisa nessas eleições, sem
tempo para pensar e continuar a contribuir com as minhas ideias de genuína paz
e reconciliação nacional. E alguns incautos, em silvadas mensagens de
bastidores, seriam mobilizados para espalhar a ideia estereotipada dos
políticos da minha região que têm o apanágio de se infiltrarem nas fileiras do
“Glorioso” para traírem esta “luta que continua”, mesmo que agora,
aparentemente, só sirva para bolsos encher “e contra os canhões, marchar,
marchar”.
Seria um
morrer de tédio, a aturar recadinhos subliminares, a apelar para o cuidado de
não denegrir Sª Ex.ª, e comprometer a paz. É o que fizeram de forma tão
coordenada os “camaradas” Falcão do Secretariado do BP do MPLA e o da Silva,
Presidente do CNE, a semana passada. E já colhem os resultados positivos. Com
efeito, alguns partidos da oposição minimamente credível, e que sobraram da
purga pré- eleitoral, morderam o isco. Deixaram de falar do que nas
circunstâncias destas eleições seria uma das questões fundamentais a
esclarecer: como é que à filha de um presidente cessante e candidato ao mesmo
tempo, são atribuídos pela comunicação social do país e do Mundo, tantos teres
e haveres de origem não explicada, nunca
desmentidos, pelo contrário tão ostensivamente exibidos interna e
internacionalmente? Como não falar disso agora?
Por isso, ao
correr para o meu quarto de hotel para apreciar os programas de escassos 5
minutos para cada partido na TPA, tenho mais um afundamento na esperança de ver
as coisas mudadas minimamente, a partir destas eleições: um partido da
oposição, destes que caíram no engodo dos mandatados “camaradas” – o de que
deve falar-se de “programas de futuro” e não na fortuna dos outros, que isso é
denegrir a imagem dos “outros candidatos”, etc, etc,” (querem iniciar uma nova
guerra, ai, ai, ai … !) – desancava impiedosamente nos “comunistas” (ainda
existem?!) que assassinam filhos indesejados, nos homossexuais e ateus (também
não são filhos de Deus?!) que estão trazer para esta terra o reino de satanás;
anunciava por outro lado o corte radical da importação de bebidas alcoólicas (à
boa maneira da Líbia de Kadafi e de outros teocráticos regimes islamitas) ao
mesmo tempo que prometia a imposição de um rigoroso programa de ensino
religioso (não sei de que religião, entre tantas) nas escolas, e ai daquele que
o contrariar. Enfim, um belo programa para afugentar eventuais eleitores para
esse partido, tão ocidentalizado e laico que é este país, até no melhor
sentido, e aferrá-los a essa continuidade monolítica do “la loi c’ést moi,
l’état c’est moi”, bien sur!”. Assim “não vamo-lá”! Assim mesmo,
sem “s”.
Mas esperanças
sempre se renovam. Para a semana haverá mais. Como se dizia no meu tempo de
aluno da secundária, quando se apanhava um chumbo: − Por ano há mais! Quem sabe
me levante rápido desta profunda soçobra, ainda em terras de belas misses e
rúbras acácias! E terra de Pepetela, de um Paulo Jorge e outro Flores!
Benguela, 16 de
Agosto de 2012
Imagem: Aléxia
Gamito
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