quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Pomba da paz" por cima de uma eleição de cucos - William Tonet


Luanda -  Depois de o MPLA ter vindo a público pela voz do seu arauto de serviço, Rui Falcão, a queixar-se de abusos cometidos por este ou aquele partido nas intervenções que lhes são provisoriamente toleradas nos órgãos de comunicação social estatais, eis que, imitando Zorro, veio de lá a CNE ao socorro do partido dos camaradas, a repetir mais ou menos o que Rui Falcão tinha descoberto, recorrendo à sua magnífica predisposição para dar bofetadas sem mão ao espírito democrático, que nunca impugnou nem repudiou contendas verbais, por vezes assaz violentas.
Por tanto ou por tão pouco, a CNE apresentou-se na media estatal em grande, para assegurar os angolanos ter constatado que o Código de Conduta e demais Legislação Eleitoral, têm estado a ser violados e que, por tal razão está muito apreensiva com este fenómeno, pois considera que «as mensagens que devem ser transmitidas nos tempos de antena dos Partidos e Coligações de Partidos Políticos, devem ser de paz, concórdia, tranquilidade, de carácter informativo, esclarecedoras e elucidativas sobre aquilo que são as intenções dos concorrentes em relação aos seus projectos, estratégias eleitorais e manifestos».

A gravidade da situação é de tal ordem que o Plenário da CNE deliberou que «deverá criar uma comissão de trabalho que doravante estará encarregue de acompanhar todos os espaços de antena atribuídos aos concorrentes para anuir sobre a qualidade da divulgação das mensagens que estão a ser transmitidas publicamente e acompanhar se os mesmos estão a ser feitos ou não em conformidade com a Lei».E acrescenta, «Afinal, o lema para estas eleições gerais é: Vota! Pela Paz e Pela Democracia» (sic).
Façamos uma pausa para dizer o seguinte:  Foi instalada a censura na Campanha Eleitoral

A CNE, que deveria ser um órgão neutro, imparcial e rigoroso, comporta-se como um“fiscal de linha” (termo de Reginaldo Silva se não me engano), que favoriza ostensivamente um dos concorrentes. É que por trás destas admoestações perfilam-se as sanções das pretensas ilegalidades cometidas na campanha eleitoral. Essas, estão consignadas na Lei Orgânica sobre Eleições Gerais sendo uma delas a suspensão pura e simples do espaço de antena atribuído ao Partido ou Coligação de Partido prevaricador.

Diz ainda a CNE, decalcando o seu discurso pelo que foi dito por Rui Falcão, que «a oposição tem consciência clara de que poderá ter um desempenho menos consentâneo no processo eleitoral, e conduz as suas acções de captação de eleitorado, explorando e aproveitando, com violação à lei, todas as fragilidades que o país ainda apresenta, em alguns sectores socais, como o acesso a habitação, entre outros».

Trocado em miúdos, isto quer simplesmente dizer que, por exemplo, passa a ser crime se a UNITA ou a FNLA, ou outro partido qualquer, vier questionar o MPLA a propósito do paradeiro dos 32 biliões de dólares de que não se sabe ainda por-que-raio de cargas de água desapareceram e se desconhece o paradeiro.

Crime também será patentear uma indignação sentida pelos milhões de angolanos que vivem na miséria Será crime dizer que temos gente a morrer nos hospitais em que são recebidos mas não são tratados.

E ser crime lembrar que desapareceram mais de 300 milhões de dólares dos cofres do BNA e ainda não se sabe onde eles param.

Será crime grave dizer que o presidente da República viola vergonhosamente o espírito democrático ao se assumir publicamente como jogador e árbitro ao mesmo tempo.

Será crime também perguntar onde está o milhão de casas que ele prometeu em 2008.
Como será crime questionar a realidade dos 2 milhões de postos de trabalho prometidos ainda pelo mesmo senhor, que depois de tanta garganta, recusa responder a um apelo ao debate formulado pelos seus adversários políticos…

Há muito mais crimes que estes que aqui enumeramos, mas não vale a pena ir mais longe, pois para aquilo que queremos demonstrar estes crimes chegam: JES está com medo, o MPLA tem medo, a batota está por um fio, tudo pode desabar a estas eleições serem o ponto final de um verdadeiro “Great Angolan Disaster”.

Segundo Rui Falcão, de facto o mentor, ou agente mentor desta reclamação, «no dia 31 de Agosto será previsível assistir, em muitas das 25 mil mesas de voto e mais de 10 mil assembleias de voto, situações de perturbação, que serão engendradas com o propósito de impedir a contabilização dos resultados (…)». E este magnífico ilusionista verbal sai-se logo a seguir, com a melhor de todas, ao insinuar que a CASA-CE e o PRS desfrutam de tempo a mais na difusão dos seus programas partidários, «Existem provas materiais dos tempos de antena da Coligação CASA-CE e do Partido de Renovação Social, que poderão ser remetidos como queixas formais para os órgãos competentes do Estado»

Inacreditável cegueira, mas verdadeira!!
É que o MPLA tem 24 horas e 5 minutos de tempo de antena por dia, na TPA, e 24 horas e 10 minutos de tempo de antena na RNA!
E tem a mais, as inaugurações e programas tendenciosos que deveriam ser suspensos 6 ou pelo menos 3 meses antes das eleições
E tem a mais o aniversário do candidato mais antigo, juiz e árbitro ao mesmo tempo (JES não se dá conta da galhofa que ele provoca fora de fronteiras).

E tem mais o Angola FAZ, o Angola em Movimento e em todos os programas de notícias como Ecos & Factos, Bom dia Angola e outros, Angola propaganda governamental ou institucional, com uma data de gente a dizer que com este governo estão agora a viver numa miséria que se assemelha ao paraíso terreste, e que deveria de igual modo ser banida durante a campanha eleitoral...
Cegueira incurável

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