domingo, 19 de janeiro de 2014

Razões para o meu pessimismo em 2014 - William Tonet


Eu, cristão e leigo católico, renovo aos fiéis leitores do F8 e angolanos discriminados e sem voz (cada vez em maior número por imposição de quem deveria existir para os servir), votos de novo ano, com muita coragem e resistência, pois o meu prognóstico é de 2014 ser transformado num ano de ainda maior intolerância por parte das forças policiais, de segurança e militares do regime. Adiante.
Entrei o ano com tristeza, ante a partida inesperada de Eusébio da Silva Ferreira, meu conhecido. Ingenuamente ainda acreditei, tal como milhões de compatriotas e não só, numa lufada de bom senso nacionalista, poderia assistir à outorga da nacionalidade angolana a título póstumo a Eusébio da Silva Ferreira, uma vez ser filho de pai angolano, um autóctone malanjino. Lembro-me de ele me ter dito uma vez, no Restaurante do Barbas: "tenho um coração tripartido": pai de Malange, mãe de Maputo e Lisboa, cidade de adopção. Felizmente, Portugal fez bonito, concedeu três dias de luto nacional, com bandeiras a meia haste. Moçambique e Angola, nada…
Os portugueses, todos, sem excepção, homenagearam, mesmo com chuva, de forma sentida o Homem cuja humildade transbordou as fronteiras benfiquistas, para se instalar nos corações da nação lusa, que agora – perante a indiferença das suas duas outras pátrias - o quer no Panteão Nacional.
Tal como entrei, também já havia saído triste de 2013, não só pelos milhões de autóctones que ficaram sem uma refeição, por imposição da má política económica, mas fundamentalmente, pelo apagar da luz mais cintilante de esperança em África e no mundo: Nelson Mandela.
Em todo caso fiquei orgulhoso por ver o reconhecimento mundial, excepção do governo angolano, face à sua elevada estatura reconciliadora, pacifista e democrata, mesmo tendo estado 27 anos encarcerado nas masmorras do apartheid. Em Angola como opositor, mesmo de ideias, do actual regime, Madiba teria sucumbido, antes de ir a julgamento, num banquete de um qualquer jacaré do Dande…
Exemplos para quê? De Matias Miguéis (1965, ex-vice presidente do MPLA, enterrado vivo), ao comandante Paganini (1966, queimado vivo numa fogueira, na Frente Leste, numa base guerrilheira do MPLA, na companhia de outros camaradas, acusado de feitiçaria e pretender dar um golpe a Agostinho Neto).
No primeiro ano da Independência Nacional, antes mesmo da sua proclamação, 22 de Agosto, a cultura dos assassinatos sem julgamento, conheceria um ponto alto ao ser fuzilado, no campo da Revolução, por ordem de Agostinho Neto, com transmissão em directo da Rádio Nacional de Angola, um herói da luta clandestina que nos levaria à independência, Virgílio Sotto Mayor (1975, guerrilheiro do 4 de Fevereiro), passando por José Van-Dúnem e Nito Alves (1977, dirigentes do MPLA, assassinados sem julgamento na Fortaleza de São Miguel?!, acusados de tentativa de golpe de Estado), ao jornalista Ricardo de Melo, director do Imparcial Fax (assassinado em 1995, nas escadas do seu edifício em Luanda), Mfulumpinga Landu Victor (2004, presidente do PDP-ANA, assassinado no Bairro Kassenda em Luanda, depois de ter participado numa reunião do Conselho da República), Alves Kamulingue, Isaías Cassule (2012, ex-militares da Guarda Presidencial, assassinados por reivindicarem uma pensão de reforma justa e digna), Hilbert Ganga (2013, dirigente juvenil da CASA-CE, assassinado pela Guarda Presidencial, por estar a colar panfletos, no muro do Clube de Ténis de Luanda, sito na Rua Francisco das Necessidades Castello Branco).
Como se pode verificar por este pequeno, muito pequeno, número de cidadãos (quantos serão os que, anonimamente, têm o mesmo destino?), a cultura de assassinatos selectivos continua inalterável, eventualmente e de acordo com os avisos do Presidente da República feita com redobrados cuidados…
Em 2014, como cristão, leigo e católico, espero ver alterada a actual instituição de violência e discriminação governamental, com mais respeito pela "Constituição Jessiana" e pelas leis. Espero ainda que a oposição possa bater-se para a comunicação social do Estado deixar de ser partidariamente do MPLA, exigindo a eleição das suas administrações e direcções, conformando-se com o carácter público e imparcial, que devem ter em democracia.
Igualmente, deverão impugnar, denunciando nacional e internacionalmente a parcialidade da Comissão Nacional Eleitoral, abstendo-se de concorrer se este órgão não se converter em independente, imparcial e sem o comando fraudulento de forças adversas à transparência, lisura e respeito pela vontade do eleitor.
Quanto aos leigos católicos, deverão multiplicar romarias e vigílias em todo o território nacional, acendendo velas brancas, para iluminar a mente dos governantes, para que possam respeitar os compromissos livremente assumidos, quanto à extensão do sinal da Rádio Eclésia. Manifestemo-nos por um direito adquirido e nisso temos o apoio espiritual do Papa Francisco. Lembrem-se do que ele disse no Brasil aos jovens: "manifestem-se pelos vossos direitos".
É o que deveremos fazer em defesa da propagação da palavra do Senhor.
Estamos Juntos.

Um comentário:

  1. Estamos junto.Mr William tonet. Que Deus lhe abencoe muito por tudo amor que o senhor leva em seu coracao para a nacao angolana e nao so, nos angolanos em diaspora te apoamos e rezamos por ti e todaa tua famillia,estamos junto,abraco.

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