Luanda - A todos
os autóctones deste imenso torrão, desejo que tivessem passado um Feliz Natal,
mesmo tendo a convicção de que muitos de nós não tiveram sequer um prato de
pirão para comer, enquanto outros se deram ao luxo de refastelar os seus cães
de estimação com bifes, tantas vezes negados a humanos que enfrentaram uma
longa estiagem e conheceram as agruras da fome.
Esperei,
como sou ingénuo, ver o candidato do partido vencedor das eleições de
Agosto/2012, sentado à cabeça de uma longa mesa, rodeada por honestos e
humildes cidadãos das zonas de seca do sul de Angola, para assim enganarem o
estômago, pelo menos num dia desta quadra natalina e ouvirem uma palavra de
esperança e solidariedade do Presidente da República, o simples anúncio de um
augúrio seria quanto baste: "Em 2014, o meu governo vai investir cerca de
50 milhões de dólares e aumentar os impostos sob as grandes fortunas para
mantermos um fundo de emergência, visando reduzir os índices de mortalidade
humana e do gado, enquanto fonte de sobrevivência, bem como fomentar as
pequenas indústrias"…
Ilusão óptica!
O Presidente ficou-se pelo seu país real: Luanda.
Os
pobres e sofridos cidadãos, das zonas de seca do Sul e de outras regiões do
país, que esperem por outra aurora, pois esta é para fortificar, exclusivamente,
os milionários do poder, disse-o na Assembleia Nacional.
Na minha opinião, isto parece ser uma política míope e perigosa para a estabilidade futura, por excessivamente discriminatória. Demonstra ainda uma triste realidade, o Presidente da República tem conselheiros e assessores muito maus, sobretudo por não conhecerem o país real, chegando alguns deles a ignorar qual a época da circuncisão dos jovens no interior, logo não conseguem ajustar o ano escolar, de acordo à nossa realidade. E quando assim é, não vale a pena, Luanda é o país e a capital a Mutamba...
Adiante…
Fiquei chocado pela insensibilidade e ciúmes do regime, perante a morte de Nelson Mandela. Não dedicar um dia de luto ou fixar as bandeiras a meia haste é sinal de uma monstruosidade sem paralelo na tradição africana. Nem tão-pouco os partidos da oposição ousaram colocar as suas bandeiras e flâmulas nessa condição de veneração, o que dificilmente se compreende, pois quer se goste ou não, tenhamos humildade, nunca alguém do actual regime angolano terá um reconhecimento internacional que chegue aos calcanhares daquele que Nelson Mandela teve.
Ele era um homem maior, comparado com a menoridade dos homens de cá, que se dizem grandes, cujas teses só se implantam pela força das armas e assassinatos.
Madiba era um grande homem, pelas razões contrárias, por saber impor a sua autoridade exclusivamente através da força dos seus ideais, respeitando os adversários políticos, a sociedade civil, as instituições públicas, com uma clara noção global de país e cidadania.
Era um homem sofredor, com 27 anos de cadeia no dorso, soube estender a mão à reconciliação e a todos os adversários, transformando-os em irmãos para a longa empreitada de construção da África do Sul pós-apartheid. Conseguiu de algum modo traçar as linhas de força da sua política e estabilizá-las. Por essa razão foi chorado com intensidade por antigos opositores e adversários políticos, ao converter-se em pai de todos os sul-africanos e não só dos do seu partido, o ANC.
Em Angola, quando se fala em reconciliação é o verbo para engalanar o texto, porque a prática é a de humilhar o adversário, carimbando-o de "ex-faminto, ex-esfarrapado e clemenciado", segundo a cartilha do bureau político do MPLA, devendo, por via disso subserviência eterna, até mesmo em relação ao ar que respira, caso contrário é, pelo menos institucionalmente, lançado aos “jacarés”…
Mandela projectou um país real, com igualdade de oportunidades, com reconhecimento constitucional dos vários povos e das suas línguas, da democracia, da conciliação e reconciliação entre os homens, independentemente da sua condição social. O primeiro presidente negro da África do Sul não se aboletou de meios e bens públicos, nem "miliardizou" os seus filhos, parentes e afins. Aí está toda a diferença.
Mandela
foi tão grande que nunca considerou a democracia e a reconciliação partidária
existente em Angola, ao ponto de nunca ter privatizado os meios de comunicação
social públicos, ou adquirido e amordaçado tudo o resto, para limitar as liberdades
de imprensa e de expressão do país. Ele institucionalizou o contraditório na
comunicação social, deu independência aos tribunais e valorizou o poder
legislativo. Por cá (Angola), quem não diz "amém" às "ordens
superiores" e tudo que gravita em torno de um "poder de sangue",
tal como os diamantes de sangue de Savimbi, no tempo da guerra, pode em
qualquer esquina ver um "rio Dande" com um jacaré/Sinse, pronto,
partidariamente, a o degolar.
A rádio Despertar e o F8 são, por pensarem diferente, considerados "inimigos públicos" do regime, na benevolente e parcial visão do burgau político do MPLA e, coincidentemente, só mera coincidência de Celso Malavaloneke do Semanário Angolense.
Da nossa parte, agradecemos ele ter reconhecido que só nos ajoelhamos perante Deus e nunca perante os homens, por mais sanguinários que sejam enquanto algozes.
A verdade é que os dirigentes angolanos não conseguiram fazer um projecto país, nem terão doravante humildade para tal, pois adoptaram uma língua estrangeira como oficial: o português, falada apenas por 25% dos angolanos, transformaram a terra em propriedade exclusiva do Estado, igual a versão dos colonialistas, sendo esta a imagem do MPLA/JES, que fez da maior parte do país, para não dizer todo, uma propriedade privada dos senhores do poder, escorraçando com extrema violência os angolanos pobres para a periferia, bastando para isso eles pretenderem ficar com as suas terras, à boa maneira colonial. Lembram-se da música de Santocas? Hoje quem escorraça os angolanos como se fossem bois é o MPLA, violando assim o seu próprio programa….
Por tudo isso e mais alguma coisa, os actuais dirigentes angolanos no poder, estão longe, muito longe de Mandela, que foi maior neste campo, pois na constituição sul-africana se partilham várias línguas oficiais e a terra é do povo, para além de nunca ter perseguido "ferozmente" nenhum adversário, recorrendo à bênção duma justiça e de uma Polícia partidarizadas e filiadas no MPLA, tão pouco colocou no desemprego ou assassinou quem pensasse diferente, defendendo sempre a noção de o seu país precisar de todos para a grande empreitada de desenvolver e reconciliar os que têm muito com os que têm pouco…. Foi ele quem lançou os alicerces, compete aos vivos seguirem os seus ensinamentos para tudo continuar a dar certo.
A nossa Angola não está a ser bem governada e, portanto, está muito mais próxima do que a África do Sul de uma explosão social de larga escala, pese embora a injustiça ainda persistir naquele país, como legado dos longos anos de apartheid declarado.
Não tivemos, o apartheid dirigido por brancos, em Angola, mas, infelizmente, hoje ele foi transferido para as nossas margens de forma refinada. O que mesmo assim não me impede de desejar um próspero e feliz Ano Novo a todos os angolanos sem excepção, na esperança de um dia o País vir a mudar de dirigentes e políticas.
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