Creio que a
ministra da Cultura confundiu combate às seitas religiosas com combate a uma
das religiões dos Livros, como são consideradas as três religiões mestras não
asiáticas, referidas nos dois "livros sagrados", a Bíblia e o
Alcorão, sustentáculos do Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.
O que ela
não se farta de explicar é que, na sua opinião, a proliferação das seitas é
terrivelmente nociva ao acervo cultural de Angola, perturba a vida dos
angolanos e desvia-os dos seus usos e costumes, numa palavra, não se coaduna
com a sua maneira de ser nem de estar na vida. Entretanto, fica-se sem saber a
que tipo de angolanos é que a Dr.ª Rosa Cruz e Silva se refere. Temos que
receber da sua lavra, escrita ou falada, uma boa explicação, pois não estamos
em crer que o seu raciocínio seja o de uma intelectual, nos parecendo ele ser
muito mais o de uma integrista que se está a aventurar numa cruzada anti-Islão,
contrariando assim a liberdade de religião consagrada na Constituição. Além
disso, a sua explicação referente às seitas a propósito da incompatibilidade
entre elas e as características dos angolanos, peca por ser tendenciosa.
Porque, das duas uma, ou ela se refere aos bantus animistas, ou aos que
abraçaram o cristianismo e as suas mais de mil variantes que oficiam em Angola.
Se ela se refere aos animistas, muito mais do que o Islão, que permite a
poligamia, veio a religião católica perturbar profundamente os seus acervos,
cultural e religioso; se, pelo contrário, ela se refere aos bantus cristãos,
então aí trata-se realmente daquilo a que já aludimos, Rosa Cruz e Silva partiu
para uma cruzada anti-islamismo. Desejamos-lhe boa viagem e uma boa saída
(provavelmente a correr) da salgalhada em que se vai meter.
In António
Setas
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