Caros Amigos/as,
Para os efeitos achados (in)convenientes
tenho o prazer de levar ao vosso conhecimento o texto da intervenção que hoje
fiz na Conferência Internacional "Interfaces da Lusofonia", que teve
lugar na Universidade do Minho, Braga, Portugal.
Grato,
Boa
tarde meus senhores e minhas senhoras.
Permitam-me
uma saudação especial a todos, com destaque para os companheiros presentes aqui
na mesa, bem como um caloroso agradecimento e saudação à Universidade do Minho,
na pessoa de Lurdes Macedo, por esta nobre iniciativa.
A
minha experiência no meu blogue revela que foi um, embora salutar, exercício de
suicídio. Tratando sobretudo mas não só do que se passa em Portugal, país de
acolhimento, e em Angola, país natal, estive sempre no fio da navalha. E foi
por isso que vezes sem conta fui apunhalado, quase sempre pelas costas.
Desde
2006 publiquei mais de 5.300 textos num blogue que, desde nascença, adoptou
como diapasão as teses de que o poder das ideias tem de estar acima das ideias
de poder, isto porque não se é Jornalista seis ou sete horas por dia a uns tantos
euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado e, ainda,
a apologia de que a força da razão vale mais do que a razão da força.
A
esta ideia suicida juntei a estrita obrigação de me apresentar desde a primeira
hora com nome, rosto, e identificação.
Então
sabia ao que ia, perguntar-me-ão?
Sabia
sim senhor. Sabia que tanto em Portugal como em Angola, mas não só, os donos do
poder preferem ser mortos pelo elogio do que salvos pela crítica. Sabia que
estava rodeado de gente esperta que, como tal, está sempre na primeira fila
para ser vista. Tal como sabia que os inteligentes estavam sempre na última,
para verem.
No
primeiro texto publicado, em 29 de Agosto de 2006, escrevi que o blogue era só
mais uma das facetas da aventura de acreditar que as palavras voam, mas que os
escritos são eternos. Tão eternos quanto o engenho e a arte de quem entende que
dizer o que pensa ser a verdade é uma das qualidades mais sagradas. Escrevi
também que não era uma missão impossível, acrescentando que, mesmo que assim
fosse, estaria na primeira linha porque, de facto, o possível faço eu todos os
dias.
Como
não escolhi o anonimato ou o pseudónimo, estratégia seguida por muitos dos
arautos flutuantes que proliferam pela Lusofonia, tornei-me um alvo fácil. Como
comecei a publicar no blogue o que não me deixavam publicar no jornal em que
trabalhei 18 anos (o Jornal de Notícias), tornou-se visível que teria de ser
abatido. E assim aconteceu, cerca de três anos depois.
Fui
abatido mas não fui derrotado porque, como sempre me disse o jornalista William
Tonet, director do único jornal angolano independente, o Folha 8, só seria
derrotado se deixasse de lutar. Não deixei de lutar mas, reconheço, estive
muito perto disso. Não por ter sido obrigado a aprender a viver sem comer, mas
por ver a família na mesma situação.
No
meu blogue, onde mais poderia ser?, defendi que se não fosse possível deixar às
gerações vindouras algum património, ao menos os Jornalistas deveriam lutar para
lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e
cobardia, visível quando a subserviência substitui a competência.
Aprendi,
e já lá vão 40 anos, que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é
a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha,
inveja e incompetência.
Também
aprendi que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos
problemas que o rodeiam, é, com certeza, um imbecil. E se o Jornalista consegue
saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.
Por
outras palavras, os jornalistas deixaram de ter a sua própria personalidade profissional,
travestindo-se de acordo com a verdade absoluta que, tanto quanto parece, é
genética em alguns.
Aliás,
não deve haver na história de Imprensa mundial melhores jornalistas
especializados no que os outros (sobretudo os outros do lado de dentro a mando
dos do lado de fora) querem que eles digam, do que os portugueses.
Acresce,
para mal dos meus pecados (digo eu), que a precariedade profissional de muitos
os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este
para contar até 12 tem de se descalçar).
Ao
contrário, pudera!, do que acontece no meu blogue, em nenhum outro lugar me foi
permito escrever que José Sócrates e Passos Coelho são farinha do mesmo saco.
Em nenhum outro sítio consegui escrever, neste caso com a excepção do Folha 8,
que José Eduardo dos Santos é, para além de um ditador, um dos políticos mais
corruptos do mundo.
Com
este enquadramento era óbvio que, em Portugal, os donos dos jornalistas, a
mando dos donos dos donos, consideravam que o preço que eu deveria pagar era o
desemprego… para sempre. E se bem o pensaram, melhor o executaram. Por outro
lado, em Angola, consideraram – como ainda consideram – que um jornalista bom é
um jornalista morto.
Curiosamente,
embora sofrendo ameaças de todo o género, importa distinguir que, por regra, os
sipaios portugueses atiram a pedra e escondem a pata, ao contrário dos de
Angola que – sabedores da impunidade de que gozam tanto em Luanda como em Lisboa
– não têm dificuldade em mostrar-se.
Por
suposto abuso da liberdade de imprensa por textos publicados no Alto Hama tive
de me defender judicialmente de duas queixas, sendo que em ambas se provou que
eu tinha razão. Foram as duas movidas por supostos jornalistas. José Meireles,
delegado da Lusa em Timor-Leste, e Artur Queiroz que presta serviços no órgão
oficial do regime, o Jornal de Angola.
Também
escrever que a CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa, é um elefante
branco é meio caminho andado para o cadafalso. Mas, para mim, a dita CPLP é uma
treta, e a Lusofonia é uma miragem de meia dúzia de sonhadores. O melhor é
mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos
pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.
E
quando se tiver coragem para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma
comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com
aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.
É
claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados
com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro,
morrem em... português... o que, se calhar, significa um êxito para a CPLP.
O
moçambicano Tomaz Salomão, secretário executivo da SADC (Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral), foi quem melhor definiu a realidade
africana, definição essa que também se aplica à CPLP. Quando confrontado com a
presença de muitos regimes ditatoriais disse: "São ditadores, mas pronto,
paciência... são as pessoas que estão lá. E os critérios da liderança da
organização não obrigam à realização de eleições democráticas”.
Por
último, agradecendo a vossa paciência, deixem-me explicar que apesar de todo
este cenário negro, tem valido a pena pensar pela minha cabeça e não aceitar
uma coluna vertebral amovível. E tem
valido porque, afinal, estou apenas a cumprir a missão de dar voz a quem a não
tem, a missão de lutar contra os poucos que têm milhões e que se esquecem dos
milhões que têm pouco… ou nada.
Muito
obrigado.
Orlando
Castro
Jornalista (CP 925)
A força da razão acima da razão da força
http://www.altohama.blogspot.com
http://www.artoliterama.blogspot.com
Jornalista (CP 925)
A força da razão acima da razão da força
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