Não há nada mais estúpido na vida que culpar sempre os outros pelos
nossos fracassos e pelas nossas incompetências; nada mais idiota, ridículo e
macabro que ver no clamor dos outros o fim, transformado em desgraça, que não
evitamos como consequência das nossas inaptidões.
Nelo de Carvalho*
Acusar a oposição de invadir um quartel das Forças Armadas Nacional, ou
influenciar numa rebelião de revoltosos que há mais de dois anos não recebem
seus salários, é desespero de um governo que sempre teve como agraciamento a
burrice do próprio povo que governa ou então do humilde cidadão. É a burrice de
quem se diz que tem em sua volta milhões de simpatizantes para corroborar tudo
o que tem feito, quando na verdade o tudo tem despencado em direção ao inferno
e à decadência.
É por isso, e outras coisas mais, incluindo a quantidade de substantivos
abstratos referenciado no parágrafo anterior, que urge a necessidade de se dar
um basta a tudo isso que vemos por aí: difamações, culpas, arrogâncias e
mentiras. Em que os acusados estão sempre na mesma direção. A pergunta é a
seguinte: se reservistas ou desmobilizados do exército estão há mais de dois
anos sem receber seus vencimentos e/ou salários, de quem poderá ser a culpa de
tais falhas? Por que é que o MPLA vive de presunção absoluta? Acreditando que
tudo que acontece com o mesmo merece absolvição incondicional. Quem é – e onde
está escrito- que pelo fato de serem os guerrilheiros do MPLA os libertadores
do país, isso dá a eles uma espécie de direitos absoluto sobre tudo que há por
de baixo dos céus de Angola?
Essa presunção -indiscriminada e abusiva- chega a ser uma falta de
caráter de quem não sabe fazer política e habituou-se a todos os mimos na Arena
Nacional. É além de tudo prova de que as coisas não andam bem. E, por isso, a
culpa é de quem governa, é de quem diz -de maneira cínica, desrespeitosa e não
convincente- que tudo faz para melhorar a situação da população. A culpa não
pode ser de quem reclama, crítica ou, ainda, de quem por direito de
legitimidade tem direito a vigiar. Vigiar e controlar os atos do executivo é
função da oposição e de quem estiver disposto para dedicar-se a tal empreitada.
Um governo que historicamente ao se revelar incompetente tinha e tem
como melhor estratégia de governação “ jogar tudo debaixo do tapete”, em que os
resultados daquela estratégia sempre tiveram como objetivo único inocentar o
chefe de tudo; e culpar ou vitimar até mesmo pessoas inocentes em nome de se
salvar uma transparência; a transparência de quem sempre foi inepto e
inqualificável para ser líder ou dirigente político; que, na verdade, chegou
onde chegou por força do destino e de toda sorte do que por desempenho
intelectual e destaque pela sua capacidade de criação política. Esse governo
não tem direito de apontar inimigos, de desqualificar quem quer que seja,
tergiversar fatos; porque as vítimas da desgovernanção e da má administração
somos nós os governados.
José Eduardo dos Santos, além de uma farsa, retrata o fracasso de um
povo, a derrota de uma nação diante do que se propôs e nunca alcançou: saúde,
educação, emprego, direito a viver em suas terras sem serem considerados
cidadãos de segunda categoria. E enquanto insistirem no sujeito, inútil, não
haverá possível vitória. Uma coisa é o MPLA vencer diante de suas
incompetências, a outra, é o povo Angolano sair vitorioso diante do que se
propôs neste últimos trinta e cinco anos. Sabe-se que o MPLA tem vencido até
diante daquela (a incompetência). E o povo? O povo angolano é o único derrotado
diante das inépcias dos dirigentes do MPLA ou da direção magnanime e
clarividente que esse partido gaba-se de ter.
Todos os momentos são momentos possíveis e adequados para se mudarem os
destino desse país e se produzirem transformações necessárias. Até o dia 31 de
agosto que aí vem pode ser um deles. É por isso que agora a quadrilha está
preocupada. E vive acusando seus opositores e “disparando por todas as
direções”. Vivem chamando de traidor quem no passado os apoio e agora não se
convencem mais com suas falcatruas.
Ora vejamos, elementos das Forças Armadas ficam até dois anos sem
receberem os seus vencimentos e salários, e ainda fazem acreditar a população
que tudo isso é um complot de quem está na oposição. Que o mor chefe, o capitão
da nau corrupta e cheio de bandidos, nada tem haver com isso. Só faltou mesmo,
entre todos os culpados, culparem a minha avó ou mamãe, que todos os dias de
manhã precisava e , talvez, ainda “precise” de se levantar cedo para ir à praça
fazer os seus negócios e quitandas. Só vai faltar, incluindo nessas, culpar as
kínguilas (as mulheres das vítimas) vítimas indiscutíveis desse sistema
corrupto, que dá preferência as namoradas misseis, amantes concubinas na
condição de prostitutas protagonizadoras da poligamia.
Num pais onde todo mundo é responsável pelos seus atos, e até pelos atos
imundos de um governo boçal que só sabe procurar culpados além dos seus atos,
faz-se tudo para se proteger e inocentar o chefe de uma seita. O pais inteiro,
numa posição de inercia e de incapacidade de enxergar aonde está e vem o mal de
todas as coisas, prefere sair, como sempre, caçar as “bruxas” como vítimas.
Angola é um país de zumbis, uma nação neutralizada pelos vampiros chupa sangue,
que têm, agora, e sempre, a capacidade de renascerem dos males que esses mesmos
vampiros têm produzido a nação.
Não adianta mais acreditar num processo eleitoral justo e humano, em que
as pessoas não são enganadas, um processo em que as pessoas só precisam votar –
de preferência de forma direcionada, bitolada e todas elas enganadas, é uma
espécie de estupro mental, em que a vítima não tem condições nunca de se
defender- e quando tenta ainda por cima é constrangida. Assim é o MPLA com todo
povo –de Cabinda ao Cunene-; assim é o MPLA com os seus “inimigos”; assim é o
MPLA com o cidadão comum e o pacato cidadão.
Diante de tudo isso – pelo menos para esse formador de opinião-,
precisamos entender que as próximas eleições não serão mais as eleições em que
o cidadão precisará se definir ideológica ou mesmo politicamente. O MPLA foi
vencido por todas as ideologias, sucumbiu diante delas. A prova é a adesão
desse partido aos estilos e vícios burgueses de governança que em nada retratam
as necessidades dos angolanos em geral. A prova é a existência de um Estado
idealizado pelos corruptos e os criminosos que militam nesse partido – com a
fachada de defenderem interesses nacionais- virados a defenderem interesses
grupais.
As próximas eleições não podem ser vistas como as eleições do medo e da
chantagem; não podem ser as eleições do cidadão revolucionário e do cidadão
reacionário; ou, ainda -como sempre nos habituaram-, como quem é do MPLA e quem
não é. É preciso deixar todo simbolismo de lado e clamar pela angolanidade.
Angolanidade aqui significa sermos pragmáticos diante dos problemas que
atravessam o país. Esta angolanidade consiste na não diabolização do próximo
que está vivo e diante de nós lutando pela mesma coisa. E quando digo os vivos,
estou querendo ser explícito, dizendo: que Savimbi já morreu, Agostinho Neto já
morreu e idem o velho Holdem Roberto. Mas nós, milhões de Angolanos, estamos
vivemos e não queremos e nem merecemos viver só de simbolismo. Queremos mais do
que isso: educação para os nossos filhos, saúde para as nossas mulheres e
crianças e fazer com que os nossos olhos enxerguem as mesmas criaturas com
alegria em vez de tristeza.
A luta pela mesma coisa não será possível se não tivermos em Angola
poderes equilibrados e representativos para todas as forças políticas. A paz e
a boa convivência entre os Angolanos passa por esse equilíbrio. Em que o MPLA
não precisa mais ser visto como o dono do poder, ser onipresente e onipotente
nos poderes que formam e pertencem a República de Angola. Por isso, chegou a
hora não só de vencer a corrupção, mas de vencer também o próprio MPLA e todas
as suas falcatruas e a direção que esse partido diz ter como exemplo.
O MPLA pode e tem direito de sobreviver, mas para isso precisa
reconhecer que está atolado num lamaçal chamado José Eduardo dos Santos. Esse e
todos os confrades da seita é e são os que deveram ser as vítimas das próximas
eleições. O Povo angolano não tem porque se sentir culpado em penalizar o MPLA.
Hoje penalizar esse partido é penalizar os corruptos e salvar os Estado da
inercia viciosa em que foi levado pelo Presidente da República. É, sim, salvar
a nação das ambições pessoais, das vaidades, do orgulho individual de certos
indivíduos.
Quem merece a vitória final é o Povo e não o MPLA. Se o MPLA não se dá o
trabalho de rejeitar os corruptos do seu seio, então, o povo tem obrigação
moral e política de rejeitar o MPLA.