quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A República dos cem mil dólares. Gil Gonçalves


Até o fúnji me rapinaram

Sou corrupto!
Eis a pátria edificada
cercada, electrificada, armada, sem luar
Ai! Esta Luanda espectacular
de milhões de espoliados
em prisão domiciliar

Sou corrupto!
Gloriosa, eterna e abençoada ditadura cujo povo
jaz analfabeto.
A independência ainda não chegou
quem a usurpou?!
Um punhado
de punhais traiçoeiros/negreiros
vendida aos estrangeiros por alguns dinheiros

E quem isto denunciar
cem mil dólares terá que pagar
Ou um ano de prisão vai apanhar
E têm cães Pitbull
que comem crianças
como manjar

Sou corrupto!
Já não nos sobra um pedaço da nossa terra
A independência da corrupção chegou
mas ainda não terminou
Nem nas ruas nos podemos movimentar
porque um segurança nos vai
interpelar e ameaçar
Estou na miséria, sem país
sem saber o que fiz
Roubar alguma coisa do petróleo
que me também espoliaram
Sou mesmo um zero
Electricidade, água, casa, saúde, emprego
só para quem comprou Angola
mais os estrangeiros que nos governam
E ainda fingem eleições que já sabemos
são fraudes eleitorais que de antemão
já vencemos

E quem isto denunciar
cem mil dólares terá que pagar
Ou um ano de prisão vai apanhar
E têm cães Pitbull
que comem crianças
como manjar

Sou corrupto!
Até a banana, a jinguba, a jimboa
o fúnji me rapinaram
Eles roubam-me, não são gatunos?!
E eu quando roubo
atiram-me a matar!

Eles libertaram tudo mas esqueceram-se
de libertar o povo
Que se manifesta e denuncia
a corrupção
Eles têm bancos brancos
que nos espoliam, nos matam!
E a barragem de Kapanda não tem capacidade suficiente
para abastecer Luanda
mas potência não lhe falta
para abastecer a corrupção
Não se prende ninguém
enquanto a junta militar
nos escravizar
A água está também a minguar
e vai acabar, faltar
O momento final aproxima-se
o desabar
O clamor do povo
está no ar

Sou corrupto

E quem isto denunciar
cem mil dólares terá que pagar
Ou um ano de prisão vai apanhar
E têm cães Pitbull
que comem crianças
como manjar



4 comentários:

  1. "Mata-se o homem, mas nunca as suas ideias". Mais do que bem dito!

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  2. É importante ressaltar que os grandes homens nunca morrem, mais sim prevalecem no tempo.

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  3. A Arvore só morre quando cortada pela raiz, acontece que William Tonet é apenas um ramo da arvore da revolução, crescerão outros. Por isso, deixe o homem em Paz.

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  4. Frei Luzolo Lua Nzambi2 de novembro de 2011 às 17:11

    Paz e bem, prezado irmão William Tonet

    Os meus sinceros votos de saúde e felicidades. O parabenizo pela sua obra prima e poesia.
    Sua poesia será arquivado nos meus textos escolhidos.
    Sua poesia e serviço jornalístico descrevem as coisas que acontecem em Angola.
    Estou de acordo com os seus pensamentos e as causas que tem defendido, elas retratam o que povo vive e sente na pele ou no quotidiano. O senhor advogado dos pobres, irmão William, tem emprestado sua voz para quem nunca teve voz e vez em Angola. Quero incentivá-lo a continuar a exercer sua missão nobre em educar, informar e formar para um despertar das consciências.
    Bem disse na sua poesia: "libertou-se Angola mas esqueceu algo mais importante que consiste em dar liberdade ao povo". Não vender Angola...
    Seria bom que tivéssemos mais vozes que se pronunciassem em prol da luta do povo. Menos omissos e menos bajuladores.
    Tem defendido a ideia segundo a qual, que as igrejas cristãs devem estar na linha de frente para defender os mais humildes e humilhados de Angola.

    Frei Luzolo Lua Nzambi.

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