quinta-feira, 19 de maio de 2011

A pasmaceira do Panguila


Dissemos mesmo antes de se ter dado início à extinção do Roque Santeiro que, pelo andar da carruagem ÉME”, cada vez mais atávica, dentro de breve trecho iria começar em Angola uma caça às bruxas, Depois disso, constatamos que não havia engano nas nossas predições, pois já se constataram, entre outros excessos, algumas sangrentas e/ou violentas investidas dos militantes e simpatizantes extremistas do MPLA contra “inimigos da Pátria” (qual Pátria?), de par com toda uma série de crimes destinados a fruir nas calmas de uma impunidade vergonhosa.
Mas, além dessas tristes demonstrações de intolerância e violência primárias, a verdade é que as pessoas que foram recambiadas do mercado do Roque Santeiro para o Panguila estão a sofrer as consequências de mais uma decisão tomada em função de imperativos de investimentos imobiliários, formulada na urgência das exigências dos investidores, em cima do joelho, e executada a toque de caixa.
A situação dos mercadores que aceitaram partir com as suas biquatas para o mercado do Panguila está piorando de dia para dia, pelo que nos foi informado recentemente. Os comerciantes não têm clientes, porque estes não estão para perder quase duas horas no caminho para lá ir compra batatas e cebola e quanto ao resto é o mesmo: um deserto angustiante perante a necessidade de ganhar algum para pôr uma panela ao lume com comida lá dentro. A marcha dos negócios está a frisar uma bancarrota quase geral. Por exemplo, o negócio de roupa de 20 mil por dia para 3 mil; os roboteiros que faziam mais de 2 mil por dia, agora não fazem nem mil; há mais de 100 bancadas vazias porque muitas delas foram abandonadas; os pavilhões de venda de carne estão vazios porque os vendedores abandonaram os locais que tinham alugado. E isto porquê? Porquê!!?... lá temos nós que “voltar à vaca fria”: a urgência dos investidores, senhor. A urgência da ganância! O Panguila abriu portas a mercadores, mas a estrada da vila do Cacuaco ao Panguila ainda estava péssima. Deviam ter feito primeiro a estrada e só depois abrir o mercado, não fizeram ao contrário. E, repetimos, para ir da cidade ao mercado são mais de duas horas. Vá lá você se tiver tempo.

O Pregador da fome (1)


Gil Gonçalves
No marxismo-leninismo tínhamos muito dinheiro mas, não havia nada para comprar. Agora, neste capitalismo selvagem há de tudo mas, não temos dinheiro para gastar.
Importar é necessário, fabricar não é necessário.
Vários conselhos para não morrermos à fome
Inclina-te quando entrares na casa dos novos-ricos, não fales nada contra, pode ser que te dêem alguma coisa para comer. Guarda sempre silêncio e não te apresses com a tua língua. Sejam sempre poucas as tuas palavras. Porque eles já conseguiram corromper os céus, e na terra onde estás não te resta nada. Consideram que os esfomeados sonham sempre com comida. Quando fizeres algum voto aos novos-ricos não tardes em cumpri-lo, porque senão nem um grão de arroz conseguirás. Promete que nas eleições votas neles. Cumpre a tua promessa. Assim conseguirás um pouco de carne para a tua boca. Evita sonhar alto, porque alguém pode ouvir. Aprende a temê-los. Sabes que nas províncias também há muita fome, mas não te maravilhes com isso. Os que nos governam estão atentos, e a curto, médio e longo prazo a fome aumentará. O proveito da terra e dos casebres é para eles. Só o rei se serve do campo. Amam muito o dinheiro e não se fartam dele. Quanto mais abunda mais o desejam.
É só neles que o dinheiro se multiplica, quanto mais têm, mais comem. O esfomeado dorme em qualquer lado. Os novos-ricos não conseguem dormir porque estão sempre com medo de serem assaltados. As riquezas guardam-nas e não as investem. E ainda reclamam por investimento estrangeiro. Quando apanharem definitivamente o petróleo, nem os nossos ossos se aproveitarão. E as riquezas deles perder-se-ão por causa das suas más aventuras.
A maldade de todas as fomes terrestres
Maldade de maldades! Diz o pregador, maldade de maldades! É tudo maldade. Que vantagem tem o esfomeado, depois do trabalho que fez e não recebe o seu salário? Uma geração de esfomeados perece, e outra, e mais outra, e ainda outra geração perecerá à fome; mas as terras dos especuladores enriquecem-nos cada vez mais. E nasce o petróleo, e põe-se o petróleo, renasce e volta sempre para o mesmo dono. A fome vai sempre para o Sul, é fingida no Norte. Continuamente vai girando a fome, e os seus círculos alargam-se e apertam e a fome volta sempre cada vez mais rápida. Todos os esfomeados vão para o mar e contudo ele não se enche; então para onde é que eles vão? Sempre para o mesmo sítio. São tantos os esfomeados que ninguém os consegue contar: os olhos e os ouvidos dos novos-ricos fartaram-se deles. Dizem que sempre foi assim, mas agora é demais. O que antes fizemos, tornaremos a fazer: de modo que lhes faremos ainda mais fome. Isto não é nada novo: mas isto é novo? Não! Já antes foi, agora são coisas do demo. Parece que ninguém já se lembra. Alguém não quer ter lembrança. Nos tempos próximos, quando todos morrerem à fome, ninguém se lembrará. E fiz com que a minha mente maldosa aumentasse o caudal de esfomeados. Que existem em cima e debaixo da terra. A ocupação da fome foi dada por mim aos filhos dos esfomeados, para receberem os primeiros ensinamentos. Atentei para todas as obras que os esfomeados fizeram sem receberem um salário digno. E eis que tudo era magnanimidade. O que nasce esfomeado, sempre assim permanecerá. Não havendo nada para comer, facilmente faremos cálculos. Falei para a minha mente maldosa. Eis que enriqueci com a fome que provoquei. Sou o mais maldoso, o mais rico, e nenhum houve antes de mim. E contemplei com grande contentamento os estragos que causei. E apliquei a minha mente maldosa a conhecer as loucuras que ainda farei. E vim a saber que existe tal infinidade delas, que a todas utilizarei. Quanto mais sofrimento provocar mais me exaltarão. Porque na minha maldade nunca há cansaço. E o que aumenta em fome, não aumentará em trabalho.
Os prazeres e as riquezas dão imensa felicidade aos maldosos
Disse eu na minha maldade. Vem, que eu te provarei com a tristeza. Portanto, goza a minha maldade. É tudo de má vontade. Do faminto disse: está com fome; de que serve a alegria a quem não tem nada para comer? Busquei na minha maldade como o meu cérebro ficaria depois de uma grande enxurrada de vinho. E vi nisso grande sabedoria e grande elogio à loucura. Achei que era o melhor para os esfomeados. Para todos os dias da sua vida. Obriguei todos os esfomeados a trabalharem para mim. E obtive grandes riquezas. Construí casas e obras magníficas. Atiro os restos da minha comida para o lixo, jamais a darei aos pobres esfomeados. Os famintos recolhem-na, festejam-na como um grande banquete e ainda agradecem. Queriam fazer uma grandiosa manifestação porque não lhes pago. Mandei a polícia em cima deles e depois obriguei-os a construírem jardins milionários e a plantar árvores de fruta. Não tinham direito a nada. Apenas um, a fome! Temos muita água. Incompreensivelmente escasseia. Como os esfomeados queriam destruir o que construí, enviei-lhes a polícia de choque e muita pancadaria levaram, e mais castigo lhes dei. Construíram grandes tanques de água para regar as minhas fazendas. Com tão grande exército de esfomeados, não me foi difícil contratar escravos e escravas, pois que os há em abundância. Nasceram muitos e muitas que aproveitei para tomarem conta das vacas, bois e ovelhas que já lhes tinha perdido a conta. Nunca ninguém ousou ser tão rico como eu. Depositei nos bancos estrangeiros o petróleo, diamantes e as jóias das províncias. Mandei vir cantores e cantoras forasteiros pagos a peso de petróleo para deliciarem os meus ouvidos. E fiquei muito poderoso e aumentei cada vez mais a minha riqueza. Teimei em manter a minha maldade. E tudo quanto quis consegui. Não privei a minha alma maldosa de trabalhos demoníacos. E esta foi a minha maior alegria. E olhei para todas as más obras que fiz na minha vida. E tudo era maldade e grande malvadez de espírito. E vi que havia grande proveito para os que me rodeavam. Então passei à contemplação da maldade. Segui e imitei todos os outros antes de mim. Farei pior que eles. E isso deu-me um grande prazer. Então vi que a maldade nos governa. Isto é mais excelente que as trevas.
Os olhos do maldoso estão em todo o lado. As trevas dos loucos são a sua companhia. Pelo que, disse no meu coração diabólico. Porque procurei mais a maldade? Então disse sem coração, que também isto não é novidade. Porque sempre haverá mais lembrança do maldoso, que se sente feliz em ver os que governa a morrerem à fome. E no futuro total esquecimento haverá dos que não têm nada para comer. Pelo que abençoei esta vida e tudo o que roubei. E vi que isto não me deu trabalho nenhum. Porque nunca fiz nada de útil. Senti-me muito alegre ao saber que depois de mim não deixarei nada. Destruirei tudo para que os meus seguidores não gozem o que me pertenceu. Quem sabe se ele é um daqueles pobres idiotas bondosos que não gosta de riqueza? Depois vai distribui-la?! Isto é que é grande maldade. Olhei para a maldade do meu coração e ele disse-me: não dês essa esperança a alguém que vai ficar com os teus bens, em que não trabalhaste debaixo do solo. Porque um maldoso trabalha sem sabedoria e ciência. Também isto não é contrariedade. Porque, que restará a um homem que trabalhou honestamente durante a sua vida? E haverá alguma grande fortuna que foi ganha honestamente? Exceptuando as lotarias e quejandos claro! Porque todos os dias, os que roubam os miseráveis esfomeados, os seus corações não descansam. Não dormem, permanecem ocupados onde farão o próximo roubo. Também isto não é novidade. Não é mau para o homem que come e bebe, e que goze a sua alma do mau trabalho que fez!?. Isto vem da mão do MPLA. Quem pode comer ou gozar melhor do que eu? Quem quiser comer que roube. Porém a polícia está à espreita para disparar, porque quem tem fome, não tem direito a comer. Porque ao homem que é mau, dá o MPLA maldade. Ao faminto dá-lhe o trabalho de procurar comida nos caixotes do lixo. E espera que ele amontoe e armazene para depois lhe tirar. Também isto é eternidade.
A abóbora cresce rápido mas apodrece depressa.
Há, para todas as coisas da fome, um tempo imanente
Toda a fome tem o seu tempo permanente, e há sempre tempo para isso. Há tempo para nascer, crescer, viver e morrer à fome. Nunca há tempo para arrancar o que a fome plantou. Nunca há tempo para curar e derribar a fome. O tempo sobra para edificá-la. Tempo de chorar e tempo de não rir, nunca faltam. Não há forças para prantear nem para se soltar. Tempo para abraçar e comer pedradas. Não há nada para guardar, logo, não há nada para deitar fora. Tempo para ficar calado a observar a fome. Falar já não adianta. Tempo para amar a fome, nossa fiel companheira. Não havendo trabalho para ninguém, e quando aparece, não há vantagem nenhuma em trabalhar, porque nunca nos pagam. Tenho visto o trabalho que não nos dão, e isso aflige-nos. Prometeram-nos que seria tudo formoso. Mas como não tem coração, deram-nos um deserto de promessas.
Eles alegram-se fazendo-nos tristes. E que só eles comam e bebam, e gozem o que nos pertence. Eu sei que tudo que eles fazem é para a sua eternidade, e nada se lhes pode tirar. Guardamos temor diante deles. Tudo já foi e continuará a ser deles. Mesmo assim ainda nos pedem contas. A justiça é para eles a injustiça é para nós. Eu disse no meu coração maldoso: julgarei os pobres e famintos em todo o tempo das suas vidas. O justo será perseguido dia e noite. Disse eu na minha maldade: é por causa dos filhos dos esfomeados que se portam como animais, que não existe tranquilidade nas ruas. Porque o que sucede aos filhos da fome, também sucede aos filhos dos animais. Como morre um assim morre o outro, e a vantagem sobre os animais não é nenhuma. Também isto é de grande utilidade. Todos ficam no mesmo lugar à espera da comida. A apanhar pó. De tanto esperar, cansar, comem a poeira das agora desordenadas construções dos espoliados casebres. Ficam sem fôlego. Nem para baixo nem para cima. E os maldosos ficam muito alegres com as suas obras. Depois dividem entre si as comissões.
Os males e as tribulações da fome
Depois voltei-me e vi as opressões que fiz. Vi as lágrimas dos oprimidos pela fome e ninguém que os escutasse. Vi os opressores consolados, e os esperados, desesperados pela fome sem nenhuma consolação. Pelo que, louvei aqueles que contribuíram para o aumento do exército dos esfomeados. Que ninguém se atreva a pedir-nos contas pelas más obras que fizemos. E que alguém pretenda igualar-nos, não passa de um reles invejoso. Os esfomeados não passam de tolos. Porque não se alimentam do que resta da sua carne? Andam sempre de mãos vazias, cheias de aflições. Outra vez me voltei, e vi a irmandade da fome. Não roubam sós, roubam em equipa. Não se fartam de riquezas. Quanto mais tem, mais querem. De modo que não sobra nada para ninguém.
Melhor é um que dois a roubarem. Um fica com tudo, mas o outro apanha uma gasosa. Se um cair o outro fica contente, porque aumentará a sua renda. Se dormirem juntos, desconfiam-se. Porque tentarão ludibriar-se e por isso não conseguem dormir. Se alguém tentar prevalecer contra eles, os seguranças estão atentos. O rei velho e no poder insensato nunca dará poder a nenhum mancebo. Porque um sai do cárcere, diz qualquer coisa contra, e volta outra vez para onde saiu. Nunca nenhum mancebo ocupará antes da morte o trono do rei insensato. O seu povo está moribundo. Não haverá descendência.
Upanixade@gmail.com

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Federação dos Feiticeiros de Angola 13-01-2011


A Federação dos Feiticeiros de Angola terminou a sua conferencia dia 12 de Janeiro de 2011 à meia-noite. A conferência teve lugar na encruzilhada entre MALANGE e UIJE .Participaram nesta conferência cerca de 2000 feiticeiros de toda Angola. O presidente da organização congratulou-se com a massiva presença de todos os feiticeiros vindos de todas as províncias do país; foram apurados o programa para os próximos cinco anos e também foi enaltecida a situação da sociedade angolana; foram por unanimidade aceites e aplaudidas as linhas mestras para acabar com o clamor que se faz sentir desde há 35 anos a esta data. Os feiticeiros angolanos juraram extirpar o mal da sociedade começando por honrar os planos apurados entre os quais se destaca o plano “DESINFESTAR”(entenda-se: no sentido de acabar com a festa dos pançudos), segundo o qual os feiticeiros estão apostados em usar todos os poderes sobrenaturais que os contemplam nas suas maravilhosas actividades, AFLIGINDO FORTE E DURO, INFESTANDO COM MALES CORPORAIS todos os dirigentes CORRUPTOS. Os feiticeiros juraram fidelidade no cumprimento das suas missões que parecem impossíveis mas não são, para transformar a sociedade angolana numa sociedade digna com LIBERDADE , JUSTIÇA SOCIAL E DEMOCRATICA.
O S/G
Mestre
ZOROASTO

A franqueza de JES


Graças à extraordinária abertura de espírito e grande vontade, serena e determinada, do presidente da República, o povo angolano ficou a saber, enfim, que nem tudo vai bem no “Reino do Ngola”, pelo contrário, o que ele teve a coragem de dizer é que praticamente tudo vai mal! No seu discurso de abertura da primeira reunião do Comité Central de 2011, quase ficamos assustados ao constatar o número de sectores que necessitam de uma reforma, tal como José Eduardo dos Santos orientou como sendo tarefa prioritária para 2011. É que, se partirmos do princípio que as reformas impõem-se quando as coisas não funcionam bem, praticamente nada funciona em Angola
A certa altura do referido discurso o PR disse: «Como prioridade para resolver durante todo o ano de 2011 estão também em carteira as reformas (…)», passamos a citar, do Banco Nacional de Angola e reforço do sistema bancário; das finanças públicas e da legislação sobre o investimento privado; fiscal, em particular e a tributária em geral do Sistema Nacional de Estatística e do Planeamento; do Sistema de Comércio Externo e Interno; do Sector Empresarial Público; Judicial; do Sistema de Defesa e Segurança Nacional Administrativa, do Sistema de Defesa e Segurança Nacional; Administrativa. Sabendo-se que continuam em curso as reformas da Saúde e do Ensino o constato é assustador. A pontos de nos perguntarmos o que é que não necessitou de reforma por ter funcionado mais ou menos bem em 2010. Mas o mais inquietante não é o país (Estado/MPLA) estar a precisar de tantas reformas, o que assusta ainda mais é a cegueira dos nossos governantes. Isto, se levarmos a sério a conclusão fenomenal de JES, que pontuou o seu discurso com a seguinte frase: «Esperamos que o ano de 2011 venha a ampliar e consolidar as conquistas até aqui já alcançada, sempre no sentido do progresso e bem-estar do povo angolano». Incrível!

Os filhos do Papá dya Kota (fIM). António Setas


Nota 4: a bênção das praias.
«No dia que se seguiu às preces todos os mais velhos do Kwanza, o Kilamba-Kiaxi, os dois umbanda, e muitos dos participantes presentes no Kwanza, foram ao Mussulo de visita ao dilombe do nosso Kilamba. O dilombe fica à beira de uma vasta clareira e é protegido por um imbondeiro, desses muito velhos, tão grande que não dá para ver a sombra dos que estão à volta. É a ‘‘casa’’ da kyanda, soba de todas as yanda do Mussulo e de todas as praias, mesmo as do continente, até à ponta da ilha de Luanda. Foi aí, nesse território sagrado, onde não pode entrar homem sem acompanhamento do Kilamba - nem mosquito entra!! É verdade! -, que se reuniram os oficiantes e os devotos, tudo gente muito velha! Durante o dia o Kilamba rezou, e todos ouviram com muita devoção e respeito, mas quando veio a noite chegaram as visitas, habitantes das cercanias e dos acampamentos de pescadores. Quase todos comeram e beberam bem. Os mais jovens cantaram e dançaram até à meia noite. Depois o convívio prosseguiu até de madrugada, quando chegou a hora de todos os visitantes se retirarem. Pela manhã benzeram-se todas as praias que dão peixe. O Kilamba-Kiaxi do Kwanza meteu-se pela contracosta, o do Mussulo seguiu pelo lado das praias da baía, ambos acompanhados por alguns mais velhos. Nas suas rezas do ixi-ni-mavu, como manda a tradição, atirando regularmente moedas e bebidas para o solo. Nessas caminhadas que pareciam não ter fim, encontraram-se duas vezes, primeiro na lagoa do Pinho, zanga rya ponda, mais tarde na zanga rya nzenze. É a maneira tradicional de homenagear as yanda das lagoas do interior do Mussulo. Finda a bênção das lagoas, os Ilamba separaram-se, e reencontraram-se uma última vez no território sagrado de onde tinham partido, a casa do kyanda, Soba de todas as yanda do Mussulo, à beira do dilombe do nosso Kilamba. O ambiente desanuviou-se, e foi festejada a paz reencontrada entre os axiluanda e as yanda.

GLOSSÁRIO

Alambamento - Dote oferecido pelo noivo à família da noiva.
Ambundo - Território extenso à volta do rio Kwanza. Situado entre os territórios Lunda-Tchokwe a Leste, Bakongo a Norte e Ovibundo e Ngangela a Sul. Povo desse território.
Bakongo - Ver Reino do Kongo
Bué - Muito, grande quantidade.
“Calcinhas” - Autóctone assimilado, com costumes portugueses.
Cassule - O mais novo dos filhos de um casal.
Destacado(a) - Agentes, que no comércio do peixe têm acesso directo ao produtor.
Dikoso - Líquido lustral, de purificação, na religião animista.
“Enfeitada” - Diz-se de uma “mesa” na qual o “dono do óbito” depositou uma quantia de dinheiro para relançar o consumo de bebidas.
Ijila - plural de Kijila, que significa interdito.
Ilundu - Espíritos dos antepassados.
Imbanda - Plural de Kimbanda, que designa aquele que cura, ministro do culto dos antepassados.
Jingwinji - Bagre.
Kalemba - Marés violentas com mar muito agitado.
Kaluanda - Natural de Luanda.
Kamba - Amigo, bom camarada.
Kanda - Termo kikongo designando o conjunto dos descendentes de alguém por via matrilinear.
Kazumbi - Alma do outro mundo. Fantasma.
Kikongo - Ver Reino do Nkongo.
Kilamba ( plural, Ilamba) - Intérprete das yanda, aquele que dirige o seu culto. (Òscar Ribas). Exorcista.
Kimbo - Aldeia.
Ki mona mesu - Estórias baseadas em factos reais, mas nas quais se ultrapassam as leis da natureza e se atinge o maravilhoso. Nestas narrativas faz-se muitas vezes alusão à relação entre vivos e mortos, e práticas fetichistas.
Kituta – Génio da naturza (Plural, ituta).
Komba - O varrer das cinzas. «Oito dias decorridos sobre o passamen- to do finado é varrida superficialmente toda a casa do mesmo, e o lixo daí resultante despejado numa encruzilhada, onde é vertido o dikoso - mistura de bebidas - para apagar as cinzas. A acção é repetida, em princípio, oito dias mais tarde»... (Óscar Ribas). Ritual variável.
Kumbu - Dinheiro.
Lumbu - Conjunto dos descendentes de um determinado antepassado por via patrilinear.
Mbanza - Cidade, capital.
Maka - Problema. Assunto litigioso.
Malanjinho - Oriundo de Malanje ou da província de Malanje.
Mesa - Ajuntamento de pessoas ou de vitualhas implicando consumo ritual (Rui D. de Carvalho).
Mujimbo - Boato.
Muadié - Homem, senhor.
Mundongo, Mbundo - Ver Ambundo.
Musseque - Literalmente terra vermelha. Designa os bairros que cresceram à volta da “Baixa” de Luanda, quase todos ocupados por gente muito pobre.
Ndongo - Embarcação estreita e comprida feita de um só pau. Canoa.
Ngola - Rei Mbundo.
Nzambi - Deus banto
Quartel - Sede de um grupo de Carnaval.
“Rei dos peixes” - Kituta oriundo não dos rios, mas do mar.
Reino do Kongo - Vasto território que se estendia muito para além do Norte do rio Zaire, englobando as províncias angolanas de Cabinda, Zaire, Bengo, Uíge e noroeste da Lunda - Norte, até ao norte da província de Luanda, entre o rio Kwango e o mar, essencialmente habitada por povos das etnias kikongo e bakongo.
Sango - Refeição que tem lugar após o funeral.
Solongo - Natural do Soyo.
Uanga - Feitiço.
Umbanda - Arte de praticar a adivinhação e de curar (Óscar Ribas). Aquele ou aquela que a pratica.
Yanda - Plural de Kianda, que designa o Espírito das águas . Vocábulo associado, abusivamente, às sereias.
Ximbicar - Fazer avançar uma embarcação com o auxílio de uma vara (bordão) cuja ponta se apoia nos fundos de pequena profundidade.

Pedido de inserção

Dedicatória:
Às minhas filhas, Lia e Elsa de Lacerda Setas.
Às minhas angolanas, Márcia e Joana.
Às mulheres que amei, a minha mãe....
E a Ruy Duarte de Carvalho, a quem devo todos os dados etnográficos desta narrativa, retirados do seu livro ANA A MANDA OS FILHOS DA REDE.

Na contra capa:
“É verdade que o progresso é uma boa coisa, trouxe-nos o automóvel, a electricidade, essas máquinas todas, a televisão, os computadores, a varinha mágica, em suma, um certo prazer e conforto. Mas também trouxe um afastamento do que realmente somos. É que, com todas essas invenções, fomos levados a olvidar que não passamos de simples animais, racionais, mas animais. E o resultado está aí, numa corrida frenética para a frente, de mãos abertas para o cesto de ovos do progresso, sem olhar a estragos. Chegaram os automóveis, deixámos de dar passeios a pé e mais depressa definhámos; chegou a televisão, deu-nos para passar horas a olhar para ela e esquecemo-nos do jantar, dos filhos, dos parentes e dos amigos, esquecemo-nos de conversar e de conviver; chegou o computador...agora já posso fazer coisas formidáveis é verdade, mas há quem passe não são horas, é o dia inteiro diante do écran. E com a Internet até posso namorar com a Yong Tchi, que é chinesa, mora no Japão e eu nunca vi !... Isso é vida ?!!
Quanto mais vou para velho mais perto me sinto das minhas raízes, ao recordar as lições que me deram os filhos do Papá dya Kota, o tio Mbala, o kota Kiala e os meus pais. E vivo com elas no calor que me vai nos dentros e de que muito me orgulho, sem me preocupar com etiquetas, preconceitos e ritos, mas sentindo-os em mim, não sem um indefinido temor, ao pensar que corro o risco de seguir o caminho das tartarugas gigantes, dos elefantes e das baleias, assim como o de milhares de espécies animais e vegetais ameaçadas, isto sem falar das que já desapareceram da superfície da Terra, no final de contas por obra do progresso. Contudo, sou um homem, e creio que sei pensar e transmitir o que penso. Continuo a ir para o mar e a pescar. Viro-me para o Nucho e vejo-lhe nos olhos o brilho dos meus olhos, que vêem nos dele o brilho que eles tinham outrora, quando eu ia pescar com o tio Mbala. O Nucho será pescador, “akwa zanga” como o pai, mau grado o nosso Bairro dos Imbondeiros ter sido invadido por gente de “fora” e ser hoje um musseque. E os meus filhos, estes e os que vierem, serão nutridos pela mesma seiva da raiz antiga. Religiosa ou profana pouco me importa, o que conta é eles ficarem a saber quem são e de onde vieram. Progresso, computadores e tudo o mais, sim senhor, mas primeiro a cabeça a funcionar para salvar o que ainda há para salvar. A começar pela nossa identidade”.

terça-feira, 17 de maio de 2011

As amigas da Onça


Segundo informações confirmadas pelo reputado e sério jornal francês, “Libération”, parece que se confirma a notícia que dava conta de que Leila Trabesti, esposa do fugitivo chefe de Estado tunisino, Mustapha Abi, roubou (é o termo exacto) 1,5 toneladas de ouro do tesouro nacional da Tunísia nas barbas da segurança de Estado, aproveitando o escasso espaço de tempo entre o refulgir do estatuto do seu esposo e a sua confrangedora retirada do país com o rabo entre as pernas. Mil e quinhentos quilos de ouro, avaliados em mais de 40 milhões de euros, eis o trabalho, limpinho. Dona Simone Gbabgo, num outro registo, organizou um espectáculo, tipo IURD no estádio da Cidadela ou nos Coqueiros,, depois de apelar ao crime contra os apoiantes de Alassane Ouattara e declarar que todos eles eram bandidos (inclusive Ouattara. Quanto a Dona Grace (Disgrace) Mugabe, essa não faz ondas e deixa o seu marido virar-se como puder, aos 80 anos é obra! Só rouba diamantes.. Os benefícios vão para obras da terceira idade, a sua, e para sua exclusiva fruição. Eis em que esquemas morais se baseiam as parceiras dos ditadores novo formato, de quem é grande amigo o nosso pseudo-democrata presidente da República, JES. Não o felicitamos, pois estes comportamentos de mulheres de REIS (é a melhor definição desses Senhores) não abona em nada á criação de um Estado verdadeiramente democrático.

Lição de bom português de Tjipilica


A lição teria sido dada durante um assalto a sua casa. Contam, que certa vez ao chegar a casa, o Dr. Paulo Tjipilica, o nosso querido mas esquecível ex-ministro da Justiça, hoje provedor da mesma, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão já com a mão no saco a levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus estimados patos, gritou-lhe assim: - Oh, bucéfalo anácroto! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. - Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência do que o vulgo denomina por nada. E o ladrão, confuso, pergunta: - Doutor, o que é que eu faço, levo ou deixo os patos?

O Canal 2 fossilizou


Fez na passada terça-feira, dia 25 de Janeiro, 3 anos que a gestão do Canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA) foi formalmente entregue à West Side Investiments a que está associada Welvitcha dos Santos, «Tchizé». Esta companhia sub-contratou nessa altura a Semba Comunicações, fundada por José Avelino Eduardo dos Santos, «Zedú». Um negócio entre familiares. A TPA e a West Side Investment, uniram-se por contrato de gestão válido por dois anos, prorrogáveis e hoje já estamos numa segunda fase, que desmente o projecto inicial. Ao princípio, as alterações incluíam programas produzidos por figuras com passagens pela televisão, tais como, Miguel Neto, «Mizé», Jerónimo Belo, Adão Filipe, um programa, Motor e Motorizadas, Jeff Brown dos SSP, apresentaria um programa juvenil de uma hora e meia (Tchilar), isto sem falar dos programas de Cine TV, Flash, Viagens e o «talk Show», entregue ao humorista Pedro Nzaji. Aplausos. Sim, aplausos, e nós fomos dos primeiros a aplaudir, não a engenhoca que permitiu aos filhos do “Paizinho” de invadir sem pedir licença aos demais angolanos um espaço que é de todos nós, que também sonhamos com a TPA, mas o resultado das mudanças. Gostamos. Hoje, francamente, parece que o Canal 2 foi atacado por uma nova espécie de poliomielite , paralisou

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os filhos do Papá dya Kota (13). António Setas


Mas, voltando à história do rei Nezumba, tínhamo-lo deixado a braços - maneira de falar - com uma grande tristeza, causada pela vergonhosa figura que tinha feito na presença do seu povo, ao ser obrigado a reconhecer que a raiz da nsanda tinha poderes que ele nunca poderia alcançar com a sua, de tamborineiro A boa pergunta que se poderia fazer é a seguinte: Mas como é que ele, ex-príncipe Mukongo e trineto do grande Nezinga, teve a ousadia de renegar a ancestral árvore sagrada, a nsanda, a favor da nsaka dya ntadi, do tamborineiro? Resposta certa a esta questão não existe, mas o próprio nome da árvore que ele passou a adorar quando tomou o poder no Soyo, com a sua partícula ‘‘ntadi’’ que quer dizer dinheiro em língua kikongo, é uma boa pista. Nezumba era de facto sucessor longínquo do grande Nezinga, cuja aura imensa não era alheia à circulação do dinheiro no reino do Kongo; acontece que ele também teve contactos com os mouros e também ficou perturbado com o aparato e as lendas desses ricos homens do Norte de África, ao ponto de ficar obcecado, e daí talvez lhe ter vindo à mente a ideia de considerar o ntadi do domínio religioso. De resto, a sua perturbação mental manifestar-se-ia mais tarde, no trágico fim que teve.
Depois do adivinho Kanzi se ter ido embora, Nezumba decidiu organizar uma grande festa em honra do seu irmão, Yobo dya Mvika, que ele apresentou ao povo Solongo como passando a ser, a partir desse dia, seu sucessor. Espanto!...No final da festa pediu aos seus súbditos que o acompanhassem, como que em peregrinação, ao lugar onde Kanzi ya Pakala tinha cavado o seu primeiro poço graças à raiz da nsanda. Uma vez chegados ao local, o rei fez uma nova surpresa ao povo, meteu-se dentro do poço e anunciou que desejava ser completamente coberto de terra até ficar só com a cabeça de fora. Quando ficou completamente enterrado até ao pescoço, ordenou que de futuro nunca mais se corte a cabeça de ninguém no reino do Soyo. A razão era simples, sentia-se culpado por ter decapitado tanta gente por causa de uma raiz que não era assim tão sagrada, pois a raiz da nsanda tinha poderes que a sua não tinha. Nesse caso, a única pessoa que merecia ser decapitada era ele, tinha-se enganado e tinha enganado o povo. E, porque lhe parecia ser justo, ordenou que lhe cortassem a cabeça!! Ninguém acreditou que fosse possível tal atitude, mas era uma ordem do rei. Repetiu-a em altos gritos, era uma ordem!... E cortaram-lhe a cabeça. Que mais tarde foi posta em exposição na mbanza durante alguns dias, à semelhança do que era costume fazer com os bandidos condenados à morte!
Rei morto, rei posto. Viva Yobo dya Mvika!...Mais devagar, sucessão tão súbita e inesperada deixava pendente um problema grave. É que até essa data reinava no Soyo a tradição Solongo de sucessão por via paterna, e ao herdar o poder do seu irmão, Yobo instaurava a lei do Kongo de sucessão matrilinear. Além disso, nesse tempo havia dois Soyo, o de Cima e o de Baixo, e com a morte de Nezumba deu-se a reunificação das duas metades. Enfim, uma confusão monstra. Quem não gostou foi o filho de Nezumba, Kimpa dya Mvika, legítimo herdeiro segundo a tradição Solongo. Revoltou-se, levantou armas, e conseguiu derrotar e expulsar o tio do Soyo, que fugiu para o Sul, atravessou o rio Loge, devia ter chegado ao Tabil e ao Mussulo, e depois não se sabe, nunca mais se ouviu falar dele. Mas das kandas que o acompanhavam, uma pelo menos passou o rio Dande. Sabe-se que a dada altura flectiu para Leste e em seguida para Norte, até chegar a Mbanza Kongo. Presume-se que tenham encontrado pelo caminho destacamentos avançados das tropas de Ngola a Kiluanji kya Samba, sempre com um olho virado para a ilha de Luanda, mas ainda sem forças suficientes para a acometer. Fosse assim ou assado, chegaram os da kanda a Mbanza Kongo e foram recebidos pelo rei Nkuvu a Ntinu, que aceitou dar-lhes bom acolhimento em troca do pagamento de uma pesada multa em conchas caori. A kanda Mvika não era vista com bons olhos no reino do Kongo. Mudou de nome, passou a chamar-se Nsanda, do nome da figueira sagrada do Kongo, e o seu chefe prometeu pagar a dívida. E pagou, mas para levar a bom termo o pagamento, todos os homens tomaram as mulheres da kanda, esposas, irmãs e filhas, como escravas, e venderam-nas a mercadores luba, mbangala e árabes, evitando assim uma ainda mais horrível alternativa, irem todos eles, sem excepção, salvo os mais velhos, pelo mesmo caminho, a escravatura, como único modo de resgatar a dívida.
Passaram os anos, a kanda pagou, os homens lutaram e venceram batalhas ao serviço do rei. Mostraram-se corajosos e de palavra, raça tão rara nesse tempo como nos dias de hoje. Nkuvu a Ntinu apreciou ao seu justo valor tanto sacrifício e coragem e confiou-lhes uma missão da mais alta importância: comandarem uma milícia real que teria por missão instalar-se na ilha e Luanda e defendê-la contra eventuais investidas das tropas do Ngola a Kilwanji kya Samba. Foram esses soldados do Kongo que os portugueses encontraram quando chegaram a Luanda a bordo das caravelas de Diogo Cão.
Nota 2: a origem da kyanda
«Nzámbì, depois de ter criado a terra (ixi) e o sol (mwánià), a água (ményà) e o fogo (jìkù), deu forma ao homem e à mulher utilizando estes dois últimos elementos. Ao casal primordial a transcendência divina atribui os nomes de Sámbà e Mawézè (ou Nawézè). Estes tiveram uma grande progénie de ambos os sexos. Sendo irmãos não se podiam casar nem fazer sexo. Isso fez com que, depois de acordo passado com os progenitores, Nzámbì se tenha decidido a purificá-los. Para tanto, os filhos do casal deveriam na madrugada do dia seguinte atravessar o rio Kwànzà. Chegada a hora aprazada, apenas dois irmãos acordaram ao canto do galo e cumpriram com o estipulado, isto é, atravessar o rio. Quando chegaram no outro extremo (a riba oposta) estavam completamente esbranquiçados e transformados em «seres maravilhosos», e Nzámbì atribuiu-lhes os nomes de Mpémbà e Ndèlè. Decidiu ainda que, doravante, estes deveriam passar a viver nesse mundo que alcançaram, isto é, o mundo harmonioso das águas, da humidade, do brilho e da luminosidade, da brancura e da felicidade absoluta. Os outros irmãos, que não cumpriram com a ordem estipulada, passaram a viver definitivamente em terra, com os seus problemas e angústia.
Nota 3: o kakulu
«Havia uma ilha ali perto da Barra do Kwanza, que era a do Tumbu, íxi yala mu kaxi ka Kwanza, a ilha no meio do rio, onde se realizava o kakulu. O Kilamba-Kiaxi, o único que fala com o ‘‘rei dos peixes’’ e com os espíritos as águas, as yanda, também chamadas ituta, ou iximbi, chegava à ilha a bordo do ndongo, acompanhado durante todo o trajecto que fazia ao longo do rio por muitos outros ndongo apinhados de gente que ia assistir ao kakulu. Abençoava-os com água do rio, que derramava sobre eles com um ramo de mulemba. Quando chegava à ilha, esperavam-no os idosos e os chefes das terras do Kwanza, mas ele ignorava-os e logo se dirigia para o sítio onde estavam dois anciãos ao lado de duas bacias esmaltadas com o dikoso, a água lustral, na qual ele mergulhava o ramo de mulemba e então sim, benzia todos os chefes presentes. Em seguida entregava o ramo da mulemba a um dos anciãos, um umbanda, que por sua vez benzia toda a gente que se agrupava no terreno. Feito isso, o Kilamba retirava-se. Caminhando sempre ao lado do rio ia ter a uma grande clareira onde se erguia uma mulemba centenária que protegia a cabana sagrada que ali estava, feita de ervas e vimes, o dilombe, onde ele iria descansar. Antes da noite cair preparavam-se as mesas para a cerimónia do dia seguinte».
No dia seguinte de manhã, o Kilamba-Kiaxi saía do dilombe com um chocalho numa mão e uma flauta na outra, acompanhado por um pequeno grupo de anciãos e, mais atrás, o umbanda, que ia benzendo todos por quem passava. E todos os que ali estivessem seguiam o Kilamba até à praia que dava para o rio, onde estavam expostas nas “mesas” - esteiras postas no chão - as oferendas destinadas às yanda, maluvo, cerveja de massambala, frutos secos, ananas, papaias, bolinhos e guloseimas feitas com mel misturado com óleo de palma, além das carnes, de porco e de vaca, com feijão e kikuanga, sem falar do jingwiji e do kakusu, os peixes sagrados, que se comeriam mais tarde durante o banquete.
O Kilamba avançava com o chocalho e a flauta na mão, e os que o seguiam cantavam, acompanhados pelos instrumentos dessa época, o hungu, os bumbos e os jisaxi, chocalhos iguais ao do Kilamba. Ao chegar perto do rio, este fazia badalar o seu próprio chocalho e todos se calavam. Silêncio. O Kilamba-Kiaxi ia até à berma do rio, ajoelhava-se e “falava” com as águas do rio, fazia a sua prece às yanda, lamentando o seu sofrimento, assim como o do seu povo, vítimas inocentes de guerras entre chefes, que a partir desse dia se uniriam, oferecendo então a paz merecida ao povo sofredor ; agradecendo Nzambi, todos os ituta, os ilundu, e pedindo perdão a todas as yanda, filhas de Kabala Kahombo, o homem, chefe das yanda do rio Kwanza, e de Kongola-Magya, a mulher, por ele, Kilamba do Kwanza, não ter conseguido fazer um bom trabalho, «Perdão, perdão a todas as yanda, por nos termo esquecido estes anos todos. Nós somos os vossos filhos, perdão para sempre». E durante toda a prece não se cansava de relembrar a eterna filiação a esse pais de todas as yanda, que só saem deste rio Kwanza. e lhes obedecem».
(Como quem não quer a coisa o meu pai salientava uma vez mais que o único kakulu verdadeiro é o do Kwanza).
«O ritual demorava horas, e o Kilamba-Kiaxi não parava de rezar, fazendo badalar o seu chocalho e tocando flauta, uma vez um, depois a outra, para chamar os espíritos, os génios do rio. E, ao chegar o final das preces, todos os presentes entoavam os cânticos tradicionais em coro. Só depois vinha o banquete, com jingwinji, kakusu, e uma enorme quantidade de iguarias e bebidas, por muitos dos presentes consumidas em excesso. Era assim».
Imagem: autores-p.blogspot.com

O PLANO C É O NOSSO ABC


Gil Gonçalves
Se Angola não tem contabilidade organizada, a energia eléctrica é de fingir, então os números do desenvolvimento económico saem donde?!
Inadvertidamente, inconscientemente ou voluntariamente contribuímos para a história da hipocrisia angolana. É por isso que angola sobe no crescimento económico da miséria. E de noite houve-se o miar horrorizado dos gatos acossados pelos chineses de panelas preparadas.
Entretanto pedaços de prédios em desintegração precoce caem com estrépito nas ruas. É muito perigoso circular por baixo deles. A qualquer momento a morte obriga-nos a fazer-lhe companhia. O estrangeiro constrói e o angolano destrói.
Pare, Escute e Olhe!
Esta democracia esconde outra mais sinistra. Chama-se desenvolvimento económico quando serve alguns especuladores imobiliários e financeiros. Desenvolvimento social quando serve esfomeados. Não ouvem, não sentem, o borbulhar da democracia a afogar-se? Ser-se democrata angolano implica defender a ditadura para sobreviver, demonstrar democracia interna infalível, enquanto na ditadura petrolífera a fome alastra, e a democracia empresarial, colonial, avilta-nos com o desempenho económico: «Um crescimento económico jamais visto, um país no rumo certo, único no mundo. O PIB, Produto interno Bruto, cresceu de 2002 a 2007 de 1.500 para 3.500 dólares. Imparável… este crescimento insustentável.
- Chefe… para o nosso Plano C funcionar como o do Estaline teremos que desandar, aniquilar toda a oposição partidária ou independente.
- Evidentemente meu Cabo-de-guerra. Acho que não chegaremos até esse promontório porque a nossa oposição é tão saborosamente estóica.
- É verdade Chefe… então esse da UNITA o Domingos Maluka, ou saluka, quando questionado na Rádio Ecclesia sobre o nosso primoroso Plano C, exortou a população a manifestar-se… como se o povo fosse um partido político. Fiquei muito confuso. Mas quem convoca manifestações são os partidos políticos ou a população?! É a nova democracia (!).
- Sabe, não é por acaso que a nossa oposição e a população andam subalimentados, esfomeados. Este é o nosso segredo mais bem guardado. Não sabendo alimentarem-se as cabeças não funcionam… andam sempre aéreas, etéreas. É por isso que não temos opositores. Este mal, anormal não anda só por aqui. É rotineiro, basta observar como a África Negra se desloca. Nós chefes eternizamo-nos no poder, rotineiros porque as cabeças opositoras têm um tremendo défice neuronal. E o importante é mantermos a continuidade da nossa dinastia. Resguardar, apoiar a fortuna da minha filha mais rica de Angola e dos outros filhos. As empresas estrangeiras já têm uma grande influência, já dividimos com eles o poder. Por isso é extremamente importante mantermos este status quo. Para garantir as nossas conquistas diamantíferas e petrolíferas da nossa luta revolucionária, qualquer opositor que se atreva a desafiar-nos caímos-lhes em cima com os nossos exércitos de terra, mar e ar. Mas primeiro acossamo-los com as nossas forças policiais e caninas. Nenhum escapará. Estamos muito bem apoiados pela hipocrisia Ocidental. A oposição não passará.
- Que discurso mais inteligente, que grandes ideias para um grande Chefe. Então Chefe significa que passamos avante com o glorioso Plano C?
- Evidentemente, mas por enquanto limitem-se a dar algumas surras nos opositores. Se eles exagerarem, fogo neles! O meu reino é para mil anos. E convém desde já incutir na nossa massa militante, em toda a população a palavra de ordem: o Plano C é o nosso abc, o Plano C é o nosso abc!
- Chefe, mas que clarividência. Chefe… e continuamos com as mesmas promessas de um milhão de casas, água e luz para todos até ao ano 3.000?! E que a fome vai aumentar, vai matar?!
- Isso e vamos-lhes prometer mais uma. Que lhes distribuiremos os lucros do nosso petróleo. Os pobres diabos vão acreditar. O que têm de bom é que acreditam em tudo. Também com os investimentos que fizemos no analfabetismo.
- Chefe, essa é de arrasar! O Plano C é o nosso abc!
O Chefe Eterno acusa os democratas de incompreensão.
Nunca gostei de violência; não entendo porque a procuram; não sei porque zombam de mim. Aprecio quem me venera; quem é corrupto vencerá; sinto os artifícios das vossas palavras. Merecem serem tratados como animais; os famintos nunca terão poder. Sereis governados e consolados pelo terror; nas epidemias, as vossas casas serão queimadas; os filhos que se salvarem serão abandonados. Ando sempre no erro, e que ninguém ouse corrigir-me; cresci e formei-me na violência da guerra, pratico-a porque não sei fazer mais nada. Falam contra mim e desprezam-me por causa do dinheiro do petróleo; Têm é inveja; suplico-vos que tenham pena de mim, porque não sei o que faço. Quem me dera escrever um livro sobre as minhas maldades, tento… mas o tacto não consegue. Receiem-me, porque a minha espada está sempre suspensa.
Tentam atrair os miseráveis contra mim; lembrem-se que tenho milhares de soldados ordenados. Não conseguirão fugir das minhas armas; guiadas pelos melhores raios, nem nos melhores esconderijos escaparão. Serão aniquilados pelo seu raio de acção.
O Chefe Eterno demonstra que aqueles que acreditam nele terão prosperidade
Já alguém ouviu queixar-me que passo fome? Ficam pasmados quando me olham; pelo esbanjamento que faço; quando adoeço, socorrem-me os melhores médicos; porque sou um nobre; a escumalha quando adoecer que procure um feiticeiro. Fazem filhos até ao infinito; outra coisa não sabem fazer; à espera que um deles seja rei. Vagueiam na vida a dançar noite e dia; como querem prosperar? O que ganham gastam num só dia; porventura alguém acabou com os dias? Com os meses? Com os anos? Quem quiser ter bens e paz basta lisonjear-me; diamantes e poços de petróleo não lhes faltarão. Não percam tempo a encontrar a sabedoria e a inteligência; isso é um dom meu; a sabedoria compra-se com o líquido negro. E os vossos passos são controlados; não se desviem do meu caminho.
Alguns salmos do Chefe Eterno
Meu rei, os nossos adversários são muitos. Não sei por quanto tempo os vamos aguentar. São mais de dez milhões. Todos contra nós. O meu rei é a minha salvação. Há quem tenha intenções de desbravar a nossa floresta humana. À rádio dos democratas nem um palmo do nosso reino. Nos próximos séculos um salmo nosso será cantado. Sim! Viemos para ficar, e daqui nunca sairemos.
Cada vez que a água suja é lançada de um balde, significa que uma nova notícia chegou. Que método tão primitivo que a agência real press utiliza para actualizar a informação. Os jornalistas inspiram-se com a água suja e o lixo que quase lhes cai em cima. Informação de água imunda e sujidade, que fazem acontecer a realidade do reino real. Mais três baldes de água imunda. O jornalista assustou-se. Parou o trabalho. Alguns pingos de água atingiram os computadores. Na parede a fotografia do rei sorri. Que Deus abençoe a hipocrisia da democracia ocidental que impõe em todo o mundo a diabocracia da fome. Por onde passam, as multidões de esfomeados saúdam-nos. Não é necessária uma guerra para destruir uma nação. As forças da Natureza são mais poderosas que qualquer arma.
Já não há pessoas inteligentes nem sábias. Toda a inteligência e sabedoria é empregue para destruir o que existe, e transformar tudo em dinheiro.
Só a Natureza é pura, sábia e inteligente. O homem é impuro e monstruoso, e nela não merece viver. O meu desporto preferido é ver as pessoas a morrerem à fome.
Devaneios do Chefe Eterno
Os piores terroristas do mundo são os que vos fazem passar fome. Ainda que o preço do barril de petróleo chegue a mil dólares, a vossa fome aumentará. Porque o rei comprará duas ou dez bombas atómicas para amedrontar o mundo. Há reis que não sabem reinar. Andam com o reino no bolso. Uma das premissas fundamentais para o desenvolvimento de um reino, é a obrigatoriedade das vendas a crédito. Sem créditos não há desenvolvimento. Mas nas dinastias milenares, obrigam-se os escravos esfomeados a trabalharem sem terem direito a nada. Infelizmente nos tempos modernos ainda existem reinos que parece se formaram antes de Cristo. Sentem-se felizes ao saírem dos seus palácios para observarem a miséria dos seus súbditos. Depois anunciam palavras bonitas: há quase cinquenta anos que vejo a vossa fome, esperem mais igual tempo que prometo acabar com as vossas vidas para sempre. Na verdade quero que todos se danem. Desde que tenha o meu bem-estar, o resto são palavras. Cinquenta anos depois nesta cidade à procura de um local calmo e seguro. À espera do que os colonos deixaram desabe de vez. E tudo fique como à quinhentos anos atrás, na nossa cultura e tradição rejuvenescidas. Por mais que procuremos a liberdade nunca a encontraremos. Porque surge sempre um opressor no nosso caminho. E quanto mais dinheiro tiverem, mais opressão de chicote nos é assegurada. Quando na cidade moribunda todas as luzes se apagarem, só passados cem anos um sábio aparecerá. E dirão os sobreviventes que foi Deus que o enviou.
A verdadeira percepção da arte é quando vemos coisas que os outros não vêem. E a Natureza como a nossa mãe é disso testemunha. Para que um rico aumente a sua riqueza, são necessárias no mínimo dez milhões de pessoas que morram à fome. Os homens atingiram a perfeição. As suas leis são superiores às minhas. Já não necessitam de mim. Nos seus julgamentos observo-os e não me intrometo. Onde julgam, o seu pensamento é só um: dinheiro. Há muito se esqueceram do que lhes ensinei. Para um julgamento justo, primeiro é o amor. Segundo, é ainda o amor. Onde o dinheiro prevalece a justiça empobrece. Orgulho-me da injustiça oferecida, e disso não se deram conta, porque só contam o dinheiro; uma vida de inutilidade; qualquer um de vós é escravo, um inútil; sim! Desde o faminto ao rei, ao mais rico, e até ao mais poderoso, todos vivem na inutilidade; o faminto obedece a quaisquer, porque deles recebe inutilidades sem pestanejar; o rei vive na suspeição de alguém lhe usurpar o trono; o mais rico não dorme com receio que os seus filhos, ou um amigo lhes roubem as fortunas; o mais poderoso reza a um deus desconhecido, que apareça na multidão de conselheiros, algum que anule o poder da nova nação que fatalmente surgirá sem corrupção. Muito poderosa sem as monstruosidades actuais.
upanixade@gmail.com

domingo, 15 de maio de 2011

UNITA quer Comissão Eleitoral independente


A UNITA, quer que as próximas eleições legislativas em Angola sejam realizadas debaixo da alçada de uma comissão eleitoral independente, defendeu o secretário-geral adjunto da UNITA, Silvestre Sami, durante uma palestra em Cabinda.

Aquele dirigente da UNITA afirmou que o seu partido vai propor um pacote legislativo para a criação de uma comissão eleitoral independente do poder executivo.

Se a proposta de lei não for aprovada visto o partido governamental, MPLA, dispor da maioria parlamentar, a UNITA promete recorrer ao Tribunal Constitucional.

De facto, segundo aquele partido, só é necessário por em prática aquilo que já está postulado na constituição angolana.

Secretário-geral da UNITA, afirma. Numa defende autonomia do enclave de Cabinda para alcance da paz


O secretário-geral da UNITA, Abílio Kamalata Numa defendeu numa palestra, no Namibe, promovida pela Procuradoria-Geral da República, a autonomia de Cabinda como base para se alcançar uma solução imediata. “Temos que ter em atenção na construção da pátria a especificidade de Angola. Cabinda é uma especificidade e não é problema nenhum admitir isso. Não olhemos só para o petróleo” – disse.

“Porque não desenvolvemos uma auto determinação? Portugal está a viver bem com a Madeira e os Açores. Há vários estados assim. Porque é que continuamos a fazer sofrer um povo que pensa de forma diferente?” – questionou.

“Os Cabindas estejam eles na UNITA, MPLA ou na FNLA eles pensam mesmo como Cabindas. Todos eles. O resto é mentira. Todos eles pensam da mesma forma” – referiu.

“Ouvi falar de muitos ditadores, mas os ditadores dos últimos 30 anos, não sei é por causa do “boom” do petróleo, da forma como delapidaram os erários públicos dos seus países é assustadora. E até mais, não tiveram pejo em distribuir dinheiro para os seus familiares” – frisou.

“Olhas para o Mubarak está-se a falar logo do filho e da mulher; olhas para o Ben Ali, da Tunísia, é o filho, as mulheres que nem sequer tiveram dinheiro. É porque isto é da mulher. Queremos também saber aqui um bocado, para além daquilo que já se tem ouvido, porque esse dinheiro é nosso” – continuou.

Milionários angolanos e o crescimento económico do país
“Não podemos dizer que Angola está a crescer economicamente e isto não se reflecte na vida de cada um de nós. Angola está a crescer economicamente bem, mas que isso se reflicta na vida dos angolanos” – sublinhou.

“Na era colonial, as pessoas construíam as suas casas, mobilavam-nas, tinham carros e outras coisas na base do emprego e do crédito. Hoje não”.

“A economia do mundo não funciona assim. Comprar tudo. O indivíduo pega em 500 mil dólares e está a comprar uma casa. Tiraste aonde o dinheiro? 500 mil dólares tirar duma só vez e comprar uma casa, tiraste aonde o dinheiro?” – indagou.

“Vais ver indivíduos com sete casas e cada casa com um valor de um milhão de dólares. Tirou aonde isso? Vais ver quintais com mais de sete carros top de gama, valor – cento e tal mil dólares cada carros. Tirou aonde esse dinheiro?” – interrogou ainda.

“Aos outros não aceitam só, no mínimo, que também criem condições de vida a partir do seu suor, dando-lhes bom salário, emprego e possibilidade de aquisição desses meios”.

Liberdade de expressão
“A falta de liberdade é como se estivesse a ser asfixiado para não respirar. Apertam-te a boca e o nariz e você não consegue respirar. É isso que se chama falta de liberdade” – explicou.

“Normalmente quando as faltas de liberdades são imensas e duram muito tempo, quando o povo começa a respirar um pouco, torna-se tresloucado e é aquilo que costumamos a ver no outro mundo”.

“A limitação de liberdades é muito perigosa. Aquilo que se vê ali, em que as pessoas, mesmo a morrer, vão até as ultimas consequências é a falta de liberdade” – concluiu.

As voltas que a pobreza colonial dá. Isabel dos Santos primogénita de um presidente pobre é a mais rica de África


A notícia que aqui adiante publicamos já foi divulgada pela Forbes, mas a verdade é que, assim lida, sem comentário, ela se parece com uma redundância, tantas foram as vezes que veio à baila a riqueza fenomenal de Isabel dos Santos, que, em pouco mais de dez anos se transformou de donzela estudiosa em figura de realce do jet-set internacional. Porque será?

William Tonet*

Em África, ela apresenta-se agora como estando entre as nove mais ricas mulheres do continente. As outras são personalidades conhecidas da África do Sul, o que significa que Isabel dos Santos é a mais rica mulher de África tirando as sul-africanas!

Se juntarmos à sua fabulosa fortuna, a fortuna fabulosa de Zenú dos Santos, com jacto privado ao seu serviço, o seu banco privado Quantum, gerido por um dos mais importantes banqueiros da Europa, as suas moradias em Angola e no estrangeiro. Se levarmos em linha de conta outras fortunas dos filhos Zenu dos Santos, Tchizé dos Santos, entre os demais, então poderemos acreditar que este regime não é diferente em nada aos da Tunísia, de Bem Ali, do Egipto de Mubarak, de Kadhafi da Líbia, do Zimbabwe de Mugabe e de outros tantos ditadores, que transformam os cofres públicos num túnel para o privado.

E se, ao mesmo tempo, nos lembramos do discurso do papá, José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola e de muitas outras coisas, de o problema da pobreza ser um problema do tempo colonial, que o pai dele era pobre, concomitantemente, ele pobre, também…

Agora o que se questiona é, se eles, os filhos de Nguxito, não são herdeiros, nem do avó nem do pai, que nunca foram ricos, então como conseguiram, em tão pouco tempo, esta colossal fortuna?

Porquê que a PGR não abre nenhuma investigação sobre o enriquecimento ilícito destes cidadãos, mas em contrapartida, por muito menos vários cidadãos estão nas masmorras das fedorentas prisões de Angola, por muito menos.

E para não navegarmos por outras águas, apenas uma questão. Porque razão está preso o filho do membro do Bureau Político do MPLA, Norberto dos Santos, Kwata Kanawa, sob a alegação de ter fornecido o seu número de conta, para aí domiciliarem transferências, legitimamente assinadas pelos governadores do Banco Nacional de Angola? Se os filhos de Nguxito e os governadores do BNA estão sem nenhum processo, então as razões se aproximam, ao ponto de se distinguirem do art.º 23.º da “Constituição Jesiana”: (Principio da Igualdade) “1. Todos são iguais perante a Constituição e a lei”.

Mas ao que parece estes meninos não são iguais aos demais autóctones pese a clareza do n.º 2 do mesmo artigo: “Ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da sua ASCENDÊNCIA, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou profissão”.

Ora, aqui, a única justificativa parece ser aliada da ASCENDÊNCIA dos filhos do líder do MPLA…

O resto, bom, o resto, fica para cada um tirar as suas ilações….

PRIMEIRA ENTRE NOVE HERDEIRAS
A filha oficial mais velha do Presidente da República de Angola, há 32 anos no poder, sem nunca ter sido eleito, Isabel dos Santos é a primeira dentre nove mulheres africanas mais ricas, de acordo com a revista Forbes.

Caricato para os angolanos, não é de Isabel não poder ser milionária. Não! Pode. A questão é de a maioria não perceber, como sendo neta materna e paterna de pobres e filha, igualmente, de pobre, tenha em tão pouco tempo conseguido uma riqueza descomunal, que a catapultou para o mais alto pedestal africano, superando filhas herdeiras de pais milionários.

Isabel dos Santos, casada com um cidadão estrangeiro, que tem primazia em quase todas as grandes oportunidades de negócios, em Angola, lidera oito fortunas baseadas na República da África do Sul, com uma fortuna calculada em mais de 243,433 milhões de dólares, segundo a revista Forbes, colocando-a como a mulher mais rica de África.

A revista sublinha que a empresária “começou a trabalhar aos 24 anos, usando a influência do seu pai", o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, cujo poder é quase ilimitado.
A revista destaca, por outro lado, a “ligação próxima” que a empresária tem com Portugal, onde detém participações em empresas, nomeadamente na Zon Multimédia (10%), no BES, no BPI e na EDP.
As outras oito mulheres milionários incluídas na lista da Forbes, são:

2. Bridgette Radebe, filha do milionário sul-africano Patrice Motsepe ligado á indústria mineira. A empresária é casada com o actual ministro da Justiça da África do Sul.

3. Irene Charnley, ligada à área de telecomunicações. Foi executiva na MTN, o maior grupo de telecomunicações de África, tendo conseguido expandir a empresa para vários países africanos. A responsável saiu da MTN em 2007, estando actualmente como presidente executiva da Smile Telecoms, uma operadora de telecomunicações “low cost” sedeada nas Maurícias.

4. Pam Golding enriqueceu através de negócios na área imobiliária, depois de ter fundado a Pam Golding Properties, em 1976. Actualmente a empresária está retirada da vida profissional activa.

5. Wendy Appelbaum, única filha do milionário sul-africano Donald Gordon. A responsável assumiu a liderança da Liberty Investors, antiga holding cotada do grupo segurador Liberty, fundado pelo seu pai. Entretanto Wendy Appelbaum vendeu a sua participação na empresa, tornando-se rica.

6. Elisabeth Bradley enriqueceu através de vários investimentos realizados, tendo a fortuna sido iniciada pelo pai, nomeadamente através da venda de 25% da Toyota South-Africa à japonesa Toyota Motor Corp. por 320 milhões de dólares.

7. Mamphela Ramphele, média e ex-activista anti-apartheid, é uma das africanas mais ricas, encontrando-se actualmente à frente da Circle Capital Ventures.

8. Sharon Wapnick é accionista da Octodec Investments e da Premium Properties, empresas fundadas pelo seu pai, Alec Wapnick.

9. Wendy Ackerman que, em conjunto com o marido, controla a Ackerman Family Trust, que por sua vez detém a Pick ‘n’ Pay, um das maiores retalhistas de África do Sul.

Escritório de advogados no mundo do crude. Fátima Freitas lança colectânea sobre legislação petrolífera


O escritório de advogados de Fátima Freitas, que trabalha com algumas empresas petrolíferas estrangeiras que operam em Angola, em aliança, como não podia deixar de ser, com um escritório de advogados portugueses, Miranda Correia Amendoeira & Associados, lançou uma obra sobre a legislação reguladora da indústria petrolífera e do gás em Angola, visando dar uma contribuição sobre o que se passa no mundo do crude, revelaram no dia 04.05, os seus autores.
A obra, que os autores apresentam como a primeira coletânea de legislação petrolífera angolana, reúne o conjunto da legislação reguladora desta indústria, tanto no segmento “upstream” (pesquisa e produção) como “downstream” (transformação, distribuição e retalho).
“Angola é hoje vista, no que toca à legislação do petróleo e gás, como um modelo que vários países procuram abertamente imitar”, consideram os autores da obra.
Na nota introdutória, os autores do livro referem como o petróleo jorrou pela primeira vez em Angola em 1955, no poço denominado Silva Carvalho, perfurado na estrutura, então localizada na zona do Benfica, alguns quilómetros a sul de Luanda.
Em sequência, relatam, “o Governo de Lisboa apressou-se então a aprovar” dois decretos, em novembro de 1957, “estabelecendo o regime fiscal das concessões para a exploração de petróleo”.
A regulamentação sistemática só surgiu, porém, em 1978, depois da independência de Angola, referem os autores, com a criação da empresa estatal Sonangol e do Ministério dos Petróleos.
É nela que é referido também o pormenor curioso de a indústria petrolífera internacional ter nascido pela mão de um jurista americano que falava português – George Bissell, em 1859, na Pensilvânia.
Facto não relevado pelos autores, na colectânea, talvez por maior cumplicidade com os patrões, foi a passagem de uma esponja sobre as violações cometidas por muitos operadores estrangeiros, em clara violação com a legislação em vigor e as disposições e instrutivos do Ministério dos Petróleos. Esperemos que uma próxima obra possa versar sobre tão candente assunto e que aflige milhares de técnicos angolanos ligados ao mundo de produção e prestação de serviços as empresas petrolíferas.

Órgão ilegítimo quer ditar orientações. Conselho da Comunicação Social calunia e mente sobre F8


Na sua deliberação datada do dia 29 de Abril de 2011, o Conselho Nacional de Comunicação Social (CNCS) deliberou “ (…) ordenar ao semanário Jornal Folha 8 que proceda no prazo de 48 horas a contar da data da recepção desta deliberação, a publicação coerciva da resposta solicitada pela PRIDE, constante no pedido de 11 de Março de 2011 endereçado ao Director da publicação, o senhor William Tonet, acompanhada da menção de que a publicação é efectuada por efeito de deliberação do Conselho Nacional de Comunicação Social”.

Esta decisão é surrealista e mostra duas coisas: primeiro, o CNCS não lê o F8 e quando assim é não delibera com imparcialidade, mas sim com calunia publicitando maldosamente um órgão como o nosso; segundo, o CNCS não tem poderes para ameaçar coercivamente a publicação de um direito de resposta, pelo que esta musculatura intimidativa não nos engaja. F8, não pode publicar um direito de resposta, mas desculpa o CNCS porque a situação de caducidade retira-lhe o direito de pensar, mas este não é um assunto do nosso fórum... Isto quer dizer que melhor fará o CNCS se arredar caminho, enquanto órgão ilegítimo e prosseguir a sua acção em Tribunal, colocando-se ao lado da empresa de petróleos, que seguramente não nos paga nenhum honorário. Nós não nos intimidamos com estas ameaças de quartéis.

Mas rememoremos aos nossos leitores todo este show off do Conselho Nacional de Comunicação Social
A PRIDE é uma multinacional sediada em Houston, nos Estados Unidos da América, e presta serviços à indústria petrolífera em África, Ásia, Europa, América do Sul e Médio Oriente. Instalada em Angola em parceria com a Sonangol, esse gigante americano, uma das maiores empresas do mundo a actuar na área petrolífera, criou em 1998 uma sociedade de direito angolano, a Sonamer, especialista na perfuração de poços de petróleo e gás em águas profundas e ultra-profundas Plataforma Continental Marítima. Como accionista apenas se contam a própria Pride Foramer, com 51% de acções, e a Sonangol, que detém os restantes 49%.

O “Caso”
Quanto ao caso em questão, esse refere-se a Nelson Koxi, na altura dos factos, Chefe Operador dos Helicópteros da Sonair no Bloco 17, plataforma essa que foi perfurada pela Pride/África, que de entrada em matéria deu a cara e pretende obter algum reparo de uma situação indecorosa criada em torno duma doença que o atingiu brutalmente.

A partir de 2003 começou a ter problemas de audição em virtude de o seu trabalho ser sempre realizado em ambientes extremamente ruidosos. Em 2004 a sua doença agravou-se e ele teve de recorrer aos serviços hospitalares da Clínica Sagrada Esperança (CSE), na Ilha de Luanda. Esta, enviou um relatório à Pride, especificando que o técnico não poderia continuar a prestar serviço em locais ruidosos por se encontrar num estado clínico de ameaça de surdez grave do lado direito, sugerindo o uso regular de aparelhos auditivos de ampliação de som.

A empresa multinacional recebeu o relatório, tal como foi ulteriormente constatado, manteve-o em segredo entre 2004 e 2010. SEIS ANOS!

Quer dizer Koxi continuou a trabalhar no duro e no ruído realmente ensurdecedor até 2007, altura em que foi obrigado a ser evacuado da plataforma para ser internado uma vez mais na CSE e fazer com urgência exames aprofundados do seu sistema auditivo.

A sua surdez passou a ser uma ameaça de atingir os 100%., uma vez que no ouvido direito a surdez era isso mesmo, 100%, enquanto no ouvido esquerdo ela atingia os 40% (60% de audição), o que nos levou a escrever num artigo publicado no dia 2 de Abril passado - no qual esgrimimos argumentos justificativos da nossa atitude em resposta ao pedido de resposta da PRIDE -, que perante tanta felonia, tínhamos concluído que «estamos em face da ressurgência de uma nova variante de escravatura, não podemos escrever assim, tão pequeno, tem que ser escrito em grande, ESCRAVATURA.

Não a escravatura clássica, de poder de vida e de morte sobre o escravo, isso já não é possível! Esta “escravatura” da Pride Foramer é a escravatura possível, porque há leis e é imprescindível fazer crer que se obedece a essas leis. E a Pride obedece, mas escondendo relatórios médicos, por exemplo, esperando a reacção do empregado quando lhe desfalca nos salários a pagar os montantes pagos para o tratamento da sua deficiência física, de que ela, a Pride, é responsável de A até Z».

Um pouco mais adiante, escrevemos no mesmo artigo:
«Uma empresa Multinacional como a Pride, grandeza máxima no mercado petrolífero, facturando milhares de milhões de dólares, ousa ir à companhia de Seguros (ENSA, neste caso) fazer uma falsa declaração dos emolumentos de um dos seus funcionário mesmo para receber em troca umas dezenas de dólares por mês!!!?... Não é possível? É.

Não é credível, de acordo, mas foi o que aconteceu com o Nelson Koxi, que teve a satisfação de ter ouvido, mau grado a sua deficiência auditiva, um pedido de desculpas por parte de representantes da sua empregadora, provavelmente os mesmos que contribuíram para que tão vergonhoso acto fosse perpetrado em nome duma tão prestigiosa organização».

Curiosamente, na musculada invectiva da PRIDE contra o F8, nem uma vírgula foi lançada ao papel para manifestar qualquer repulsa pelo que nós nestas passagens revelamos. Silêncio total, quer dizer, pedaço de folha na sua magnífica e pura brancura. Nada. Porquê? Porque o que escrevemos corresponde à verdade. E temos provas!

Uma deliberação feita em cima do joelho
O CNCS agiu sem ponderar o que está realmente em jogo neste caso de vergonhoso tratamento de um cidadão nacional por parte de uma empresa multinacional e multimilionária. O CNCS comportou-se de facto como se fosse parte integrante da PRIDE, puxando a brasa para a sua sardinha sem levar em conta o fundo da questão. Uma questão grave de ofensas corporais sobre um homem diminuído e tratado como se pertencesse à ralé do nosso país. Só que, a verdadeira ralé, moral, neste caso, é a PRIDE! E o CNCS defende a ralé. Não lhe fica bem tanta subserviência nesta mostra clara de ignorância total de equidade.

O CNCS deliberou deste modo, primeiro, para amesquinhar sem razão o F8, o que de resto já é um refrão repetitivo; segundo, deliberou sem ter a mais pequena razão de deliberar, pois para além do seu mandato estar caduco desde há quase dois anos, o F8 agiu em relação a este caso de acordo com a lei e não com a fanfarra do CNCS.

Quer dizer, o CNCS, para deliberar em consonância com a “Constituição Jesiana” deveria antes legalizar a sua situação do ponto de vista legal e administrativa, que por ora está totalmente fora da lei. O CNCS existe com esta arrogância intimidativa, tipo castrense, porque em Angola muitas leis não se cumprem. O F8, tal como faz o CNCS não vê legitimidade na sua deliberação por vir de um órgão que se encontra fora da lei. Não tem sentido.

Extracto do artigo da edição de 2 de Abril de 2011
A empresa petrolífera multimilionária Pride, por vias travessas, enviou uma missiva em jeito de solicitação de observância do que deveria ser um Direito de Resposta a um artigo da nossa edição do 11 de Fevereiro de 2011, mas que, violam de forma flagrante os n.º 3 e 4 do artigo 65.º (Exercício dos direitos de resposta e de rectificação), por virem com uma série de mentiras e calúnias, com as quais não podemos compactuar, senão vejamos o que diz a lei: "3. O direito de resposta e o de rectificação deve ser exercido mediante petição constante de carta protocolada com assinatura reconhecida, dirigida à direcção do periódico ou da entidade emissora, na qual se refira o facto ofensivo, não verídico ou erróneo e se indique o teor da resposta ou da rectificação pretendida.
4. O conteúdo da resposta ou da rectificação deve ser limitado pela relação directa e útil com o artigo ou emissão que a provocou e não pode exceder o número de palavras do texto respondido, nem conter expressões que envolvam responsabilidade criminal ou civil, a qual, neste caso, só é responsável o autor da resposta ou da rectificação".

domingo, 8 de maio de 2011

Aqui escrevo eu. William Tonet. Nossa pobreza é da ditadura e da corrupção


O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam. Prov. 4:19.

Oiço, ainda, ao longo dos dias, nos becos, nos passeios, nos candongueiros, nas aulas, nos cafés, os mais dispares comentários sobre o discurso do presidente do MPLA, no antes e pós congresso extraordinário, relativa a sua visão “demisionária” relativa a pobreza. “…É do tempo colonial… Já encontrei”, disse Dos Santos ao ponto de decepcionar e revoltar a maioria dos autóctones.

E na esquina adiante surge a outra pérola, “nós vamos ganhar as próximas eleições”. É wanga (feitiço) forte, vaticinar uma vitória de um acto tão distante.

Eu, por respeito a esta coluna, decidi, aqui, não comentar, melhor, não escrever, pela pobreza de conteúdo de algo que poderia ser melhor, para quem está tanto tempo no poder e que, afinal, para lá se perpetuar, precisa de blindar e alargar as rédeas dos seus caciques, para afinarem a forma de assassinar, selectivamente, todos quantos não dancem o seu batuque. Por isso, com a devida vénia: “VÃO TODOS P’RA ….. POBREZA.

E, aqui chegados, em função de ausência de instituições de Estado, mas PARTIDOCRATAS e habilmente manipuladas, não acredito haver condições para emprestar o meu voto, para legitimar uma farsa eleitoral.

Se a maioria dos autóctones sedentos de verdadeiras mudanças e da implantação de uma democracia real, interpretarem na plenitude estas palavras e comportamentos do partido no poder, podem avocar o seu direito de NÃO VOTAREM e desta forma corporizarem o DIREITO DE RESISTÊNCIA/DIREITO DE ACÇÃO POPULAR, inserido no art.º 74.º da “Constituição JESIANA”.

Isso porque havendo perspectiva de batota flagrante de nada valerá os angolanos participarem no “TEATRO DE FANTOCHES”, como figurantes.

É uma forma de os angolanos se manifestarem contra a fraude e a batota anunciada de perpetuação no poder de um regime que não cura pela transparência dos actos públicos.

Não havendo uma comissão eleitoral independente, vai continuar tudo na mesma e quiçá piorar o quadro de equilíbrio requerido.

Por este motivo me solidarizo, eu, também com a brilhante visão sobre perversão de Alejandro Bullón.

Assim temos que “perverso é aquele que busca o seu próprio caminho e insiste em andar nele. A sua vida é tenebrosa e escura. Não há luz. As coisas com ele nunca são claras, vive sempre mergulhado na ambiguidade e na penumbra. Pode até brilhar, mas é um brilho artificial.

O combustível que o alimenta é a vaidade, o orgulho e o egoísmo.

O problema do perverso não é somente o que faz, mas essencialmente o que é. Existem sombras no seu interior. Não é capaz de compreender a si mesmo. Vive confuso, nervoso e acaba por magoar e tornando infelizes as pessoas que o rodeiam.

O verso de hoje diz que os perversos “nem sabem em que tropeçam”. Não conseguem identificar a causa dos seus problemas e, em consequência, não encontram solução.

O perverso segue um caminho. Acha que o caminho que escolheu é o melhor. Confia nos seus sentimentos, nos seus conceitos e preconceitos. Endeusa a razão. Na sua vida não há lugar para a fé. Olha aos que exercem a fé como pessoas ingénuas, crédulas demais para viver num mundo de ciência e tecnologia. Mas não é feliz.

A escuridão não é símbolo de paz nem de felicidade. As sombras são assustadoras, e uma vida rodeada delas é necessariamente uma vida de medo. Para quem não conhece a Jesus, só existem duas maneiras de enfrentar o medo: Fugir ou agredir. Por trás de uma pessoa agressiva, frequentemente se esconde uma pessoa medrosa.

Este é um dia de decisão. Todos os dias o são. Viver na luz ou nas sombras. Eis a questão. Viver na luz é ser. Escolher as sombras leva ao não ser. Se você não é, não vive. Sobrevive. Apenas isso, mas a vida que Jesus oferece é muito mais do que isso.

Abra o seu coração e pense com a consciência não votando na fraude. Deixe entrar a luz. Ilumine o mundo ao seu redor. Aconteça. Não se satisfaça com ler a história, muitas vezes deturpada. Escreva-a. Com fé e crença é possível, mudar Angola, combatendo a PARTIDARIZAÇÃO DO ESTADO E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA BATOTA.

Enfrente este novo dia com altruísmo porque a sua vida não pode continuar presa as técnicas da trapaça, porque: “O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam.”

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Governo luso assume responsabilidade. Portugal vai pagar fatura até 2020 aos ex-militares da guerra colonial




Portugal vai pagar os custos da guerra colonial até 2020, segundo um estudo que analisou a estrutura médica, jurídica e administrativa, a assistência médica e sanitária, bem como as pensões e isenções fiscais dos ex-militares com mazelas atribuídas ao conflito. Será que algum dia estes governantes terão o bom senso de fazer o mesmo para se evitar que um dia estes militares que andaram a combater Angola adentro, não tenham a motivação de regressar a guerra.

“Feridas de Guerra: (In) Justiça Silenciada” é o nome de uma investigação inédita realizada por uma equipa multidisciplinar do Ministério da Defesa e do Instituto Superior de Tecnologias Avançadas de Portugal sobre a deficiência de guerra no Exército.
O estudo baseou-se em 3.020 queixas de ex-militares da guerra colonial, apresentadas entre 1997 e 2006, com vista à obtenção do estatuto de deficiente das forças armadas, todas elas despachadas pelo Ministério da Defesa.
Estes 3.020 militares prestaram serviço em Angola, Moçambique e Guiné, entre 1960 e 1974, no âmbito de uma guerra que envolveu um milhão de homens e resultou em 10 mil mortos e 30 mil feridos.
Tendo por base a idade dos autores das queixas - entre 50 e 55 anos – os investigadores concluíram que o ciclo das queixas decorrentes das guerras coloniais terminou em 2010, pelo que o estudo prevê um adicional de 1.800 queixas.
Destes 1.800 casos, 10% deverão ser classificados como não deficientes das forças armadas, 25% deverão ter acesso ao Estatuto de Deficientes das Forças Armadas e 65% deverão ter uma “desvalorização ligeira, moderada ou grave” (neste último caso, não reunindo as condições para acesso ao estatuto, apesar de apresentarem uma desvalorização igual ou superior a 30%).
Os custos referentes à guerra colonial – que englobam a estrutura médica, jurídica e administrativa associada, a assistência médica e sanitária decorrente da sua classificação enquanto doença profissional, bem como as pensões e isenções fiscais – deverão cessar em 2020, de acordo com o estudo.
Os investigadores analisaram ainda as novas missões em que as Forças Armadas Portuguesas (FAP) se encontram envolvidas, iniciadas pelas Forças Nacionais Destacadas (FND) em 1997, e as missões de observação da ONU/UE, que têm “um carácter distinto da guerra de África”.
As FND são “operações de baixo risco físico e médico-sanitário, de curta duração (seis meses com possibilidade de repetição voluntária), e com elevado desgaste psicológico, considerando as primeiras missões na Bósnia, Kosovo, Timor e Afeganistão”.
O risco das doenças emocionais nos Teatros Operacionais (TO) onde se integram as FND terá, sobretudo, “a ver com as queixas dos acontecimentos de vida relativos aos familiares dos militares, com a rotina, as diferenças culturais e o contacto inicial com níveis de destruição massivos provocados pelas várias guerras civis, provocadoras de estados de miséria infra-humanos em elevada escala”.
Os autores admitem nestes casos “um maior peso em queixas retardadas, no domínio das doenças emocionais, com um número muito reduzido de casos de stress pós-traumático”.
“Se nada de diferente for feito, e se a média de idades das queixas se mantiver por volta dos 50 anos de idade, é de prever que a partir de 2027 se inicie o ciclo de queixas de militares das FND”.
“Com o atual sistema de queixas, de avaliação, de tramitação processual e de despacho final, e mantendo-se a idade média de apresentação da queixa, haverá encargos (médico-sanitários administrativos e de pensões) num período da ordem dos 30 anos, correspondente ao tempo entre a idade de apresentação da queixa e a esperança média de vida, 80 anos de idade”.

Ainda há metal de balas e ferimentos no corpo dos militares, mais do que mazelas da alma

A guerra colonial começou há 50 anos, mas muitos ex-militares ainda trazem no corpo metal de balas e ferimentos de granada. É destas feridas que ainda hoje se queixam, bem mais do que das dores da alma, o que surpreendeu investigadores.
Do universo global de 3.020 pessoas, foi construída uma amostra aleatória de 575: 385 (66%) praças, 86 (15%) furriéis, 36 (6%) sargentos, 45 (8%) oficiais subalternos e capitães e oito oficiais superiores, sendo que a maioria dos ex-militares cumpria o Serviço Militar Obrigatório (SMO).
Inédita, a investigação incidiu sobre acidentes, traumas e doenças adquiridas na guerra colonial – onde terão morrido 10 mil militares e sido feridos 30 mil, do milhão de envolvidos – e foi elaborada por uma equipa multidisciplinar do Ministério da Defesa e do Instituto Superior de Tecnologias Avançadas.
O seu coordenador, o coronel de Artilharia na reserva João Andrade da Silva, não esconde a surpresa com os resultados. “Tendo em conta que se estimava a existência de 30 mil ex-militares com stress pós traumático, surpreendeu-nos que a maioria da amostra (52 por cento) se queixasse de ferimentos simples: não tratados e múltiplos”.
As queixas repartiram-se pelos acidentados simples (210 – 36%), politraumatizados (91 – 16%), stress pós traumático e doenças emocionais (143 – 25%), trauma ou doença secundária (60 – 10%), doenças primárias (896 – 17%) e indefinidos (46 – 8%).
As conclusões obrigam a "uma profunda revisão das metodologias de diagnóstico aquando das ocorrências, no fim da vida militar e no seguimento médico após a vida militar”, defendem os investigadores.
De acordo com o estudo, os combatentes mais afetados foram os militares de infantaria, (250 – 43 por cento da amostra), seguidos dos transportes (53), atiradores de artilharia (30) e transmissões e reabastecimentos.
Estes ex-combatentes manifestaram as suas queixas 30 anos depois das ocorrências e quando já estavam com uma média de idade de 50 anos, o que o coordenador atribui, entre outras razões, à aproximação da idade da reforma.
Perante os dados, os investigadores concluíram que “os sistemas de seleção militar em tempo de guerra ou de crise de efetivos, de diagnóstico em tempo de guerra e do acompanhamento dos cidadãos, depois de passarem à disponibilidade, funcionaram com um grau de ineficácia de 20 a 40 por cento”.
Muitos militares "ou não foram diagnosticados, ou foram objeto de diagnósticos otimistas, o que teve efeitos dramáticos para eles e as suas famílias ao longo de décadas”, lê-se no documento, a que a Lusa teve acesso.
Também não tem sido célere o processo de diagnóstico e deferimento de queixas, que demora cinco anos em média, “independentemente da gravidade das lesões”.
Apesar das queixas tardias, tem sido reconhecido a 90 por cento dos militares um grau de incapacidade que varia entre um e 100 por cento, sendo que a 25 por cento foi reconhecido o estatuto de DFA - militares com mais de 30 por cento de incapacidade, adquirida em ações diretas de combate.
Os ex-militares DFA têm isenções fiscais e pensões médias de mil euros por mês, além de apoio médico.

É preciso falar da guerra, chorar os mortos e celebrar os que estão vivos

Os ex-combatentes nas antigas colónias precisam de falar da guerra e fazem-no entre conversas sobre política e futebol, intervaladas com abraços e lágrimas pelos que morreram, mas também de alegria por terem sobrevivido, ainda que alguns amputados, cegos ou traumatizados.
“Precisamos de falar da guerra”, disse o presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), José Arruda.
Meio século após o início da guerra colonial, são “cada vez mais” os que se reencontram em almoços de ex-combatentes. Alguns vêm com os netos, depois de uma vida em que a família, o emprego e as obrigações sociais adiaram um abraço.
“Falamos das cartas que escrevíamos às namoradas, das fotografias da família por quem ansiávamos, da marca – os filhos – que tínhamos deixado aqui antes de embarcar para uma guerra para onde fomos matar para não morrer”, afirma José Arruda.
Nesses encontros de ex-combatentes, as conversas não são só sobre a guerra, mas vão sempre dar a este tema. Os ex-combatentes “estão mais velhos, mas ainda não deixaram de precisar de chorar pelos amigos que perderam na guerra, nem de alegria por estarem vivos”, continua.
José Arruda lembra – como acredita que recordam os ex-combatentes nas guerras coloniais – aquele embarque a caminho de África, com os lenços brancos e o toque do hino nacional a tentarem dar ânimo, numa missão quase impossível.
“As coisas foram muito difíceis. Somos um povo de poetas que também choram e não são, por isso, nem mais nem menos fortes, mas que trouxeram marcas. Muitos deles nunca mais largaram os comprimidos”, afirma.
José Arruda acredita que estes momentos de convívio são a catarse tantas vezes adiada pela necessidade de, após o regresso, reconstruir a vida: tratar da família, arranjar emprego.
Confraternização que é igualmente de júbilo por estes homens terem regressado vivos: “Quando viemos, estávamos mais morenos, marcados seguramente, mas felizes por pisarmos o chão vivos, ainda que sabendo que o barco que nos trazia também transportava caixões com camaradas mortos e alguns feridos”.
O 25 de abril nunca é, por isso, ignorado pela ADFA.
Em 1974, muitos militares como José Arruda estavam em hospitais militares e, na altura, gritaram “nomes muito feios ao regime” que a revolução depôs.
“Vivemos [o 25 de abril] com emoção, mas também com raiva: porque é que não chegou mais cedo, antes desta guerra injusta e evitável?”, questiona José Arruda.
As baixas continuam, agora por causa do álcool consumido para esquecer. Todos os dias há ex-combatentes da guerra colonial que morrem com doenças herdadas do tempo em que bebiam álcool para esquecer os combates, revelou o presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA).
“Quando vínhamos do combate tinha de haver álcool. Naquela altura não havia telemóvel nem televisão, então bebíamos. E bebíamos ainda mais se algum dos nossos morria”, contou Arruda.
Num discurso emocionado a propósito dos 50 anos do início da guerra colonial, e nas vésperas das comemorações do 25 de abril, o presidente da ADFA questionou: “Como é que se mantinha uma juventude isolada e a ver gente a morrer?”.
Os efeitos deste consumo ainda hoje se fazem sentir e refletem-se na saúde dos ex-militares, com doenças do fígado e do pâncreas. “Todos os dias cai gente com estas mazelas, apesar de assegurarmos assistência médica”, adiantou.
Gente que se reúne na sede da ADFA, em Lisboa, e nas suas 12 delegações regionais, onde as memórias são terapêuticas e repartidas pelos 13 mil associados.
Destes, cerca de 3.000 são grandes deficientes, ex-militares que entre 1960 e 1974 perderam pernas, braços ou olhos e ganharam stress pós traumático, com que ainda hoje vivem. “Foi um momento errado de um Portugal que estava escondido atrás do sol e obrigou a juventude portuguesa a partir para uma guerra evitável, injusta, que estava fora de tempo”, disse.
O resultado deste combate, que mobilizou um milhão de portugueses, foram “10 mil mortos e milhares de estropiados”, recorda José Arruda, para quem esta foi a fatura do “erro de um país que não estava a olhar para as mudanças que estavam a acontecer”. “Sacrificou-se uma juventude e alguns continuam a carregar o fardo” dessa ordem de Salazar: “Para Angola e em força”.
Passados 50 anos, José Arruda considera que “ainda existem problemas concretos por resolver em relação aos direitos dos deficientes das forças armadas”. “Ainda há injustiças”, denunciou, lembrando a recente luta para evitar que fosse concretizado um ofício da Caixa Geral de Aposentações (CGA) que dava aos deficientes militares um prazo de dez dias para optarem entre a pensão indemnizatória ou a remuneração que recebem pelo exercício de funções públicas.
“A nossa pensão tem carácter indemnizatório. Nós não somos aposentados da Função Pública”, sublinhou José Arruda. “O que nós descontámos para receber esta reforma foram olhos, foram pernas, foi o sofrimento com o stress. Foi esse o nosso desconto e isso não se paga”, adiantou. Felizmente, disse José Arruda, “o Governo e o Ministério da Defesa foram firmes e mantiveram a posição de que as pensões dos deficientes das forças armadas têm caráter indemnizatório”, numa referência a uma clarificação do Conselho de Ministros de 31 de março.
A situação foi interpretada como “um aviso”: “Não podemos ter memória curta. Apesar de estarmos em liberdade, precisamos de estar determinados, unidos e coesos”.
“Servimos Portugal em situação de perigo ou perigosidade e hoje exigimos essa reparação moral e material e que nunca pode ser intermitente. Haja por nós respeito. Lutaremos sempre e nunca nos calaremos nos nossos direitos”, prometeu José Arruda.